Subaquático escrita por ohhoney


Capítulo 4
Manteiga na pipoca


Notas iniciais do capítulo

ITS BEEN 84 YEARS...................... mas não falhamos. Desse capítulo em diante as coisas começam a fica um pouco mais complexas huhuhu espero que gostem!



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Suga respira bem fundo, absorvendo cuidadosamente todos os cheiros diferentes e novos que consegue sentir. Terra úmida, plástico, suor, grama, madeira, metal, diversas comidas gostosas e o perfume suave que Daichi exala ao seu lado.

A lua cheia ilumina suavemente o mar à distância. De cima daquela colina, Suga e Daichi conseguem ver a ilha inteira. A feirinha em comemoração ao último fim de semana do verão está cheia — várias barraquinhas vendem as mais variadas comidas, pessoas fazem filas para jogar os jogos típicos da época, e até um circo famoso está na cidade, ali pertinho. Daichi e Suga já compraram seus ingressos para a apresentação e agora veem uma moça equilibrar em seu nariz uma vareta comprida com uma bola na ponta. Suga está impressionado.

— Você consegue fazer isso?!

— Claro que não! Essas pessoas treinam só para isso. São artistas.

— Ah, como você é chato.

— Eu sei mexer as orelhas. Olha só.

— Eu também sei, ó.

— Pô, assim tu me deixa mal.

 

No jogo de derrubar as latinhas, Daichi conseguiu ganhar um bonequinho de plástico para Suga. Os dois andavam de mãos dadas, um colar de flores ao redor do pescoço, Daichi com um saquinho de pipoca e Suga com algodão doce; os dois riam por causa da bagunça que Suga fazia ao comer.

— Isso deve ser a coisa mais legal que você já me deu pra comer, Daichi. Olha isso! Parece uma nuvem!

— Não vai engasgar!

Suga come tudo rápido demais, tentando provar o máximo de coisas que consegue. Em menos de um minuto ele comera todo o algodão doce.

— Atenção, atenção! Últimos cinco minutos para se inscrever para o teste de força! — um homem baixinho em um chapéu de palha fala ao megafone, apontando para uma torrinha com alguns números e um sino na ponta - O vencedor leva um cupom de desconto da pizzaria mais famosa da cidade e essa exclusiva máscara de mergulho do Pikachu!

— Olha, Daichi! Que bonitinho! Vamos tentar? — Suga abre um largo sorriso e fica encantado com a quantidade de pessoas na fila para tentar ganhar os prêmios.

— Tá louco? Eu não tenho força pra isso! Vou passar vergonha! Você talvez consiga alguma coisa...

— Eu?

— É. — Daichi aperta levemente a mão de Suga — Você sempre conseguiu me levantar com facilidade, não sei porquê...

— Mas isso é dentro da água, né.

— Vamos ver. Vou colocar nossos nomes na lista.

Daichi os inscreve para o concurso. Minutos depois, todas as pessoas do festival se reúnem em volta da torrinha para ver quem era o mais forte da ilha. O homem de chapéu começa a chamar alguns nomes.

— O que tem que fazer pra ganhar? — Suga pergunta enquanto observa um homem alto levantar um martelo.

— É assim: a pessoa tem que pegar o martelo e bater com ele naquele círculo vermelho ali no chão. Quanto mais forte você bater, mais a barra colorida sobe, tá vendo? Aquela faixa vermelha é o recorde dos participantes. Está em 300. Vai até 1000.

O homem bate com o martelo no chão e a barra colorida sobe.

— Uau, ele conseguiu 500! — Suga parece estar se empolgando. O pessoal comemora e ri.

— Vamos ver o quanto você consegue.

— Beleza.

Mais dez pessoas participam do teste e a barra está parada em 720. Daichi se aproxima do martelo e o ergue alto. Dando impulso, ele bate no círculo e a barra sobe.

— 700! — Suga pula, empolgado — Não passou o recorde mas é ótimo!

— Obrigado — Daichi solta um riso nervoso. O homem de chapéu chama o nome de Suga no megafone — Sua vez. Boa sorte. Dobre os joelhos para não se desequilibrar.

— Valeu!

Daichi observa enquanto Suga vai até o meio da roda ainda caminhando um pouquinho desajeitado. Ele ri consigo mesmo. Suga olha para o martelo e a torre por alguns instantes, e ergue o equipamento com um pouco mais de facilidade que Daichi.

— Vai, Suga!

Suga lambe os lábios instintivamente e arregala os olhos para o círculo vermelho no chão, intensamente focado. Realmente parece um animal selvagem, pensa Daichi. O apresentador dá o sinal e Suga bate com o martelo no chão. O pessoal grita ao ver a marca de 800.

— TEMOS UM GANHADOR!

Daichi está levemente surpreso. Ele sabia que Suga era forte, mas absolutamente não tinha nenhuma aparência. Suga era magro e alto, não aparentava conseguir marcar 800 pontos no teste de força.

O homem com chapéu entrega os brindes a Suga, que agradece sorrindo largamente enquanto o pessoal ao seu redor aplaude e comemora sua vitória. Suga está vermelho até o pescoço de tanta atenção. Daichi se derrete um pouquinho mais por ele.

— Nem acredito que ganhei!

— Eu falei que você era forte!

Os dois se abraçam e riem ao analisar os prêmios. Suga ganhou uma pizza grátis de qualquer sabor e aquela máscara de mergulho do Pikachu, a qual deu para Daichi.

— Pra mim?

— O que diabos eu vou fazer com ela? Eu já enxergo debaixo da água! Além do mais, você precisa de uma nova; não esqueci que aquela lagosta cortou o elástico da sua antiga.

Daichi beija o sorriso de Suga e agradece pelo presente.

— A apresentação do circo é daqui a pouco, melhor irmos para pegar lugar. Você vai querer manteiga na pipoca?

— Quero.

 

— Daichi, eu tô com um pouco de medo. Não sabia que vocês eram tão estranhos.

Suga olha para a apresentação dos contorcionistas com certo receio, apertando o braço de Daichi.

— Não é todo mundo que consegue fazer isso, tá? Eles são especialistas.

— Mesmo assim...

Suga estava se divertindo muito com os cachorrinhos andando em triciclos, os equilibristas, os engolidores de espada, os malabaristas e, especialmente, o show de mágica. Ele nunca vira nada parecido na vida. Era a primeira vez que via alguém tirar um coelho de uma cartola e fazer outra pessoa desaparecer dentro de uma caixa. Suga pulava no assento, apontando e perguntando as coisas para Daichi freneticamente, fazendo com que as pessoas ao redor rissem. A apresentadora — uma moça de vestido preto comprido de mangas longas, máscara cobrindo os olhos e uma cartola alta — agora faz a apresentação final da noite. Ela chama uma de suas colegas e a coloca dentro de uma caixa de madeira no chão, e fecha a tampa.

— Daichi, o que ela vai fazer?

— Fica quieto e assiste.

— Todo mundo sabe que eu amo minha querida amiga dentro da caixa. Porém... — a apresentadora pega uma espada de dentro de uma sacola e os olhos de Suga se arregalam — antes do show começar eu vi que ela estava comendo um pedaço de bolo que eu tinha guardado para mais tarde... — a moça anda ao redor da caixa, brincando com a espada — Ah, eu fiquei com muita raiva. Muita, muita raiva. Por isso que-

Ela enfia a espada na caixa e Suga quase grita.

— Além disso, eu vi que ela usou meu batom preferido! — e espeta outra espada na caixa — E desenhou bigodes em mim enquanto eu dormia! E escondeu minhas sapatilhas favoritas! E esqueceu de lavar a louça! Mas o pior de todos... — a moça saca a última espada e analisa a caixa toda perfurada por lâminas — ESQUECEU DE ME DAR PARABÉNS NO MEU ANIVERSÁRIO!

A apresentadora enfia a espada na lateral da caixa com força. Suga está branco como uma folha de papel, tremendo, mal conseguindo respirar.

— Ei! — ela aponta para Suga, que quase pula do assento de novo — Não se preocupe, querido. Sabe por quê? Porque sou uma ótima amiga e perdoo tudo o que ela fez.

— M-Mas ela estava n-na caixa... - Suga responde quase sem voz.

— O quê? Quem te disse isso?

— Eu vi!

— Viu errado, então. — a apresentadora tira um grande pano preto da manga e o estica ao seu lado — Ela está bem aqui!

A moça abaixa o pano e sua amiga está lá, sem nenhum machucado e sorrindo. O pessoal grita e aplaude, e Suga fica embasbacado com a mágica que acabara de ver.

As duas moças agradecem pela presença de todos e desejam um bom final de verão. Daichi e Suga saem da tenda colorida felizes, Suga sem parar de tagarelar sobre os coelhos e as espadas.

— Daichi, esse foi o melhor encontro!

— Pensei que tivesse sido o último.

— Os dois! Os dois!

Daichi ri. Achando que ainda está muito cedo para ir para casa, os dois resolvem andar até o mirante do topo da colina e observar as estrelas.

A brisa quente que sopra do mar embala Suga nos pensamentos mais felizes que ele já tivera. Com a cabeça encostada no ombro de Daichi e os olhos fechados, ele lembra com carinho daquelas palavras que Daichi dissera ontem quando eles se beijavam no sofá.

Ambos, sentados na grama, observam o reflexo da lua no mar. Daichi analisa a máscara de mergulho que ganhara de Suga. Era bonitinha. "O que diabos eu vou fazer com ela? Eu já enxergo debaixo da água!", Suga dissera. O coração de Daichi fica um pouquinho triste. Amanhã Suga estaria de volta no mar, e não mais em terra firme com Daichi. Eles não veriam filmes no sofá e nem dormiriam abraçados na cama. Daichi suspira.

— Você sabe onde eu moro. Você sabe que pode visitar sempre que quiser. Nós ainda vamos passar os dias juntos, Daichi.

— Eu sei... Mas é tão legal que você está aqui fora.

Suga olha para os olhos tristonhos de Daichi. Também se sente um pouco triste.

— Também acho. Vou perguntar pro pessoal onde consigo encontrar mais daquela alga preta, aí podemos vir ao circo de novo.

Daichi sorri, sabendo que Suga não deixaria que ele se sentisse triste.

— Da próxima vez vamos ao parque de diversões. Você vai adorar a montanha-russa.

— O que é isso?

Daichi ri.

— Você vai ver...

Eles deitam na grama abraçados. Suga aponta para o céu e começa a explicar as constelações para Daichi. Tinha aprendido com os golfinhos, que se utilizavam delas em suas migrações anuais. Em meio a aulas de astronomia e beijos, eles gastam um par de horas no mirante, aproveitando o restinho do verão que ainda lhes restava.

 

O relógio de Daichi apita meia-noite. Toda a feirinha já estava fechada e pronta para ser desfeita pela manhã. A grande tenda do circo continuava em pé, mas estava semi desmontada. Todos haviam se retirado para dormir. Os únicos sons eram os das ondas nas pedras e o farfalhar da grama.

— Vamos embora? — pergunta Daichi, acariciando a bochecha de Suga — Talvez ainda dê para fazer alguma coisa amanhã de manhã, se você quiser.

— Quero... — Suga coça um dos olhos, sonolento, e sorri.

Os garotos se levantam e descem a colina por um pequena trilha. Eles dão com os caminhões que levam as coisas do circo. Uma lona branca cobre todo o espaço, que está cheio de caixas, roupas, estruturas metálicas etc. Suga para na gaiola dos coelhos e lhes faz um pouco de carinho.

— Qual foi sua parte preferida de hoje? — Daichi pergunta. Eles voltam a andar, desviando das caixas.

— A das espadas. E daqueles caras andando nos fios.

— Os equilibristas?

— Sim.

— Também gostei. Acho que meu favorito foram as malabaristas.

— Qual é. Você tem que aprender logo esse truque!

— Mas eu não quero...

— Você lembra do que aconteceu da última vez que você não aprendeu!

— Mas eu tô cansadoooooo...

Suga e Daichi se olham, surpresos. Alguém ainda estava acordado.

— Eles vão apresentar novas coisas — Suga sussurra, empolgado — Vamos ver o que é?

— Vamos. Rapidinho.

Suga e Daichi esgueiram-se por trás de algumas caixas de madeira, seguindo o som das vozes. Suga sorri, animado, e aperta a mão de Daichi na sua. Eles agacham atrás de uma arara cheia de roupas coloridas, alguns poucos metros de distância.

— Qual é!

— Já falei que não vou fazer! Para de me encher, vai dormir.

— Ughhh eu vou dar na sua cara!

— Pula aqui, então. Vamos ver quem se sai melhor na água.

Suga abre um espacinho entre as roupas e espia para fora. Ele pode jurar que seu coração parara de bater por uns bons 10 segundos antes de voltar disparado contra as costelas. Daichi assusta-se com o rosto pálido e os olhos arregalados dele, e espia para fora também.

Há um garoto alto e magro, de cabelos escuros, sentado no topo de uma escada de madeira, olhando para um pequeno tanque d'água. Com os braços apoiados nos beirais de vidro, há um menino ruivo dentro, e ele balança seu rabo preto impacientemente de um lado para o outro.

Suga, tentando acreditar no que vê, tenta olhar melhor na direção dos dois garotos, mas acaba por deixar cair a arara. Os dois se assustam com o barulho alto e olham na direção de Daichi e Suga, arregalando os olhos.

— Ei! Vocês não podem estar aqui!

— Suga, vamos embora — Daichi sussurra apressadamente, mas Suga nem ouve. Ele se levanta, olhos fixos no tanque, e começa a caminhar na direção dos garotos — Suga!

O garoto dentro do tanque afunda na água e se espreme em um canto, olhando assustado para os visitantes. Sua cauda preta balança sem parar, mas ele não tem para onde fugir. O garoto na escada parece confuso.

— Não, não, vocês precisam ir embora. Não podem ficar aqui. Vão embora e finjam que não viram nada!

Daichi levanta e corre atrás de Suga, que está com as mãos apoiadas no vidro do tanque, olhando o garoto assustado dentro.

— Suga, é falso. Calma. Agora é moda vender essas caudas para as crianças brincarem na piscina...

— Não é falso — a voz de Suga treme junto de seu corpo. Daichi o segura pelos ombros e fica surpreso ao ver lágrimas escorrendo pelas bochechas de Suga — Não é falso...

— Oi, vocês me ouviram?! — o garoto de cabelo preto desce a escada rapidamente e tenta empurrar Suga e Daichi para longe — Vão embora! Vão embora!

Daichi empurra o garoto de volta, olhando para o tanque. O outro ainda está espremido no canto, os olhos arregalados e a boca aberta. Está com medo. Daichi consegue ver um grande par de guelras pulsando nas costelas dele, e a cauda dele tem escamas grandes e opacas, e não pequenas e brilhantes como aquelas das lojas de brinquedos...

— E-Eu pensei... — Daichi olha para os olhos azuis do garoto que o empurra, e seu coração dispara também — Eu pensei que os sereianos estivessem extintos...

— Eu não sou o único.... Eu não sou o único... — Suga continua com as mãos no vidro, encarando o ruivinho — Daichi...

— Olha, vocês precisam ir. Sério.

— Você tá me dizendo que é um sereiano de verdade? De verdade? — Daichi agarra os ombros do menino e aperta com força.

— Ahn... Sim, sim...

— Daichi, eu pensei que eu fosse o único...

Suga cai de joelhos no chão, e Daichi corre até ele.

— Quê? — o garoto pergunta — Como assim? O Hinata é um dos poucos que sobraram.

Suga senta no chão com Daichi, e o garoto ajoelha perto deles.

— E-Eu também sou. Eu sou um, mas não sabia que existam mais...

O garoto fica confuso por alguns instantes até ver as linhas vermelhas no pescoço de Suga, que indicavam suas guelras. Seus olhos azuis se arregalam.

— Mas se você é um sereiano, como está aqui fora? Cadê sua cauda e suas escamas...?

— É um mentiroso. Não existem mais sereianos livres na natureza. — a voz vem de cima, e os três olham para o garoto pendurado na borda do tanque — Além disso, você precisaria comer a alga preta, e ela é raríssima.

— Vossa mãe arranjou para mim.

— Quem?

— Vossa mãe, a mãe de todos os polvos.

O ruivo vira a cabeça, tentando acreditar no que ouve. Nenhum humano sabia da existência de vossa mãe. Suga ergue-se do chão com os olhos fixos no garoto, e sobe a escada até ficar na mesma altura que ele.

— Como você conhece esse nome?

— Eu sou um. Eu vim do mar.

— Impossível. Não existem sereianos na natureza...

Suga encara o rosto do garoto ruivo. O outro menino tinha dito que o nome dele era Hinata.

— E-Eu pensei que fosse o único...

Hinata escaneia o rosto de Suga com seus grandes olhos até parar nas marcas vermelhas no pesçoco.

— Puta merda. É verdade. Kageyama, ele é um sereiano.

— M-Mas... - o outro garoto ergue as mãos, confuso — Mas você disse...

— Eu sei, eu sei... Mas parece que ele é livre mesmo...

Suga puxa Hinata para si e o abraça, sentindo o cheiro da água salgada na pele dele. Fica todo molhado, mas não se importa. Tinha achado outro igual a si.

— Nunca me disseram que existiam mais. Eu pensei que fosse o único... Não acredito. Daichi, existem mais!

Daichi está embasbacado. Realmente era outro sereiano ali, bem na sua frente, dentro de um tanque d'água. A cauda dele era diferente da de Suga — era curta e arredondada, totalmente preta, com escamas grandes e opacas. Barbatanas finas tremelicavam levemente na ponta. Lembrava um peixe de aquário. Em algumas partes, porém, estavam rasgadas, e ele tinha algumas cicatrizes pelo corpo também.

— Precisamos tirar você daqui.

 


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Notas finais do capítulo

Se Deus quiser as coisas vão andar pra frente nessas férias e vo conseguir escrever mais!!!!!!



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