Bulletproof Army escrita por Jéssica Sanz, Jennyfer Sanz


Capítulo 1
Aish, por que eu?


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas chegou. A parte final da nossa saga está vindo. Espero que apreciem bastante!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729702/chapter/1

 Yoongi mantinha sua cabeça escondida entre dois travesseiros que, apesar de serem bem fofos, não eram escudo suficiente para livrá-lo daquele tormento. Sua expressão era de insatisfação enquanto aquele insistente choro de bebê atravessava seus ouvidos como agulhas.

— Aish, será que esses dois nunca vão conseguir controlar essa criança?

Já era a quarta madrugada que atravessavam. Jungkook e Yumii sempre conseguiam colocar Sunghee para dormir depois de algum esforço mas, estranhamente, naquela noite, nada estava conseguindo acalmá-la. Os dois já haviam tentado de tudo, mas a bebê não parecia satisfeita.

— Eu só quero dormir… — choramingou Yoongi, pressionando os ouvidos com raiva. — Por que essa casa não pode ter isolantes acústicos?

“É porque não é feita de matéria”, podia ouvir a voz de Namjoon. Sempre uma resposta. Para Yoongi, aquilo não era desculpa.

Inocentemente, ele havia achado que as preocupações teriam fim quando a pirralhinha finalmente chegasse. Depois de ficar um bom tempo ouvindo os gritos de Yumii na sala, Yoongi sentiu-se aliviado no momento em que Sunghee nasceu: era o fim do sofrimento da Yumii. Não que Yoongi ligasse para aquilo, queria mais que ela sofresse, é claro. Não, não, isso foi antes. Antes de saberem que foi culpa de Abraxas, não de Yumii. Isso fazia de Sunghee uma filhotinha de Abraxas? Claro que não. A dupla verdade-futuro não disse que o amor dela era verdadeiro? Precisava mesmo ser, para se casar com alguém tão imaturo quanto Jungkook. Mas parecia mentira. Yoongi sabia que Abraxas devia estar rindo da cara dele naquele momento, lá do fundo da inexistência. O que ele fez para merecer aquela tortura?

Alguém tinha que dar um jeito naquela criança. Jin Hyung conseguiu fazer a Yumii parar de gritar, não podia repetir a proeza? Mas que droga, alguém tinha que dar um jeito naquela criança, mas ninguém se prontificaria? Ah, ele não ia, com certeza não. Aquela menina era perigosa. Devia ter pelo menos um pouquinho de Abraxas, porque Yoongi sentiu, só de olhar para ela, todo o poder de destruição que ela carregava. Ele que não ia se meter com ela. Ficaria longe, bem longe. Imaginou, no futuro, quando todo mundo estivesse ocupado e lhe dissessem. "Yoongi, fica com ela só uns minutinhos?", ah, ninguém ia convencê-lo a ficar com ela, nem por uns minutinhos.

Yoongi se encolheu quando ela deu um grito mais alto que os outros. Ela não devia ter nenhum motivo visível para chorar, se não já teriam dado um jeito, mas devia estar sofrendo. “Ela está com sono, mas não consegue dormir”, podia ouvir Jimin, exatamente como disse nas três vezes anteriores. Mas que coincidência! Yoongi enfrentava o mesmo problema, por culpa de quem? Por que tinha que ser oito ou oitenta? Enquanto a outra desmaiava se ficasse sem açúcar, esta não conseguia pregar o olho.

Aish, o grito precisa mesmo ser tão agudinho? Tão irritante? Parece que alguém está torturando a coitada… Se bem que… É, não conseguir dormir é uma tortura. Yoongi sabia o que fazer. Estava tentando esconder isso de si mesmo, porque não queria fazer nada por aquela menina… Mas ela não tinha culpa de nada, tinha? Ela não merecia ficar daquele jeito, merecia? Não que ele estivesse sentindo pena, longe disso, mas como um bom amante do sono, ele nunca poderia deixar um bebê chorar tanto por não conseguir dormir.

Alguém precisava fazer alguma coisa. Essa frase se repetia e martelava na cabeça dele, embora ele tentasse ignorar. Porque ele também sabia que ninguém mais conseguiria fazer alguma coisa por ela.

Ele deu um longo suspiro, olhando para a porta. Sim, ele precisava fazer alguma coisa. Ele era um juiz, e devia ser justo. Aquela criança parecia cercada de erros e de maldade, até mesmo de perigo, mas ele não podia julgá-la. Lembrou-se de Jimin, horas antes, todo feliz porque ela finalmente abriu os olhos e ele viu toda a sua pureza. Como ele podia decidir que uma criança tão pura seria punida sem motivo? Ele não tinha esse direito.

— Não acredito que vou mesmo fazer isso — murmurou ele, se arrastando para fora da cama.

Estava cheio de sono, mas teve que ignorar. Arrastou os pés até a porta, e depois pelo corredor até chegar aos aposentos da família Jeon. Bateu na porta, sem deixar sua raiva reverberar na madeira. Esperou pacientemente até que Yumii abriu a porta com uma expressão cansada.

— Yoongi — disse ela, ligeiramente surpresa. — O que…

Yoongi não esperou ela entender. Isso demoraria demais. Simplesmente entrou no quarto, empurrando-a gentilmente para que saísse do seu caminho. Jungkook estava sentado na cama segurando a bebê, que estava completamente inquieta. Com cuidado, mas sem nenhuma emoção, Yoongi pegou Sunghee dos braços do appa.

— O que está fazendo, hyung? — perguntou ele, confuso.

— Vocês precisam dormir. Eu fico com ela esta noite.

Os pais da menina se entreolharam. Quão estranho era aquilo, vindo de Min Yoongi?

— Tem certeza? — perguntou a eomma, levemente desconfiada.

— Claro que tenho — disse ele, andando para a porta. — Por acaso acha que eu vou jogar ela pela janela?

Jungkook deu de ombros. Nada era demais para Yoongi, e ele sabia bem disso. Yoongi olhou de um para o outro, impressionado com sua falta de confiança.

— Nós já tentamos de tudo, oppa — explicou Yumii. — Ela não vai ficar quieta.

— Que falácia! Vocês não tentaram de tudo, definitivamente. Deixa com o oppa aqui, deixa.

Sem esperar mais protestos, Yoongi saiu do quarto levando a bebê. Os pais colocaram os rostinhos para fora e o acompanharam por um tempo, até que Yumii se manifestou.

— Ele está certo, bae. Nós precisamos dormir.



Yoongi andava lentamente, tomando o cuidado de só usar corredores com aposentos desocupados. Não queria acordar ninguém, apesar de achar que nenhuma distância naquela casa gigante e imaterial impediria que os moradores fossem incomodados com ela.

— Você é muito feia — disse ele, olhando pra ela. — Você é muito feia quando está chorando. Seus pais não merecem esse mau comportamento, sabia? Hum… É, talvez um pouco… Mas… Pensando assim… Eu também mereço. Não tenho sido muito justo com seu appa ultimamente. O que é bem ruim pra quem é juiz, né? Que bom que eu vim, então. Me sinto menos culpado segurando esse fardo que você é. Ah, não fique triste por ser um fardo. Acho que é coisa de bebê, mesmo. Você não pode “não ser chata”, você nem sabe o que isso significa! Eu sei. Isso deveria fazer eu ser menos chato, você não acha? Acho que sim. Embora eu não tenha a intenção de agradar ninguém. Sabe, eu vou falar com Hoseok. Ele deve ter alguma coisa boa pra dizer. Não é possível que você seja eternamente insuportável, é?

Yoongi desceu as escadas que davam acesso a um dos muitos salões da casa.

— Essa casa… “Casa” é um nome bem modesto, né? Eu nem sei quantos cômodos tem esse lugar… Tem vários salões, muito mais aposentos, salas especiais, jardins e lugares onde nunca fomos. É, você vai gostar de brincar aqui. O Taehyung vai te ajudar a explorar cada canto, assim de repente vocês podem fazer um mapa pra eu parar de me perder. Se um dia eu fizer um lugar grande assim, vou botar o nome de casa, também. É mais acolhedor, não é?

Yoongi chegou ao piano do salão, o seu favorito, e colocou a bebê na parte interna do piano, tomando o cuidado de acomodá-la com muitos panos para que os mecanismos não a machucassem.

— Ah, eu nunca faria isso no primeiro mundo — disse ele, arrumando-a. — Você atrapalharia o som, desafinaria o piano… Ia dar muito errado. Mas, que bom, as coisas aqui funcionam de modo diferente. Você vai poder sentir a vibração das cordas sem se machucar, isso deve adiantar alguma coisa. Não é possível que você seja tão chata a ponto de não gostar de piano.

Yoongi sentou-se no seu banquinho e foi preparando os dedos.

— Ah, espectro, me faça alguns favores. Traga um daqueles sofás pra perto e… Será que pode me arrumar uma bebida? Algo quente e doce que não seja Caramel Machiatto.

— Claro, senhor Min, providenciarei.

Yoongi olhou para os seus dedos dispostos nas teclas brancas como jade. Ainda ouvia aquele choro insuportável, mas ele tinha que dar um jeito de parar aquilo. Tocou a primeira nota, mi. Cuidadosa e lentamente, foi para o ré, o lá duas vezes. Voltou para o mi, e esperou um pouquinho antes do ré. Parou e olhou pra ela. Ela parecia ter diminuído o volume do choro. Queria prestar atenção àquele novo som. Voltou a atenção às teclas. Mi novamente, mais um ré e três lás.

— O nome dessa música — informou ele, baixinho, sobre aquele choro miúdo — é Início. Ela pertence a seu appa.

 

Eu não aguento mais

Porque você está chorando

Eu quero chorar no seu lugar

Embora eu não possa

 

Yoongi continuou tocando, atento a cada som. A cada nota que o piano produzia e cada nota que o bebê emitia, embora estas fossem cada vez mais baixas, menos duradouras e menos dolorosas para ele. Yoongi tentava pôr delicadeza cada vez que seus dedos apertavam uma tecla. Aquele era um som sensível para um bebê sensível.

— Vou perguntar ao Hoseok — repetiu ele, sussurrando, sem parar de tocar. — Estou curioso para saber como será você, quando não for um bebê chato que só sabe chorar. “O mundo é muito grande, e você é pequena”. Se eu tivesse que apostar, diria que você vai ser muito forte. Sabe por quê? Você é filha do golden maknae.

Yoongi encantou o piano para que reproduzisse a música continuamente como um caixinha de música. O espectro lhe trouxe a bebida quente e doce, e ele se levantou. Ficou bebendo e observando a calma que se instalava na criança. Já sem chorar, a menina mantinha os olhos grandes e amendoados repousados sobre ele. Ele imaginou o quanto ele deveria parecer assustador, mesmo com o cabelo preto bagunçado e o pijama de seda rosa, porque o sono o deixava com uma cara péssima.

— É bom mesmo que você tenha medo de mim, porque…

Repentinamente, a garota começou a rir olhando para ele. Um floquinho de luz surgiu em uma de suas pequenas mãos, e flutuou pelo salão como se tivesse vida própria. Yoongi mal se importou com aquela luz, que não devia ser nada mais que um dos poderes daquele bebê à prova de balas. O riso dela diante dele o incomodava mais, porque achava que seria temido pela pequena. Ele mudou de posição, desconfortável.

— Aish, o que é isso agora? Eu não sou engraçado! — ele deixou os ombro caírem. — Você deve estar rindo da minha desgraça. Você é terrível — disse, bicando a bebida com o canudo colorido. — Você não tem pena dos seus pais?

Sunghee começou a piscar.

— Não acredito! Até que enfim você está com sono. Vamos, pode ir fechando os olhinhos que eu deixo. Nós dois precisamos muito ter uma noite de sono decente.

Yoongi deixou o copo vazio sobre o piano e pegou a bebê no colo novamente. Abriu as asas e ajeitou-se no sofá recém-colocado, aconchegando Sunghee em seus braços e cobrindo-a com as asas para que ficasse bem quentinha. Esperou ela adormecer para que pudesse ficar seguro o suficiente para fazer o mesmo.



Havia alguma coisa mexendo em sua asa. Poderia ser qualquer coisa, desde um pequeno inseto até a mão de uma criança chata, mas esta era a opção mais provável. A pestinha já estava acordada! Ainda sem abrir os olhos, Yoongi foi traído pela emoção e, pela primeira vez, apareceu um sorriso no rosto dele, por causa dela. Porque aqueles pequenos dedinhos de bebê eram extremamente delicados sobre suas penas. Aquele carinho tinha algo de especial, como se fosse mágica. Ele abriu os olhos, e flagrou-a completamente entretida com sua asa direita. Por um momento, ele esqueceu sua própria determinação, segundo a qual deveria afastar-se dela tanto quanto fosse possível. Que droga, ela parecia um ímã.

— Você não presta, mesmo — disse ele, rindo levemente. — Você é menos chata quando não está com sono. — Ele ponderou e olhou para os lados, certificando-se de que não havia ninguém ali. Apenas uma algumas borboletas passeavam pelo salão iluminado pelas janelas abertas, por onde haviam entrado. Nem mesmo espectros estavam ali. Então ele sussurrou. — Tá. Quando eu digo “menos chata”, quero dizer “mais fofa”.

— Que bom saber que acha isso da minha filha — disse Yumii, projetando-se entre as borboletas.

— Isso o quê? — perguntou Yoongi, levantando-se ao ficar sério de repente. Tinha esquecido que a eomma da Sunghee era uma recente chimaera. — Que ela é chata? Sim, é muito chata, e eu já fiz o meu papel de babá, toma que a filha é tua — disse ele, estendendo a criança como se fosse algo muito nojento.

Yumii segurou a filha, contendo o riso.

— Tá. Obrigada pela ajuda, Min Yoongi.

— Ah, obrigado por reconhecer que não joguei sua filha pela janela — disse ele, virando-se para subir as escadas. — Espero que não me peça mais pra fazer isso nos próximos 20 anos.

— Longe de mim. Até porque… Foi você que se ofereceu.

Yoongi se virou, com aquela cara de quem nota um golpe sujo.

— É. Acabei de lembrar por que ela é tão insuportável. Puxou à eomma.

Yoongi subiu, enquanto Yumii continuava contendo o riso. Aquele oppa não enganava ninguém.

— Não acredite nele, Sunghee — sussurrou ela, observando-o andar no corredor superior. — Ele diz isso porque gosta da gente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estamos começando com uma demonstração do que é a relação entre Yoongi e Sunghee. Muito fofo, não é mesmo?

E então, gente, o que acharam desse começo?

SOBRE FREQUÊNCIA: Por enquanto, não há frequência específica para postagem de capítulos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bulletproof Army" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.