A Cidade do Sol escrita por Helen


Capítulo 3
Covarde.




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Horas mais tarde, quando Porcelana deveria estar na escola e Amaldiçoado dormia para fugir do mundo, a mãe dela e o pai dele se reuniram na cozinha e se sentaram na mesa.

— Eu não suporto mais viver nessa agonia todo dia por causa do seu filho, Adilson. — confessou a mulher. — Ou você sai daqui com ele, ou ele vai ter que sair.

— Mas... — o homem olhou para baixo, triste. — Ele é o meu filho...

— Um meio monstro!? Você já viu o estado dele?! Porcelana disse que ele parece um urso, de tão grande e peludo que está!

— Continua sendo meu filho, Nazaré!

— Então se você se importa com seu filho mais do que com sua mulher e a sua outra filha, vá embora com ele!

— Como?! Eu não consigo viver sem você! — olhou para os olhos da esposa, mas não conseguiu manter a postura, e os baixou de novo.

— Mas é claro! Tudo o que é seu hoje era meu quando nos casamos. Essa casa, o carro, o dinheiro pra pagar as contas! Não aguento mais ter que sustentar você e esse seu monstro que você chama de filho! Quer saber?! Suma da minha vista!

Adilson ainda olhava para o chão. Nazaré olhava para ele com desprezo e ódio, esperando que ele reagisse, que fosse corajoso, pelo menos daquela vez. Mas ele apenas virou para ela com os olhos marejados, e disse:

— Adeus.

Ela fechou os punhos com raiva, arrancou o anel de ouro da sua mão direita e o jogou pela janela. Sem palavras, a mulher gritou e saiu batendo os pés pela casa, e pouco depois se ouviu o som forte dela batendo a porta da garagem. O motor do carro foi ligado, e, em seguida, o veículo foi se afastando em alta velocidade. Deixado sozinho, Adilson suspira com o fato de que agora não teria mais dinheiro além do que havia escondido nos seus sapatos.

Foi até o seu quarto, que agora não iria mais ser seu, abriu o lado do guarda-roupa com suas coisas, pegou um punhado de casacos, camisas, calças e meias e os jogou na cama. Depois escavou mais o mar de coisas lá dentro e achou um enorme moletom grosso de um azul profundo, e um gorro inocente de lã com um tom de azul mais suave. Puxou uma calça e meias feitas por alguém não tão habilidoso com a costura (ele mesmo), um par de galochas, e um cachecol verde, antigo. Jogou essas roupas do outro lado da cama, para diferenciá-las das suas.

Depois de vestir-se, preparando-se para sair de casa, ele pôs todas as roupas em uma mala, foi até a porta do porão, e encarou a fechadura reforçada. Respirando fundo, ele a abre.

— O que você quer, Porcelana? — ouviu a voz do seu filho.

— S-se vista. Nós dois vamos viajar de trem. — diz o homem, se esforçando para não tremer.

— E as outras?

Que o fogo do inferno aqueça seus corações de gelo.

Um pouco assustado, Amaldiçoado se virou para a silhueta covarde do pai. Ela não mudou em nada. O rapaz não entende. Mas mesmo assim, o admira.

Finalmente alguém que me entende. — diz ele, se levantando na escuridão.


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