A Cidade do Sol escrita por Helen
Porcelana encostou a cabeça na janela, dormiu e sonhou. Acordou no sonho, e viu que estava no meio de uma terra deserta. O céu era laranja, e toda a paisagem era em tons castanhos e alaranjados. Levantou-se do chão, e percebeu que mais à frente havia um enorme vale. No meio dele, uma cidade escura, e duas grandes figuras em pé, altas como prédios, guardando seu único portão.
Foi de cima do vale até embaixo num piscar de olhos, e chegou à entrada da cidade. Os dois grandes guardas a encararam com seus únicos olhos. Havia uma lança atravessada em cada uma de suas cabeças, mas ela não parecia incomodá-los. Parecia que estava ali há muito, muito tempo.
— Que lugar é esse? – perguntou Porcelana.
— Cidade das tristezas... – disse um dos ciclopes.
— Das amarguras... – continuou outro.
— G’artler. – suas vozes grotescas soavam muito pior juntas.
Os pelos de Porcelana se arrepiaram todos de medo.
— Como foi que eu vim parar aqui... – sussurrou para si mesma.
— O que quer aqui? – perguntou um dos ciclopes.
— Aqui quer o que? – repetiu o outro.
— Nada! Não quero nada de uma cidade tão tenebrosa. – respondeu a menina
— Então por que veio? – perguntaram os dois.
— Sei lá! Procurava respostas pra saber o que eu tinha a ver com monstros, aquelas pessoas amaldiçoadas, mas não consigo me lembrar de nada!
— Beleza tu tens... – disse um dos ciclopes.
— Ousadia também... – continuou o outro.
— Mas memória, que é bom, nada! – os dois riram de Porcelana.
— Olha aqui! – ela bateu o pé no chão. – Vocês não falem mal da minha memória! A culpa não é minha se ela não funciona!
— Não rimos de desgraças. Somos uma delas. – disse um deles.
— Da sua falta de inteligência, nós rimos. Sua memória é questão de... – continuou o outro.
— Prestar devida atenção. – responderam os dois.
– Estão dizendo que eu sou desatenta?! – ela franziu a testa, inconformada.
— Sim, ha ha. – responderam os dois, rindo até do mesmo jeito. E apontaram para os pés de Porcelana. – Não vê o que está debaixo do nariz.
Porcelana olhou pra baixo e viu que uma estranha planta enroscara no seu pé. Quando tentou se livrar, a planta cresceu e se espalhou pela sua perna. A garota começou a entrar em desespero.
— Não nos reconhece, Porcelana? – disseram os dois. As suas vozes, já grotescas, começaram a se distorcer ainda mais. – Somos nós...
Porcelana olhou pra frente. Os ciclopes sumiram. Agora só sobravam duas figuras que conhecia muito bem: Adilson e Amaldiçoado. Os dois sorriram com uma maldade tenebrosa, e abriram os portões da terrível G’artler. Porcelana ouviu um choro terrível, gritos de ódio e suspiros de cansaço. A cidade era nada além de um grande abismo vazio. A garota sentiu-se puxada para dentro dele.
— O QUE É ISSO?! – ela gritava enquanto um vento arrastava aquele sonho inteiro pra dentro de G’artler.
— Se a luz que está em ti se torna trevas... — disseram as vozes, que já não sabia se eram de Adilson e de Amaldiçoado, ou se de qualquer outra pessoa deste mundo. – Quão terríveis serão elas...
E Porcelana caiu no abismo.
...
A garota acordou toda suada, respirando com rapidez, tremendo de medo. Nazaré tentou consolá-la com um abraço, os policias deram-lhe uma água, mas isso não impediu de que Porcelana começasse a chorar. Não de medo. Mas com todas as lembranças que agora tinham vindo à tona, e que doíam no seu coração.
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