"Se essa moça pode emprestar sua alma aos que não a têm, se pode criar um sentido de beleza em indivíduos cuja vida tem sido sórdida e feia, se pode despojá-los de seu egoísmo e provocar-lhes lágrimas por sofrimentos que não são seus, é digna de toda a sua adoração, digna de adoração do mundo." (Oscar Wilde)

Estavam June, Dimitri e Christian sentados em um restaurante que havia perto da St. Swithin’s Academy. Como Dimitri havia combinado de se encontrar com Winter logo depois do horário da aula de June e Christian, os mais novos ainda usavam o uniforme da escola privada.

—Da próxima vez, combine o seu encontro em um horário melhor. -Christian reclamou, ao afrouxar a gravata vermelho e prata que todos os garotos da academia eram obrigados a usar. Naquele caso, as meninas tinham o direito de escolha. June, por exemplo, usava apenas a blusa branca de botão, com as mangas dobradas até seus cotovelos.

—Da próxima vez, não combine um encontro duplo. -corrigiu June, lançando um olhar cansado para Dimitri.

O mais velho abriu um sorriso largo e relaxado, porque aquilo era uma das poucas coisas que ele sabia fazer sem qualquer dificuldade. E, mesmo não sendo mais namorada de Dimitri, June admitia que em certos momentos ainda era capaz de sentir seu coração bater um pouco acelerado por aquele sorriso. Eles eram amigos e colegas de apartamento, nada além disso. O loiro era dois anos mais velho do que ela e, durante o período em que namoraram, lhe ensinou tudo o que uma menina que nascera em berço de ouro podia saber.

Haviam se conhecido pelos serviços que Dimitri costumava fazer para seu pai. Além de trabalhar como um mecânico de Edward Silver, também tinha seu emprego como garçom em todas as suas festas, uma vez que sua simpatia era muito estimada pelo pai de June. Por isso, desde pequena a garota era acostumada a vê-lo com certa frequência, devido aos serviços constantes que Dimitri prestava ao seu pai. Entretanto, foi somente aos 15 anos, durante uma das festas organizadas por Edward, que ela tivera o primeiro contato real com o garoto. Dimitri a viu chorando nos degraus da escada que levava para os jardins e, mesmo June sendo apenas a filha de seu patrão, o garoto a puxou pela mão e a levou para conhecer belos locais da cidade, que costumavam ser desprezados por pessoas de sua classe.

Dimitri fora a pessoa responsável por lhe dar seu primeiro beijo, tirar sua virgindade, ensinar que havia coisas maiores que poder e dinheiro. Por sua causa, agora June lia diferentes escritores políticos e sociais. Não foi preciso nem mesmo 5 meses e o moreno se tornou o melhor amigo que ela poderia ter. June o amou da mesma forma que Dimitri a amara. Bela e intensamente.

Entretanto, após um ano de namoro, as brigas tolas e os desentendimentos recorrentes começaram a acontecer e, sem qualquer ação muito dramática, decidiram que o término era a melhor saída.

Ela tinha 16 anos quando aquilo acontecera, com 17 se mudou para o apartamento de Dimitri, após a falência da empresa de seu pai. E, agora, com 18, pretendia terminar o seu ensino médio e conseguir uma bolsa integral em alguma boa faculdade. Não queria mais depender do dinheiro de seus pais.

—Winter queria conhecer vocês. Eu não pude fazer nada.

—Poderia ter dito não. -murmurou Christian, mau humorado, erguendo a mão para pedir o cardápio.

—Uma coisa que você precisa entender é que não dá para dizer não à Winter Smith quando ela quer alguma coisa. -Dimitri respondeu, orgulhoso e satisfeito pelo gênio forte da garota. Como se aquilo fosse mais uma evidência do porquê dela ser tão importante para ele.

—Precisamos esperar Winter chegar.- June comentou de modo automático para o colega de classe, ao ver a atendente fazer um sinal de concordância, com um sorriso largo no rosto, enquanto terminava de anotar o pedido da mesa vizinha.

June revirou os olhos com a reação da garçonete. Era sempre assim que acontecia quando estavam perto de Christian.

—Apesar deu ter concordado em fingir ser seu namorado, isso não significa que agora você tem a liberdade de controlar as minhas ações. Se estou bancando o ator nessa brincadeira, é por causa de Dimitri.

—Você me deve muito. -June afirmou, erguendo o indicador na direção do ex-namorado enquanto ignorava completamente o comentário grosso de Christian.

Aquilo pareceu divertir o loiro ainda mais, uma vez que ele se limitou a aumentar o sorriso no rosto.

—Eu estou falando sério. -June reforçou, mantendo os seus olhos azuis sobre os amendoados, travando uma discussão silenciosa.

—Eu sei, little storm. Serei eternamente grato pelo que vocês estão fazendo. Não vai ser por muito tempo, só preciso ficar um pouco mais íntimo de Winter. Não quero admitir que lhe contei uma mentira na primeira vez que ela aceitou ter uma conversa decente comigo.

—A verdade é sempre mais fácil. -Christian falou de uma forma filosófica, fazendo tanto Dimitri quanto June lhe lançarem um olhar incrédulo. Ele deveria usar isso para os próprios relacionamentos.

—Apesar de não acreditar que precisei escutar essa frase saindo da boca de Connor, preciso admitir que realmente é mais fácil contar a verdade. Ela entenderia, porque confusões sempre acontecem em festas como aquelas. O importante é deixar claro que é com ela que se importa agora. -June falou explicativamente -Nós fomos namorados, terminamos, mantivemos uma amizade saudável, precisei ir morar no seu apartamento, me mudei, fomos para uma festa esse final de semana, eu estava dançando com você como amiga, e pronto, fim da história.

—Mas ela estava me olhando de uma forma tão segura que eu não conseguir manter uma linha lógica de pensamento. As palavras foram se enrolando e quando eu vi, a mentira já tinha sido toda elaborada. -Dimitri se justificou, de modo nervoso- Fazia tanto tempo que eu estava atrás de uma oportunidade para falar com Winter que...não sei, não queria que nada estragasse o momento.

Christian revirou os olhos, fazendo um movimento rápido com a cabeça para tentar tirar os fios negros que caíam sobre seus olhos safiras.

—Você poderia ter dito que June era uma prostituta que estava dando em cima de você. -Sugeriu de forma maldosa, fazendo a garota abrir a boca em sinal de irritação e descrença.

—Porque eu realmente me pareço muito com uma prostituta! -A ironia pingava da boca de June.

—Por que você está falando como se isso fosse um xingamento? Saiba que a prostituição é um emprego tão digno quanto qualquer outro. -Christian respondeu, olhando para o cardápio que lhe fora entregue por uma garçonete baixa. - Além disso, você estava quase se esfregando em Dimitri, o que a pobre da moça iria pensar?

—Ah, pelo amor de deus! -June soltou irritada -Eu estava apenas dançando! Não comece com todo esse seu discurso machista, Connor, porque eu não tenho paciência nem sanidade para aguentar. Até porque, eu estava dançando de uma forma muito mais respeitosa do que essas garotas que você encontra nas festas e leva para nosso apartamento, apenas para descartá-las no outro dia como objetos usados.

—Você é tão dramática. -Christian falou em um outro revirar de olhos - Eu apenas dei a sugestão de uma possível desculpa e, sobre as minhas garotas, nunca ouvi nenhuma delas reclamar. Se elas não se incomodam, porque você se incomodaria?

—June…- Dimitri soltou, antes que a garota pudesse retrucar. Já havia participado de várias situações como aquela para saber que se permitisse, os dois poderiam passar o resto da tarde trocando insultos e ofensas. -Chris, por favor, pare de falar para o bem de todos. Eu nunca seria capaz de dizer que June é uma prostituta porque não faz o menor sentido.

—Como se dizer que eu e Silver somos namorados fizesse. -o garoto respondeu, lançando maldosamente seu olhar safira na direção do loiro.

Dimitri virou a cabeça de lado, reconhecendo a parcela de culpa naquela situação em que se encontravam.

—Isso não vai ser por muito tempo. -prometeu.

Christian soltou o ar pelo nariz, voltando a observar o movimento nas ruas ao lado, evidenciando toda a sua indiferença com aquela conversa. June, por outro lado, forçou um sorriso na direção do ex-namorado. Tudo bem, ela realmente não estava satisfeita de mentir para Winter e fingir ser namorada do ser humano mais prepotente e mal humorado da academia que estudava, mas se era para fazer seu amigo feliz, ela era capaz.

—Essa foi a pior ideia que você teve nesses anos todos desde que eu te conheço. -A garota disse para o loiro, com um sorriso pequeno nos lábios, antes de erguer os braços pálidos para prender o cabelo negro em um coque mal feito.

—Tenho certeza que vocês vão conseguir se sair bem até eu contar a verdade para Winter.

Dimitri sorriu, novamente o seu sorriso largo, que fazia aparecer seus belos dentes brancos e suas charmosas covinhas. Parando para observá-lo dessa maneira, June conseguia perceber que não se apaixonar pelo garoto nunca fora verdadeiramente uma opção. Ele tinha todo o apelo que as garotas procuravam. Com seus sorrisos largos, suas covinhas charmosas, seus cabelos dourados e suas aventuras maravilhosas, não tinha como uma garota ser capaz de resistir a ele. Era realmente impossível.

Christian deu uma risada debochada pelo nariz, a única evidência de sua atenção na conversa, enquanto no June assentia minimamente para o garoto.

—Eu vou pedir a minha comida, vocês realmente não vão querer? -Christian perguntou, por fim. A garçonete permanecia ao lado deles pacientemente, observando sem qualquer constrangimento os traços esculpidos do garoto. Eram seus ângulos retos, seus fios negros e seus olhos azuis safira que a impediam de desviar o olhar. Enquanto Dimitri atraia a atenção por lembrar o sol, Christian fisgava suas presas por se assemelhar a noite.

O loiro negou a oferta com um leve aceno de cabeça, preocupado com a possibilidade de Winter não aparecer. June, por outro lado, se inclinou para perto do cardápio, interessada.

—E toda a história de que eu preciso esperar pela Smith? -Christian soltou.

—Estou morrendo de fome e preciso ter forças para aguentar fingir ser sua namorada nesse encontro falso. -retrucou no mesmo momento, não contendo a rudez na voz.

—E ela ataca. -Narrou Dimitri divertido. -Essa é a minha garota.

June inconscientemente ergueu o olhar para Dimitri, lhe lançando um meio sorriso de agradecimento pela ajuda. Sempre era um desafio conviver com Christian.

Porém, antes que o mais jovem tivesse a oportunidade de falar qualquer coisa, Winter chegou no restaurante, da mesma forma que um raio de sol chegava nos polos após meses de escuridão.

Nenhum dos três conseguiu conter sua surpresa com a sua beleza. Apesar de June já ter ouvido Dimitri falar incontáveis vezes sobre Winter, foi apenas quando a viu pessoalmente que entendeu o porquê do garoto ser completamente louco por ela.

Antes de tudo, ela destoava por seu estilo próprio. Enquanto todas as pessoas do restaurante usavam roupas da última década, Winter optara por um vestido bege que misturava o estilo da renascença com um modelo incomum dos anos 60. Ela, com seus óculos pretos redondos e seus cachos loiros caindo em cascatas em suas costas fazia June compará-la com os anjos pintados no período renascentista. Seu sorriso tímido, talvez a característica mais importante da garota, fazia com que todas as pessoas fossem incapaz de desviar o olhar, como um campo magnético atraindo todos os ímãs em sua direção.

—Ela é…- começou June.

—Magnífica. -Concluiu Dimitri, ao se levantar para acolher a garota com um abraço.

—Faz muito tempo que vocês me esperam?-Perguntou preocupada, a voz baixa e doce dominando o ambiente.

—Acabamos de chegar.- June respondeu ao mesmo tempo que Chris falou “Só há uns dez minutos”.

Por baixo da mesa, June deu um murro na coxa direita de Christian, o que o fez conter um sorriso. Apesar de ter dito que iria ajudar Dimitri com a atuação, não estava se esforçando para ser nem um pouco mais agradável do que de costume.

—Oh, me desculpe. -pediu envergonhada ao escutar o comentário do mais novo.

June ainda estudava o rosto de Winter, quando ouviu a grosseria do colega de classe. Ela possuía um nariz afilado, algumas poucas e claras sardas espalhadas pela região das bochechas e olhos claros, que eram um meio termo entre âmbar e um castanho claro.

—Não precisa se preocupar, Chris está apenas um pouco mau humorado. Nós saímos da escola faz pouco tempo e estamos com fome. -explicou com um sorriso, vendo Winter se sentar ao lado de Dimitri, consequentemente, na frente dela e de Chris -Mas, me desculpe, esqueci de me apresentar. Eu sou June Silver e esse é…

—Christian Connor. -o garoto afirmou, cortando a frase de June com a sua prepotência nata.

—Eu sou Winter Smith, prazer. Vocês dois estudam no mesmo colégio? -perguntou, ao observar o uniforme que combinava. Ou talvez simplesmente tivesse visto o símbolo do colégio bordado em ambas as blusas sociais que usavam.

Se fosse em qualquer outra situação, Chris teria dito um automático ‘infelizmente’, mas uma rápida olhada na direção do encantado Dimitri foi o bastante para fazê-lo conter a arrogância. Em um gesto simples, passou o braço direito por sobre os ombros de June e a puxou um pouco para perto de si, fazendo um contato muito maior do que eles eram acostumados.

Por alguns segundos, os músculos de June se tencionaram por ter sido pega desprevenida. Mas o garoto de cabelos negros deu um último aperto em seus ombros antes de levar sua mão para a nuca da garota. Como Chris era muito maior quando comparado com June, dois de seus dedos foram escondidos pelas madeixas negras tão parecidas com as suas.

A garota, definitivamente, odiava Christian. Não conseguia suportar a forma com que ele tratava as garotas, muito menos o jeito que ele se considerava superior a todos. Entretanto, por milésimos de segundo, June esqueceu tudo aquilo, se concentrando apenas no contato dos dedos do garoto, muito mais quentes do que ela esperava, contra a pele despreparada de sua nuca. Foi preciso muita força de vontade para não se arrepiar ou soltar qualquer exclamação de surpresa.

—Estudamos sim. -Chris começou a falar, adotando um tom que não conseguia conter sua satisfação pelo modo como June reagira ao seu toque. -Foi lá que começou essa nossa história de amor. Ela se sentou em uma cadeira na frente da minha e tem sido assim há alguns anos.

O tom de deboche era claro para aqueles que já o conheciam.

—Quatro. -resmungou a contragosto, se contendo para não afastar a mão de Chris na sua nuca. O garoto, por pura maldade, havia começado a fazer carinhos circulares com o polegar.

Se havia uma região que deixava June sensível, essa região era sua nuca. Durante o ano que namorou Dimitri, o garoto logo percebeu aquele fato, fazendo questão de distribuir beijos e mordidas todas as vezes que tinha oportunidade. Por isso, sentir os dedos de Chris fazer tais movimentos, fazia June querer ronronar tal qual uma gatinha.

—Então, eu comecei a tentar chamar atenção dessa garota incrível que sentava na minha frente. Ela tinha cabelos mais negros que o meu e seus olhos pareciam conter tempestades. Não ria. -pediu- Estou falando sério. No ano que conheci Silv- June -corrigiu-se com rapidez- ela derrubou um cara com apenas um murro em sua face, simplesmente porque havia feito a sua amiga chorar. Ela parecia um daqueles animais selvagens que costumamos ver em documentários do History Channel. -Christian tirou a mão da nuca da garota, que não conseguia conter a surpresa por saber que ele se lembrava daquele episódio, uma vez que fazia mais de quatro anos que aquilo acontecera. Precedia a época em que eles foram colocados na mesma classe. Se ele tivesse virado seu rosto na direção de June, teria visto uma surpresa estampada sem qualquer restrição e provavelmente teria se arrependido de contar tal história, entretanto, ele se ocupava em demonstrar, com as mãos, a defesa e o golpe certeiro de Silver -Com apenas um soco, conseguiu derrubar um cara dois anos mais velho do que ela. Obviamente, deve ter sido levada para a diretoria, mas depois disso, acho que nunca mais vi nenhum menino machucar qualquer garota do grupo que ela costuma andar pelos corredores.

—Que incrível, eu queria ter essa força. -comentou Winter, sorrindo com sinceridade para os dois.

—Vocês vão pedir ou não? -Resmungou a atendente que, além de estar irritada pela lentidão da escolha, começara a acreditar que Christian tivesse uma namorada.

Se ao menos ela soubesse...Pensou June, em um misto de tristeza e diversão.

—Ah, sim! -Respondeu Dimitri- Quer pedir logo ou posso dizer o meu? -Perguntou com educação ao se virar na direção de Winter.

June e Christian, mesmo se odiando, não conseguiram deixar de trocar um olhar cúmplice ao ver aquela cena. Era evidente que Dimitri estava tentando impressionar a garota, uma vez que, se tratando de comida, ele sempre pedia primeiro.

—Oh, não. Pode pedir. Preciso ver as opções do cardápio.

—Certo, então...Acho que vou querer o único prato que tem hambúrguer com bacon, esqueci o número, moça, mas você sabe qual é. Vou querer também uma esfirra de chocolate e de bebida, acho que pode ser uma coca-cola. -Com um breve movimento olhou para June, perguntando, sem dizer qualquer palavra, se pediria para ela o de sempre. Em um aceno, a garota concordou.- Tudo bem, June vai querer aquele sanduíche integral com atum e uma vitamina de manga. Leite desnatado, de preferência.

—E eu vou querer uma porção de batatas fritas, um cheeseburger e água. -Christian falou, antes que o amigo começasse a fazer o pedido por ele.

—Eu vou querer panquecas com mel e um café expresso. -Winter disse com um sorriso ao fechar o cardápio e entregar de volta para a atendente.

A jovem baixinha, que já não escondia o descontentamento por estar atendendo os dois casais, conferiu com rapidez os pedidos e foi para a cozinha.

—Vocês costumam vir sempre aqui?- Winter perguntou de forma curiosa. Parecia já ter certa familiaridade com Dimitri, mas estar na frente dos colegas de apartamento dele era uma novidade.

Christian bocejou, sem vontade de soar simpático para a loira. Estava cansado do dia na academia, mesmo que não costumasse fazer nada além de se sentar na carteira para assistir aula e conversar com seus amigos.

—Sim, porque é perto da nossa escola. Academia, na verdade. -corrigiu-se June- E é um ponto de encontro melhor do que as ruas laterais. Normalmente, voltamos para casa de ônibus, mas nas tardes em que Tray pode nos pegar, combinamos de comer aqui.

—Mas mesmo quando eu não tenho que pegar essas pessoinhas, de noite ainda venho aqui porque June adora o sanduíche natural da casa.

—É um saco quando isso acontece, na verdade. Silver quer o que Silver quer. -resmungou Chris, esquecendo da atuação pelo mau humor que começava a tomar conta de seu espírito.

—Como se não fizéssemos várias coisas que você quer. - June pontuou, irritada -Normalmente eu e Dimitri só queremos ficar sentados naquele sofá e você praticamente nos obriga a ir pro cinema assistir aqueles filmes entediantes que ninguém gosta.

—Dimitri gosta. -Christian retrucou com prontidão.

—Não, ele não gosta. Só diz que gosta porque ele é uma pessoa boa demais para te dizer um não.

—June. -O moreno disse novamente com repreensão, porém, dessa vez, a garota se irritou. Porque ele a estava repreendendo naquele caso quando era Christian que estava sendo um babaca por nenhum motivo.

—Dimitri. -respondeu com firmeza, travando uma batalha com o olhar. Herança dos meses de relacionamento que se manteve mesmo após o término. June gritava internamente dizendo que ele estava sendo uma pessoa bastante desprezível por estar lhe repreendendo, quando a culpa era claramente de Chris. Ela estava se esforçando, o garoto não.

Tudo isso não está dando certo, Winter mal chegou e esse idiota está agindo como um babaca. Ela afirmou, sem palavras, lançando um breve olhar de lado para indicar Chris.

Vocês estavam indo bem, juro! Me desculpe pela repreensão, só...continue o que estavam fazendo. Respondeu, de uma forma que às vezes era capaz de surpreender June. Entendê-lo com olhar era mais fácil do que muitas de suas atividades diárias.

Tudo bem. Disse, por fim, soltando um suspiro.

Christian revirou os olhos, sendo o único a perceber que Winter havia claramente reparado aquela conversa mental que os dois haviam trocado. Se aquele encontro duplo era uma tentativa de mostrar que não havia qualquer ligação entre Dimitri e June, eles estavam falhando miseravelmente.

—Vocês me enjoam. -afirmou o que sempre afirmava quando ele era posto de lado por essas conversas internas.

Entretanto, antes que qualquer um dos dois pudesse abrir a boca para responder o comentário ácido do jovem, a garçonete chegou com a bandeja contendo todos os pedidos.

—Muito obrigada. -June disse, observando-a ajeitar os pratos de acordo com os pedidos.

Como era de praxe, Dimitri se inclinou para tirar o tomate que vinha obrigatório no sanduíche de atum de June e a garota pegou os M&M que os cozinheiros colocavam como enfeite por cima da esfirra de chocolate.

Novamente, Christian revirou os olhos. O cenho de Winter ficava cada vez mais franzido com as ações que os ex-namorados faziam sem nem mesmo perceber, evidenciando toda a intimidade e casualidade que havia na relação dos dois.

Passou a mão sobre seus cabelos negros, decidindo se iria agir para ajudar o amigo ou não. Durante os meses que vivera com os dois, conseguiu perceber que ambos se davam muito bem, mas nunca fora capaz de afirmar com segurança que o que eles sentiram havia acabado. Já não eram namorados, mas diversos costumes se mantiveram. Como conseguiam fazer aquilo sem ultrapassar limites? Christian não sabia responder.

—Ela odeia tomates. -explicou para Winter, uma forma de tentar tirar o evidente vinco no meio de sua testa, antes que Dimitri percebesse e começasse a se desesperar. -Ele odeia M&Ms.

—Sério, ele odeia M&Ms. -reforçou June, ainda alheia a estranheza da cena para uma pessoa de fora- Teve uma vez que viajamos para Nova Iorque e eu queria muito ir para aqueles locais com várias coisas da marca, sabe? Precisei praticamente obriga-lo a ir e se eu não tivesse…

Ela se calou, percebendo que estava prestes a falar da chantagem que fizera na época. Se ela não tivesse os M&Ms, ele não teria sexo.

Dimitri pareceu congelar momentaneamente pelo medo do deslize quase cometido.

—Se ela não tivesse dito que a segunda opção era ir assistir aqueles filmes estrangeiros comigo, ele nunca teria ido. -Christian falou, conseguindo inventar uma mentira com agilidade, ao passar um braço sobre os ombros de June e abrir um discreto sorriso para Winter.

Pela primeira vez em muito tempo, June olhou para o jovem de forma agradecida, levemente impressionada pela facilidade com que ele contornou a situação.

O resto do lanche, felizmente, se sucedeu de uma forma melhor que Dimitri esperava. Christian se comportou bem, apesar de não fazer nada além de manter seu braço sobre os ombros de June, e ele pôde conhecer muito mais da sua garota incrível do que havia feito nos últimos dois encontros.