— A Hannah mentiu nas fitas.

Quantas vezes Jessica não tinha dito aquela frase?

Estava tentando convencer aos outros ou a si mesma?

Ela foi a segunda a escutar as fitas, seguindo a ordem que tinha sido determinada. Justin tinha escutado antes, e foi a ela que ele recorreu, quando escutou a fita sobre a festa.

— Hannah estava com ciúmes — ele disse, colocando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha — Você era a melhor amiga dela, e eu era o ex-namorado, que ela ainda estava afim.

E Jessica acreditou.

Mesmo quando escutou a fita pela primeira vez, não tinha acreditado. Não podia acreditar. Ele era o seu namorado. Ela o amava, e ele a amava também, não seria capaz de consentir com tal absurdo. Era uma acusação séria demais para Hannah fazer com quem quer que fosse.

Então, resolveu que não acreditaria em tudo que as fitas diziam.

Ela não tinha se afastado de Hannah. Pelo menos, não como ela disse. Era mentira. Ou ela procurava acreditar nisso, acreditar que tinham afastado-se gradativamente, e não que tinha sido uma péssima melhor amiga.

Quando Courtney escutou, também disse que a sua parte era mentira. Ela nunca tinha ficado com Hannah, ela não era a garota da foto. Apesar de não acreditar muito nisso, Jessica preferiu apoiá-la. Afinal, Hannah tinha mentido com ela duas vezes, poderia ter mentido outra.

Qual outro objetivo ela teria com aquelas fitas senão prejudicá-los?

Poderia mentir à vontade, fazendo todos ficarem contra todos, e ninguém poderia provar que ela estava mentindo, mas também não poderiam provar que era verdade.

E então Clay acreditou no que Hannah disse, o que todos já esperavam, já que sabiam da paixão platônica que eles tinham um pelo outro. Perguntou se ela precisava de ajuda, foi tão atencioso com ela.

Ao contrário dos outros, ele não recuou quando ela disse que não era verdade, que não tinha sido estuprada.

Ela só tinha transado com o namorado, verdade?

Não lembrava-se, pois tinha bebido muito, mas Justin tinha lhe afirmado.

Ele não mentiria para ela.

De repente, ficar em seu quarto não lhe fazia mais bem, a dúvida a sufocava, ela tinha flashes de memória que mais a confundiam do que ajudavam.

Se fosse verdade, quem teria sido? Bryce? Zach? Montgomery? Ela tinha dito melhor amigo. O melhor amigo, que sempre tinha apoiado a Justin, era Bryce. Seria real? Seria possível? Zach não seria capaz de uma coisa dessas, mesmo que estivesse na fita. E Montgomery...

A dúvida a sufocava cada vez mais, lembrava-se de ter fechado os olhos, sentido sono, Justin saiu do quarto... Teria voltado? Mais alguém teria entrado, em seu lugar? Por que não conseguia se lembrar?

Precisava de respostas, fosse por Bryce ou Justin.

Então, teve a ideia de aproximar-se dele. Ele era o seu possível estuprador, mas que escolha tinha? Tentava não pensar em um homem canalha e asqueroso, tentava lembrar-se da amizade que tinham, tentava lembrar-se do Bryce que a fazia rir, que era o melhor amigo de seu namorado.

Ficar bêbada ajudava. Quando se embebedava, esquecia-se das coisas. Todos tornavam-se amigos, e parecia que tudo ficaria bem, que o tempo não passava.

Justin sempre foi carente de atenção, e ter a sua namorada ignorando-o para ficar perto de seu melhor amigo foi demais para ele.

Ele confessou.

Jessica olhava para a sua cama, e os flashes de memória ficavam cada vez mais nítidos e detalhados, desde que ele tinha confessado.

Tinha jogado fora as roupas que usou naquele dia, embora sua vontade fosse de queimá-las, botar fogo, ver aquela noite apagar-se completamente de sua memória, embora soubesse que nunca mais esqueceria-se.

Aqueles sentimentos negativos e toques indesejados estavam eternizados dentro de si. Não importava quantas horas ficasse debaixo do chuveiro, esfregando com cada vez mais força a sua pele, tentando apagar marcas invisível do abuso que sofreu. Ela sentia que nem o tempo poderia apagar aquelas cicatrizes.

O que deveria fazer? Devia ser apenas mais uma entre tantas estupradas por Bryce, a outra que conhecia tinha se suicidado semanas depois, e ela não podia julgá-la. Sentia vontade de fazer o mesmo. Tinha nojo de si mesma, mesmo sabendo que não era a sua culpa.

Nunca era a culpa da vítima, mas a sociedade enxergaria isso? Seria ela mais forte que Hannah? Poderia fazer com que Bryce pagasse por seu crime, ou ele seria mais um criminoso deixado livre?

— Jessica.

Seu pai entrou no quarto, e então ela sabia o que devia fazer.

Hannah nunca contou aos seus pais o que a aconteceu, e isso tinha sido a sua ruína.

Se Jessica não podia contar com o seu pai, sentia que não poderia contar com mais ninguém.