Trovões grunhiam vez ou outra. Amaldiçoado, mesmo no seu quarto, não conseguia dormir com aquele barulho. Virou-se para o lado, e na escuridão, viu Vinícius dormindo. Perguntou-se como ele tinha um sono tão pesado. Notou que Querido não estava ali.

Curioso, o meio monstro se levantou e saiu do quarto. No corredor, as luzes estavam apagadas. Bendito sentiu uma presença ali.

— Por que está parado aqui no escuro? – perguntou ele. Seus olhos, acostumados com o escuro, viam quase que claramente quem estava ali.

— Eu... – Caramelo estava nervoso. Dava pra ouvir seu coração batendo. – ... – engoliu em seco – Não vai contar pra ninguém?

— Não posso prometer nada.

— Se for assim, não vou contar.

— Vamos ficar aqui parados o resto da noite, então. – um trovão rugiu do lado de fora.

— Mas se eu contar por que vim aqui, você vai tentar me impedir!

— Que drama, fala logo.

—... Eu vou fugir com a Carla.

Amaldiçoado ficou em silêncio. Ele bufou uma risada na escuridão. Aquela frase soava tão ridícula.

— É sério! Eu não vou aguentar passar os dias aqui dentro. – Caramelo se defendeu.

— Sabe pra onde vai, pelo menos?

— Não... – estava mentindo.

— Então não vale a pena. Fique aqui.

Caramelo bufou de raiva, como um menino mimado.

— Sério. Olhe pra você. – Bendito encostou no umbral. – É sobrinho do rei, tem um nome legal, tinha até uma Kombi. Não sei nem porque ficar revoltado. Ninguém vai ficar olhando pra você com cara de nojo, se ficar aqui. Ninguém vai te odiar, ninguém vai te chamar de escória, de monstro, de nada. Pense bem. Vale a pena jogar tudo isso fora por causa de uma Kombi?

— Não é só uma Kombi, é a Carla...

— É uma Kombi com o nome de Carla. Só isso.

Caramelo, depois daquilo, voltou ao elevador e foi embora. Mas Bendito continuou lá na porta, apenas de precaução, caso ele inventasse de mudar de ideia.