Era engraçado terem demorado tanto para finalmente se conhecerem: tinham praticamente todos os amigos em comum, inclusive, os melhores amigos, apesar de sempre terem estudado em escolas diferentes, o que apenas deixava tudo mais irônico.

Outras coisas os uniam também: o gosto dos mesmos estilos musicais, o que envolvia basicamente todas as variações de rock e algumas eletrônicas, fissurados em atividades físicas, ele sempre em função do basquete, ela sempre em função da academia, e amavam jogar RPG, sempre com as caras enfiadas em alguma ficha de personagem, além dos livros, é claro.

O mais engraçado era que a partir dai divergiam em quase tudo. Ela, vegetariana e amante de paçoca. Ele, diabético e alérgico a amendoim. Ela era muito baixinha. Ele era muito alto. Ela era forte (principalmente na questão física), dificilmente mostrava o que sentia, aliás, parecia querer esconde-los. Já ele não era exatamente fraco (principalmente na questão física), mas era sensível, dramático às vezes até em excesso.

Ele era todo problema. Ela era toda solução.

No início era só uma conversa meio como quem não quer nada, mas então, como Eduardo e Mônica, a vontade de se ver foi crescendo, e crescendo, e quando perceberam, já não tinha mais volta: gostavam um do outro. Como tinha que ser...

Ainda enrolaram um tempo, tentando se enganar, mas felizmente fracassando miseravelmente, pois não era segredo para ninguém que se gostavam (as insinuações e brincadeiras só ganhavam proporção), e foi só uma pequena questão de tempo, talvez uma semana ou menos, até que assumissem o inevitável namoro.

Todos diziam que ele era gay, assim como todos diziam que ela era lésbica. Como dois lados da mesma moeda, eles eram a ironia em mais perfeito equilíbrio.