A Cidade do Sol escrita por Helen


Capítulo 8
Penas.




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A chuva forte e a escuridão da noite oprimiam Amaldiçoado, ao mesmo tempo que o abraçavam. Ele não conseguia mais se manter de pé. Os anos trancafiado no porão o fizeram sedentário a ponto de ter que sempre parar um pouco a cada quilômetro que andava.

O quase monstro caiu de joelhos na grama alta e deixou-se cair, causando um leve impacto e um barulho abafado. Respirava com dificuldade. Diagnosticou, preocupado, que estava ficando doente "Mais uma coisa para a minha lista de problemas", pensou.

Ele ficou deitado no meio da floresta, sozinho, com frio, fome, tristeza, ódio e doente. Amaldiçoado suspirou (do jeito que podia), e continuou deitado de bruços, com os olhos fechados.. Não conseguiu dormir, pois os pequenos e constantes sons que seus ouvidos malditos percebiam deixavam seu cérebro desperto e atento, numa paranoia auditiva.

A única coisa que o consolava no momento era saber que estava cada vez mais longe da sua cidade de muros.

Seus ouvidos, então, capturaram um som incomum, diferente de todos os outros sons incomuns que encontraram antes.

Amaldiçoado abriu os olhos e encarou a escuridão, e esperou que eles se acostumassem com a pouquíssima luz. Então, entre silhuetas sombrias de árvores, percebeu a figura de alguém.

— Quem... — começou a dizer a figura.

— Sou Amaldiçoado. — interrompeu o meio monstro.

— Oh... eu também. — e se aproximou, pois na situação não conseguia distinguir o "A" maiúsculo do "a" minúsculo.

O outro indivíduo era alto. Suas mãos eram negras como a noite, e seus dedos possuíam unhas grandes e afiadas. O restante da sua pele, no entanto, era branca, coberta de penas de alguma cor que não dava para distinguir no momento. Seu cabelo era curto e oleoso. Vestia apenas uma calça jeans, e usava um tecido estampado de pássaros na cintura.

— Está perdido? — perguntou o alto.

— Perdido, cansado e doente. — resmungou Amaldiçoado.

—...E eu achando que era eu que estava na pior.

Os dois deram uma risadinha.

— Posso ser seu amigo? — o alto se aproximou do corpo caído de Amaldiçoado.

— Pode... Estou cansado demais para discutir coisas assim.

O alto tirou o tecido da cintura e o estendeu sobre Amaldiçoado. Foi aí que o meio monstro percebeu algo interessante da peça: lona. Ela o protegeu das frias gotas de chuva, algo que Amaldiçoado quis agradecer muito, mas estava cansado demais para falar. O meio monstro de penas sentou-se próximo a Amaldiçoado, o encarando com doçura naquela escuridão fria.

— Por que você está aqui? — perguntou Amaldiçoado.

— Não posso estar em outro lugar. — respondeu. — E você?

— Descarrilei um vagão de trem.

—...Uau.

E Amaldiçoado fechou os olhos. Perguntou:

— Qual é o seu nome?

E caiu no sono profundo.

Não ouviu a resposta.


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