O fim do outono trouxe uma surpresa para Konoha, principalmente para o apartamento do Uzumaki. O loiro estava saindo do banho no começo da manhã quando Hinata anunciou que tinham uma visita. O sorriso ansioso dela quase o assustou. Quem poderia ser para fazê-la sorrir daquele jeito, como há dias não o fazia?

Naruto arregalou os olhos azuis ao descobrir. E gaguejou, surpreso, o nome:

— S-Sasuke?

O Uchiha levantou do sofá, olhando para o amigo com o típico sorriso contido. Naruto não se conteve, rindo enquanto caminhava até o outro e o abraçava forte.

— Seja bem-vindo de volta, teme.

— É bom voltar. — O moreno se afastou. — Você definitivamente fica melhor com os dois braços.

— Você também ficaria se não fosse tão teimoso!

Sasuke deu de ombros, como se perder um braço fosse algo irrelevante.

— Karin me ajudou bastante com os treinamentos. Estou quase tão bom quanto antes.

O queixo de Naruto caiu.

— J-Já?

O outro confirmou, rindo.

— Tenho certeza que já está forte também. Só não tem a oportunidade de praticar.

O convite era tentador e fez os olhos azuis brilharem.

— Hinata! — ele gritou, animado. — Estou saindo com Sasuke.

A cabeça da garota apareceu na porta da cozinha.

— Ok. Daqui a pouco vou sair para minha missão também.

Naruto então empurrou o amigo para fora do apartamento, que franziu o cenho com a cena.

— Não vai se despedir de Hinata?

— Acabei de falar com ela, teme.

O loiro sabia do que o moreno falava, mas fingiu que não. Por enquanto aproveitaria a companhia do melhor amigo e esqueceria seus problemas.

O campo de treinamento três estava um desastre, como sempre acontecia quando iam ali. As árvores mal tinham se recuperado de seu último treinamento com Hinata quando Sasuke decidiu que seria uma boa ideia verificar se seu Susano’o estava tão forte quanto antes. Naruto teve um grande trabalho para achar um ponto fraco do escudo e, enfim, treinar seu taijutsu novo.

— Esses movimentos são novos — observou Sasuke.

— São dos Hyuuga.

O moreno se aproveitou da distração e derrubou o mais novo no chão, prendendo o pescoço do loiro com seu antebraço.

— Quando vai me contar que tem algo errado entre você e Hinata?

— Agora não.

Naruto conseguiu se livrar do golpe, preparando-se para dar uma joelhada, mas Sasuke previu tudo com o Sharingan, saltando para longe.

— Então admite que há algo errado.

O Uzumaki se levantou e correu na direção do outro, lançando kunais e shurikens, ignorando a curiosidade do amigo. O mais velho entendeu o silêncio, voltando ao “treinamento” e fingindo não perceber que Naruto atacava com mais força.

Com mais raiva.

Demorou quase três horas – um recorde na opinião de Sasuke –, mas Naruto voltou a falar, pedindo uma pausa. Sentaram à sombra de uma das poucas árvores intactas e frondosas, tomando bastante água e recuperando o fôlego.

— Você está estranho. Quieto demais. Está me assustando.

— Hinata terminou o noivado.

Sasuke engasgou com a água que tomava, olhando rapidamente para Naruto e procurando algum sinal de brincadeira. A boca dele se abriu em um O ao não encontrar nenhum.

— Mas, Naruto... não é possível!

— Acredite em mim. — Naruto tomou outro gole d’água. — Tem pouco mais de quinze dias. Nós brigamos em uma missão e ela disse que eu a estava julgando como seu pai fez, no começo do ano.

— Você nunca me explicou direito essa história.

O loiro soltou um suspiro antes de começar a contar a crise que Hinata enfrentou no clã após a morte de Neji. Contou sobre os maus tratos que recebeu do pai e os golpes inconsequentes da irmã, e que não teve coragem de revidar.

— Eu descobri tudo muito tarde — lamentou. — Somente em fevereiro eu consegui tirá-la dos Hyuuga... depois de quase quatro meses de abuso.

Falou sobre sua ideia de pedi-la em casamento após uma longa missão “imposta” pelo Hokage: cuidar dele, Naruto, enquanto o rapaz não recebia a prótese. O casamento era de fachada até poucos meses atrás, quando o loiro a pediu em casamento de verdade, sonhando em formar uma família com Hinata. E, poucas semanas depois, ambos confessaram seus sentimentos e passaram a namorar.

— Mas ainda tinha o acordo dos Hyuuga.

Como esperado, o clã achou que o casamento era uma farsa, uma desculpa para que Hinata não assumisse a liderança. Naruto então explicou sobre o combinado: ou os futuros Uzumaki geravam uma criança, um herdeiro legítimo, ou Hinata herdaria o clã assim que Hiashi não pudesse mais, ignorando Hanabi por completo. Tudo poderia continuar como estava, mas as dores que Hinata escondia finalmente revelaram que estava estéril, e que o último tratamento de Tsunade não funcionara.

— Deixe-me adivinhar — interrompeu Sasuke. — Ela juntou o fato de não poder lhe dar filhos com a última briga para justificar o fim do noivado.

— Exatamente.

— E por que você aceitou esse absurdo?

Sasuke quase se arrependeu da pergunta ao ver o ar desolado do amigo. Naruto baixou o rosto, o semblante mais triste que o moreno já vira.

— Ela tinha razão... — A voz saiu cortada e fraca. — Eu a julguei. Não a mereço mais.

— Naruto...

— Se ela quis terminar o que tínhamos, eu não posso ir contra. Não mais... eu... — Pigarreou, tentando retomar o controle da voz já embargada. — Não há nada que eu não faça por ela, Sasuke. Mesmo me quebrando inteiro... — Pôs a mão sobre o peito. — Se ela quer ficar longe de mim, se acha que é melhor não termos nada... eu vou respeitá-la. Simples assim.

— Não é tão simples se você ainda gosta dela.

— Eu sei. Mas Hinata não sabe. Nunca cheguei a dizer que a amava.

— Por que não? Vocês passaram um bom tempo juntos! — Sasuke franziu o cenho. — A bem da verdade, achei que foi por isso que a pediu em casamento no início do ano: porque a amava e sequer tinha conhecimento disso.

Um pequeno sorriso surgiu no rosto de Naruto.

— É... talvez tenha sido mesmo. Eu sempre a admirei.

— E quase arriscou a própria vida na guerra, querendo salvá-la do genjutsu — lembrou o mais velho. — Você sempre gostou dela, Naruto. Só não tinha muito tempo para pensar sobre isso. Mas agora...

— Agora parece que vou explodir!

Foi a vez de Sasuke soltar uma risadinha.

— Acho que consigo entendê-lo um pouco.

Naruto o olhou de lado, adivinhando seus pensamentos.

— Por que está enrolando para vê-la?

— Porque também acho que vou explodir às vezes.

Naruto levou uma hora inteira para convencer o Uchiha a irem ao hospital e fazerem uma surpresa para Sakura. Sasuke ficou no corredor enquanto o loiro entrava animadamente na sala da ninja médica, recebendo várias broncas antes de conseguir dizer que tinha algo para lhe mostrar.

— Então mostre de uma vez! Estou ocupada!

— Aposto que poderá arranjar uma hora para almoçar com a gente.

— A gente? De quem...?

Naruto a puxou de uma vez para fora da sala, interrompendo sua fala e a fazendo gaguejar.

— S-Sasuke... kun?

O casal ficou envergonhado e mal trocou olhares, fazendo o mais novo revirar seus olhos.

— Então? Pode almoçar com a gente? — provocou.

Sakura estava dividida entre lhe dar um cascudo ou um abraço de agradecimento. Por fim, deixou o orgulho à mostra e pigarreou.

— Acho que posso tirar alguns minutos de folga.

O loiro riu enquanto ela voltava para a sala, altiva, fingindo naturalidade ao deixar o jaleco e pegar sua bolsa.

— Você finge muito mal.

Sasuke decidiu pela garota ao lhe dar um cascudo, fazendo-a rir. O moreno sorriu junto e ofereceu o braço para Sakura, que o segurou sem hesitar, o contentamento na estratosfera. Naruto seguiu atrás deles, esperançoso.

Sasuke e Sakura poderiam se acertar dessa vez, pensava. Não havia mais nada os impedindo.

O Uzumaki estava corado quando a encontrou em casa, no meio da tarde. Hinata estava deitada no sofá, assistindo televisão.

Tirou as sandálias e parou perto dela, hesitante.

— Naruto-kun? Está tudo bem?

— Eu queria saber... se não der muito trabalho... — O rapaz desviava o olhar com frequência, claramente envergonhado.

— Diga de uma vez. — A ameaça de um sorriso pairava em seu rosto.

Hesitou e gaguejou mais de uma vez antes de enfim dizer:

— Eu queria saber se poderia me ajudar a preparar o jantar hoje, para recebermos Sasuke e Sakura-chan.

Os olhos perolados brilharam enquanto o sorriso se abria e ela se sentava.

— É claro que sim! — respondeu animadíssima. — Alguma ideia?

Naruto sorriu, se perguntando porque pensara que Hinata poderia se incomodar... ela adorava cozinhar, afinal. Tinha certeza que ela sofrera com os dias em que ele a proibiu de fazer comida. Esperava que a morena o compreendesse um dia... a comida dela o fazia lembrar de tempos bons... tempos que pareciam nunca mais voltar.

— Pensei em fazer algum assado. Ou peixe. O que for mais rápido e saudável. Sasuke e Sakura-chan não gostam das besteiras que gostamos de comer.

Hinata deu uma risadinha, andando até a cozinha e abrindo o freezer.

— Peixe assado, então.

Dividiram as tarefas e se espalharam pela cozinha, sorrindo envergonhados quando se esbarravam para buscar alguma coisa. Quase uma hora depois, Naruto regava o molho sobre o peixe antes de Hinata colocá-lo no forno.

— Pronto — ela disse assim que fechou o forno e ajustou a temperatura. — Tiramos dentro de cinquenta a sessenta minutos.

Naruto sorriu, agradecido, resolvendo voltar para a sala. Foi impedido, porém, ao sentir a mão pequena de Hinata segurar a sua.

— N-Naruto-kun... — Ele se surpreendeu quando a viu corar e gaguejar. — Eu posso pedir uma coisa também?

— Claro — falou suavemente, buscando acalmá-la. A moça, no entanto, não o olhava, com o olhar preso nas mãos unidas.

— E-Eu queria pedir... já que Sasuke-kun e Sakura-san virão hoje... — Ela engoliu em seco. — Para evitarmos constrangimentos... será que poderíamos voltar a ser amigos?

Os olhos azuis se arregalaram.

— E-Eu sei que não se acostumou com o fim do noivado, mas eu... eu não queria ir embora brigada com você. Então... se pudéssemos voltar a ser amigos... como antes...

“Como antes”. As duas palavras ecoaram na cabeça de Naruto, o fazendo perder o ar por um instante.

Antes ele fez de tudo para protegê-la. Inventou uma saúde instável e um casamento para tirar Hinata das garras do pai. Conheceu os gostos e os sonhos daquela morena de olhos perolados. Ela cuidou dele quando recebeu as células de Hashirama e ficara realmente doente, chegando a cantar para o rapaz conseguir dormir em meio à dor e febre. Ele sonhou em formar uma família com a Hyuuga.

E se apaixonou... tanto!

Não... nada seria como antes. E isso doía demais!

— Claro. — Rezou para que ela não notasse seu nervosismo.

A jovem o olhou, receosa.

— M-Mesmo?

— Sim. — Ele abriu um pequeno sorriso, segurando a avalanche de emoções que invadia seu coração. Dessa vez não segurou a língua: — Eu prefiro tê-la como amiga do que não te ter por perto, Hinata.

Era mais um pedido para que ela ficasse.

Não soube se a morena percebeu, pois ela apenas confirmou com a cabeça, escondendo os olhos marejados que ele notou a tempo.

— Vou adorar voltar a ser seu amigo idiota.

Conseguiu arrancar uma risadinha dela, acelerando ainda mais seu coração.

Hinata decidiu tomar um banho antes da chegada de Sasuke e Sakura, então Naruto resolveu sair para comprar sucos e até uma sobremesa – o Uchiha podia não gostar de doces, mas os outros três definitivamente comeriam por ele.

Voltou a tempo de ver a morena tirando o peixe do forno. Ele guardou os sucos e a ajudou a regar mais molho sobre o jantar.

— O cheiro está incrível! — elogiou, começando a salivar. — Posso me candidatar a ser o primeiro a provar?

— Pode. — Ela riu. — Mas daqui a pouco. Vamos arrumar a mesa.

A moça desistiu da ideia assim que se voltou para o móvel, de apenas dois lugares, encostado na parede.

— Não vamos caber os quatro aqui.

Naruto sorriu ao vê-la olhar seriamente para a mesa, com as mãos na cintura e esperando uma resposta divina. Quando ela deu um passo para o lado, o sorriso dele se alargou ao ver as íris peroladas brilharem.

— Vamos comer na sala! Tem espaço suficiente e eu posso colocar os pratos na mesinha de centro. Aquele monte de travesseiros novos será suficiente.

Então ela começou a organizar a sala e a mesa, espalhando travesseiros e decorando o ambiente. O Uzumaki não pôde deixar de notar que Hinata parecia ter um dom para cuidar de uma casa.

Balançou a cabeça, impedindo-se de continuar pensando a respeito. Seria perigoso pensar demais no futuro...

Passou a ajudá-la com a arrumação, que consistiu basicamente em colocar o jantar sobre a mesinha, pois a jovem fez todo o resto. Quando o relógio bateu oito horas da noite e a Hyuuga terminava de arrumar o último travesseiro no sofá, ouviram a campainha. Sasuke e Sakura nunca deixavam de ser pontuais.

— Bem-vindos! — Naruto e Hinata falaram juntos, sorridentes e orgulhosos de seus trabalhos.

— Boa noite — responderam os outros dois.

— Meu Deus, isso está cheirando maravilhosamente bem! — Sakura elogiou assim que entrou, os olhos verdes encantados com a mesa arrumada.

— Vamos ficar aqui na sala hoje — explicou o loiro. — Teremos mais espaço e ficaremos mais confortáveis.

Sasuke e Sakura já se sentiam em casa, então não demoraram a se arrumar ao redor da mesinha.

— Não seja apressado, Naruto-kun! — Hinata repreendeu levemente ao vê-lo beliscar o peixe e prová-lo antes de colocar no prato. — Agradeça a refeição primeiro.

Os quatro ecoaram um “obrigado pela refeição” antes de começarem a se servir. Naruto estava prestes a comer novamente quando sua garganta coçou e ele se engasgou.

— Está tudo bem? — Hinata perguntou assim que Sasuke deu umas tapinhas em suas costas. — Quer um pouco de água?

O rapaz confirmou com a cabeça, ainda tossindo. Algo começava a se agitar em seu estômago.

— Há algo errado aqui — Kurama se pôs de pé dentro dele, olhando para os lados, desconfiado. — O que raios você comeu?

Sakura pediu licença e se aproximou do amigo que começava a ficar roxo.

— Naruto-kun, o que está acontecendo? — perguntou a morena, aflita. — Sakura-san?

Uma esfera esverdeada surgiu na palma da ninja médica, que a dirigiu para a garganta do loiro, fazendo a tosse passar. Porém, a falta de ar continuou... Sakura levou a esfera esverdeada para o estômago do loiro.

— Me ajude a deitá-lo, Sasuke-kun! — disse em tom de urgência. — Hinata, afaste a mesa.

Os dois obedeceram, nervosos. Naruto mal conseguia reagir, aos poucos perdendo o foco.

— Hina...

Ainda pôde, no entanto, ouvir as últimas palavras de Sakura antes de tudo escurecer:

— A comida está envenenada. Precisamos levá-lo para o hospital. Agora!

O enjoo o despertou. Sua careta deve ter chamado a atenção de alguém próximo, pois ouviu vozes e passos apressados, com uma mão tocando sua testa levemente minutos depois.

— Naruto? — Era a voz de Tsunade. — Está acordado?

Ele abriu os olhos, ainda com o rosto contorcido.

— Meu estômago dói — murmurou, a boca seca.

— Vou colocar mais remédio no seu soro. Aguente mais um pouco.

Naruto virou o rosto, percebendo estar com medicação intravenosa em ambos os braços. Viu a ex-Hokage colocar um líquido verde nos soros e se voltou para o paciente.

— Melhorando?

O rapaz confirmou com a cabeça, os olhos se arregalando ao se lembrar do que aconteceu.

— Vovó! — falou em desespero. — E a Hinata? Ela está bem? E Sakura-chan? E Sasuke?

— Acalme-se. — A mulher pôs uma mão sobre a cabeça dele, o impedindo de se levantar. — Eles estão bem. Somente você ingeriu o veneno.

Ele soltou o ar, aliviado.

— Pode chamá-los para mim?

— Não.

O sorriso do rapaz sumiu.

— Eles estão em minha sala, sendo vigiados por Anbus de minha confiança — explicou a médica. — Até que as investigações em sua casa terminem, os três estão proibidos de se aproximarem de você.

— O quê?! Por quê?

— É óbvio. Eles são suspeitos de envenenarem você, o herói da...

— Que ridículo, vovó! — brigou o loiro, sem se conter. — Eles são meus amigos! Jamais me fariam mal!

— Até que as investi...

— Por Deus, vovó! — interrompeu novamente. — Está falando dos meus melhores amigos! Falando assim parece que não os conhece!

— Naruto, eu sei...

— Entendo que possa desconfiar de Sasuke por causa do passado, mas ele não é mais assim! Ele já provou que mudou!

— Naruto...

— E a Sakura-chan foi sua aluna por anos! Hinata passou por suas mãos também! As duas são excelentes pessoas!

— Eu não...

Naruto fechou os olhos, emburrado, virando para o outro lado da cama.

— Não quero saber — falou irritado. — Ou deixe eles entrarem ou eu fujo daqui hoje mesmo. A senhora sabe que faço isso muito bem.

Ainda pôde ouvir Tsunade bufando atrás de si antes de escutar a porta do quarto bater com força, indicando que estava tão brava quanto ele.

Acabou adormecendo novamente, de tanto esperar pelos três. Não soube quanto tempo dormiu, mas decidiu permanecer com os olhos fechados ao prestar atenção nos cochichos que o despertaram.

— Eu nem sabia que o noivado tinha terminado. — Era Sakura, claramente chateada. — Por que não me contaram?

— Aconteceram muitas coisas... — respondeu Hinata timidamente.

— É por conta do tratamento que não deu certo? Hinata, você sabe muito bem...

— Eu não poderia cumprir o acordo dos Hyuuga — interrompeu a morena.

— Você não sabe disso!

— Sei sim — rebateu mais duramente. — Eu não poderia prender Naruto-kun em um casamento quando ele tem sonhos! Sonhos que eu não poderia ajudar a realizar!

— Tsunade-sama disse...

— Disse com todas as letras que estou infértil! Não há mais nada a fazer, Sakura!

Ficaram em um silêncio pesado até a ninja médica voltar a bufar.

— Eu não sei se está sendo covarde ou egoísta.

— Sakura... — Era a voz de Sasuke, alertando.

— O quê? — reclamou. — Sinceramente, como posso confiar nela?

— Eu amo Naruto-kun e você sempre soube disso — Hinata respondeu magoada. — É por amá-lo que não posso fazer isso com ele.

— Mas pode deixá-lo desolado por semanas por sua causa?! Você acha que ninguém notou que tinha algo errado com vocês? Naruto é pura luz quando está ao seu lado! E parecia um zumbi até poucos dias atrás! — Ouviu o barulho de uma cadeira se arrastando. — Diga-me, Hinata, qual é o seu plano? Os Hyuuga ficarão desconfiados quando não receberem nenhum convite de casamento. Pretende anunciar o fim do noivado e voltar para aquele clã maldito depois de tudo que Naruto fez para tirá-la de lá?

— Sakura, chega — decretou Sasuke. — Está passando dos limites.

— Naruto é meu amigo também! — O loiro se surpreendeu ao ouvi-la discutir com o Uchiha. — Não vou deixar que Hinata parta o coração dele quando sabe muito bem que ele está apaixonado!

Naruto ouviu a porta bater novamente, o coração apertado. Não queria envolver outras pessoas em seus problemas com Hinata. Quase tomou um susto quando o silêncio foi quebrado pela ex:

— Eu sei que pareço estar tomando as piores decisões, mas eu juro... estou fazendo o possível para não piorar tudo.

A voz chorosa quase o fez interromper a conversa, mas as palavras de Sasuke tranquilizaram os dois:

— Eu sei. — O Uchiha suspirou. — Você não tem que explicar nada para mim, Hinata. Eu acredito em você. Eu conheço esse seu olhar, já o vi no espelho... o olhar de quem está se esforçando para melhorar e não causar estrago nas pessoas mais queridas, mesmo quando o mundo está te julgando. — Naruto ouviu Hinata fungar. — Não se preocupe comigo. Eu sou o último que pode julgar qualquer decisão sua.

— O-Obrigada...

— Naruto não me contou tudo, mas acredito que tenham um plano para que continue livre dos Hyuuga.

— S-Sim.

— Então eu continuarei confiando em você. Eu só quero pedir uma coisa: seja qual for sua decisão, tente não machucar Naruto no processo. Ele realmente gosta muito de você.

— E eu dele.

— Então não preciso lhe dizer que se ficarem juntos, serão mais fortes para superar tudo, não é?

Não ouviu a resposta de Hinata, mas em seu coração, torceu para que a última frase de Sasuke a convencesse de que realmente faria qualquer coisa por ela.

Os ninjas responsáveis por investigar a casa de Naruto não descobriram o paradeiro do veneno e nem sua origem, mas conseguiram identificar qual era o composto ao analisarem a comida. Não somente o peixe, mas toda a refeição estava contaminada – Tsunade concluiu que foi “sorte” o ninja mais forte e com um bijuu dentro de si ter experimentado primeiro, pois sua capacidade regenerativa o ajudou a salvá-lo. Qualquer um dos outros três poderia ter morrido com a pequena dose que Naruto comeu, eliminando as suspeitas sobre eles.

— Por precaução, — explicou a ex-Hokage para os quatro amigos — Anbus os vigiarão de hoje em diante. Mas não se preocupem, — falou antes dos protestos — eles serão discretos. Vocês nem irão perceber que estarão sendo seguidos.

— Mas vovó...

— Mas nada, Naruto. É para a segurança de vocês! Quem quer que tenha feito isso estava disposto a ferir outros três para matar apenas um. Enquanto não descobrirmos quem foi, ficarão com guarda-costas sim. Não estou pedindo sua permissão.

O loiro cruzou os braços, emburrado. Tsunade não ligou, terminando de escrever o receituário médico do garoto antes de liberá-lo. Hinata ficou encarregada de comprar os remédios e garantir a recuperação do Uzumaki em casa.

— Você voltou a ser a minha enfermeira particular — brincou com a Hyuuga, que sorriu fracamente. — Está tudo bem, Hinata?

— Sim. — Ela forçou um sorriso. — Estou um pouco cansada, só isso.

Ele não duvidava. Passara cinco dias inteiros no hospital e, durante todo esse tempo, Hinata foi sua acompanhante – exceto por algumas horas, quando o apartamento foi liberado e a moça foi até lá buscar algumas roupas para ela e Naruto.

Tsunade dispensou os quatro ninjas, recomendando, mais de uma vez, cuidado redobrado.

O caminho de volta para o apartamento foi tranquilo, mas silencioso. Naruto estava curioso até o último fio de cabelo para saber quem poderia tê-lo envenenado e porquê, mas Hinata parecia perdida em pensamentos. Quando ele tentou uma conversa, a moça apenas concordou com a cabeça, sem perceber que ele não tinha feito nenhuma pergunta, completamente alheia à sua curiosidade.

— Eu vou preparar algo para comermos, tudo bem? — Ele testou a atenção da morena mais uma vez, quando estavam abrindo a porta do apartamento.

Ela não o ouviu, definitivamente, pois estancou na soleira assim que o rapaz abriu a porta.

— Hinata?

A garota o assustou ao puxar uma kunai e apontar para dentro do apartamento, o semblante sério.

— O que está fazendo aqui?

Naruto não conseguia ver nada, então se afastou um pouco para o lado e acendeu as luzes, tomando outro susto ao ver Hyuuga Hiashi sentado em seu sofá.

— Como entrou aqui? — insistiu Hinata. — Responda!

Hiashi apenas suspirou, erguendo as mãos em rendição.

— Não vim discutir. Entrem, por favor. Vamos conversar.

— Eu não tenho nada para falar com você! Vá embora!

Ela tentava ficar na frente de Naruto, apontando a kunai para o pai, a fim de defender o loiro até das palavras do Hyuuga.

— Estou falando sério, Hinata. Precisamos conversar.

— Não — repetiu. — Eu preciso cuidar de Naruto-kun. Estamos voltando do hospital agora.

— Ele por acaso foi envenenado?

Hinata arregalou os olhos.

— Como sabe?

— Suspeitei — falou vagamente. — Você sabia que Hanabi estava passando mal há alguns dias? Ela veio me procurar depois de suspeitar que havia algo errado com seus chás diários. Eu os analisei por cinco dias e vi uma quantidade mínima de veneno, talvez apenas...

— Uma gota — a moça completou, dando um passo para trás, cambaleante. Naruto a segurou a tempo, processando tudo antes que Hiashi verbalizasse.

— Exatamente. — O homem suspirou. — Você sabe quem é, não é? A pessoa que envenenou Naruto e Hanabi... sabe que querem atingir você.

— E-Eu...

— Diga-me, Hinata, por favor! Me deixe ajudá-la! Você sabe que posso acabar com qualquer um que queira lhe fazer mal.

Ela ergueu a cabeça devagar para olhá-lo, a ira borbulhando em seu olhar.

— Você? Querendo me proteger? — A voz estava carregada de sarcasmo. — Está querendo me proteger ou proteger sua outra filha, a favorita?

— Eu sei que errei com você, Hinata, mas estou arrependido! Deixe-me ajudá-la... deixe-me...

— Não! — gritou, interrompendo-o de uma vez. — Eu quero que saia daqui imediatamente e esqueça que eu existo! — Apontou para a porta. — Eu não vou falar outra vez!

Hiashi soltou um último suspiro antes de concordar com a cabeça e sair pela porta ainda aberta. Hinata a fechou com força, arfando por alguns segundos antes de se virar e deparar com o rosto entristecido de Naruto.

— Você sabia que o veneno era para mim... — A morena desviou o rosto, envergonhada. — Sabe que estão tentando atingi-la. — Ele engoliu em seco, com uma suspeita cada vez mais crescente. — É por isso que quer ir embora? Por que estão ameaçando minha vida e de Hanabi?

— N-Não...

Uma negativa que não o convenceu, mas que não pôde contestar, pois Hinata lhe deu as costas e também saiu do apartamento.