A Cidade do Sol escrita por Helen


Capítulo 1
Amaldiçoado.




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Chovia.

Pingos d'água caíam com força no telhado, que por sorte já era acostumado a tal situação.

— Oh, que bom que tirei as roupas do varal mais cedo. — a mulher disse, olhando pela janela.

Na mesa de jantar, alguns pratos cheios de migalhas de pão esperavam para ser limpos. A mulher mandou a sua filha recolhê-los, depois que terminasse a sua torrada. A garota sorriu enquanto concordava, e terminou o resto das bordas.

Após recolher todos os pratos, pôr os restos de comida no lixo e limpar o seu próprio prato, a moça perguntou à mãe se ela lavaria o restante. O tom desanimado utilizado por ela foi proposital, e fez a mãe gentilmente dizer que iria lavar o pratos.

Num giro de alegria, a garota agradeceu a mãe e saiu correndo para o corredor. Foi até um pouco antes da porta da frente, e virou para a esquerda. Encarou a porta que levava ao porão com muito mais alegria do que qualquer um. Então, puxando a chave que havia roubado (todo mundo da casa sabia disso), ela a pôs no encaixe e virou a fechadura.

Lá dentro, a escuridão era quase palpável. A luz pálida vinda de fora escorregou e afundou para dentro, mas agia como se não quisesse entrar naquela sala. Depois de alguns minutos se acostumando ao escuro, a garota viu as escadas de concreto do porão. E as desceu, com cuidado, mas também, com animação. Chegando no penúltimo degrau, olhou para a escuridão e viu uma silhueta grande, sentada em cima de um colchão jogado.

— Por que você não liga as luzes? — perguntou a menina.

— Eu não consigo me ver no escuro. — disse uma voz profunda e grave.

— Isso não é motivo de você justamente ligar a luz?

— Você não entende... nunca vai me entender.

— Sempre quem diz isso nunca tenta se explicar aos outros!

— De que adianta eu tentar explicar? Pra você continuar com o mesmo sentimento de pena? Ah, fala sério. Me deixa em paz.

Os dois ficaram em silêncio. Até a garota recomeçar a conversa:

— Está chovendo que só lá fora! Parece que o céu vai cair!

— Que caia. Pelo menos esmagaria vocês todos.

— Mas você ia ficar sozinho!

— EU JÁ ESTOU SOZINHO! — gritou a voz.

E ambos ficaram em silêncio, novamente.

—...Não diga isso. — ela começou a procurar o interruptor, passando a mão na parede. — Você ainda é meu irmão, por parte de padrasto, lembra? Por isso que eles não o abandonaram lá fora, além dos muros. Você é especial pra todos nós...

A moça encontrou o interruptor, e ligou as luzes da sala.

De repente, tudo ficou visível. Mas, ao invés da claridade dar uma sensação de segurança, ela revelou um perigo. Embaixo do pano de escuridão da silhueta, estava alguém. E esse alguém era alto, com ombros largos, grande como um urso, peludo como um homem. O seu cabelo escuro e curto era preto, bagunçado, sujo e com visíveis crostas de caspa. Suas sobrancelhas eram grossas e deixavam seus olhos assustadores. O seu rosto era sujo, e ceborréia dominava as suas bochechas e seu nariz. Além disso, espinhas grandes e vermelhas se espalhavam pelo seu peito e braços. Sua pele brilhava de tão oleosa. Vestia luvas escuras, e uma bermuda desbotada e velha, presentes de tempos atrás.

— Então por que me chamam de Amaldiçoado? — perguntou ele, o ódio pela sua maldição queimando a cada sílaba.


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