Black Annis: A Coisa que Nos Uniu escrita por Van Vet


Capítulo 11
Os Gêmeos Weasley


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou até que divertidinho, gente. Aguardo vocês nos comentários. Beijão!



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Naquela mesma manhã em que eles conversaram com Hagrid, quando a hora do almoço chegou, Rony se despediu dos amigos (apenas um brusco acenar na direção de Hermione, eles não estavam se falando)e pedalou em direção as casas de jardins amplos e cômodos apertados, no bairro aonde os Weasley moravam. Molly Weasley tinha algumas regras muito claras sobre como criar os filhos e, excluindo seu coração de manteiga derretida nos aniversários dos seus meninos, podia se tornar uma perfeita carrasca do lar caso algum deles pulasse as refeições principais do dia. 

A Molly de 1996, a maioria de seus filhos ficariam chocados se soubessem, exceto Gui que havia nascido justamente nesse tempo, era muito diferente da garota natureba dos anos 70. Molly e Artur, dois ripongas juvenis de cabelos longos e ensebados, calçando sandálias de couro sintéticoe invadindo festivais de rock por todo o país que emulavam os míticos dias do WoodStock. Esses eram os pais de Rony muito antes dos seis filhos barulhentos de cabelos igualmente ruivos que teriam no futuro. Aquela Molly passava dias sem se alimentar direito, vivendo em meio a rodas de fumo e histórias oníricas, enquanto sentia a chuva caindo na sua testa num entardecer instável de outono no gramado do obelisco de Washington. Fora naquele gramado, aliás, que o garoto natural de uma cidadezinha de nome engraçado e inédito para ela, Twinbrook, pediu uma das filhas dos Estados do Pacífico em casamento.

Rony terminou sua viagem encostando a velha bicicleta na lateral da casa e entrando pela porta da cozinha. Era justamente Molly quem o olhou primeiro, nem brava nem feliz, mas falando em tom de advertência para não perder o costume de matrona exigente:

─ Achei que ia se atrasar ─ sua mãe, uma gorducha senhora de cabelos ruivos guardados dentro de um coque alto, inquiriu. Quem a havia conhecido nos tempos de paz e amor ainda poderia reconhecê-la pelos olhos claros e as bochechas coradas.

─ Mas nem tá pronto ainda… ─ Rony olhou para a mesa vazia.

─ Não interessa, mas tá quase. Vá lavar a mão e venha começar a me ajudar a colocar a mesa.

─ Tá bem.

Assoviando baixinho uma canção estúpida que não saía de sua mente desde que escutara no rádio semana passada, Rony tomou o hall em direção ao banheiro de azulejos azuis. Antes que girasse a maçaneta seus ouvidos capturaram os sons desafinados do violão de George e ele se lembrou que tinha algo muito importante para perguntar aos irmãos.

Now and then when; I see her face; She takes me away to that special place and if… O que quer Cabeça de Vento? ─ Fred interrompeu sua cantoria de Sweet Child O’Mine tão fora do tom quanto a melodia que George insistia em tirar das cordas do violão, para encarar a cabeça de Rony flutuando na porta entre aberta.

O garoto observou os irmãos gêmeos sentados, cada um em uma cama de solteiro, e entrou no quarto fechando a porta atrás de si. Fred continuava o olhando como se ele estivesse cometendo algum sacrilégio severo e profanando um templo maia sagrado. Claro, nunca era nada ameaçador o bastante do que Percy profetizando sobre o futuro estúpido dos irmãos mais novos como lixeiros e varredores de rua se eles “não começassem a acordar para vida e prestar atenção nos estudos”, mas os gêmeos tinham uma boa cota de implicância com Rony, que nunca perdoaria os pais por ter sido o caçula numa família de seis homens.

─ Tão fazendo o que? ─ perguntou encostando na porta.

─ Está amassando o Eddie, idiota ─ Fred advertiu. George continuava dedilhando absurdamente mal da sua cama.

─ Hã? ─ o garoto mais novo olhou para trás e se afastou do pôster macabro do mascote do Iron Maiden colado na porta. Foi sentar na cadeira ao lado da escrivaninha.

─ Olha essa aqui, Cabeça de Vento ─ George interrompeu um sofrível solo Quiet Riot e emendou um Twisted Sister. Os acordes saíram mais confortáveis do que o esperado para os ouvidos de Rony, indicando que o irmão deveria ter treinado por umas cinco mil vidas para conseguir tal resultado.

We’re not gonna take it; No, we ain’t gonna take it!; We’re not gonna take it anymore… ─ Fred pegou embalo no som e incorporou-a a sua terrível voz aguda e flutuante de adolescente.

─ Vocês estão ensaiando para o coral da igreja? Vão ser uma dupla como Matt e Luke Goss ou algo assim? ─ Rony ralhou.

─ Ah Roniquinho… Seu cara de bosta ambulante, acho que estamos precisando atualizar suas disciplinas ─ Fred pulou a canção original para cantarolar a ameaça.

─ Eu já estou do tamanho de vocês, imbecis ─ o garoto vangloriou-se. A seguir ergueu o patético músculo do antebraço, um pedaço de carne branca em formação, e deu uma batidinha orgulhosa no bíceps, muito embora não fosse nenhuma ameaça.

George riu pelo nariz sem parar de tocar e emendou as ameaças de seu gêmeo:

─ Mas nós ainda somos dois.

─ Tanto faz ─ o caçula deu de ombros, porém ficou imaginando que peça terrível eles poderiam armar nas próximas horas contra sua pobre alma.

Fred e George tinham um talento fenomenal – diferente deste péssimo de cantar e tocar – para criar pegadinhas infames. Rony se transformava num expectador ansioso ao acompanhar os irmãos executarem muitas delas em Percy, mas era um alvo potencial em certas ocasiões quando a Cobaia Número Um não estava disponível. Fora numa dessas ‘brincadeiras’ dos gêmeos que o maior medo do garoto se desenvolveu quando os irmãos colocaram uma tarântula viva e peluda no travesseiro dele, que na época tinha apenas quatro anos. Sem precisar de muita concentração, se quisesse, Rony conseguia reviver a sensação do momento escutando as pernas do bicho estalando para perto de sua cabeça na fronha branca. Desde então, não podia ver um bicho daqueles que seus instintos mais primais de medo gritavam como alarmes de incêndio em um posto de gasolina.

─ Lino saiu daqui agora a pouco… Disse que viu você, Harry Potter e duas garotas andando de bicicleta perto das construções da represa ─ comentou Fred, se encostando no travesseiro e pegando uma revista sobre carros no criado-mudo de pinho que havia pertencido ao Sr. Weasley na juventude ─ Meu maninho está desencalhando?

─ Não comece…

─ Uma delas deve ser a garota Granger. Ela veio aqui uma vez, não veio? ─ ele perguntou para George enquanto Rony, adivinhando aonde aquela história poderia chegar, começou a corar no pescoço.

─ Veio sim. Mamãe até chamou ela para tomar um chá com biscoitos de polvilho. O Cabeça de Vento ficou azul como está ficando agora ─ encarou o irmão mais novo sagazmente e então Rony soube que eles já haviam ensaiado aquela fala no momento que ganharam a informação de Lino Jordan. Começou a se arrepender de ter entrado no quarto ─ Vocês já se beijaram, Roquinho?

─ Acho que não. Olha a cara de Boca Virgem do nosso irmão ─ Fred riu sarcástico ─ Aposto que o Harry, de óculos e com aquela cara de nerdzinho, é muito mais adiantado do que ele.

─ Calem a boca seus Caras de Cu! ─ Rony exclamou, as orelhas fumegantes.

─ RONALD WEASLEY, PARE AGORA DE FALAR PALAVRÃO!!! ─ o berro da Sra. Weasley veio atravessando o corredor até reverberar nas paredes do quarto dos gêmeos. George teve a impressão de que a mobília toda do ambiente se chacoalhou em resposta aquele berro da mãe, e em algum sismógrafo local Twinbrook deve ter registrado um terremoto de escada média não observado pelos últimos cinquenta anos.

Rony ainda estava encolhido na cadeira, quando Fred falou aos sussurros:

─ O que há com os ouvidos dessa mulher? Isso não é normal. Rony nem sequer falou alto. Como ela escutou?

─ Eu li em algum lugar que quando as mulheres viram mães elas desenvolvem superaudição. Nunca duvidei disso. ─ George adicionou sua opinião desopilando os ouvidos com os mindinhos.

─ Humm… Tipo o Homem-Aranha? Mamãe se transmutou assim que começou a gravidez de Gui e não parou mais? Pior, ela ia evoluindo para uma mutação ainda mais agressiva a cada gestação?

─ Igual ao Super Saiyajin? Mamãe é o Goku? ─ o outro emendou numa exclamação chocante.

Neste ponto, Rony teve de colocar as duas mãos da boca para não gargalhar alto. Lágrimas escapavam pelos olhos ao passo que a barriga doía as referências comparativas sobre Dragon Ball e sua mãe. Fred e George continuavam impavidamente sérios, como se aquela fosse uma discussão realmente válida ou apenas estivessem gostando de ver o irmão caçula se contorcer de risos.

─ Mamãe já passou de todas as transformações intermediárias então ─ Fred concluiu ─ Agora ela passa de Molly Weasley para o Gorila Gigante como quem assoa o nariz, Georgito.

Desta vez os dois garotos idênticos não aguentaram e também riram dos próprios gracejos. Depois do que parecia ser um incontrolável acesso de risadas convulsivas, Rony finalmente encontrou fôlego para perguntar o que queria desde que entrara naquela caverna de música desafinada e teorias mirabolantes.

─ Vocês são da mesma classe que Derek Smith, não são?

─ Do Escroto-Debiloide-Imbecil-Derek-Smith? Somos sim, o que há?

Rony precisava tomar cuidado para não falar demais. O emprego de Rúbeo poderia estar em risco se sua língua fosse muito cumprida… Ou não. A velha lenda de que todo o departamento de polícia só soltava informações para Hagrid quando sua revelação não era uma ameaça, nunca morria.

─ Nada. É que Harry estava comentando sobre ele hoje de manhã, falando que ele era amigo do garoto que morreu…

─ Adam Fuller? ─ Fred franziu o cenho, incrédulo ─ O Fuller estava para se formar. Ele já tinha quase dezoito.

─ Mas era meio estranho, meio lerdo ─ George comentou, pensativo ─ Os garotos da turma dele não costumavam ficar junto com ele. Ele era… solitário. E, pensando bem, meio pequeno, diferente do Smith que é um canhão. Bem que dizem que quanto maior a pessoa mais estúpida é.

─ Quem disse isso? ─ Fred retorquiu para o gêmeo ─ Eles devem associar isso ao gigantismo que é outra coisa, cara.

─ Não, nada disso ─ George advertiu e explicou com toda a paciência. Dos gêmeos era o mais paciente, deferente de Fred, o mais impulsivo ─ Pessoas muito grande tem o metabolismo mais devagar porque o sangue tem que percorrer muito mais corpo para chegar ao cérebro. Por isso eles são meio letárgicos.

─ Você anda lendo alguma revista de mulherzinha, é? Reader’s Digest, por acaso?

─ O cara do violão é sempre mais culto do que o cara do vocal, Fredzito.

─ Mas o Derek e o Adam não conversavam nenhuma vez que fosse? ─ Rony interrompeu-os, ansioso por informações úteis.

─ Qual seu interesse nisso tudo, Ronquinho Cabeça de Vento?

─ Só curiosidade ─ respondeu tentando fazer sua cara de mais inocente para convencer dois mentirosos natos.

─ Eles tem uma coisa em comum sim ─ Fred lembrou ─ Iam embora pelo mesmo caminho depois da aula. Tanto Derek quanto Adam moravam depois das Rodas. Eles tinham de passar perto do matagal aonde ficava a antiga fábrica de pneus.

─ Aquela que o papai trabalhou quando moço?

─ Essa mesma.

─ RONY, FRED, GEORGE! PAREM DE PAPO FURADO E VENHAM ME AJUDAR A COLOCAR A MESA PARA COMER ─ clamou Molly da cozinha. Sismógrafos pularam em algum lugar novamente.

─ Aff… começou o Gorila Gigante de novo ─ Fred bufou e virou os olhos.

─ Vai na frente, Cabeça de Vento. Vai lá ajudando a mamãe e nós podemos pensar em não pregar uma peça em você por duvidar da nossa carreira musical.

─ Duvido ─ Rony deu de ombros e se levantou.

─ Do que? ─ Fred perguntou, desconfiado ─ Olha aqui Rony, veja como se deve agir com Hermione Granger se quiser desencalhar.

Por cima do ombro, Rony viu Fred se lançar para cima de George e abraçar o irmão. George largou o violão na cama e pressionou a cabeça do gêmeo contra sua mão, dizendo:

─ Vem cá, Mione. Agora você vai conhecer a sensualidade de um garoto Weasley. Vem cá!

E se entrelaçaram em beijos falsos no pescoço e na bochecha, com abraços bizarros e contorcidos, poses sensuais grotescas e um amontoado de canelas branquelas se esfregando uma noutra. Amontoados, os dois tombaram na cama de Fred.

─ Vocês são doentes ─ o caçula revirou os olhos daquela cena dantesca e foi ajudar a mãe com o almoço.


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