A Cidade do Sol escrita por Helen


Capítulo 9
Oportunidade.




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— Mãe. — chamou Porcelana, ao ver as cadeiras da cozinha vazias, mesmo sendo de manhã.

— Diga. — Nazaré limpava um dos pratos com um pano úmido, já que a água estava fria demais.

— O que aconteceu com o padrasto e Amaldiçoado? — esquecera do vagão e da imagem do pai esmagado, para seu próprio bem.

— Eu os mandei embora. — confessou a mãe.

— Por quê? — inocentemente, perguntou.

—... Sei lá, deu vontade. — "ela é muito inocente para entender" pensou.

— Oh.

E terminaram as torradas em silêncio.

...

Naquele mesmo dia, durante a aula, Porcelana percebeu uma ansiedade nova, em uma das suas colegas. Resolveu então perguntar para ela o que a afligia.

A moça, da mesma idade de Porcelana, encarava as altas janelas de vidro que ficavam no lugar das antigas paredes de concreto dos corredores. Os arquitetos pensaram que ficaria melhor. E ficou mesmo.

— Oi, Inocência! — Porcelana invejava tanto o nome dela... Mas não podia deixar isso transparecer.

— Olá. — Inocência encarou Porcelana por um breve instante, e voltou a atenção para a janela.

Inveja daqueles cabelos pretos mas cacheados... dos olhos violeta... do vestido roxo de lã com mangas longas e gola alta... da legging preta... dos tênis bege... e de como tudo isso mostrava de um jeito sutil o corpo bonito que ela tinha.

— Algum problema? — Inocência percebeu o olhar queimando de inveja.

— Oh, sim. — Porcelana se recompôs. — Você está bem?

— Claro, por quê? — ela tinha vontade de dizer "claro, só você que não parece bem".

— Você parece ansiosa por alguma coisa. É a primeira vez que te vejo assim.

Inocência, que de inocente não tinha nada, encarou a moça com desconfiança.

— Desde quando você me observa?

—... — Porcelana se arrependeu das suas palavras. Então  se esqueceu delas. — Ora, que?! Só percebi isso hoje.

— Ah, sim... — e Inocência se fingiu de inocente mais uma vez. — É que vou viajar amanhã.

— Oh!! Pra onde?

— Pra Castle Hill. A "cidade aglomerado".

— Vai se mudar?!

—... Digamos que sim.

E não houve mais conversas entre elas, durante aquele dia. Mas Porcelana ficou curiosa. Nunca tinha saído da sua cidade de muros, além da vez com Amaldiçoado e Adilson. Talvez aquela fosse sua oportunidade...


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