Alta Fidelidade escrita por Giiz


Capítulo 5
Desgraças sempre vem acompanhadas


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Primeiramente, olhem que capa linda o Caíque fez pra fic! Perfeita, não? Obrigado, querido! Aliás, fica aqui um capítulo de agradecimento por tudo. Nas notas finais explico um pouco meu sumiço. Beijos e boa leitura!



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— Testuda, geladeiras menstruam?


— Que porra de pergunta é essa, porquinha?


Estávamos nós duas curtindo a tarde de folga dela, esparramadas no sofá da sala, buscando um mínimo de conforto naquele dia especialmente quente.


— Veja você mesma - digo, apontando para a geladeira com uma poça vermelha no chão.


— Puta que pariu! A geladeira ta vazando!


E é óbvio que corremos até ela, sem saber o que fazer naquela situação. Ela parecia normal, por fora, tirando o pequeno fato de estar escorrendo um caldo vermelho. Logo que abrimos nossa fiel escudeira, descobrimos que eram os morangos e framboesas que haviam descongelado e basicamente virado uma gosma rosa avermelhada que escorria porta afora.


Por dentro, nossa linda geladeirinha estava mais quente que o próprio forno.


— Testuda... O que a Madalena tem?


Sakura olhava seria para nossa geladeira chamada Madalena e estendeu a mão.


— Passa o telefone, Porquinha.


E assim o técnico fora acionado. Ele revirou a pobre Madalena dos pés à cabeça enquanto eu e a testuda ficávamos de mãos dadas, ansiosas pelo veredicto final do senhorzinho gorducho e com ausência de foliculos capilares.


— E então, doutor?


— Sinto muito. - disse ele, balançando a cabeça. O senhorzinho passou quase uma tarde inteira mexendo na dita cuja, colocando gás, aquecendo, trocando relé e afins. - Madalena não mais pertence ao mundo dos frigoríficos.


E Sakura caiu em prantos no meu ombro, enquanto eu tinha que manter as coisas nos trilhos.


— Foi 500 conto, madames. - disse o gorducho, sem dó nem piedade, mostrando a conta enquanto coçava a bunda com um gesto grosseiro.


Filho duma corva! Qual é o problema com essas pessoas que não sabem lidar com a dor dos outros? Nós e Madalena tivemos uma longa história juntas... Madá nos gelou muitas cervejas e sorvetes para ser descartada assim, sem dó nem piedade.


E foi assim que papai fora acionado, pois por mais que tínhamos um amor antigo à Madá, precisávamos do nosso sorvete emergencial de TPM.


.....x.....


O ponteiro do relógio já passava das 23h e a vadia testuda já tinha mandado dez mil mensagens de áudio no meu celular, mostrando que a quantidade de álcool naquela festa era boa.

 

Meus olhos já estavam completamente vermelhos pois eu havia insistido em escrever de lente de contato (que, por sinal, estava vencida e eu deveria ter jogado fora, mas estava sem grana para comprar uma nova caixa e não estava nos meus planos pedir arrego novamente ao meu pai, ainda mais depois de pedir ajuda pra comprar a geladeira nova ) e a luz do computador estava me cegando.

 

Eu tinha ficado o dia inteiro isolada naquele ambiente. Na verdade, estava ridiculamente compenetrada nas minhas reminiscências amorosas totalmente decadentes que nem havia percebido o tempo passar. Quem diria, Ino... Você está tão no fundo do poço que está interessada nos seus problemas amorosos e no que você poderia ter feito de diferente. Bem, se isso me render dinheiro, eu aceito. Tô mais que precisada. E se "O diário de Brigitte Jones" virou uma franquia de sucesso, eu poderia conquistar meu espaço ao sol, né? Ainda mais pois sei que desgraça só vem acompanhada e esse mês estamos de luto por Madá e não podemos comprar nenhum eletrodoméstico novo.

 

Meu Deus, eu precisava ver gente. Qualquer pessoa. Eu já estava começando a falar com os objetos inanimados novamente e o meu terapeuta (imaginário, é claro, pois fazer terapia ta caro demais nesses dias, já que na pós modernidade todo mundo precisa de terapia e a única que eu podia manter era ter-a-pia cheia de louça pra lavar) disse que isso não era saudável.

 

Olho novamente pro celular e os apelos de Sakura pra eu encontrar ela lá. Bem, festa é festa, né? Nessa altura do campeonato, qualquer coisa que viesse era lucro. O que é um peido pra quem já tá cagado, né?

 

Dito isso pra mim mesma, coloco a calça jeans que estava jogada num canto e me rendo aos óculos, pois tá foda e a lente já virou três vezes no meu olho e pediu música no Fantástico (e só quem já passou por uma revirada de lente sabe o quão ruim e angustiante isso é). Foda-se que eu estava com uma camiseta tão velha quanto a do The Smiths que a testuda deu cabo. The Clash a substituiu muito bem em questão de conforto e segurança e combinava com meu estilo punk-não-quero-papo-só-álcool que eu ostentava. E, bem, quarenta minutos depois de chegar na dita festa e não ver sinal da louca de cabelo rosa, era tudo isso que eu tinha. E uma taça de vinho nas mãos.

 

— E então, loirinha, tudo bem com você? Que festa, não?

 

E é óbvio que nada está tão ruim que não poderia piorar, né? Mort tinha que brotar das profundezas do inferno para me atazanar. Não que ele estivesse no lugar errado, afinal de contas, a festa era na casa da irmã dele.

 

— Você não tem ninguém mais pra falar não? Tem que ser comigo?


— Ate que tenho, mas não seria ninguém mais divertido. Ver uma mulher bonita assim - óbvio que eu levantei uma sobrancelha para ele nessa constatação ridícula dele - não me olhe assim, você é uma mulher bonita, Ino. Deixe-me continuar: ver uma mulher bonita assim, se esforçando pra ficar sozinha numa festa em que ela conhece meia dúzia de pessoas e analisando a mesma prateleira de livros por vinte minutos, em plena meia noite, não tem preço.

 

— Você é poeta assim sempre ou só quando se esforça pra ser idiota? Esquece, criatura, não vai ter repeteco.

 

— E quem disse que eu quero repeteco?

 

E ele, mais uma vez, se mostra mil vezes mais esperto que eu e ainda olha de esguelha pra minha taça. E eu só espero que ele aja como um predador (que ele é), quando fico bem quietinha esperando ele se tocar e sair de perto. Foi uma péssima escolha aparecer por aqui hoje, Ino!


— Você deveria estar bebendo?


E como resposta, apenas sequei minha taça. Ele não precisa ficar sabendo que era suco de uva e não vinho.


— Oras, Ino! Eu esperava que você fosse um pouco mais madura nas suas atitudes.


E eu continuo com meu tratamento silencioso. Isso é um fora incisivo e ele sabe disso, mas o idiota ignora solenemente. Capricorniano de uma figa, eles não possuem coração, eles não possuem um fio de sensibilidade no corpo.


— Você quer puxar papo ou apenas me ofender, curupira?


E é o momento dele de engolir o líquido da taça que segurava e me olhar de lado.


— Eu só estou tentando conversar com uma mulher que sempre julguei ser interessante.


— Ah, então você sempre me achou interessante?


E agora é a vez dele de ficar constrangido. Babaca, você não deveria ficar constrangido. Agora a vantagem volta pra mim e eu estou prestes a dar o golpe de misericórdia para poder ficar sozinha com minha insignificância regada a vinho (falso) quando vejo Kiba entrar no apartamento. Filho da puta, o que ele estava fazendo aqui? E por que diabos está me acenando casualmente enquanto sua namorada me olha com cara de prisão de ventre?


Mas como bem sabemos, nada está tão ruim que não possa piorar é neste exato momento de reflexão, um terceiro indivíduo resolve puxar assunto comigo.


— "Should I stay or should I go"?


— O que? - pergunto, jurando ter ouvido algo diferente. Eu realmente não mereço isso essa altura do campeonato!


— The Clash. Eu adoro essa banda.


— You should go now. - digo, sem o mínimo de paciência pra essa cantada idiota enquanto Mort ri baixo do meu lado.


O terceiro indivíduo sai de perto com o rabinho entre as pernas.


— Você é cruel.


— O capricorniano aqui é você. - digo olhando bem nos olhos dele, o que é um problema pois eles são lindos - Olha, você deveria me deixar em paz. Que tal dar, sei lá, uma circulada e ignorar minha presença?


Ele retribuiu o olhar com força que fez minhas pernas fraquejarem.


— Não - começou ele. - É você quem vai me escutar agora. Vou te explicar como isso funciona para os homens. Talvez você leve isso em consideração na próxima vez que você for dar um fora num cara. Talvez você se comporte diferente quando um cara vier falar com você. Ele tem que 1) saber levar um fora sem levar isso para o lado pessoal. 2) retomar a batalha, como se nada tivesse acontecido. 3) encontrar um tema interessante para conversar, mesmo que a presa esteja o tempo todo olhando sobre o ombro pra um outro cara que possivelmente é um ex, mas que não está tentado a jogar com a sorte. 4) continuar falando com essa mulher, tentando não se perguntar como os dois chegaram a se envolver no passado. 5) e continuar a ser um cavalheiro quando essa mulher insultar outro cara que tentar puxar assunto com ela. Ah! E gritar pros quatro cantos que se eu quisesse ter fodido com você eu deveria ter aparecido antes na sua vida também não é uma maneira muito boa de se dar um fora em alguém.

 

E então eu olho para ele e assumo pra mim mesma que o que sempre me atraiu nele não foi sua aparência física, e sim sua capacidade de me divertir, mesmo quando eu não queria. Droga, Ino. Você tem que reconhecer que ele jogou as cartas certas e essa rodada ele tinha ganhado.


— E se você insistir - continuou ele, após descansar a taça que segurava num vão da prateleira de livros que estava em nossa lateral - e conseguir essa garota, você terá que dar conta dela. Você tem a pressão. Aquela vozinha que você conhece bem desperta e diz "vai, é a sua deixa! É agora ou nunca!" E ela vai vai embora mesmo depois que você percebe que as coisas estão caminhando bem. "não seja um babaca agora, segure firme", mas no fim você só espera que ela não fique com cara feia no final. Ou que ela fuja do seu apartamento no meio da madrugada depois de uma possível reconciliação.

 

E ele continua me olhando firmemente e eu não consigo não sorrir. Mesmo que seja um sorriso debochado. E para tentar disfarçar, dou um gole no suco inexistente esquecido na taça.


— Porra Ino! Você não pode beber! Eu não te disse isso?!


E é nessa hora que a louca da sua melhor amiga resolve aparecer, com a blusa toda amarrotada e uma marca de chupão no pescoço. Algo brilha em seu dedo quando tenta arrumar os cabelos, mas ignoro. Sasuke aparece logo atrás, num estado tão deplorável quanto o dela. E o encanto simplesmente se quebra e eu pisco os olhos rápido, como se isso me fizesse despertar pra realidade.


Mort estava agindo novamente! Ele estava me manipulando como um bom capricorniano e eu estava caindo feito otária na sua rede!


— É tudo sua culpa, Sakura! - reclamo, olhando pra ela - Foi se atracar com o Sasuke e me deixou plantada aqui. Até dei trela pra esse... Pfff! - e como maturidade aqui é mato, sai bufando até ser segurada por uma mão forte.


— Para de drama, Ino. O que mais você quer que eu faça para conseguirmos ter uma relação normal?


— Me esqueça, cria de dementador!


— Cresça e apareça, Yamanaka! Pare de usar esses codinomes e encare as coisas de verdade. Diga o meu nome, Ino.


— Eu me recuso. Isso é idiotice.


— E o que você está fazendo? É o que? Você foge da realidade, você coloca sua vida em risco, tudo por causa de besteiras! A vida não é um clássico dos anos 80. Pare de agir como uma garotinha mimada e acorde pra vida! Sua vida não é dirigida por John Hudges!

 

— Eu te odeio, Sabaku no Gaara! - digo, baixo, uma vez que já tínhamos chamado a atenção de todos na festa e meus olhos já estavam marejados. - Eu te odeio!


— Você me odeia mesmo? Ou odeia não estar no controle?


— Controle? Quando é que eu tive algum controle da minha vida? Ein? Quer saber de uma coisa? Vá se engraçar com sua nova namorada acéfala e me deixe em paz. Não temos mais nada um com o outro e eu definitivamente não preciso de você.


E dito isso, sai do centro das atenções ignorando tudo e todos, inclusive meu celular tocando desesperadamente dentro da bolsa esquecida na mesinha.


Ficar sozinha seria a melhor coisa a se fazer.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram?
Eu estive sumida poi estava estudando pro mestrado. Infelizmente fiquei reprovada na entrevista do meu projeto, o que me deixou bem triste. Juntando isso e mais crises de dor crônica causadas pela artrite e fibromialgia e esse calor dos infernos, não tive como me concentrar em nada. Mas espero retomar minhas atividades normais o mais rápido possível. Obrigada pelo apoio! Aguardo vcs nos comentários!



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