Black Annis: A Coisa que Nos Uniu escrita por Van Vet


Capítulo 7
A Dica que Veio Fácil


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

Depois de conhecermos mais sobre a Hermione adulta (adorei os comentários, aliás), retornamos para o passado onde o grupo parece empenhado em investigar mais... Detalhe para a introdução de um personagem muito querido.

Ótima leitura! ;)



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Por algum tempo, o clima entre o quarteto se tornou suspenso e atípico. Houve aqueles primeiros minutos que ninguém olhou no rosto de ninguém, nem comentou sobre nada, apenas se empenharam em descer as escadas do primeiro andar da casa de Hermione e seguirem para os jardins. Do lado de fora, cada um subiu em sua bicicleta. Rony adornando um vergão no meio da testa, no local em que Gina o havia acertado com o livro, pareceu muito preocupado, limpando com a barra da camiseta e um pouco de cuspe, uma mancha inexistente no guidom da mais uma vez, raptada bicicleta de seu irmão. 

Harry, completamente inocente naquela história (ele não havia visto nenhuma garota de sutiã)resolveu começar o assunto, porque se dependesse de Rony e Hermione o sol nasceria e dormiria três mil vezes e ninguém falaria nada.

─ Posso falar o que tinha em mente para o nosso dia?

─ Demorou, demorou ─ Gina aprovou, cruzando os braços de tédio.

─ Ontem a noite eu fui na lanchonete do Nelson com meus pais e nós encontramos o policial Hagrid por lá. Ele comentou, meio que por cima, tudo isso que tá acontecendo. A coisa do Adam Fuller.

─ Eu vi. Ele deu um depoimento no jornal esse fim de semana ─ Hermione acrescentou, olhando apenas para Harry.

─ Então… Hoje o Rony ficou sabendo que ele estará de patrulha na Ponte Boats. Vai ter um protesto contra a prefeitura, ou algo assim. A gente poderia ir até lá e conversar melhor o Hagrid. Que tal?

Hermione torceu a boca, contrariada, e perguntou:

─ Conversar sobre a morte do Fuller? Por que estamos fazendo isso?

Rony, de costas para a garota, revirou os olhos. Harry olhou rapidamente de um amigo para o outro e depois para Gina, interessada na questão levantada por Hermione. Para ele estava mais do que claro o motivo daquela pequena excursão. A excitação da investigação, não havia nada mais empolgante do que isso, exceto… a chance de ficar mais tempo na companhia de Gina.

─ Ah, gente, ânimo! Vai ser legal… Não tem nada de bom pra fazer nessa cidade mesmo ─ incentivou-os.

─ Não acho que ir atrás de saber detalhes da morte de Adam Fuller seja algo “legal” ─ Hermione insistiu.

─ Então não vai ─ Rony finalmente virou-se para ela, falando com desdém.

─ Não é você quem manda se eu vou ou não, Ronald ─ a garota colocou as duas mãos na cintura, irritada.

─ Mas posso dar minha opinião sobre sua presença ─ ele deu de ombros ─ Se vai ficar bancando a chata, melhor que fique.

─ Eu concordo com o Harry ─ Gina se aprumou no assento de sua bike e iniciou as primeiras pedaladas, rumo a rua bem cuidada do bairro de Hermione ─ Isso vai ser legal, melhor do que ficar aguentando vocês dois discutindo.

Harry ajeitou os óculos, sorrindo de lado, embevecido pela boa reviravolta ao seu favor e pela pessoa que a comandou. Sem ficar para ver a cara de confusão de Hermione ou a de paisagem de Rony, colocou os dois pés nos pedais e seguiu a garota dos seus sonhos, acompanhando o movimento daqueles longos cabelos vermelhos, quase hipnotizado, logo atrás dela.

Os adolescentes andaram por dentro de Twinbrook, acompanhando a pequena cidade rodeada de rios, lagos e pinheiros, seguir seu curso natural de vida para uma manhã de sábado. Os cidadãos aproveitavam esse dia da semana para passear pelo singelo comércio, em família. Os pais dispunham-se a consertar alguma porta frouxa ou gaveta emperrada e apinhavam as casas de construção na busca por materiais. Da mesma forma, mães e filhas entravam nas lojinhas de roupa e sapatos e adquiriam peças novas aos seus vestuários, que seriam estreadas na missa da manhã de domingo e na ida ao cinema com alguma paquera, mais ou menos nessa ordem. Em frente ao cinema, inclusive, uma boa fila de jovens se formava, pressurosos para adquirirem seus bilhetes antecipados de Twister, a grande estreia americana daquele fim de semana. Harry estava louco para assistir aquele filme também e pensou se arrumaria coragem para convidar Gina à acompanhá-lo antes que saísse de cartaz.

Eles continuaram seguindo rumo a Ponte Boats, um solzinho tépido sobre suas cabeças.Embora fosse verão, toda aquela água e toda aquela floresta que cercava a região do país nunca deixava o tempo ficar realmente quente. Os primos de Harry, da costa leste, na Flórida, diziam que lá sim o calor era insuportável na maior parte do ano. James Potter, seu pai, reforçava a constatação e afirmava que quando a família fosse visitar a Disneylândia— assim que as coisas lá na fábrica se encaminharem melhor, filho— o garoto sentiria por si só o que era ficar sob quarenta graus, debaixo da sombra.

─ Olha aquilo! ─ Gina olhou para trás, para ele, e apontou adiante na direção de um carro estacionado com uma grande faixa cintilante dizendo sobre uma armação no teto “Casa comigo, Mary!”

─ Você acha legal? ─ Harry perguntou, interessado em conhecer os gostos românticos dela.

─ Claro que não ─ Gina rebateu de imediato, rindo e o fitando como se ele tivesse dito uma idiotice sem tamanho.

Rony impulsionou sua bicicleta, ultrapassando ele e Gina na larga avenida. O amigo era o mais alto dos quatro, espichara demais nos dois últimos anos, e, ao que tudo indicava, continuaria a crescer. As vezes, Harry se sentia desconfortável por isso. Seus pais não eram altíssimos como o Sr. Weasley, e ele corria o risco de não ultrapassar o um metro e setenta e oito, como o pai.

Finalmente o quarteto chegou na ponte que cruzava a parte mais baixa da cidade com a mais alta. Como informado por Rony, informado pelo irmão mais velho, era justamente o grandalhão Rúbeo Hagrid quem estava encostado na viatura de polícia, encarando o matagal do outro lado da pista e devorando um saco de rosquinhas. O grupo se aproximou, Rony sendo o primeiro a parar na frente do homem, derrapando com a bike.

─ Cuidado, garoto Weasley. Quer ganhar uma multa? ─ Hagrid ameaçou Rony, a sombra de um sorriso no rosto.

─ E aí Rubeo, tudo em cima? ─ Harry saudou, saindo de sua magrela e se aproximando, segurando-a pelo guidom. Os demais repetiram a ação.

─ Tudo sim ─ o homem falou, sua boca em algum lugar dentro da desgrenhada barba gigantesca ─ E com vocês? O que fazem por aqui tão cedo? Não são nem dez da manhã ainda…

─ Ah, estamos dando uma volta por aí ─ Gina respondeu, pegando um elástico no bolso do short jeans e amarrando a cabeleira num rabo de cavalo firme. Harry babou discretamente naquela visão, no mínimo instigante.

─ Como vai sua mãe, Gina? ─ Hagrid perguntou assumindo um tom mais sério, embora o glacê da rosquinha salpicando sua barba quebrasse metade da seriedade.

─ Está tudo bem ─ a menina disse, balançando a cabeça em positivismo. Sua postura retraída sinalizava que não queria falar sobre o assunto.

─ Que bom… E vocês? Weasley mais novo…

─ Rony, policio Rúbeo ─ o garoto adiantou-se.

─ Hum, que seja ─ o policial desconversou, não importava quantos fossem os filhos de Arthur e Molly, e quantas vezes eles dissessem seus nomes para ele, sempre se confundiria. Apenas Charlie, o segundo mais velho, fixara na cabeça porque volta e meia bebiam juntos e papeavam sobre banalidades ─ E a senhorita, quem é mesmo?

─ Hermione Granger, senhor ─ a garota de volumosos cabelos castanhos e roupas de marca se apresentou.

Mesmo aderida a outras crianças naturais de Twinbrook, era inconfundível a disparidade daquela jovem. Somente de olhá-la, Hagrid podia confirmar que tinha mais educação do que Weasley, mais classe do que Wood e mais dinheiro do que Potter. Não que essas comparações fossem defeitos ou qualidades, era apenas a mente de policial dele trabalhando constantemente. Após ela dizer seu sobrenome, ele confirmou, era a filha única do simpático advogado Granger, da família que se mudara há alguns anos para aquele monte de nada. Era de fora.

─ Ah sim, Granger. Como vai você e sua família?

─ Todos ótimos ─ respondeu exibindo um sorriso educado.

─ E Harry… O que você quer, Harry? ─ o grandalhão perguntou, já estudando o olhar perspicaz do garoto.

De todas as crianças dali, era o menino quem ele conhecia melhor. Os Potter vinham de uma longa geração de pequenos empresários da cidade. A fábrica de embalagens deles começara no seu bisavô, um sortudo na época da recessão do século passado, que encontrara um poço de petróleo e transformara combustível fóssil em plástico, para a indústria alimentar. Os negócios galgaram de pai para filho e agora na administração do neto, James, já não era tão forte como no passado. Entretanto, James tinha inteligência e perspicácia suficiente para contornar as crises atuais do país e driblar os rombos irreparáveis que seu pai deixara na empresa. E ainda conseguia ajudar muitos pais de família dali, gerando empregos.

Hagrid, por sua vez, nem podia falar mal do velho Phil Potter, o avô de Harry, que fora quem o empregara por muito tempo, antes dele finalmente tomar um rumo na vida e se tornar policial.

─ Eu queria saber mais detalhes da morte do Fuller ─ o garoto começou sendo o mais franco possível. Praticidade era uma das características mais marcantes de Harry.

─ Não posso dizer muita coisa e já te disse isso ontem ─ ele rebateu, dobrando cuidadosamente a embalagem de rosquinhas restantes e guardando no banco traseiro da viatura.

Harry fizera sua primeira tentativa na noite anterior, quando encontrou-o na lanchonete. Parecia um investigador nato, observando as poucas palavras ditas pelo policial com um brilho apaixonado nos olhos e lançando sutis perguntas nas vistas de James e Lílian.

─ Qualquer coisinha serve… ─ o menino implorou.

─ É policial Rúbeo, conta pra gente. Temos direito já que estivemos presente na cena quando o corpo foi retirado da Boca do Diabo─ Rony endossou.

─ O que? Estão zanzando por aí, a noite, quando essas coisas estão acontecendo por aí?

─ Ah, somos grandes o suficiente, Hagrid. Não precisa se preocupar ─ Gina respondeu, indo se sentar na sarjeta ─ E se for um homem, eu dou-lhe um chute no meio das pernas.

─ Eu achei um pouco inseguro, se querem saber ─ Hermione falou modestamente ─ Se é um animal mesmo quem atacou o Adam poderia, muito bem, estar a espreita na escuridão enquanto observávamos a coisa toda.

─ Quem chamou ela aqui? ─ Rony reclamou, erguendo os braços.

─ Aí está uma garota sensata ─ o policial sorriu, apreciando ─ Mas a teoria de um animal selvagem foi apenas uma declaração apressada que demos para abafar o caso, por hora. A possibilidade de assassinato ainda é muito maior…

Vendo os olhos arregalados e o triunfo nas expressões de Harry, Hagrid se deu conta de que havia soltado a língua demais. Levou uma das mãozorras no rosto e meneou a cabeça negativamente.

─ Eu não disse nada.

─ Então a suspeita de assassinato é maior? ─ o menino de óculos de grau, indagou.

─ Eu não disse nada.

─ Caraca! Quem fatiou o Adam em pedaços, então? ─ Gina levou uma mão a boca, surpresa ─ Só pode ser alguém que tinha muita raiva dele, no mínimo.

─ Nós já estamos investigando o garoto Derek, mas ele disse que não via Adam há vários dias ─ Hagrid comentou, batendo na boca logo em seguida, horrorizado ─ O que há comigo?!

─ No fundo você confia em nós, policial Rúbeo ─ Rony sorriu, animado.

Era tão fácil arrancar algumas informações do homem. Ele era famoso por ter o coração tão grande quanto sua boca, incapaz de guardar um bom segredo por muito tempo. Por isso, corriam boatos, que ele nunca conseguia, e nunca conseguiria, subir ao posto de investigador.

─ Esse assunto termina aqui e vocês não ouviram nada disso de mim ─ exigiu do quarteto num vozeirão potente ─ Derek Smith ainda não é um suspeito divulgado. Isso pode prejudicar a investigação toda.

A cerca de duzentos metros de distância deles um aglomerado de cem pessoas, cidadãos insatisfeitos, se aproximava carregando cartazes pintados a mão, e exigindo que o prefeito interrompesse a negociata para permitir que a represa passasse pela floresta, quando a hidrelétrica da cidade vizinha inaugurasse.

─ Não se preocupe, Rúbeo. Não vamos falar nada não… ─ Harry tentou acalmar seu amigo grandalhão que tinha um olho nas crianças e outro nos manifestantes.

─ É o mínimo. Olha pessoal, eu tenho que fazer meu trabalho agora. Tenho de impedir esse bando de ripongas de chegarem à prefeitura ─ interpelou.

O quarteto começou a montar nas bicicletas de novo. Hagrid fechou a porta do carro, mas antes que pudesse se despedir dos jovens definitivamente, alertou:

─ Vou pedir para que nenhum de vocês fique vagando por aí, nos lugares mais abandonados da nossa cidade, principalmente na floresta. Muito menos a noite. A coisa está perigosa até a segunda ordem.

─ Pode deixar ─ Hermione respondeu, quase batendo continência de tão certinha.

Rony ergueu as mãos as costas de Hermione e emulou um movimento de esganamento na direção dela, olhando para Harry. O garoto estudou o gesto tendo certeza de que Rony realmente tinha algum plano que envolvesse ele e Hermione, mas não tinha nada a ver com esganamentos.

─ Pode confiar, Rúbeo ─ Harry reforçou vendo o homem correr na direção dos manifestantes que gritavam “NÃO MATEM NOSSA FLORESTA!” a plenos pulmões. 

 


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