Crônicas de um caderno engavetado escrita por Mary


Capítulo 22
Estou com saudades, falta de tempo e outras desculpas esfarrapadas


Notas iniciais do capítulo

Dedicado a toda menina/mulher que já se sentiu um nada por causa de um c*zão.



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Ela teve um dia bacana e atualizou a foto do perfil no facebook, recebeu algumas curtidas, alguns comentários e logo viu que você a chamou no chat “ei, sumida”. Você ressurgiu da tumba virtual, depois de passar um bocado de tempo vendo-a online e fazendo de conta que ela era invisível. Você pergunta se está tudo bem, só que é tudo mecânico, plástico, sem o verdadeiro desejo de saber.

“O que anda fazendo de bom?”, eu se fosse ela nem me prestaria a gastar as pontas dos dedos para atualizar alguém que nem sequer merecia fazer da parte da vida dela, no entanto ela é muito cordial e dá trela para idiotas como você.

Estou com saudades, diz você, quando é que a gente vai se ver?

Ela bem no seu interior sabe que tudo não passa de frivolidade, que esse papo está mais morno do que o café que sobrou no bule, que nem requentando vai ter o mesmo gosto de antes, todavia sempre espera o melhor das pessoas e por isso te mantém na lista, na inútil expectativa de constatar o seu amadurecimento.

Mas você insiste em se escorar nas desculpas.

Você encontrou desculpa para não fazer faculdade. Não tem como conciliar trabalho e faculdade, a que horas vou descansar?

Você não lê sequer um texto inteiro, mas vive compartilhando que odeia morar no país de futebol e da ignorância. A desculpa é sempre a mesma. Não gosto de ler na internet, PDF é cansativo, ler dá sono, jornais são todos manipuladores, não tenho paciência pra ver jornal, sempre à mesma lengalenga.

Você é o rei das desculpas e elas são como o bom e velho jeans, caem bem com quase tudo.

A correria, a falta de tempo, o cansaço, a preguiça. Você sempre encontrará um obstáculo para não se responsabilizar pelos seus próprios atos.

Esse papo de "ei, sumida" não cola sabendo você o endereço da casa dela, tendo-a na lista de contatinhos, podendo acompanhar todas as postagens dela nas redes sociais, as conquistas que você ignora porque apesar de dizer que é amigo, que torce pela felicidade dela, nunca a apoiou, nunca a incentivou, nunca esteve com ela nos maiores apertos, nunca foi um ombro amigo, porém quando alguém enxerga a beleza e o talento dela, você reaparece só para deixa-la confusa, imersa nessas memórias duvidosas de coisas que não existiram.

Nunca existiu amor.

Se existe algum sentimento, é o da tolerância.

Você não gosta dela e, por favor, não venha com desculpas de “timidez”, de ela ser “muita areia para o seu caminho”, para de se enganar e de mantê-la dentro desse labirinto imundo de ilusões altamente cortantes. Deixe-a ser livre para encontrar alguém que possa amá-la e se você gosta dela, pare de se acomodar, de arranjar pretexto, esse negócio aí de que demonstrar sentimento é coisa de gente boba, vai sonhando, trouxa é quem nega o desejo e se acha superior demais para correr os riscos.

Quando vocês saem juntos nem parecem amigos, são dois estranhos se encontrando às escuras dentro do shopping. Ela arrumou o cabelo, fez uma maquiagem tão bonita, vestiu a melhor roupa, usou um perfume especial e você nem sequer a elogiou, deu um abraço tão frio quanto um túmulo, nem sequer segurou na mão dela ou se ofereceu para pagar o sorvete (já que você se diz tão cavalheiro e gentil) e enquanto o casal da mesa ao lado de vocês na praça de alimentação está quase transando, ela está ouvindo você se queixar de outras moças na frente dela, da vida injusta, do trabalho cansativo (embora você passe todo o tempo sentado), do governo que é uma bela bosta, procurando cabelo em ovo, agindo como aquele mesmo moleque imaturo que partiu o coração dela na escola, que ficava nesse joguinho ridículo e infantil de MENINO.

Só ela não percebe que é linda, maravilhosa, que merece mais do que migalhas dadas de má vontade.

Sabe, você parte o coração dela por não vê-la como mulher e ao mesmo tempo se prevaleceu do fato de que ela ainda não reconheceu o quanto é linda e valorosa.

Pombas, meu caro, é broxante você falar que a ama como uma irmã se no fundo tem (ou teve) segundas intenções com ela. É no mínimo uma indelicadeza sem fim.

Ela não quer ser a irmãzinha de ninguém. Amor de irmão ela tem, obrigada!

Ela quer ser beijada, tocada, possuída, desejada como uma mulher, que a saudade se transforme num harmônico encontro de corpos que unidos redescobrem a delícia que é um amor correspondido.

Estou com saudades não é bom dia, fique você sabendo. Não diga o que não sente, não seja outro covarde segurando nessa zona de conforto invisível alguém que não é prioridade na sua vida.

Você não gosta dela de verdade.

Não, você não gosta dela. Desculpa aí ser tão incisiva, mas me parte o coração ver uma amiga que eu amo tanto sofrendo por um otário que não merece as lágrimas dela, vendo esperança onde eu só enxergo escuridão.

Você sabe qual é a cor preferida dela? Que fruta ela não comeria de jeito nenhum? Qual é o perfume que ela usa? A série predileta? Qual é o maior medo dela? Se ela prefere cachorros ou gatos? Qual é a banda que está fazendo a cabeça dela ultimamente?

O principal: você se lembra do aniversário dela de cabeça ou precisa vir um lembrete da rede social?

Você acredita no potencial dela ou a desdenha porque você próprio aceitou levar uma vida comum e não suporta que uma mulher faça tudo o que você não faz por puro comodismo? Você sabe qual lugar ela tem vontade de visitar quando tiver condições financeiras? O que a faz rir? O que a faria feliz neste instante? Ou você apenas tem medo de perder o que não é seu?

Porque a bem da verdade eu tenho uma notícia bem chatinha para te dar: estou com saudades não significa nada se não vier de atitude.

Falar por falar é fácil, mas você quando diz está disposto a tirar a bunda da cadeira e correr atrás dela ou escreve apenas para despertar falsas esperanças e depois sumir por uma longa temporada?

Pode crer numa coisa, quem muito arruma desculpa não tem interesse de verdade, só não encontra um meio honesto de admitir o pouco caso.

Um dia você ainda vai abrir o facebook e no feed de notícias a verá assumir um relacionamento sério, postar uma foto ao lado de alguém que não inventou desculpas, lutou pelo amor e fez por merecer. Aí, meu bem, não adianta chorar e espernear, postar indireta, música de dor de cotovelo, reclamar que "mulher é tudo igual", vir de mimimi... Ela já não estará mais nem aí.

Várias e várias vezes ela chora acreditando que tem algo de errado com ela por não ser vista como mulher por você e alguns outros idiotas que cruzaram o caminho dela, implora pelas migalhas que você dá de má vontade e quando você diz estou com saudades, ela deseja pela primeira vez que seja verdade, que você esteja parado em frente à casa dela com os braços abertos, disposto a amá-la sem desculpas porque você tem que pedir perdão por vir de conversa mole, não ter atitude, não valorizar quem realmente gosta de você porque se esse orgulho idiota persistir, depois não adianta chorar, quem avisa amigo é.

A “menininha boba” que você diz que “ama como irmã” hoje é o mulherão da porra de amanhã. O mundo gira, cara. E enquanto isso a sua bunda fica mais mole, flácida e larga. E você aí ainda nessa de estou com saudades.

Fala sério...

Um mulherão da porra sofrer por um bostão é uma ideia que eu não consigo conceber...


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