Mentirosos escrita por Blair Herondale


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo será dedicado à Dark Lady, como um presente de aniversário atrasado, e à Mrs Dixon, por estar comigo desde a minha primeira fanfic e todas as outras que eu comecei e exclui.
Muito obrigada a todas as pessoas que estão acompanhando essa história e mandando lindos comentários que me fazem sorrir como uma boba. Vocês são os melhores leitores do universo. Sério. Espero que gostem!



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“o vento sopra

e por dentro

provoca

um farfalhar”

Quando Dimitri avisou que Winter iria jantar com eles, June não havia imaginado que a noite fosse se prolongar tanto quanto estava acontecendo naquele momento. Não que a presença da garota fosse algo ruim, longe disso. Winter era toda amor e sorrisos. Suas risadas contagiava até mesmo Christian e suas pontuações sempre trazia em questão a importância da arte para a vida.

Estava sendo bastante divertido, muito obrigada. O problema era que June não aguentava mais toda aquela situação em si. O fato de ter tido um dia cansativo, de Elle não estar respondendo suas mensagens por acreditar que ela é a nova garota de Chris, o próprio namoro de mentira a  estava irritando.

—Os pais de vocês são tranquilos com o fato de estarem morando juntos? -Winter perguntou, após uma longa discussão acerca de como a música se relaciona com o cinema.

—Não moramos sozinhos, também temos Dimitri. -June respondeu, dando mais um gole no vinho.

Naquela altura da noite, todos já haviam terminado de comer o delicioso macarrão de Dimitri e estavam se permitindo uma descontração com a segunda garrafa de vinho aberta.

—Meus pais não se importam. -Christian disse secamente, pontuando o fato como se falassem do tempo.

Com uma agilidade surpreendente, Winter conseguiu evitar o silêncio constrangedor que se instalaria na sala de jantar se todos continuassem observando, assustados, o mais novo.

—Pelo menos você tem June. -falou, sua voz se confundindo com a gentileza das fadas. Winter não parecia ser real, com seus cabelos dourados e seus olhos suaves, ela poderia ser considerada um ser de outro mundo. Um rouxinol que decidiu experimentar o que era ser gente.

Por alguns segundos, June não soube o que dizer ou como agir. Ela não era uma boa atriz e aquele momento apenas deixava o fato ainda mais explícito, porque, mesmo em uma situação tão casual, não era capaz de fingir uma intimidade com o garoto ao seu lado.

Seu olhar se ergueu até tentar encontrar o de Dimitri, mas o loiro mantinha seu rosto direcionado para Christian, como se tentasse manter seus comentários fora daquela conversa.

—Sim, pelo menos eu tenho June. -Connor respondeu, forçando um sorriso que claramente não possuía nenhuma intenção de mostrar. Era o sarcasmo misturado com a ironia.

Aquelas palavras não significavam absolutamente nada, porque a bela garota de cabelos negros sabia que não ultrapassava a categoria de colega de apartamento e de escola.

—Mas não precisamos ser tão dramáticos. -June interveio nervosamente, soltando uma risada para amenizar o tenso clima que já havia abraçado todas as pessoas do cômodo- Ele conseguiria sobreviver, mesmo se não estivéssemos namorando.

E seu tom soou tão amargo e cruel que Winter olhou para Dimitri cautelosa, sua sobrancelha erguida fazendo uma pergunta muda.

O que está acontecendo entre esses dois?

Pobre Winter. Aparecera naquela sala tal qual a um soldado no meio de uma guerra. Ela se via em um campo de batalha sem saída, porque, por um lado tinha um tenso Dimitri, do outro, dois felinos que se ameaçavam com a troca de olhares azuis tempestuosos.

Christian esboçava um sorriso irônico à indireta recebida e, embora quisesse retrucar na mesma moeda, a presença de Winter o impedia, afinal, ainda faziam o papel de supostos namorados.

Eram muitos anos de rivalidades singelas para que pudessem ser esquecidas de um momento para o outro, mesmo que toda aquela atuação fosse para um bem maior.

—Mas você foi a princesa que eu quis coroar. E sem você, o que eu irei fazer de mim? -perguntou dramaticamente, erguendo sua mão para tocar na pálida bochecha de June, enquanto seu polegar se ocupava de afastar uma mecha negra de seus olhos.

Num gesto automático, ela o afastou com repulsa, não sabendo se a distância imposta pela própria ação se devia ao nojo ou ao impacto que aquele toque causara em sua pele.

Ela estava sentindo um leve formigamento ou era apenas em razão de Christian ter uma temperatura corporal mais alta que a dela?

—Não me toque. -June pediu, mas sua voz saiu dura como uma ordem.

Aquilo era uma imposição.

O som da taça de vidro encontrando com a madeira rústica ecoou pela sala, se tornando o único som presente devido ao prévio silêncio tenso. Dimitri mordia a parte interna de sua bochecha, provavelmente se questionando em que momento daquela conversa deveria começar a intervir, enquanto Winter franzia a sobrancelha, tentando esconder o desconforto por estar presenciando uma briga como aquela.

Era por situações como aquela, June pensou, que se mantinha ao básico quando se tratava do jovem de cabelos negros. Conversas matinais e casuais eram as únicas coisas aceitáveis, fora isso, qualquer outra conversa profunda deveria ter a supervisão direta de Dimitri.

Uma pena o loiro não ter voz naquela discussão.

—Eu…- June balbuciou, tentando formular uma frase inteligente o bastante para amenizar a situação. Entretanto, nada vinha em sua mente, que entrava em um curto maior a cada segundo que passava.

Christian respirou fundo e se concentrou naquilo que ele fazia de melhor. Usar as habilidades de encantamento, que havia aprendido após anos de rápidos relacionamentos, para sair de situações constrangedoras.

Normalmente, o garoto usava tal habilidade para evitar lidar com um coração partido. Soltava sorriso de lados, dava mordidas em lábios inchados e conseguia evitar todo o drama das lágrimas salgadas.

Naquele caso, o motivo de se aproximar de June era obviamente diferente. Tudo o que fazia era por Dimitri, devido à promessa feita há alguns dias.

Christian se aproximava de June da mesma forma que um gato faria para chegar mais perto de um pardal assustado. O garoto de belos cabelos negros, mantinha seus claros olhos azuis nas tempestades que eram os de Silver. Para ele, cada movimento que fazia para se aproximar da garota eram décadas que se perdiam no universo.

Talvez, se estivessem em algum filme dirigido por Wes Anderson, um violino estaria sendo tocado ao fundo. A câmera daria um zoom dramático e lento no rosto de June para que os telespectadores fossem capazes de ver as mudanças mínimas que aconteciam a cada milésimo de segundo.

Ela estava confusa, sua boca entreaberta por uma frase nunca formulada. Um segundo. Dois. Um piscar de olhos e fechar de boca. Um segundo. Dois. Um franzir de sobrancelha e um morder de boca. Um segundo. Dois. Um arregalar de olhos, após a percepção da aproximação se tornar clara. A partir de qual distância passa a ser considerado invasão do espaço pessoal? Um segundo. Dois. A câmera seria cortada para Christian e agora todos os telespectadores podiam vê-lo. Ele se divertia com a situação. O sorriso estava preso no canto de seu lábio e os olhos brilhavam de forma irônica.

Você acredita que vamos realmente fazer isso?

A pergunta poderia ser feita pelo olhar, mesmo não estando em um ambiente correto e não tendo a intimidade necessária para tal feito.

Tudo bem, eles não estavam fazendo aquilo por livre espontânea vontade. O peso da promessa feita à Dimitri pressionava as costas dos dois e os aproximava, naquele caso especificamente, aproximava Christian de June.

Isso é irônico, não acha? Beijar alguém que você fez questão de desprezar.

Christian podia ver as discretas sardas que June tinha sobre o nariz afilado. Em seus olhos era capaz de observar uma linha negra que contornava o azul marinho. Um traço raro, anotou de forma pensativa.

Entretanto, no momento em que sua mão se ergueu para repousar sobre a nuca de June, trazendo-a contra si, e colando seus lábios no dela, todos os pensamentos que o garoto pudesse ter fugiram de sua mente.

June era diferente.

A garota era definitivamente diferente de tudo aquilo que ele já havia experimentado. Ela tinha lábios frios e doces. Christian não iria se voltar para o clássico comentário de frutas silvestres. Ela era doce pelo chocolate que tanto amava e fria porque a baixa temperatura devia ser de sua natureza.  

June, por sua vez, que havia se surpreendido com a ousada atitude do rapaz de beijá-la, se irritara com a percepção da diversão intrínseca aquele ato, não conteve uma quase inaudível exclamação de um misto de protesto e prazer ao sentir os lábios quentes de Christian contra os seus. Pela primeira vez, ela pôde entender o porquê de todos os suspiros pelos corredores.

Ele era fogo, nicotina e menta.

Se ele tinha aquele impacto quando a beijava por uma simples obrigação, June se perguntou como seria a sensação quando o garoto fazia tal gesto por vontade. Porque, naqueles poucos segundos de contato com os lábios de Christian, ela já pôde sentir sua pele inteira se arrepiar. Que deus livrasse os pensamentos de June de situações mais pornográficas. Ela se esqueceria de quem eram por alguns instantes até voltar para a realidade com peso na consciência.

O garoto mergulhou os dedos longos sobre os fios negros, procurando aprofundar o beijo que iniciara por uma aposta, mas que continuava por vontade própria.

Nos primeiros segundos, Silver entreabriu os lábios, não sendo capaz de pensar em nada além do quanto queria continuar com aquilo. Entretanto, a sua razão era forte demais para permiti-la cometer tal erro.

Em um gesto abrupto, se separou de Christian para observar uma acanhada Winter e, um surpreso e divertido Dimitri.

Limpou os lábios, nervosa.

—Vou levar meu prato para a cozinha. -avisou para ninguém em especial, se erguendo para não precisar encarar as outras pessoas da mesa. Não era capaz de explicar para si mesma o que diabos havia acontecido.

Porque a verdade é que ela não havia entendido como havia permitido Christian ultrapassar os limites daquela atuação. Em um momento estavam prestes a se matar e no outro ele tinha os lábios colados contra os seus, fazendo-a tremer tal qual uma garota de 14 anos pelo nervosismo do primeiro beijo.

Aquilo não estava certo.

E não estava certo, porque falava de Christian Connor, o garoto mais desprezível da academia St.Swithin. O garoto que quebrava os corações das suas colegas como se trocasse de roupa. Gostar de seu beijo a fazia um ser tão desprezível quanto ele e, infelizmente, também a tornava uma hipócrita.

Quantas vezes não havia feito um longo discurso sobre como era errado objetificar as mulheres e romantizar os homens que as usavam? Quantas vezes não dissera sentir pena por todas as pobres coitadas que se deixavam seduzir pelas táticas de conquista de Connor?

O fato dele ter tido um impacto nela, mesmo que mínimo, já contava bastante.

—Merda.- resmungou, colocando o prato na pia, se forçando para não tocar os próprios lábios, que ainda formigavam pela sensação morna da boca de Christian.

Ele era um contraste muito grande dela, tal como dois opostos.

Ela era o frio e ele, o quente.

Sem precisar se virar, June sentiu a presença do garoto em suas costas, do mesmo modo que havia escutado o arrastar da cadeira e o som de seus passos nos ladrilhos amarelos da cozinha.

—Não deveria ter feito aquilo. -Christian falou baixo, parando ao seu lado com o próprio prato na mão.

Aquilo, ela sabia, era a sua forma indireta de pedir desculpas, uma vez que seu orgulho era grande demais para permiti-lo dizer tais palavras com facilidade.

—Não significou nada. -June falou, se virando para poder olhar nos olhos de Christian, procurando evidenciar toda a indiferença que não sentia. A última coisa que queria era precisar lidar com um prepotente Connor no apartamento e nos corredores da academia em que estudavam.

—Claro que não. - disse em um tom sério, mas logo um pequeno sorriso amargo apareceu no canto de seus atraentes lábios- Como poderia, não é? Você deixou bem claro o seu desprezo por mim na frente de Winter.

—Você se escuta? -ela perguntou com uma sobrancelha erguida, deixando escapar uma risada de descrença e nervosismo -Esse não chega nem perto de ser o “x” da questão, Connor.

Entretanto, sua mente estava tão confusa com a quantidade de pensamentos e informações que estava precisando lidar que nem mesmo saberia dizer qual era o ponto de toda aquela discussão. Talvez eles pudessem simplesmente fingir que o beijo nunca existira. Aquele beijo, June gostaria de poder afirmar, não passara de uma ilusão distorcida da realidade.

Tanto o beijo, quanto as estranhas reações que ele havia causado nela.

—Esqueça. -ela pediu, voltando a se virar para a pia a fim de abrir a torneira e colocar água no molho branco que havia endurecido sobre a porcelana.

— Precisamos corrigir essa situação. Winter ficou bem confusa. -Christian pontuou, após alguns segundos de silêncio e desconforto entre eles. -Quero dizer, corrigir de verdade a situação, não torná-la ainda pior. -acrescentou ao erguer a mão para ajeitar os fios negros, antes de voltar a direcionar o olhar azul na pálida pele de June.

A percepção de que aquilo ainda precisava ser resolvido voltou como uma avalanche para June. Durante os minutos que se levantou da mesa, caminhou até a cozinha, deixou o prato e refletiu sobre os acontecimentos, não conseguiu fazer sua linha de raciocínio pensar em nada além da questão do beijo com Christian. Nem por um segundo havia parado pra pensar como Winter deveria estar reagindo aquela situação de briga inusitada.

—Por que aceitamos fazer essa atuação estúpida mesmo? -June questionou Christian, não contendo toda a sua irritação por ter se colocado naquela situação. Ela estava irritada com o beijo, com Dimitri, com Winter, com as mudanças, as sensações que ainda estavam vivas em sua face. Se pudesse fazer um resumo, diria estar irritada com o mundo.

—Por Dimitri. -Connor responder secamente. -Tudo que fazemos sempre está relacionado a ele, não percebe?

—Ele é nosso melhor amigo. -June retrucou, como se fosse óbvio. Preferindo se concentrar naquela conversa para conseguir se recompor o suficiente para se despedir de Winter e Dimitri sem ter qualquer ataque que pudesse desfazer toda a farsa que criara com Christian.

Suspirou, por fim, resignada com a situação em que se encontrava.

—Ainda iremos comentar sobre o que aconteceu hoje.

—Pensei que não tivesse significado nada para você.

—E não significou. Mas isso não quer dizer que você tenha a liberdade de sair me beijando a cada vez que tiver vontade. Eu não sou como aquelas garotas da escola que você fica e não estou me fazendo superior a elas nem nada do tipo, mas quero deixar claro que não tenho qualquer interesse por você e não é por causa desse acordo que fiz por causa de Dimitri que tenha a liberdade de enfiar a sua língua na minha garganta.

O garoto permaneceu impassível, apenas observando o movimento dos lábios de June. A indiferença já está de volta, ela pensou de forma incômoda ao não receber, como resposta, nada além do que a costumeira pose de prepotência e superioridade.

—Você tem problemas. -afirmou irritada com a falta de reação de Connor.

—Trataremos dos meus problemas depois, enquanto isso, vamos corrigir a besteira que nós fizemos. -ele respondeu, pegando a mão de June como se aquilo fosse tão normal como trocar de roupa, antes de puxá-la para fora da cozinha.

—O que pensa que está fazendo? -June perguntou, assustada.

—Corrigindo o problema. -respondeu como aquilo explicasse tudo.

Não explicava.

O garoto deslizou seus dedos nos de June, dando um leve aperto. Ela ergueu o olhar pra ele, confusa tanto pelo gesto quanto pelo contraste de temperatura.

—Estava pensando em ir comprar cerveja e ficar esperando lá embaixo até Winter ir embora. Mas não podemos sair como se ainda tivéssemos brigados. -ergueu a mão que ainda segurava a dela- Isso é a correção do problema- explicou- porque em todos os sentidos, ainda somos namorados.

Ele fez um carinho com o polegar em sua mão, June manteve o olhar tempestuoso no indecifrável azul de Christian.

—Você está se divertindo com isso. -ela percebeu, estudando o rosto do garoto. Seus olhos estreitos demonstravam todo o descontentamento que a garota sentia por aquilo.

—Eu só acho essa situação um pouco irônica. -Christian respondeu em um dar de ombros. Nada parecia ser capaz de abalá-lo naquele momento.

—Ainda bem que ela não vai durar muito tempo. -June comentou, antes de permitir que o garoto os direcionasse até a saída.

Quando passaram pela sala, Christian avisou rapidamente que iam sair e que o casal podia se sentir confortável, já que eles não tinham hora para voltar.

Winter lançou um pequeno sorriso para Christian, mas fez questão de se levantar para abraçar June.

—O jantar maravilhoso, espero que esteja tudo bem. -afirmou de modo manso, arrancando com aquele gesto, um sincero sorriso de June. Winter, a cada segundo que passava, se mostrava ainda mais certa para Dimitri. Ela era a suavidade da primavera e os raios de sol do verão.

Com aquela rápida despedida, Connor e Silver se despediram do apaixonado casal para abraçar a noite fria que os esperava fora do confortável apartamento.


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Notas finais do capítulo

Desculpa qualquer erro. Comentem se não tiver ficado bom. Revisei e mudei esse capítulo diversas vezes, mas é isso. Espero muito muito muito muito que tenham gostado. Por favor, comentem nem que seja um "gostei" ou "odiei!". Sério, eu adoro saber a opinião de vocês!
De resto, a mesma coisa de sempre, favoritem e recomendem caso queiram! Beijinhos! Amo todos vocês!



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