Damery Lane escrita por Demiguise


Capítulo 6
O jantar




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Lá dentro encontrava-se uma mão cheia dos melhores (na concepção excêntrica e afetada do Professor Slughorn) alunos de Hogwarts, os que certamente teriam um futuro invejável a todo o resto medíocre que o castelo abrigava (novamente, só que numa sessão mais reservada, da mente de Slugue).

Jeremiah considerava-se um caso à parte. Reconhecia seus primores quando convinha os reconhecer, mas se o próprio fizesse sua lista de melhores estudantes, sequer entraria na mesma.

Dentro da sala os alunos esperavam, alguns sentados, outros de pé, a conversar, o resto dos membros chegarem. Jeremiah reconheceu Rufo Scrimgeour, sétimo ano, Corvinal, e Alemif Ilveneau, o único aluno francês de Hogwarts, e que por esse fato, fez-se rapidamente reconhecido; também em seu último ano. Vilian Philpott, colega de Jeremiah em Transfiguração, limpava seu sobretudo verde do que parecia uma mancha de chocolate, mas dado às circunstâncias, bem que poderia ser poção Polissuco...

Jeremiah restringia-se a um aceno com a cabeça aos poucos membros que ele mantinha uma rarefeita e educada convivência no castelo. Gostava de Rufo, que o ajudara bastante no seu terceiro ano a fazer os pergaminhos requisitados sobre Lesmas Carnívoras; mas Jeremiah suspeitava sua intimidade com Slughorn ser devida a ambições maiores do que um gosto pessoal por Lesmas: Acontece que o avô de Scrimgeour, fora há uns dez anos atrás, um forte concorrente a ministro da Magia e o professor, de certa forma, via relâmpagos desse fato no semblante orgulhoso de Rufo. A história por detrás de Alemif era diferente; o sr. e a sra Ilveneau pertenciam a camada mais bem sucedida da comunidade bruxa francesa, e ao contrário do que muitos poderiam pensar, não nutriam o mínimo de apreço por política. A ideia de ricaços franceses não se preocupando com nada senão a decoração de seus enormes e exclusivos bailes de gala mensais encantava Slughorn de uma forma única; há quem diga que estas pessoas (os Ilveneau) são umas das poucas na comunidade bruxa a quem Slugue nutre uma genuína e saudável inveja.              

Vilian Phillpott tratava de ser filha de Bene Phillpott, eleito pelo Sonho Voador (revista semanal de Quadribol), o melhor jogador de Quadribol que o Monstrose Magpies já tivera em sua história; hoje aposentado. Phillpott também era a melhor estudiosa de Herbologia de Hogwarts, tanto que recebeu do ex-diretor Dippet, permissão para cultivar um Visgo do Diabo na Estufa 3, como um hobbie.

Depois dos cumprimentos calorosos do professor e uns acenos sem graça aos colegas, Jeremiah vagou pela sala do Professor. Esta era sempre muito bem organizada, com vários espaços separados por colunas, um escritório abundante em livros de poções, uma varanda com mesa de jantar redonda e farta, essa inclusive encontrava-se em tumulto, com talheres, copos e toalhas flutuando para se fazerem organizados, e uma sala com lareira e sofás verdes e prateados. Slughorn sentava-se num deles a tomar um Brandy e conversar com Rufo e Ilveneau, quando ouviu o chamado de sua Lesma de metal à porta.

— Jeremiah, meu caro, se importa? Acabei de me sentar – Slughorn virou-se para dizer. E Jeremiah não se importou (porque nunca se importava com nenhuma das faltas éticas de seu querido professor, afinal, o próprio fato dele estar presente naquela reunião constituía uma) e foi à porta.

Estático, na soleira da porta e com o peito estufado, encontrava-se Abraxas Malfoy, o próprio. Sétimo ano e nenhuma palavrinha amiga com Jeremiah em nenhum dos seis anteriores; o Malfoy demonstrou desgosto ao ver que foi atendido por Jeremiah e não pelo seu professor. Não falou nada e só entrou.

— Professor! Ai está! – Disse ele, quase vociferando, deixando a sala inteira ciente da sua chegada. Típico Malfoy.

— Abe, meu caro! Estava começando a achar que não iria vir! – Slughorn, levantou-se de supetão, pego de surpresa de tal modo que quase derramou o whiskey no carpete. Malfoy e Slughorn se abraçaram fortemente.

— Seria um Whiskey neste copo, professor? – Disse o loiro, quase segurando a mão do velho.

— Ah, Abe, encaro este como um pecado pessoal... e nesta noite, redimível, dada a situação!

— Deve valer muito a pena, este pecado... pelo que vejo, esta é uma bebida trouxa. – A expressão de Malfoy pendeu entre um desprezo envergonhado e um contentamento forçado. Para ele, algo estava errado.

— Um verdadeiro Malfoy não se desprende de seus costumes, não é, meu caro? – Slughorn riu um riso horroroso. A sala toda percebeu e se não fosse o chamado da Lesma que seguiu, o clima iria piorar em questão de segundos.

Slughorn não cometeu a falta cometida com Malfoy com os próximos convidados, que eram, Fae Rottle, do quinto ano e Meromie Graemie, do sexto. As garotas, melhores amigas desde o ano passado, quando Fae tornara-se a aluna mais nova a juntar-se ao Clube, andavam juntas para lá e para cá; e ninguém duvidaria que tivessem passado as férias juntas igualmente.

A noite repousava com tranquilidade, estava morna, quieta. Atípica noite que precede as temporadas frias do inverno. Um tempo que não se decide se quer ser frio ou quente. Jeremiah gostava da sacada da sala do professor. A brisa noturna levantava seus cabelos, que haviam crescido muito durante o verão. Ele estava sozinho, mas não solitário. Na maioria das ocasiões em que não tinha companhia, ele aproveitava a sua própria, e não tinha vergonha de admitir para si mesmo que esta era a melhor companhia para se ter.

 Quando se sentou na mesa de jantar para, enfim, comer, desejou estar sozinho. Ou pelo menos na companhia de Clementine ou Damery.

Muita conversa, pouca interação. Os alunos falavam de suas férias, como é esperado, uma vez que aquele era o primeiro encontro do Grupo do ano. “Fui observar Dragões Tailandeses junto de meus primos por parte de mãe”, “Consegui completar a Sorte Líquida, mas tenho medo de testá-la...”, “Assisti As Harpias contra Os Falcons nas semifinais da Copa, o goleiro me deu um autógrafo no ombro...”. Todos queriam falar o que fizeram, mas não estavam interessados em ouvir as aventuras dos outros. Jeremiah não fizera nada de interessante durante as férias, tanto que quando chegou a sua vez de “compartilhar”, ele se esquivou da pergunta para não entediar todos contando os capítulos dos livros que lera por horas a fio, sentado na poltrona de sua casa na comunidade de Holly South Leaves; um município trouxa á sul de Londres.

O membro mais falante, era, não surpreendentemente, Abraxas Malfoy. Era cômico de ver. A única pessoa que estava genuinamente interessada no que ele tinha para falar era Rufo; até o professor desistira de dar-lhe atenção em certo ponto e puxara uma conversa acerca de boas ervas para adicionar a uma Poção Calmante, com Vilian.

Na hora da sobremesa, os ânimos acalmaram-se, e foi a brecha perfeita para o professor iniciar um monólogo:

“Queridos alunos, como sabem, e como sei muitíssimo bem, porque nós, do corpo docente, estávamos cientes muito antecipadamente da notícia que para vocês fora dada no primeiro dia em que chegaram ao castelo, este ano é especial.”

Alguns alunos franziram a testa, como Rufo, que ligara todas as suas antenas para ouvir com atenção; outros reclinaram na cadeira, que foi o caso de Fae, em um gesto de “era obvio que ele iria falar disso...”. Jeremiah não era bobo, ele sabia, mas ficou imóvel, não estava surpreso, mas também não estava animado.

Continuou o professor:

“Este ano, a escola sediará o Torneio Tribruxo... E eu espero, com o coração muitíssimo aberto... e que isto fique apenas entre nós! Que vocês, antes de tudo, compartilhem as suas respectivas opiniões acerca de tal evento; assim como, alguma possível inclinação á... como posso dizê-lo? Vejam bem... tentem me entender...”

— Participar dele? - Quem disse foi Jeremiah. Os olhos de Slughorn brilharam de tal modo que todos ali acharam que ele ia dar um prêmio condecorativo ao garoto.

— Muito bem! Exatamente, meu caro Sr. Ace. A começar com o senhor! Se não se importa...

Um breve silêncio deixou todo o clima mais constrangedor.

— Eu? A mim? Professor! – Jeremiah sentiu sua cara arder. – Desculpe, professor. Não passou pela minha cabeça.

Em milésimos de segundos, Jeremiah analisou a situação. O silencio instaurado antes de sua resposta tornou tudo mais difícil. Dava pra ver as maquinagens internas de seus companheiros rebobinando, pensando em alguma resposta, pensando se era de alguma utilidade conta-las a todos e ao professor. Jeremiah achou melhor não.

O professor sorriu muito gentilmente.

— Muito naturalmente, meu rapaz. A ambição é algo engrandecedor... quando usada de forma consciente. É o que sempre digo, e é o que dizia o químico trouxa que conheci em 38, em Trenchbury Lane, que dizia jurar saber fazer uma poção do Morto-Vivo... Pensando agora... acho que estava bêbad-

— Devo confessar, professor; é uma hipótese que tenho passado a considerar... desde ontem.

Todos viraram para Abraxas, subitamente. O fato dele ter falado em cima de Slugue, o fato de suas palavras terem vindo com tamanha presunção, e o fato de Malfoy parecer que nem percebeu deixava o clima com um tom pesado e escuro. As luminárias escureceram-se levemente, e a comida tornou-se amarga para quem estava mastigando.

Slughorn ficou sem reação, as palavras o queriam escapar da boca, mas nada saia. Por fim acabou dizendo, com uma falsa surpresa muito evidente:

— É mesmo?

O ego de Malfoy impediu o próprio de perceber o tom da pergunta (retórica, obvio) do professor.

— Mas é claro, e por alguma razão... é uma escolha que eu achei que o senhor aprovaria, pessoalmente...

Slughorn forçou o máximo que pode para manter suas feições alegres, mas gradualmente foram transformando-se para apenas otimistas. Na hora de sua replica, um semblante preocupado havia se instalado.

— Slughorn limpou a garganta e disfarçou com um riso. – Mas a vida é assim. Uma das razões para qual trouxe todos aqui, novamente, mais um ano, era para que eu pudesse... e digo isso com extrema cautela e dificuldade, talvez...

Abraxas olhava os esforços do professor com olhos vorazes, o garoto podia, ali mesmo explodir em berros. Mas contentou-se em apenas alertar.

— Desembuche, Slughorn. – Disse ele, com as duas mãos em cima da mesa.

— ...Talvez convencê-los a não se candidatarem para o Torneio. Na hora certa, digo.

Jeremiah e os outros ficaram surpresos com o posicionamento do professor, cujo olhar era de uma vergonha peculiar.

“A verdade é que esses jogos... Bem, são uma máscara, vejam só. Uma máscara política para testar Dumbledore. Uma vez que foi tudo ideia do ministério, como bem sabem, é uma forma do ministro negar a saída de Armando, e repudiar a nomeação de Alvo. Minha teoria é que depois da queda do... Grindelwald, o ministério e o próprio ministro da magia, ficou, no mínimo...”

 

 

— “temeroso.” – Disse Jeremiah, enfiando uma fatia de pão com geleia na boca logo após.

— Ele se cagou nas calças, ele quis dizer...  – completou Clementine, que ouvira toda a reprodução do amigo desde o momento em que ele entrou na sala do professor, na noite passada.

Eram nove da manhã, e os fantasmas (que geralmente acordavam os alunos atrasados aos berros) entravam voando no salão comunal seguidos de uma boa plateia de estudantes sonolentos.

— Então ele basicamente pediu para não nos inscrevermos... no Torneio? – Raciocinava Damery.

— Bem, para nós não nos escrevermos. Do Clube, sabe? – Disse Jeremiah, tentando não soar arrogante.

— Não podia deixar essa escapar, né? -  Clementine se escandalizou. Abriu um sorriso debochado na cara.  Jeremiah apenas ignorou e continuou a explicação.

— Ele disse que não vale a pena, mais ou menos. Que esse tipo de glória não adere muita coisa ao nome – disse o garoto.

— Onde ele está com a cabeça? –refletiu Damery, largando os talheres em protesto – Adere milhares de galeões no seu cofre em Gringotts, só isso deveria ser motivação suficiente!

— Certo, mas á que preço? Acho que esse foi o ponto dele. – Jeremiah fazia de tudo para tentar permanecer em cima do muro. Não defendia nem demonizava o Torneio.

— Fora que Grindelwald caiu há décadas - completou Damery.

— Mas ainda estão juntando os cacos... – Disse Clementine. – O que você queria que ele fizesse? Instigasse os alunos para participar?

— Mais ou menos isso. Tem ovo no seu cabelo. E geleia aqui – Damery respondeu, limpando o rosto da amiga. – Vocês não? Essa não seria a coisa mais Slughorn de todas? Endeusar seus favoritos ainda mais. Incentivá-los a pôr suas vidas em risco por causa de fama? Existe algo mais precioso do que fama?

— Ela tem um ponto... – Disse Jeremiah para Clementine, já virando-se para verificar quem se aproximava pela direita.

Era Filipa Jones, artilheira da Lufa-Lufa. Uma quintanista. Ela trajava a vestimenta própria pro quadribol: ombreiros, protetores, capacete... e até carregava uma goles.

— Flitwick e McGonagall pediram para avisar vocês... A professora Merrythought vai dar aula em algum diferente hoje. Vai ser perto das estufas, mas não sei onde...

O trio se entreolhou.

— Honestamente, Filipa, eu sem sabia que teríamos aula com ela – Clementine disse. Jeremiah bufou imediatamente.

— O acham que vai ser? – Damery se entusiasmou com a possibilidade de uma aula diferente de sua matéria favorita.              

Jeremiah agradeceu a Filipa e assim que ela se virou para ir embora, ele saltou da cadeira atrás dela.

— Espere! Filipa, a Lufa-Lufa já começou os testes?

— Ah... Já passamos dessa fase, estou indo treinar agora – respondeu ela, prendendo o cabelo enorme e marrom em um rabo de cavalo. A bola flutuou no ar no meio tempo.

— Eu achei que com o Torneio o campeonato iria ser cancelado – Jeremiah disse, franzindo o cenho.

— Nós também achávamos, mas o número de jogos foi apenas reduzido. Não sabemos o porquê, mas Dumbledore insistiu que a Copa não fosse interrompida. Honestamente, achei que vocês da Corvinal já soubessem, o primeiro jogo é daqui a umas duas semanas.

— Não nos contaram nada. Eu realmente achei que teriam canc... Ei! Não é possível treinar em horário de aula, como conseguiram o passe!? – A expressão de Jeremiah mudou, agora estava surpreso, apontando para a goles.

Filipa riu e disse:

— Não é passe, eu vou treinar sozinha. Tenho Adivinhação agora e Trelawney nunca lembra meu nome mesmo.

Damery chamou Jeremiah logo após. E riu-se quando viu a expressão de choque no rosto do amigo. Caminhando pela ponte suspensa no lado leste do castelo, em direção às estufas, Jeremiah indignou-se.

— Vocês ouviram o que Filipa falou? A Copa não foi cancelada – disse ele, ainda reflexivo.

— Pois devia, - respondeu Damery – o Torneio já vai ocupar o tempo de todo mundo. O castelo vai se encher de membros do ministério.

— Isso quer dizer que o time está atrasado. Como Flitwick não nos avisou!

Clementine arqueou as sobrancelhas num segundo, percebendo algo esclarecedor.

— Ah, certo! Às vezes me esqueço que você é o Apanhador da Corvinal – disse ela.

— Acho que deveria carregar consigo um Lembrol, Clementine. Se não me engano eles vendem em Hogsmeade – sugeriu Damery, sinceramente.

— Eu já tentei uma época. Lembra? Mas o aparelho maldito só funciona com coisas materiais. Não faz você Lembrar de fatos... Seria um sonho, realmente.

— O que? – Jeremiah perguntou, instigado pela forma de pensar da amiga.

— Se o Lembrol pudesse avisar você dos pensamentos que esqueceu. Para mim foi um experimento inútil.

— Talvez você pudesse inventar um objeto assim. Um Lembrol 2.0 – a sugestão veio de Damery.

— Deixa pro Jeremiah fazer, de nós três, ele é mais provável de criar um encantamento primeiro.

— E eu? – Perguntou Damery sincera.

— Você vai criar uma maldição antes disso – Clementine completou a frase com um sorrisinho.

No último corredor da ala leste, aproximando-se das estufas, Jeremiah congelou, e as garotas perceberam somente a uns passos à frente.

— Que foi? -Perguntou Damery.

— Eu esqueci – disse o garoto, olhando pro chão, pensando em mil coisas -, não fui cotado para Defesa Contra As Artes Das Trevas. Flitwick avisou que eu não consegui nota suficiente no N.O.Ms, vocês lembram?

Era verdade, e quando Damery percebeu, ficou genuinamente triste. Não queria dizer que sentia muito, pois ia soar como uma tragédia, mas não tinha o que fazer... o amigo não podia participar da aula.

— Poxa Jeremiah! Honestamente, nem consigo sentir pena de você! Até eu que sou uma desmiolada consegui passar na prova da Merrythought – disse Clementine, desconcertada.

— Você tem razão – disse o garoto. – é até bom, vou subir a torre e procurar Flitwick... para perguntar dos treinos e tal.

Jeremiah já se virava para seguir a direção contrária quando Damery lhe chamou.

— Prometo dizer tudo o que a professora ensinar – disse ela.

O garoto sorriu.

Merrythought realmente estava nas estufas. Na parte de fora delas, havia uma roda de uns quinze alunos de casas variadas, conversando entre si. Uns fazendo mais bagunça do que outros.

A professora era idosa (tinha por volta de seus 80 anos, mas como era bruxa, aparentava ter uns trinta a menos que isso), esguia e possuía feições gentis. Algo em seus olhos fazia parecer que estava sempre alegre, e na maioria das vezes, estava. Trajava um terno discreto, verde, com pelo de chinchila nas golas e nas mangas. Na cabeça, um chapéu pontudo e comprido, ainda mais comprido que o de McGonagall. De vez em quando, ela colocava uma das suas mechas finas para trás da orelha; o resto do cabelo preso em um coque cinza. Estava sentada em um toco de árvore, verificando uma caixa de papelão com aspecto nojento e molhado. Ela notou a chegada do trio.

— Ah, muito bem, se puderem, chamem seus colegas através das cartas, como a senhorita Daugherty ali.

— Cartas? Ela quer que usemos corujas para avisar todo mundo? – Questionou Clementine.

— Não – interveio Juju, com a varinha e um papel na mão -, é só enfeitiçar as cartas para elas voarem até quem você quer, fazemos isso o tempo todo lá na fazenda.

Os pais de Juju eram donos da Fazenda Daugherty, que ninguém sabia onde ficava, só que era em algum descampado na Irlanda. Lá eles produziam e importavam a maior remessa do trigo especial para fazer a cerveja amanteigada consumida em toda Europa. Esse trigo extremamente potente, é cultivado em condições específicas, e, por alguma razão herbológica não estudada, resiste a feitiços de crescimento, tornando seu cultivo dificultado. Isso significava que Juju, com rinite trouxa e tudo, vinha de uma família extremamente rica.

De repente, Merrythought levantou-se do toco e tirou o chapéu. Não havia sol, mas estava abafado.

— Muito bem, acho que está tudo em ordem. Os alunos que faltam não vão se demorar... coloquei avisos na sala de aula de qualquer maneira. Vamos começar com a matéria de hoje. Aproximem-se, todos.

Os alunos se aquietaram e obedeceram, formando um círculo ao redor da professora e das caixas de papelão meladas no chão. Algumas se mexiam levemente.

— Hoje, - começou a professora – temos uma aula diferente. Não ouso chama-la de especial, porque realizarão (ou pelo menos vão tentar) alguns dos mais perversos feitiços conhecidos – os gritinhos e as conversas entusiasmadas se fizeram aparente de modo que nem Merrythought segurou um sorrisinho no canto do lábio. Nesse momento mais uma onda de alunos atrasados chegou e postou-se logo atrás dos que já estavam ali.

A Professora Sprout apareceu na porta de uma das estufas próximas, com abafadores de ouvidos e uma tesoura de jardinagem do tamanho de um braço.

— Que confusão é essa, professora? – O olhar de Sprout era incisivo a todos os alunos, não tinha medo de reprimir Merrythought, que era mais idosa e experiente do que ela, quando se trata do bem estar de plantas – Quietos, vocês! Sabem que é difícil cultivar a Erva-Que-Dorme quando o ambiente não é silencioso! Deixem-nas dormir, senão vou alimentar os galhos maiores com vocês! Galatea, controle seus animais! – A bruxa voltou para dentro da estufa resmungando algo inaudível. Clementine segurou um riso e cochichou a Damery:

— Adoro quando eles brigam entre si.

O sorriso de Merrythought desapareceu num segundo. Ela acenou para os alunos mais à direita aproximarem-se, sacou sua varinha e murmurou:

Abaffiato.

Uma barreira turva ergueu-se no chão, circundando todos os alunos ali presentes dentro de um domo com um tamanho considerável. Todos se espremeram, de certo modo, com medo de estarem fora da proteção.

 – Pronto, agora as Ervas poderão dormir tranquilas, não nos ouvirão – continuou ela. - Pedi para lerem o capítulo dezessete do Maldições Comuns e como muitos de vocês devem ter percebido, existem alguns feitiços proibidos lá...

— Aqueles em que as palavras estão ocultas – todos ouviram um cochicho, mas ninguém descobriu a fonte. A percepção auditiva dentro do feitiço parecia diferente, como se todos falassem em uma caixa oca diretamente ao ouvido. Edgardo, discreto e solitário num canto, disfarçando o máximo que podia, esfregava a orelha em agonia.

— Exatamente... Seja lá quem tenha falado – continuou a professora. - O livro não ousa nomeá-los, nem ensinar como fazer. Entretanto, o currículo ordena que vocês acabem seus estudos com uma noção mínima de cada um. São três maldições específicas e imperdoáveis. Tão imperdoáveis que assim são nomeadas popularmente. As Três Maldições Imperdoáveis.

Aqui, a turma dividiu-se. Todos os que faziam alguma ideia mínima dessas maldições ou deram um passo para trás, temerosos, ou inclinaram-se de curiosidade. Todos os sonserinos presentes faziam parte desta última divisão, óbvio.

Damery não desgrudava os olhos da professora. Seu pai (Auror, como bem se sabe) era obrigado a conhecer as Maldições Imperdoáveis. Lidava com elas no dia a dia. Elador contava suas jornadas de trabalho aos seus irmãos, e Damery ousava ficar escutando, quando ainda muito pequena. Antigamente, quando trabalhava no Departamento de Execuções do Ministério Britânico, era seu dever (do pai de Damery) dar o golpe de morte nos bruxos sentenciados. Por mais que lhe fosse solicitado, não conseguia conjurar o feitiço final... e foi assim que foi rebaixado á Auror de Campo; saindo em missões táticas de caça aos criminosos desde então. Por uns segundos, a mente de Damery fora ocupada com essas lembranças, mas a reação de seus colegas era levemente mais histérica. Muitos cochichos e agitações.

— Quero que se acalmem, não tentarão nenhuma bobagem nesta aula – a professora retomou. - Serei breve quanto á primeira maldição: trata-se de um feitiço capaz de tornar a vitima em um escravo á sua vontade. A Maldição Imperius foi a última a tornar-se proibida pois acreditava-se que seus limites eram bem delineados. Acontece que não. Quando o bruxo alemão Lou Boosnan foi admitido no hospital em 1809, sob o diagnóstico de extremo distúrbio psicológico, relataram o primeiro caso de Maldição Imperius e tentaram todos os contrafeitiços possíveis, todas as misturas já inventadas, e nada impedia o homem de tentar esfaquear-se com uma pena de pássaro. Fora ordem de um inimigo pessoal... dada há mais de três anos, pelo menos.

Um silêncio sinistro instaurou-se. Os alunos que estavam temerosos agora cogitavam deixar a aula. A professora ignorou os olhares e apenas continuou.

— Isso mesmo. Lou Boosnan tentava há três anos suicidar-se com uma pena. É cômico, dependendo de sua forma de pensar..., mas basta lembrar de que quando entrou no hospital, o homem já não tinha mais olhos e suas bochechas estavam a ponto de rasgar. Desde então a maioria dos ministérios da magia ao redor do globo proibiu o uso da Maldição. Se não me engano, o Parlamento Peruano ainda possui ressalvas quanto á sua utilidade, mas deve ser o último a considerar.

Algo em uma das caixas na frente da professora se moveu. Um barulho semelhante a um peido também foi ouvido. O conteúdo daquelas caixas era gosmento, e queria sair; alguns alunos se arriscaram a olhar... Outros estavam apenas encarando a grama, imaginando Lou Boosnan e suas órbitas vazias.

Damery já se desprendia da história do bruxo alemão e estava ansiosa pro que mais a professora tinha a dizer.

— A segunda maldição é consensualmente proibida em todos os territórios, assim como a terceira, mas vamos chegar lá – neste momento, abriu-se um furo em uma das caixas molhadas, uma mordida. Alguns alunos se afastaram. – Alguém poderia me dar uma luz?

Várias mãos se levantaram. Alunos das quatro casas. Damery não se ateve.

— Talvez você, senhorita Lane. Tem estado estranhamente quieta essa manhã. Essa é uma aula que lhe interessa muito, acredito eu – disse a professora, com um semblante sincero e bondoso. Todos os olhos se voltaram contra a morena.

Damery olhou para Clementine e imediatamente soube o que estava pensando: “Veja se não é a favorita da professora!”. Quis rir, mas ao invés disso, tomou postura e arriscou a resposta.

— A Maldição Cruciatus – disse a garota, com um tom envergonhado.

A professora entendeu o recado, e sorriu.

— Exatamente – disse ela. – Na minha opinião, a pior de todas. A maldição da tortura. Um fato sinistro é que de acordo com os Compêndios Malditos e para os curiosos: peço que não se entusiasmem, existem quatro cópias desses livros e todas estão muito bem trancafiadas em uma cela especial em Azkaban, foi a primeira das Três Maldições a serem inventadas. E menciono isso porque é engraçado pensar... que o desejo de torturar veio antes do de matar... para os adiantados. – A professora deu uma pigarreada e se recompôs. Estava claro que esta era uma aula complicada para ela. - Devo admitir para vocês que apesar dos meus extensos estudos em magia defensiva, até hoje, em minha carreira, não achei justificativa para nem sequer tentar reproduzir tal Maldição. É necessária uma mentalidade extremamente deturpada para achar um motivo, não concordam? ALGUMA PERGUNTA?

A súbita mudança de tom da professora fez com que uma reverberação aguda atingisse a todos dentro do domo do feitiço silenciador. Edgardo caiu no chão tamanho o susto, e a maioria da turma riu. Damery não.

Séria, Jamilia Lance, na primeira fileira, levantou o braço.

— Sim, querida – disse a professora, agachando-se para verificar as caixas meladas enquanto a turma se recompunha.

Jamilia esperou uns segundos a turma se acalmar, mas foi em vão. Esperava conseguir um momento sob os holofotes com sua pergunta, mas foram todos por água abaixo com o tombo de Edgardo.

— Por acaso á senhora já entrou em contato com esses... Compêndios?

Damery achou a pergunta válida, e prestou atenção.

Antes de responder, a professora riu.

— Essa é uma ótima curiosidade, srta. Lance! Na verdade, sim. Fui três vezes para Azkaban em minha vida... Nenhuma como prisioneira! – Jamilia riu forçadamente – Mas isso é assunto para termos em minha sala, tomando um bom chá. Se algum dia quiser ouvir, basta me escrever – a bruxa piscou para a aluna amigavelmente.

Essa era uma das razões pela qual Damery gostava tanto de Merrythought: era impossível para ela ser antipática. Estava sempre disposta a ser amigável, caridosa e a ensinar quem estivesse disposto a aprender, independente da casa do aluno ou de suas precedências. Era uma bruxa que adorava ser professora e não tinha medo de mostrar.

— A última Maldição que temos pra ver hoje é aquela da qual todos já devem ter ouvido falar. A mais famosa. Não há uma pessoa conhecida que tenha sobrevivido. Ela também é a razão pela qual trouxe essas caixas aqui... bem, o que está dentro delas – a professora não sabia como começar a abrir o material... o papelão estava encharcado de modo que adquirira a consistência de um tecido. Ela simplesmente desenhou um risco com a varinha e o recipiente rasgou-se revelando uma massa com tons de verde e marrom, molhada e gosmenta.

Os alunos deram um passo para trás, alguns com repulsa e uma cara feia de nojo. A massa esverdeada fazia barulhos de gosma, e até soltava líquidos que impregnavam na grama.

— Alguém tem alguma ideia... – sugeriu a professora, olhando o conteúdo remexer-se, semicerrando os olhos.

— Isso é... – Clementine arriscou, com uma cara de repúdio, mas desistiu da resposta.

— Lesmas – Juju respondeu com tranquilidade, para ao lado direito de Damery. Estava familiarizada, pelo visto. – Usamos na fazenda para fazer a compostagem.

No corpo estranho e reluzente, surgiu uma tira independente e gorda. Que, lentamente e com alguma dificuldade, desgrudou-se do resto da massa e, num amontoado de gosma transparente, começou a deslizar pela grama sozinha. Não demorou muito para as outras fazerem o mesmo.

Juju agachou-se para ficar perto de uma das criaturas.

— Exatamente, Juju, cinco pontos pra Corvinal – disse a professora. – Seriam dez se tivesse respondido com exatidão. São Lesmas Carnívoras. Eu as trouxe aqui para uma demonstração. Acontece essas Lesmas são extremamente úteis se você quiser fazer uma poção do sono... ou talvez um delicioso escargot com manteiga para comer com brioche. E o professor Slughorn andou pedindo uma remessa dessas belezinhas porque dizem às más línguas – Merrythought colocou a mão na boca e falou em sussurros – que o Ministério anda tirando o sono de Dumbledore ultimamente... Vamos ajudar a recuperá-lo... assassinando estas lesmas com a Maldição da Morte.

No momento em que a professora proferiu as últimas palavras, metade da classe suspirou, a outra metade pigarreou em choque. Não estavam esperando uma aula naqueles padrões, uma torrente desordenada de perguntas amontoadas começou.

A aluna que falava mais alto era Jamilia.

— Professora! É consenso de que esta Maldição entorta e estraga a sua varinha. Não acho que sej ...

— Isso é um mito, srta. Lance, pode se acalmar – continha Merrythought, tentando dar conta de todas as exclamações que irrompiam ao seu redor. – Não, os alunos que conjurarem não irão para Azkaban... Se vocês pudessem se acalmar...

Clementine ria alto observando a situação e Damery se contagiou olhando a amiga se divertir frente ao caos. Por fim, ela apenas gritou:

— PAREM JÁ!

A reverberação aguda foi ainda mais violenta do que a última. Todos os alunos taparam com força os ouvidos e o silêncio foi instaurado. Merrythought pôde continuar.

— Ninguém vai tentar nada que não quiser! Mas quero deixar algo muito claro: trabalho nessa escola há cinquenta anos e perdi a conta de qua... – a professora engoliu em seco, teria se arrependido de ter começado a frase? – Perdi a conta de quantos alunos meus desviaram saíram da escola para focar em magia das trevas... Com o tempo, aprendi que nada tratado como tabu possui finais bons. Por isso proponho esse exercício. Aqui na minha frente temos Lesmas Carnívora e elas... Oh, vejam só. Eu bem que ia falar. Aquela ali está comendo a sua irmã!

Merrythought apontou para um grupo específico de lesmas na grama que estavam abocanhando umas as outras. Bem de perto, ficavam claras as características antropofágicas das criaturas. Munidas de dentes serrilhados muito bem escondidos na barriga, as Lesmas significavam uma espécie de praga para qualquer cultivador, uma vez que são capazes de digerir qualquer coisa que tenha o tamanho próprio.

Uma safadinha estava deslizando em direção ao sapato de Clementine, que já não estava afastada o suficiente. A professora aproximou-se, pediu para a garota ficar parada e quando encostou a ponta de sua varinha na superfície escorregadia do animal, um silêncio mortal foi instaurado e ela proferiu em palavras claríssimas:

Avada Kedavra.

Não houve som.

O único indício de que o feitiço havia sido realizado fora o fraco lampejo verde que ondulou pelo corpo do bicho, e o imobilizou para sempre.

Uns minutos silenciosos se passaram. A professora se levantou com aspecto levemente esgotado (inexistente há uns momentos atrás) e voltou a sua posição inicial e sentando-se no toco o mais elegantemente possível

— Essa magia possui um rastreador, alguém sabe me dizer o que é isso?

— Quer dizer que o Ministério será notificado cada vez que o feitiço for usado – respondeu Damery, olhando fixamente para o cadáver da lesma.

— Isso, 10 pontos para Corvinal. Tive de mandar um recado antecipado para o Departamento de Educação Mágica avisando de que tentariam essa maldição... Portanto, quem se atrever, que faça uma fila indiana atrás da srta. Daugherty. Devo pedir que mantenham a distância de um metro do colega. É melhor assim...

Juju, assim que ouviu seu nome, saiu da fila discretamente. Esta se encheu de alunos da Sonserina e alguns já empunhavam a varinha ansiosos.

O resultado foi, no mínimo, decepcionante. Era conferida apenas uma chance por rodada a cada aluno de assassinar uma lesma, entretanto, ninguém propriamente o fazia, e a fila recomeçava. Já estavam na terceira tentativa quando Merrythought aproximou-se de Damery, que estava postada olhando as tentativas de longe ao lado de Clementine. A loira gargalhava ao ver a careta de decepção dos Sonserinos depois de falharem nas suas tentativas. Callahan Hawking, que estava por perto, ria alto também, mas tão forçadamente que ninguém duvidava que era apenas para impressionar Damery.

— Porque não tenta, srta. Lane? – Disse a professora, colocando a mão nas costas de Damery. - Esta será uma oportunidade única para todos vocês. Acredito que nunca mais usarão um feitiço como esse em suas vidas... Pelo menos espero.

— Honestamente, professora, acho melhor não.

— Ah minha querida, não há problema algum. Posso contar-lhe um segredo? - Merrythought caminhou com Damery uns passos além da barreira erguida para conter o som – Nenhum desses trasgos jamais vai conseguir executar a maldição. Veja-os tentarem. O segredo é que ela não funciona se o bruxo não possuir uma motivação genuína.

A cara de Damery iluminou-se. Tudo fez um pouco mais de sentido agora... ao mesmo tempo que sua mente pipocava de dúvidas.

— Mas e as lesmas? – Perguntou a garota, olhando a situação que de repente, tornara-se um pouco cômica.

— Elas realmente precisam morrer... vou pedir ara Ogg leva-las a sala do prof. Slughorn mais tarde. Por hora, deixe-os tentarem...

— Professora... por que a senhora dá essa aula se sabe que todos falharão...?

— Porque é minha obrigação... É importante para vocês, alunos, saberem da existência de tais magias, entretanto, não os encorajaremos a usá-las... Veja! – Merrythought começou a rir de um aluno que examinava de perto sua varinha, suspeitando de sua integridade. – Sou uma mulher velha, posso me divertir de vez em quando...

Damery riu em parte por conta da diversão da professora, em parte porque lustrar a ponta da varinha com as vestes era uma técnica inútil para fazer o feitiço sair, e era isso que Meromie Graemie estava fazendo.

A aula terminou com todas as lesmas vivíssimas da silva e a professora dando um reforço moral, dizendo que se pegar algum aluno praticando esse feitiço, o dito será não somente expulso, como terá sua varinha confiscada permanentemente (por ordem do ministério) e seus pais ou guardiões notificados e responsabilizados.

Quando saíram da aula, Damery e Clementine voltaram ao castelo para encontra-lo praticamente inabitado. No Salão Principal, apesar de completamente vazio, as mesas do almoço encontravam-se postas. Um verdadeiro banquete com o prato do dia sendo cordeiro com aspargos; alguns pratos servidos, mas esfriando, uma vez que não havia ninguém para comer. Clementine andou pelas mesas vazias, escolheu um local do banco que parecia intocado e começou a se servir. Antes de se sentar, Damery quis dar uma olhada em volta. O teto estava estranhamente enfeitiçado para mostrar um lindo dia de sol. Algumas bandeiras estavam penduradas discretamente, todas com o brasão de Hogwarts. E as janelas estavam lustrosas, haviam recebido uma limpeza reforçada na noite anterior, certamente.

— Como não notamos isso antes? – Perguntou Damery, quebrando o silêncio. Sua voz ecoou pelo salão como se estivesse em uma igreja vazia.

— Do que está falando? – Clementine respondeu com a boca cheia de cordeiro.

— Está tudo tão... limpo. E como pode não achar estranho o salão vazio em plena hora do almoço?

— Pra mim é uma benção comer e não precisar ouvir as mastigadas de Higbald. Aquele garoto não consegue calar a boca nem quando come. É melhor assim... Helena!

O fantasma de Helena Revenclaw materializou-se no prato de Clementine, que começou a abanar o ar como se estivesse esbofeteando a cara da figura.

— Ela faz isso comigo também – disse Damery, rindo da situação da amiga.

— O que estão fazendo aí? – Perguntou a fantasma, flutuando através da mesa – Não percebem que estão perdendo um acontecimento?

Nesse momento, fora do salão, o que parecia ter sido um aluno do primeiro ou segundo ano passou correndo veloz como uma flecha, atraindo a atenção das únicas garotas no salão. Clementine ficara curiosa repentinamente.

— Talvez devessem ir ao pátio verificar... – sugeriu Helena, como se quisesse se livrar das garotas – Quanto a mim... vou aproveitar esse lugar vazio... sempre gostei desse salão, mas está sempre muito escuro ou muito cheio...

As garotas saíram do local, deixando a fantasma murmurar sozinha.

Chegando ao pátio, depararam-se com uma multidão de alunos reunidos em uma das extremidades. Todos se espremiam tentando ver alguma coisa, e quando conseguiam ver, gritavam. Os mais baixos sofriam tentando atravessar a parede formada de corpos. Clementine foi afastando os alunos sem dó. Á medida que ia conseguindo passar, ia exclamando:

— Deixe-me passar, estou no sexto ano! Por favor! Mova sua bunda daí, Higbald! Mal educado! Quero passar!

Quando chegou ao parapeito de pedra, bloqueada apenas pelas colunas e uns alunos mais baixos, deparou-se com uma visão do Lago Negro, que se esparramava preguiçosamente até além do horizonte.

— O que estão vendo? Estão loucos!? – Perguntou a garota, varrendo com o olhar toda a superfície do Grande Lago.

— Ali embaixo. Nas docas. Desmiolada – dissera Jamilia Lance, que igualmente conseguira um local privilegiado no meio do furdunço.

Clementine abaixou o olhar e conseguiu ver o motivo de toda a excitação:

Um enorme navio erguia-se na água parada, duas ou três vezes maior do que a estrutura das docas. Presa no mastro mais longo, uma bandeira vermelha e comprida ondulava pelos ares. Não estava ventando.

 Com um pouco de dificuldade, Damery esgueirou-se por entre os alunos e surgiu ao lado de Clementine, e quando olhou a embarcação, disse apenas uma palavra.

— Durmstrang.


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Notas finais do capítulo

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