"O vento é como um mensageiro. Trás e leva mágoas assim como arrasta as novens no céu..." - Johanna "Cohen" Eaton

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A maior parte dos da minha fação preferem sol e calor. Mas eu também nunca fui muito normal, por isso acho que ninguém estranha o facto de eu adorar discomunalmente a chuva. Não está frio, mas também quem é que gosta dele? 

Se minha mãe estivesse aqui estava se rindo de mim e dizendo que pareço um cachorrinho à chuva, já que tenho por mania colocar a língua de fora.  

— KAY! - abri os olhos e olhei para baixo. Uriah estava perto do buraco que era a entrada de admissão do quartel-general da Audácia. - VEM DE UMA VEZ! TEMOS QUE TREINAR PRA INICIAÇÃO!

— AI! - protestei lhe mostrando a língua. - VOCÊ É UM CHATO URIAH PREDAD! EU NÃO PRECISO DE TREINAR. VOCÊ SABE DISSO!

A verdade é que sempre me treinei bastante com minha mãe, e por esse mesmo motivo tenho mais habilidades que o Max. Mas mantenho isso em segredo, e apenas o Uriah, a Marlene e o Tobias sabem.

— POIS MAS EU PRECISO. - Uriah por vezes consegue ser mesmo irritante. - POR ISSO SAI DAÍ E VEM TREINAR COMIGO DE UMA VEZ!

Atirei a cabeça pra trás, deixando escapar um gritinho de agonia. Depois me levantei na mureta e me virei de costas me deixando cair. Essa sensação de queda faz parte de meu dia a dia, já que passo a maior parte do tempo na mureta. Senti meu corpo ser amparado pela rede e me deixei ficar até parar por completo.

— Finalmente você desceu. - Uriah acabara de entrar naquela "sala" e me ajudou a sair da rede. 

— Só desci porque você é chato. - rebatei fazendo com que ele bufasse. - Vamos logo...

— Você está encharcada. - Uriah puxou a camiseta vermelha que estava colada no meu corpo.

— Sério? - falei irônica. - Eu nem sabia...

O empurrei para fora dali, enquanto ele resmungava algo que não pude perceber. Mas nem liguei. À medida que eu andava deixava um rasto de pegadas e pingas atrás. Se alguém estivesse nos seguindo era fácil de nos achar. Passamos pelo abismo silenciosamente. O rio rugia ferozmente e fomos atacados por uma onda de espuma branca misturada com água.

— Yeck! - Uriah fez cara de nojo. - Porque raio essa espuma de merda tem que existir? Eu nem queria ficar molhado.

— Bem feito por me chatear... - dei de ombros e deixei escapar uma risada pela cara que ele fez.

Continuamos nosso caminho para a sala de treinos rindo e gozando com aquilo que viamos. Entramos numa das salas de treino onde era permitido aos naacidos na Audácia estar.

— Muito bem... - bati as mãos uma na outra e as esfreguei. - O que você quer treinar primeiro?

— Podemos começar com treinar a pontaria com os punhais... - outro pedido não se poderia esperar dele. Esse sempre foi o seu ponto fraco.

— Okay então. - fomos para perto dos alvos e pegamos uns punhais.

Tirei um marcador de tinta preta da minha jaqueta e coloquei um circulo preenchido no centro do circulo branco já existente.

— Esse foi um treino que minha mãe me fez. - expliquei, guardando o marcador no bolso da minha jaqueta. - Quando você conseguir acertar três vezes seguidas com os quatro punhais aqui, - bati com a mão no circulo preenchido que fizera. -,você estará completamente seguro nessa habilidade. 

Saí de perto do albo e me aproximei de Uriah que segurava a primeira faca pouco convencido.

— Pronto? - perguntei brincando com uma de minhas tranças.

— Espere... - ele me olhou e sorriu matreiramente. - Se eu conseguir você convence minha mãe em me deixar fazer uma tatuagem?

Filho da puta!, pensei para mim mesma.

— Sim. Eu prometo que falo com ela. - cruzei os dedos e os beijei em sinal de promessa. -- Agora comece!

Uriah lançou o primeiro punhal. Não ficou dentro do círculo branco, nem lá perto chegou. Uriah fez uma careta desanimada.

— Vá Uriah! Não desista... olhe que é a primeira. - ele sorriu e continuou seu treino.

Durante as três horas seguintes estivemos praticando não só com os punhais mas também outros tipos de habilidades como luta. Tanto eu como Uriah somos pessoas meio malucas e estamis sempre nos metendo em sarilhos, mas quando se fala de treino, ninguém é mais concentrado que nós. Nem o Tobias consegue esvaziar a mente do modo aue nós o fazemos.

— Dessa vez eu consigo... - Uriah limpou o suor do rosto com a camisa escura e se dirigiu de novo aos alvos. Pegou em quatro punhais e esperou que eu chegasse perto dele.

Lançou o primeiro. Caiu direitinho no circulo que eu desenhei. 

— Um! - ele falou em voz alta.

Lançou o segundo...

O terceiro...

— Quatro! - ele sorriu quando o último punhal caiu no círculo. Me olhou e eu sorri. Ele correu para os retirar e fez de novo.

Novamente acertou com os quatro punhais no sítio e já estava todo animado e cantarolando quando voltou com os punhais para a terceira vez. Lançou o primeiro, o segundo e o terceiro, e todos acertaram. 

— Vamos Uriah só falta um! - falei firmemente, mas animadora.

Ele respirou fundo, fez pontaria e...

— Mas que raio vocês dois fazem aqui?! - meu corpo estremeceu com o susto que apanhei com a voz de Eric aumentada pelo eco da sala.

Uriah acabara de lançar a faca que se espetou bem no meio do círculo.

— Consegui! - ele murmurou, ignorando por completo a presença ameaçadora de Eric. - Eu consegui mesmo! 

Uriah começou a festejar e acabou me abraçando no meio da euforia. Pelos vistos ele não estava nada importado com o facto de Eric estar nos observando com aquele olhar vazio.

— Uriah... Uriah chega. - procurei acalmar ele apesar de estar me rindo. 

Ele parou de saltar e me olhou. Fiz sinal com os olhos para o Eric e ele finalmente se deu conta de que ele estava ali.

— Ooh... 

—Pois...-nos aproximamos dele tranquilamente. 

— Já se acalmaram? - detesto quando ele faz aquela voz calma. Ninguém diria que de seguida ele daria um berro de todo o tamanho.- Ainda bem... Pue se eu volto a ver vocês dois aqui sem permissão e fora do horário de treinos... EU VOS DOU UM CASTIGO! Entendido?

— Sim Eric... - murmuramos de cabeça baixa.

— Vamos! - ele abriu a porta e se afastou para podermos passar. E foi isso que fizemos.

Eric seguia atrás de nós e só esse simples facto estava nos intimidando. Ele nunca poderia ser um integrante da Amizade. Porque de amigável ele não tem nada.

— Eric, o que está acontecendo? - era só o que faltava. O Max estava pelos corredores. Agora é que estou fodida.

Olhei Uriah e ela acabara de suspirar e se virar para Max.

— O costume... - Eric se manteve tranquilo e direito enquanto explicava a situação. - Eles estavam aonde não deviam, quando não deviam.

— A gente não estava fazendo nada de mal! - protestei. - Estavamos treinando, que é algo normal aqui na Audácia. Pelo menos era...

Senti Uriah me segurar o braço, mas foi tarde. Eu já falara mais do que devia. Max me fixou sem expressão e apesar de meu coração ter acelerado com receio, eu cruzei os braços e o encarei desafiadoramente.

— Kay... Uriah... Venham.- Max colocou as mãos atrás das costas e se virou começando a andar. 

Nós trocamos olhares e Eric fez sinal de "O que vocês fazem aí parados?". Durante algum tempo ninguém disse nada o que me deixou apreensiva, e acho que ao Uriah também.

— Vocês dois são o orgulho da próxima geração da Audácia. - por fim Max falou. - Mas na Audácia treinamos soldados disciplinados e não rebeldes. E vocês são as duas coisas. Mas, infelizmente, mais rebeldes que disciplinados. E isso não pode continuar assim...

Eu olhei Uriah que estava muito irto ao escutar as palavras de Max.

— Calma... - sussurrei segurando sua mão quente.

Paramos à porta da zona do lixo. Algo não me cheirava bem, e não era o lixo em si.

— Como castigo... - Max abriu a porta. - Vocês vão passar o resto do dia ajudando aqui.

— Fala sério Max. - protestei ao mesmo tempo que Uriah tapava o nariz e fazia cara de nojo.

— Tenho dito... vá. Os dois lá pra dentro... - atrás dele Eric sorria trocista.

Bufei e puxei Uriah lá pra dentro. Não sei o que era pior... ser atingida por uma bala, ou estar no meio desse pivete.
Acho que são ambas terríveis.

(...)

— Yuck! - Uriah cheirou a roupa após Eric nos ter liberado. - Vou precisar de 10 banhos para perder esse cheiro...

Nos despedimos e fomos cada um para nossos apartamentos.

— Tobias! Cheguei... - anunciei minha chegada, esperando que ele estivesse lá.

— Oi Kay. - ele veio me cumprimentar mas parou e tapou o nariz. - Nossa que cheiro horrível...

— Foi um castigo. - expliquei.

— Sim, eu soube disso... Agora vá logo na banheira que esse cheiro não se aguenta.

Fui para o meu banheiro e me despi. Passei cerca de 40 minutos no duche para tirar aquele cheiro terrível. Por fim sai e fui para o meu quarto enrolada na toalha. Vesti umas calças desbotadas uma camisa de alças branca e uma jaqueta igual à outra em vermelho. Calcei minhas botas pretas e fui para o corredor enxugando meu cabelo mohado. 

— Pronta? - Tobias me esperava à porta do apartamento.

— Não, espere... - corri para o banheiro de novo.

 Apanhei meu cabelo molhado num cocô meio bagunçado. Fiz um risco preto exagerado em torno de meus olhos e pintei os lábios de preto. Corri de volta para a entrada.

— Estou pronta! 

(...)

O refeitório como de costume estava ao rubro. Gente se rindo, gritando entre outras coisas. 

— Eu vou para junto do pessoal, Tobias. - falei ao ouvido dele para que pudesse ouvir.

— Okay. Eu vou me sentar com os da minha iniciação... 

Nos separamos e me sentei ao lado de Lynn que me olhou trocista.

— Não comente. É um aviso de amiga... - a ameacei em modo brincalhão e ela levantou os braços em modo de paz. - O Uriah?

— Está ali... - Lynn apontou para a mesa onde estavam os iniciados da época de Tobias. Uriah estava falando com o irmão e Zeke se ria enquanto ele lhe acertava um taoa na cabeça. 

Analisei os presentes na mesa. O Tobias, o Gabe, a Shauna, o Zeke, o irmão do Nathan... meu olhar parou numa pessoa sentada do lado de Gabe. Eric... ele estava comendo tranquilamente frente a frente com Tobias sem ligar a nada do que estava se passando ali. Ele levantou o olhar e eu desviei o meu de volta para Uriah que me chamou.

— Eu volto já... - falei no ouvido de Lynn e ela ergueu o polegar.

Me levantei e caminhei até à mesa onde eles estavam.

— Ei Kay! - revirei os olhos quando Nathan me chamou com voz de gozo. - Foi legal o dia na lixeira? 

Ele e seus amigos começaram a rir e eu me virei.

— Melhor que passar ele com você! - afirmei e ele perdeu o riso e socou o braço de um cara que riu do que eu disse.

Me aproximei de Uriah que discutia animadamente com Zeke, que por sua vez abanava a cabeça e dizia "Não acredito...".

— O que foi, cara de pudim? - perguntei quando o alcancei.

— Diz ao Zeke que eu consegui... - então era isso. - Diga. Ele não acredita...

— Eu também não acreditava se meu irmão me dissesse que fora perfeito numa coisa que nunca soube fazer. - a mesa rebentou em gargalhadas perante a minha afirmação e Uriah socou meu braço com pouco força. Me ri. - Mas é verdade. Ele conseguiu...

Zeke parou de se rir e me olhou. Depous saltou com olhar para Uriah e começou a bater palmas. A pouco e pouco na mesa todos (exceto Tobias e claro, Eric) estavam batendo palmas e acabou por todo o refeitório estar batendo palmas. Uriah ficou completamente constrangido e se apressou a me puxar de volta pra nossa mesa. 
Enquanto era puxada notei que Eric me observava mas não passou de um olhar como qualquer outro. Acho eu...

(...)

Como sou uma pessoa de cumprir suas promessas, depois do jantar falei com a mãe de Uriah.

— O que ela disse? - ele perguntou receoso.

— "Diga ao Uriah que não quero nada de exageros." - repeti as palavras da mãe dele e ele abriu um sorriso. - Vamos agora fazer a tatuagem. A Tori deve estar por lá...

Fomos para a lojinha de tatuagens e Tori nos sorriu quando nos viu.

— Vou fazer essa! - Uriah já estava decidido na que havia de fazer pelo que foi rápido na escolha. Pegou a tábua de vidro e foi ter com o tatuador. 

Já eu... estava indecisa. Umas eram exageradas e outras nada de impressionante.

— Você precisa de ajuda? - Tori me perguntou notando minha indecisão. 

— Não vejo nada que se identifique comigo. - comentei desiludida.

— Veja aquelas ali... - Tori apontou para um pilar de tatuagens escondido. - Foi no meio daquelas que você fez sua primeira tatuagem.

Fui ver e acabei encontrando a perfeita. Uma pena se desfazendo... É como eu me sinto. Incompleta. Sem a minha mãe...