Durante as aulas... escrita por Sarah


Capítulo 12
Olhares


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :3



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Era um hábito estranho, o dela: parar para conversar com qualquer pessoa que estivesse lendo, mesmo que fosse só para ler o nome do livro. Mesmo que fosse um desconhecido. Mesmo que fosse inconveniente para quem estivesse lendo.

E foi numa dessas paradas que ela o conheceu, não exatamente o conheceu, é claro, afinal, se tratava de conversas rápidas, de um minuto ou menos, era difícil formular alguma opinião concreta sobre alguém desse modo.

Mas ele estava sempre lá, sentado em um canto, lendo, levemente isolado de todos, mas não porque não tinha amigos, porque ele tinha, disso ela sabia. Talvez só gostasse de ler. Talvez só tivesse tempo de ler em alguns intervalos da escola. Talvez estivesse cansado de todos. Uma grande quantidade de talvez, inúmeras hipóteses.

Aos poucos ela juntava informações, um gesto inconsciente, que fazia em relação a todos: era curiosa, tinha mania de escritora, algumas pessoas lhe chamavam a atenção.

E ele era uma dessas pessoas.

Um dia, na espera da fila do almoço, ela parou novamente para conversar com ele, só que não foi uma conversa como as outras: foi um pouco mais longa. Longa o suficiente para que ele olhasse nos olhos dela.

Olhos eram sempre algo que despertavam sua atenção, embora não visse a menor graça nos seus: um azul escuro, meio esverdeado, riscos amarelos. Era um tom estranho, às vezes parecia sem vida, opaco. Os outros sempre diziam que eram olhos lindos. Ela só agradecia, internamente discordando.

Mas os olhos dele, de um castanho escuro aparentemente comum, daqueles que ninguém olha duas vezes, encheram-na completamente de agonia, uma inquietação tão grande quanto ter que ficar parada, presa em um lugar.

Aqueles olhos, considerados tão comuns, a apavoraram de tal modo, que ela logo inventou uma desculpa para sair, escapar da conversa e da sensação estranha, que apesar de apavorante, não era de toda ruim, sendo na verdade atrativa. Como encostar a mão em alguma coisa quente, mesmo sabendo que provavelmente vai acabar queimado.

Na fila, longe dos olhos do outro, ela pode perceber uma coisa: não eram os olhos que causavam aquela agitação, mas sim o olhar que eles transmitiam.


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