Alta Fidelidade escrita por Giiz


Capítulo 3
Capítulo 2 - (eu odeio o) Dia dos Namorados


Notas iniciais do capítulo

Ei pessoal! Tudo bem? Segue mais um capítulo da vida da nossa azarada preferida. Espero que gostem! Beijos mil!



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Abri os olhos e percebi que a ressaca do dia anterior já estava me abandonando, mas a simples olhada no celular que não parava de tocar o maldito despertador já me fez querer voltar para meu casulo de manta cor de rosa.

Mas como a vida não é justa e simplesmente me afogar na minha cama não surgirá efeito algum, me arrastei para fora do meu quarto, dando aquela olhada para a pilha de livros jogada na minha porta e pego um de poesia.

— BOOOM DIA, PORQUINHA LINDA DO MEU CORAÇÃO! - gritou a louca de cabelo de marca texto cor de rosa na minha cara, assim que eu coloco minha bela fuça na bancada que divide a cozinha da sala. Possivelmente eu grunhi com ela, mas o seu bom humor não acabou. Logo suspeitei de algo. - O dia não está lindo? Os pássaros não estão cantando tão magnificamente? As flores não estão tão perfumadas?

Olho para a janela e nosso entorno para ver se eu estava no mesmo plano astral que ela. Definitivamente algo havia acontecido com minha melhor amiga e eu estava entendendo patavinas.

— ok. Você está me assustando. O que ta acontecendo? - tento a abordagem direta, mas a criatura simplesmente estava sonhando com os olhos abertos. Óbvio que eu não deixaria isso escapar assim e enchi minha caneca com água gelada e joguei sem dó nem piedade na cara dela.

Óbvio que ela gritou, a água estava realmente fria. Mas aquele sorriso macabro dela ainda estava me assustando, me fazendo me encolher na banqueta que eu havia me sentado.

— Porquinha, isso não foi legal. Só por causa disso eu não vou te contar.

— Ah, qualé. Foi pra te acordar! E outra, isso é tortura demais comigo até para você. - disse, colocando café na minha caneca e fazendo uma careta ao notar o sabor extremamente adocicado do meu líquido precioso. E olha que eu não estava falando de nada que continha álcool. - Saki, por que cargas d'água tem um quilo de açúcar no café?

— Você tem que adoçar um pouco a sua vida, Inozinha. Você anda um tanto amarga depois do termino com o .....

— Este nome está estritamente proibido neste recinto, Sakura.

— Ok. Reformulando: você está amarga depois de terminar com o aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Ta na hora de reagir. Pensei que vocês teriam feito as pazes depois de você ter enviado aquele capítulo para ele.

— Acho que você andou assistindo Harry Potter demais, amiga. Mas gostei do codinome. E não, a gente não se acertou e nada do tipo e ele é um otário e eu tenho vontade de quebrar aquele narizinho metido dele. - disse, me irritando.

— Mas eu pensei que vocês tinham se acertado bem demais até... Sabe, paredes finas....

— Olha só! Não desvie o foco, Sakura! Me diga, por que você está vomitando arco-íris? - perguntei, encarando ela. - e não adianta dizer que não irá me contar que eu vou acabar arrancando isso de você, por bem ou por mal - completei ao vê-la levantando da cadeira e sentando novamente, me obedecendo. - boa garota. - me contive e não dei tapinhas carinhosos na cabeça dela, como um cachorrinho.

Obviamente que ela fechou a cara para mim, mas como são anos de amizade, logo destrunfou a fuça e começou a falar. Ela não iria agüentar por muito tempo, só precisava de um certo, digamos, incentivo.

— Sasuke me mandou uma mensagem. Quer sair comigo hoje a noite. E hoje é dia dos namorados! porquinha! É hoje!!!! - disse ela, dando pulinhos.

— Amore - disse eu, cética. - ele só quer te comer.

— Se ele me pedir em casamento hoje, na data mais romântica do ano, eu me sirvo pra ele em prato de prata. - disse ela. - Ele pode me comer todinha.

— Sasuke é um safado, Saki. E outra, você vai trocar sua amiga sofredora que odeia o dia dos namorados fazer o ritual de todos os anos sozinha? Trocar o certo pelo duvidoso? - disse olhando bem pra ela, vendo se ela titubeava um segundo. Óbvio que isso não aconteceu pois se tratava de Sasuke Uchiha. Revirei meus olhos e gruinhi. - Chata. Mas se você mudar de idéia, estarei naquele mesmo bat-lugar, no mesmo bat-horário.

— ok, mas acho que você deveria se empolgar um pouquinho. As pessoas podem mudar, Ino. - olhei pra ela, levantando uma sobrancelha - ok, vou te deixar em paz. To indo trabalhar. Beijinhos de luz!

— Bom trabalho! - disse, vendo ela sair apartamento a fora. Liguei a tv é em todos os canais de merda passava alguma comédia romântica onde a mocinha sofria na mão de algum retardado mas no final tudo dava certo e eles ficavam juntos para sempre. Sakura era exatamente dessas mocinhas. Acreditava piamente que o idiota do Sasuke pediria ela em casamento, mas cá pra nós, ele gostava mesmo era de comer minha amiga, desfilar com ela as vezes com o status de ter, abre aspas, uma namorada médica referência, mas quando o assunto era levar as coisas para frente e colocar um anel no dedo dela, ele desconversava, arranjava a desculpa de estar com problemas no emprego, na família, na unha encravada, no caramba a quatro. O negócio era que ele não queria abrir mao da facilidade de ter ela quando ele quisesse e qualquer outra também. Estive lá, já fiz o mesmo. Não nego, obviamente.

Paro pra assistir um filme qualquer das gêmeas Olsen quando eram pequenas. Senhor, ainda bem que eu não sou nem rica nem famosa. Já parou pra pensar? Quando a gente é rica e famosa durante a infância/juventude a gente nunca vai poder esquecer as coisas horríveis que a gente vestiu ou fez. Sempre terá alguma imagem pra você relembrar dos tempos ruins. Quando se é pobre e desconhecido, você pode simplesmente ignorar fatos na sua vida e ficar tudo por isso mesmo, já que ninguém vai chafurdar sua vida atrás de um podre qualquer.

Nem to acreditando no que vou dizer agora, mas, olhando meu passado, graças a deus que eu sou pobre e desconhecida.

A cada ano que se passa, parece que o dia dos namorados começa a tomar uma proporção cada vez maior, como numa progressão geométrica. Resolvi sair de casa pra comer alguma coisa num shopping perto pois, por mais que eu esteja deprimida e irritadiça e cozinhar seja uma espécie de terapia para mim, não estava com vontade de ficar horS na fila de um supermercado e ter que cozinhar só pra mim.

Talvez, bem lá no fundo, eu até gosto que o Sasuke fuja de um compromisso sério como o diabo foge da cruz. Assim sei que nunca estarei sozinha, pois a Sakura sempre estará por perto pra mim. Geez, essas datas comemorativas idiotas me deixam ridícula com pensamentos assim. É óbvio que eu quero que minha amiga seja feliz e se é com aquele idiota, que seja.

Mas sei lá, acho que ambos precisam de amadurecer mais antes desse passo.

Ótimo, era tudo o que eu precisava: músicas românticas tocando em todos os auto-falantes do shopping. Nada contra baladinhas da década de 80, até gosto muito de cantar "Listen to your heart" do Roxette no banho - Sakura diz que eu acabo com a música, mas sei que é só inveja da minha desenvoltura maravilhosa - mas quando estamos cercados por corações vermelhos e casaizinhos felizes feito comercial de disfunção erétil, me poupe. É demais pra mim.

Eu definitivamente odeio o dia dos namorados. Tudo é tão ridiculamente falso! Na minha cabeça, se você ama alguém, você não precisa de uma data comemorativa para se lembrar disso. Isso não é amor, isso é jogada de marketing para gastar dinheiro! Ou talvez eu só esteja amargurada pois nunca passei essa data com alguém especial.

Por isso que eu e Sakura temos nosso ritual. Ele consiste basicamente em ir pro bar mexicano no fim da rua, encher a cara falando mal do ultimo cara que tivemos algum relacionamento e, por fim, acertar a piñata do amor. Isso e sair estourando todos os balões em formato de coração possíveis.

Mas dessa vez eu me encontro sozinha e meu barman preferido me olha arqueando uma sobrancelha.

— Señorita, donde está su acompanhante? - pergunta ele, arrastando um sotaque espanhol mais falso que o cabelo de Sakura.

— Essa noite não, Pablito. Pode descer o José, ele será minha companhia.

Eu não estava lá podendo manter esse meu vício alcoólico, mas noite do dia dos namorados (e jantares beneficentes onde você encontra um ex casado com outro homem ou em casamentos de ex que é parente e mais parece desfile de "como minha vida ficou melhor depois de Ino Yamanaka" e, sobretudo, após descompensações emocionais em níveis astronômicos em local de trabalho) estão no rol de situações que te permitem estourar o cartão de crédito e pedir ajuda pra tudo quando é santo pra conseguir finalizar o mês com migalhas na conta bancária.

Quanto mais eu bebia, mais eu pensava naquela sensação horrível de vazio. E eu sei que isso ta soando muito deprimente mas, a real mesmo? Eu odeio ficar sozinha. Talvez seja esse o motivo de sair pulando de relacionamento em relacionamento. Tenho pavor de me ver sentada nesse mesmo banco esquisito, nessa mesma bancada de bar fuleira (que cobra horrores pela dose do José Cuervo) daqui a 10 anos.

Sou afastada desses meus pensamentos ruins quando escuto saltos batendo no assoalho de madeira e dois segundos depois uma mão pequena roubar meu copinho e beber o líquido ambarado, fazer uma careta típica e gritar:

— Pablito, o taco de baseball. É hoje que a piñata morre.

Opa. Sinto que rolou alguma merda bem seria. Sakura está nervosa, atacando sem dó nem piedade a tosca piñata em formato de coração cor de rosa, xingando em línguas desconhecidas enquanto vejo seus olhos lacrimejando.

— Ok - era hora de agir e minha amiga estava magoada. Eu não poderia deixar isso passar assim. Sakura era como minha irmã, meu alicerce que me chamava de porca e jogava minhas roupas fora. Sim, ela cumpriu a promessa e jogou minha camiseta velha e maravilhosa dos Smiths na lata de lixo, depois de passar pelo triturador. - O que o babaca fez?

— Sasuke é um idiota.

— Sim, eu já sei disso. Eu mesmo já te disse isso. Mas vamos, o que ele fez dessa vez?

— Brincos! Ele me deu malditos brincos de diamante!

Ow. O Uchiha ta podendo.

— Ok. Até aí eu não vi a idiotice da vez. Prossiga. - digo, fazendo sinal para Pablito descer mais cervejas com tequila, demonstrando que agora o terreno estava seguro. Obviamente que eu retirei o taco de baseball da mão dela antes de qualquer aproximação, já que todos no recinto estavam com medo depois de virem o ataque feroz à piñata.

— Ele me ligou várias vezes hoje. Me mandou flores. Fez reserva no Ichihaku. - Oh, não. Ele não fez isso. - Sim, ele fez isso. Ele fez malditas reservas no restaurante mais famoso e romântico da cidade na data mais romântica do ano. E. ME. DÁ. BRINCOS! Na merda de uma caixa azul com fita branca.

— Filho da puta!

— Fiz ele engolir aquelas pedras.

— Bem feito. - digo, bebendo minha cerveja.

— Não, Ino. Você não entendeu. Eu literalmente fiz ele engolir os brincos. Amiga, eu fiz ele engolir uma grana preta! - disse Sakura, prestes a chorar novamente. Era o remorso batendo e eu já estava meio bêbada demais pra compreender que ela, literalmente, fez ele engolir diamantes.

— Pelo menos ele vai cagar brilhante. Isso se ele conseguir colocar pra fora.

Parabéns, Ino. Você merece o prêmio de pessoa mais compreensiva do ano. Percebo que fiz merda quando ela começa a chorar desesperada. Então fiz o melhor que eu poderia fazer na situaçao. Acharam que eu iria beber mais? Não. Pindurei a conta pois sou chegada do Pablito e minha amiga estava desesperada e segui porta a fora com Sakura que se jogou na frente de um taxi. Ela nem esperou o passageiro sair e me arrastou pra dentro do veículo, gritando o endereço do Uchiha num misto de desespero e loucura.

Quando já não dava mais para sair do carro, olhei para o terceiro passageiro.

— Acho que Você realmente me odeia. - disse olhando pra cima.

— Quem? O teto do taxi? - disse a odiosa criatura que se encontrava no carro. Sakura continuava alheia a tudo, tentando falar com
Sasuke.

— Vá à merda.

— No momento eu não posso ir pra lugar algum, vocês seqüestraram meu taxi. - disse o ser que não deve ser nomeado. - mas foi bom. Estava te procurando. Me disseram que eu te encontraria lá, então... Só não esperava que Sakura se jogasse na frente do taxi dessa maneira.

— Larga de ser idiota, lord Voldemort. Você e a porquinha namoraram por tempo suficiente pra você conhecer esse ritual nosso.

— Lord Voldemort? - Perguntou ele é eu tenho certeza que o taxista achava que éramos pessoas que tinham fugido do manicômio.

— Ino proibiu de falar seu nome. E dizer o tempo todo "aquele que não deve ser nomeado" é cansativo. - disse Sakura. Agora eu tenho certeza que o motorista só quer que a corrida acabe logo para ele se livrar da gente.

Fingi que ele nem estava me fuzilando com aqueles olhos, fiz a egípcia e passei a olhar pela janela. A torta de climão estava assando e eu não tinha bebido o suficiente pra isso ainda.

— Aqui, moço! - gritou Sakura, desesperada, apontando o prédio de Sasuke e pulando pra fora do carro. Óbvio que eu não ficaria pra pagar a corrida e que se lasque o idiota, por isso, sai no encalço dela, que batia desesperadamente na porta do Uchiha.

Com aquele escândalo, possivelmente acordaríamos o prédio todo e seriamos expulsas de lá a pontapés, mas ela não quis me escutar. Minutos depois Sasuke aparece na porta, pálido. Não sei se era de medo ou de dor.

— Sasukiiiiiinho! - gritou Sakura, pulando no pescoço dele. - me desculpa, meu amor! Eu não deveria ter ficado tão irritada com você é ter te feito engolir os brincos! Eu vim de salvar!

Sasuke relaxou um pouco vendo que ela estava realmente arrependida e não estava portando nenhuma arma que pudesse lhe machucar ainda mais. Sakura rapidamente pegou as chaves do carro dele, jogou para Mort (sim, ele estava o tempo todo perto de nós e aparentemente era o único inteiro e sóbrio para dirigir e sim, eu diminui o apelido.) e seguimos para o hospital.

Chegando lá, Sasuke foi encaminhado para uma lavagem gastro-intestinal e eu acho que se alguém consegue ficar do seu lado numa situação assim, ela ficará do seu lado pra sempre. Mesmo que tenha sido ela a causadora dessa situação.

Eu e Mort deixamos os dois pombinhos no hospital e eu só percebi que estava sendo seguida por ele quando, depois de receber mais uma dose de tequila com um copo de cerveja, ele me disse:

— É sempre movimentado assim seus dias comemorativos?

— Basicamete. É uma espécie de tradição. A gente tanta matar o motivo da data comemorativa. - disse.

— Hmm. No dia de Ação de Graças vocês tentam matar um peru também? - disse ele, tentando manter o assunto. Assenti, concordando.

— Precisa de ver na páscoa.

— Deixe-me ver:
Vocês roubam os ovos da caça aos ovos?

— e trocamos ovos de chocolate por de galinha.

— Melhor até me manter distante então. - brincou ele. E aí nossos olhares se cruzaram e ele fez aquilo com a boca que me deixa louca, aquele meio sorriso sacana.

Talvez seja por isso que eu odeie tanto o dia dos namorados. A gente se vê tão envolta por essa atmosfera de romance barato que acaba indo se atracar no banheiro de um bar espeluncado com seu ex depois de ter mandado uma pessoa pra uma lavagem gástrica, roubado um taxi e ter presenciado um assassinato de piñata, isso só pra dizer as últimas horas.

E é nessa hora que eu lembro do livro de poesias que peguei essa manhã. Bukowski sabia das coisas. O amor é REALMEBTE um cão dos diabos.  


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Notas finais do capítulo

Frliz dia dos namorados! Aceito comentários. HAHAHAH
Beijos!



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