A Cidade do Sol escrita por Helen


Capítulo 144
Vida.




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De noite, Bendito mergulhou-se em pensamentos sobre si mesmo. Tinha visto o sol, banhado-se com sua luz, e mesmo assim não deixava de ter a aparência de meio monstro. Não parava de pensar nisso, enquanto encostava o cotovelo na bancada.

— Está com algum problema? – perguntou o velho, trazendo uma bandeja com macarrão.

— É só que... não é como eu esperava. – olhou as próprias mãos. – Eu jurava que iria me tornar todo humano de novo quando encontrasse o sol mas...

— Parte dessa sua aparência não é culpa da maldição. – disse, enquanto servia a comida em dois pratos. – Quando deixamos de ser crianças, começamos a ser bombardeados de todo o tipo de detalhes estranhos. Eu mesmo já fui assim. Mas meu pai me fez perceber que deixar que aquilo me dominasse era ridículo para um ser humano. Sem ofensa. – ele pegou dois garfos e começou a pegar o macarrão do seu prato. Bendito o fez também.

— Então se não tivesse nada dessa maldição das nuvens, eu estaria do mesmo jeito? – Bendito deu uma garfada.

— Não tão pálido e musculoso, mas da mesma altura, se eu não me engano. E com essa mesma voz.

— Que bizarro...

— É, eu sei. A maldição afeta nosso corpo para ser um veículo de ódio. – o velho começou a comer o macarrão. – Mas não se preocupe. Quando se libertar daquilo que prende teus pensamentos, tornar-se com aparência humana será mais fácil do que parece agora.

— No fundo, tudo depende de mim mesmo.

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás... Mas só pode ser vivida olhando-se para frente.

— Como entende tanto de maldições se elas começaram a ocorrer depois que os céus se fecharam? – questionou Bendito.

— Elas sempre aconteceram, rapaz.

— Sempre?!

— Sempre. E ainda acontecerão quando os céus se abrirem. Se eles se abrirem de novo.

— Por que ninguém nunca falou disso?

— Porque é um processo natural. Todo ser vivo cresce e se depara com o desafio que é lidar consigo mesmo. Alguns acabam se amaldiçoando e outros acabam vencendo...

— E por que ocorre com tanta frequência lá embaixo?

— Porque o desespero do ambiente contagia o desespero da alma.

—... Você é bem poeta pra alguém que se diz um cientista.

— É o que a solidão faz... – ele sorriu, enquanto deu outra garfada no macarrão.


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