Subaquático escrita por ohhoney


Capítulo 16
Lá com você


Notas iniciais do capítulo

Ok, esse é o último capítulo e eu já chorei minha cota, mas tô emocionada de novo.



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—- ... Onde você disse que a gente tava indo mesmo?

—- No zoológico.

—- Hm...

Daichi olha para o lado rapidamente, vendo Suga encarar os joelhos.

—- O que foi, Suga?

—- Por que a gente tá indo em um lugar que mantém animais silvestres em cativeiro? Pensei que fôssemos contra isso...?

Daichi para no semáforo.

—- E desde quando você sabe o que é um zoológico? – Daichi sorri um pouco, mas Suga continua um pouco chateado.

—- Eu vi no Google.

—- Suga... – Daichi suspira, colocando a mão na perna dele – Primeiro: você não pode acreditar em tudo que vê na internet. Muitas coisas são simplesmente mentira.

—- Então é mentira que lá eles mantêm os animais presos? – Suga responde.

—- ... Segundo: esse zoológico que vamos é de conservação e reabilitação dos animais. Ou seja, os animais que estão lá só estão sendo mantidos pra que se recuperem e consigam voltar pra natureza, ou que estão sendo cuidados para que se reproduzam e salvem a espécie, ou são animais que não conseguem mais viver livres, tipo os machucados ou os idosos.

—- Hm.

Suga cruza os braços sobre o peito e vira o rosto para o outro lado. Daichi pisa no acelerador e faz uma curva.

—- Mas não, Suga. Não é mentira. Vários zoológicos pelo mundo simplesmente pegam animais da natureza e os colocam em jaulas. Isso acontece, infelizmente.

—- Por quê? Por que não deixar os animais livres?

—- Eu não sei responder, pra falar a verdade. Por que você não pesquisa isso?

Suga, então, tira o celular do bolso e começa a apertar a tela várias vezes. Daichi suspira de novo.

Meia hora mais tarde, Daichi para o carro no estacionamento do zoológico. Suga pega na mão dele e olha ao redor, levemente surpreso com tantas árvores grandes e de folhas tão verdes. O parque fica na encosta de uma montanha e toda a vegetação é muito bem preservada.

—- Que barulho é esse?

Daichi solta uma risada, puxando Suga para a direita.

—- São os macacos.

—- Macacos... Macacos... Ah, aqueles que parecem humanos peludos que tem rabos?

—- Eles mesmos.

Pelo caminho de terra batida eles vão até o primeiro cercado. Cinco ou seis macacos se penduram nas árvores e nas estruturas de madeira, gritando e pulando para todos os lados. Suga sorri, um pouquinho surpreso com a semelhança entre eles e os humanos que os observavam.

—- Tá vendo? – Daichi aponta para um gorila grande sentado em uma pedra – Ele não tem uma das pernas. Isso quer dizer que se ele fosse solto na natureza, provavelmente iria morrer. E como os gorilas são uma espécie em extinção, é melhor que ele fique aqui e, quem sabe, consiga se reproduzir.

—- Ohhh...

—- Aquele ali, ó – ele mostra um dos macacos pendurado na árvore – Eu acho que ele nasceu e cresceu em cativeiro. Então ele não se adequaria na natureza. Por isso é melhor que fique aqui.

—- Entendi. Talvez seja melhor mesmo.

Suga sorri para Daichi e aperta a mão dele.

Depois dos macacos, eles foram ver as aranhas, as girafas, os leões, os pássaros, os tigres e os pandas. Suga ficou muito encantado em ver as girafas pessoalmente, rindo do tamanho do pescoço delas.

—- E agora?

—- Que tal vermos os elefantes? – Daichi propõe, limpando o resto de sorvete do rosto de Suga – São os meus favoritos.

—- É? Por quê?

—- Você vai ver.

Eles andam dez minutos até o cercado dos elefantes. Uma pilha de frutas e folhas está pela metade no chão, e há uma casinha de madeira. Algumas das crianças mais próximas conversam empolgadamente.

—- Cadê? – Suga estica o pescoço, procurando. – Não tô vendo.

—- Acho que ela deve estar no riacho... Ah! Ali, ali!

Um grande elefante cinzento aparece, andando devagar e agitando a ponta da tromba. Os olhos de Suga se arregalam e ele sorri, intrigado. Daichi pega uma das maçãs de sua sacolinha e assovia, chamando a atenção do animal.

Ele mexe as orelhas e ergue o olhar. Daichi levanta a mão e se debruça sobre a grade, rindo. O elefante agita o rabo e vem lentamente na direção dele. As crianças ao redor começam a gritar e se afastam.

—- Tudo bem, Suga, vem aqui.

—- M-Mas...

Daichi pega uma cenoura na sacola e a entrega para Suga, que a encara um momento antes de esticar a mão também. O elefante vem e ergue a tromba, cheirando a maçã na mão de Daichi, e então a pega e a leva até a boca.

—- Viu! Viu! – Daichi ri consigo mesmo.

—- Eu vi!

O animal para na frente de Suga e parece encará-lo por alguns segundos antes de pegar a cenoura e comer também. Ele estica a tromba na direção de Suga e a passa em seus cabelos. O garoto começa a rir.

—- Eu acho que ela sente alguma coisa em você – Daichi sussurra.

—- Será?

O elefante solta um bramido alto, que faz Suga pular para trás de susto e cair de bunda no chão. Ele vai embora comer mais de sua pilha de folhas, e Daichi abaixa ao lado de Suga.

—- Doeu?

—- Não. – Suga abre um sorriso bonito que aperta o peito de Daichi – Mas acho que entendi porque os elefantes são seus favoritos.

Daichi sorri de volta e ajuda Suga a se levantar.

Suga e Daichi vão até uma grande instalação no meio do parque, que tem uma placa grande em formato de cobra escrito répteis.

—- O que é "répteis?" – pergunta Suga. Eles abrem as portas de vidro e são muito bem recebidos com um ar-condicionado geladinho naquela tarde de verão.

—- Répteis são as cobras, os lagartos, os jacarés e crocodilos, as tartarugas... Eles têm escamas.

—- Oh?

—- Acho que dá pra dizer que os répteis estão entre os peixes e os mamíferos.

—- ... Eu sou réptil? – Suga para por um segundo, parecendo muito confuso.

—- Não! – Daichi cai na risada – Não é, Suga.

—- Mas eu tenho escamas...?

—- Mas não é só isso! Os répteis também colocam ovos – não todos, na verdade -, e não conseguem regular a temperatura corporal. Eles dependem do sol para ficarem quentes.

—- Oh! Que legal! – Suga sorri, aliviado.

—- Sim. Sereianos não colocam ovos, e vocês produzem o próprio calor. – Daichi segura na cintura de Suga – Vocês são bem quentinhos, por sinal.

Suga dá uma risadinha e beija a boca dele rapidamente.

Parados na frente dos habitats, Daichi explica sobre as cobras e os lagartos, parando para ver uma das funcionárias alimentá-los com ratos e ovos. Suga fica espantado ao ver uma cobra relativamente pequena conseguir engolir um ovo inteiro.

—- Como que isso passou pela boca dela?!

—- É que as cobras não têm queixo, o que permite que elas consigam esticar bastante a boca.

—- Isso é... Um pouco estranho, na verdade.

Eles, então, saem por outra porta de vidro e dão com uma enorme lagoa cheia de jacarés e crocodilos deitados nas pedras, parcialmente submersos, jogados na areia e na lama. Suga aperta a mão de Daichi e agarra seu braço com a outra mão.

—- O que foi?

—- Ahn... Não sei, mas eles me dão medo.

Suga não consegue tirar os olhos dos crocodilos enquanto eles dão a volta na lagoa, protegidos por uma cerca alta. Daichi, de repente, também se sente incomodado.

—- Uh... Por que eles estão olhando pra gente? – pergunta, puxando Suga para perto de si.

—- Não sei...

—- Talvez eles estejam olhando pra você.

—- Eu?!

—- Fica aqui.

Daichi solta da mão de Suga e continua caminhando, deixando Suga parado no lugar. Nenhum dos crocodilos prestou atenção nele.

—- Agora corre aqui, Suga!

O garoto obedeceu, e imediatamente todos os olhos naquela lagoa o seguiram até o outro lado.

—- Ai, Netuno, eles estão realmente me olhando. – Suga coloca uma mão no peito.

—- Não sei dizer – Daichi segura o queixo --, mas me parece que os animais sentem que você é diferente de algum jeito. Interessante, né?

—- É, mas continuo não gostando do jeito que eles me olham – Suga não desvia o olhar da lagoa.

—- Nesse caso, eu acho que eles estão te olhando como presa mesmo.

Daichi ri, cutucando as costelas de Suga.

.

.

Suga mete a colherzinha cheia de sorvete na boca e olha ao redor, apreciando o parque. Todos os habitats dos animais eram grandes e confortáveis, e os funcionários que cuidavam deles pareciam genuinamente se importar. Suga lembra do homem de macacão branco na área dos pandas brincando com os filhotes e alimentando-os com frutas e bambu.

Ele queria que todos os zoológicos do mundo fossem assim.

Mais ao lado, uma criança com a mãe ri na frente de um carrinho cheio de bichinhos de pelúcia e balões. Ela segura uma pelúcia de sapo e a abraça carinhosamente.

Com uma ideia pipocando na cabeça, Suga vai até lá. Ele observa as coisas no carrinho, e o senhor de bigode branco sorri para ele.

—- Olá!

—- Oi – Suga responde – Será que você tem uma pelúcia de elefante?

—- Bem aqui – o senhor pega o brinquedo da última fileira e a coloca na mão livre de Suga – Vai querer levar?

—- Uh... – Suga tenta lembrar das vezes que Daichi o levou em alguma loja – Vou. Quanto custa?

—- Custa 30.

—- Tá... – ele enfia a mão no bolso, mas não encontra nenhuma daquelas notas esverdeadas que Daichi sempre tinha – Hm...

—- Oi, Suga. – Daichi chega do banheiro e apoia o queixo em seu ombro, espiando por cima – O que tá fazendo?

—- E-Eu queria comprar pra você esse bichinho...

As bochechas de Suga ficam repentinamente vermelhas.

—- Um presente...

—- Oh! Sério? – Daichi sorri – Obrigado.

Daichi mete a mão no bolso e tira umas notas de dinheiro e as entrega para o senhor, apertando o elefantinho contra o peito. Eles voltam ao banco para terminarem os terceiros sorvetes do dia.

—- Mas... Se você comprou, então não é presente – Suga se encolhe um pouquinho.

—- Suga, você não tem dinheiro.

—- E como eu faço pra ter?

Então, na volta para casa, Daichi explicou todo o conceito de ter um emprego, trabalhar, ganhar salário, etc, etc, etc.

.

.

—- Então?

Suga abre um sorriso ansioso, segurando as mãos na frente do corpo e balançando nos calcanhares.

Daichi toma um pouquinho de leite e pousa o garfo no prato, erguendo o olhar para Suga.

—- Hm... Ficou um pouquinho salgado... E queimou nas pontas... Mas de resto está gostoso.

—- Ah...

Suga abaixa o olhar para as panquecas no prato de Daichi e se pergunta por que elas não ficaram tão parecidas com as da internet. Tinha seguido todas as instruções da receita, mas mesmo assim...

—- Suga, não se preocupa. Cozinhar é prática.

—- Mas é a segunda vez que eu faço e ainda não deu certo.

Daichi levanta do chão e vai até Suga.

—- Me mostra como você fez?

—- Claro. Eu peguei a farinha e os ovos, leite, manteiga, açúcar e sal e coloquei nessa vasilha aqui...

—- ... Quanto de sal você colocou?

—- Hmmmm... – Suga coloca a mão no queixo e pega o pote de sal – A receita diz uma pitada, então mais ou menos assim. – ele enfia a mão no pote e ergue a palma cheia.

—- Ai, meu deus... – Daichi começa a rir, abraçando Suga com força – Eu amo você.

Suga só franze a testa, levemente abrindo a boca.

—- Isso é muito sal, Suga. Uma pitada é isso aqui – ele se estica para o pote e pega um pouco com a ponta dos dedos – Você chegou a experimentar a massa?

—- Não.

—- Então prove.

Daichi dá uma das panquecas para Suga e ele morde um pedaço, fazendo cara feia logo em seguida.

—- Eca. – e Daichi ri de novo. – Tá com gosto de queimado também.

—- Qual frigideira você usou?

—- Aquela do cabo de madeira.

—- Da próxima vez, -- Daichi segura nas mãos de Suga – usa a vermelha e coloca um pouquinho de manteiga pra massa não grudar.

—- Faz comigo da próxima vez então, Daichi?

—- Claro que faço.

O sorriso gentil e carinhoso de Daichi faz o coração de Suga pular no peito, e ele sorri de volta.

Depois do fiasco das panquecas, os garotos se contentaram com torradas e geleia.

—- Pensei que poderíamos ir à praia depois do passeio de hoje, o que acha? – pergunta Daichi, colocando o cinto de segurança e fechando a porta do carro.

—- Ah! Sim! – Suga sorri e fecha a porta também, abraçando os joelhos – Aí você pode me ensinar a nadar, que tal?

—- Acho ótimo. – Daichi dá a partida e eles vão devagar pelas ruas, vendo os pingos de chuva batendo no para-brisas.

—- Onde vamos hoje, Daichi?

—- Aquário.

—- Ohhh! – Suga praticamente pula no banco – Que legal! Vi no Google que o aquário da cidade também é de reabilitação e cuidados, então mal posso esperar pra ver!

Daichi sorri feliz ao ver o rosto empolgado de Suga. Mais alguns minutos e eles estacionam o carro. Cobrindo a cabeça com os braços, eles correm até a entrada do aquário.

Toda cheia de vidro azulado e detalhes em metal prata, a entrada é grande e bonita, e a recepção é iluminada em tons de azul. Suga e Daichi passam por uma porta de metal que dá em um corredor bem comprido e largo, cheio de pequenos aquários embutidos nas paredes com os mais diversos tipos de peixes.

Ao avistar vários peixinhos laranjas com listras brancas, Suga larga a mão de Daichi e cola o rosto no vidro, sorrindo imensamente. Daichi vai até lá também e abaixa um pouco para poder ver melhor.

—- São os Nemos.

—- Quem? – Suga não consegue tirar os olhos do grupinho – Pensei que fossem peixes-palhaço.

—- É que Nemo meio que virou o nome popular deles depois do filme. Mais tarde podemos ver.

—- Sim! – Suga cola mais o rosto no vidro – Oi! Tudo bem com vocês?!

Os peixinhos, de repente, viram todos na direção de Suga e nadam empolgadamente perto do rosto dele, fazendo-o rir.

—- Desculpe, não consigo ouvir! O vidro é muito grosso! Vocês me ouvem?!

As pessoas ao redor começam a olhar estranho para o menino na frente do aquário, que falava alto para os peixes lá dentro. Daichi fica um pouquinho tímido, mas solta uma risadinha mesmo assim.

—- Suga, acho que eles não conseguem te ouvir. – ele pega Suga pelo ombro e o ergue – Além do mais, lembra que não é todo mundo que fala com peixes. Você gritando assim tá chamando muita atenção. – ele limpa a sujeira na bochecha dele – Quando tivermos a oportunidade, falamos com eles, ok?

—- Ok... Eles parecem felizes, então devem estar sendo bem cuidados.

—- Tenho certeza que estão.

Daichi e Suga passeiam por mais vários corredores que exibem peixes de todas as cores, formas e lugares possíveis. Suga fica encantado ao ver tantos que nunca encontrara pessoalmente, só havia lido sobre na biblioteca em Nerida. Ele lê as placas informativas e acena para todos os animais, sendo recebido com animação.

Eles passam também pelas tartarugas e pelos pinguins. Chegando no habitat das focas, o cheiro de peixe fresco preenche o ar e os grunhidos divertidos delas ecoam pelas paredes de concreto. Suga se apoia na grade e espia para baixo, vendo várias focas deitadas nas pedras e outras nadando na piscina. Ele espia ao redor, vendo se alguma pessoa estava por perto.

—- Oi! – ele grita, chamando a atenção das focas. Várias olham para cima, curiosas. Daichi também se apoia na grande.

—- Ele tá falando com a gente? – uma das mais gordas pergunta para a do seu lado.

—- Estou! – Suga ri – Meu nome é Suga! Como vocês estão?

Faz-se um longo silêncio.

—- Desde quando humanos podem falar com a gente? – outra foca bigoduda responde, rolando para o lado.

—- Eu não sou humano – Suga diz mais baixinho --, sou sereiano.

Então todas as focas explodem em expressões de surpresa, choque e felicidade. Várias abanam os rabos, outras espirram água para cima. Daichi cai na risada. Suga acena de novo.

—- Como vocês estão?

—- Bem! – uma delas diz.

—- Me recuperando! – outra avisa, mostrando o grande machucado em uma das nadadeiras.

E eles conversam por mais alguns minutos antes de serem interrompidos por um grupo em tour. Suga promete que voltaria mais tarde.

Os garotos continuam pelos corredores até darem em um grande salão circular, cercado de vidro por todos os lados, inclusive no teto. Milhares de peixes nadam por todos os cantos, escondem-se nos corais que cresciam no fundo do tanque, passeiam em cardumes coloridos, desviam das arraias e dos tubarões. Suga abre a boca, genuinamente impressionado, tentando absorver todos os detalhezinhos, apertando a mão de Daichi contra a sua.

—- É tão... bonito...

—- É? – Daichi ri, puxando Suga para mais perto e o segurando contra si. Eles sentam em um dos bancos de madeira, olhando ao redor com interesse e fascinação.

Meia hora mais tarde, Suga e Daichi vão para a lanchonete do aquário almoçar alguma coisa.

—- O que você achou? – Daichi pergunta, tomando um pouco de seu refrigerante.

—- Achei ótimo, na verdade. Parece que todos estão bem... Fico feliz que eles estejam sendo bem tratados. Muitos pareciam realmente não poder voltar pra natureza...

—- É uma pena, mas existem pessoas que se importam com os animais e querem dar a eles a melhor condição de vida possível. Não fica triste.

—- Não tô. – Suga cutuca seu sanduíche um pouco mais – Podemos ficar naquela sala mais um pouco?

—- Claro!

Após a pausa pro banheiro, ambos voltam para aquela sala escura e um pouco fria para ficarem vendo todos os peixes nadando ao redor deles pacificamente. Suga se encolhe nos braços de Daichi, apoiando a cabeça no ombro dele, lembrando carinhosamente dos corais em Nerida e de todos os seus amigos na praia.

—- Aquele tubarão não me parece muito bem – Suga aponta para um dos menores, que passeia devagar pelo fundo – Você tá vendo aquelas manchas perto da cabeça?

—- Tô.

—- Talvez sejam parasitas... Aquela arraia ali tá se comportando estranho também. – ele aponta para cima – Nunca vi coisa assim.

—-Suga... E se você tentasse arrumar um emprego aqui? – Daichi diz em uma voz baixinha, ainda olhando para o alto.

—- Quê?

—- Você consegue perceber coisas que até as pessoas mais qualificadas não conseguem... – ele abaixa o olhar – Talvez você possa ajudar os animais daqui. E quem sabe aprender um pouco mais também?

Suga abre a boca. A ideia de estar cercado de água, natureza e animais de novo lhe deixa empolgado. Talvez ele realmente pudesse ajudar. Assim ele poderia aumentar a temperatura no habitat das tartarugas, ou deixar a das focas mais fria, falar com aquele tubarão e descobrir o que há de errado, variar um pouco a alimentação dos pinguins...

Aquela ideia parecia ótima. Ele poderia fazer todo o possível para ajudar as criaturas que já estavam presas em espaços tão pequenos. Poderia aumentar a qualidade de vida delas. Poderia ensinar outros humanos sobre biologia marinha e cuidados. Poderia também aprender mais sobre o que quisesse.

Os olhos dele brilham e Daichi abre um sorriso pequeno.

—- O que você acha?

—- Acho maravilhoso!

.

.

Daichi sente o peito encher de felicidade ao ver Suga correndo de uma ponta a outra do aquário, passando as pontas dos dedos no vidro, enquanto dezenas de peixes o seguem animadamente. Suga ri, movendo os dedos em círculos, e os peixinhos seguem todos os seus movimentos.

—- Uau! Ele realmente se dá bem com os peixes, não é?

Daichi olha para o lado, surpreso, vendo um homem de meia-idade com as mãos no bolso da calça, observando Suga com um sorriso curioso no rosto. Ele tinha uma barba grossa e olhos bem azuis.

—- Ahn...

—- Eu sou o gerente. – ele diz, tirando a mão do bolso e a esticando na direção de Daichi – Henry.

—- Ah! – Daichi pula do banco e sacode a mão dele – Meu nome é Daichi. Aquele é o Suga. Obrigado por ter vindo.

—- Sem problemas. Como posso ajudar?

—- Suga! – Daichi chama, acenando na direção dele. O rapaz vem correndo até eles – Esse é o gerente. O nome dele é Henry. – e Daichi balança as sobrancelhas na direção de Suga.

—- Oh! Muito prazer! – Suga pega na mão do homem e balança com entusiasmo, repassando na mente todas as dicas de Daichi – Meu nome é Sugawara!

—- Prazer. No que posso te ajudar?

Suga engole em seco e arruma a postura, mas não consegue esconder a cara de empolgado.

—- Eu queria saber se vocês estão contratando ajuda, porque eu gostaria muito de trabalhar aqui!

Henry fica levemente surpreso com a expressão tão genuína de Suga.

—- Hm... – ele passa os dedos pela barba – Acho que temos espaço sim pra mais uma pessoa. Você é formado em quê?

—- Na verdade, hehehe, não sou formado em nada – Suga enrola os dedos nas mechas em sua nuca – M-Mas eu tenho bastante experiência com animais marinhos...!

—- Se você não é formado...

—- P-Por exemplo! – prevendo uma resposta negativa, Suga já pulula de volta para perto do vidro e aponta para o grande tubarão nadando no fundo – Aquele ali é um tubarão galhudo, ou Carcharhinus plumbeus, e ali perto dos olhos dá pra ver aquelas manchinhas. Pelo jeito que ele tá se roçando nas pedras, parece ser algum tipo de parasita.

Suga corre para o outro lado, mostrando a arraia que mencionara antes.

—- Essa arraia-pintada aqui, que na verdade chama Aetobatus narinari, também tá um pouquinho estranha. Dá pra ver que os movimentos das nadadeiras peitorais tão muito curtos e não tão ondulatórios quanto deveriam. Ou ela tá doente, ou não tá se alimentando direito e não quer gastar energia. De qualquer modo, seria bom se ela fosse tratada... E agora que eu vi que aquele cardume – ele aponta para as dezenas de peixes nadando perto dos corais --... Acho que são Auxis thazard, não consigo ver direito daqui... Olha como eles se movem. Eles agem assim quando um dos membros do cardume tá doente, deixando-o no meio pra ser protegido. Mas acho que ali devem ter uns cinco ou seis, pelo que consigo ver...

Suga volta para perto do banco e para ao lado de Daichi, ainda sorrindo.

—- Também queria dizer que acho que o tanque das tartarugas está um pouquinho frio. Um grau a mais deve ser o suficiente. E, assim, não querendo xingar as focas nem nada, mas acho que elas estão meio gordinhas... Talvez diminuindo a temperatura do habitat delas ajude a regular o peso...

Daichi toca levemente a mão dele, olhando para o rosto de Henry. Suga fecha a boca, voltando a atenção para o homem.

—- Ahn... D-Desculpa! Acho que falei muito – e solta uma risadinha sem-graça.

O silêncio que paira no ar deixa os cabelos da nuca de Suga em pé. Henry o olha com o rosto sério.

—- Qual a salinidade do mar?

—- Depende...? Varia de acordo com profundidade, temperatura, lugar... A média é 35 gramas por litro, acho.

—- E a temperatura?

—- T-Também varia...? Até os 500 metros fica até que estável na faixa dos 24°C. Daí até os 1000 metros cai pra 8°C. Depois disso, a temperatura não varia muito, ficando perto dos 3°C ou 4°C...

Faz-se silêncio por mais alguns segundos enquanto Henry acaricia a barba e olha atentamente para o rosto de Suga. Daichi sente o coração pulsando nas orelhas.

—- Olha, Suga... Eu consigo ver que você sabe das coisas que fala... Mas é um pouquinho complicado contratar alguém que não tem formação na área. – ele enfia as mãos no bolso de novo. – A gente pode tentar um período de experiência, que tal?

—- E-Experiência...?

—- Você fica aqui uma semana e a gente vê como as coisas andam. Se o pessoal gostar, você pode ficar como ajudante. A partir daí você vê no que se encaixa melhor e, se os outros acharem que você é qualificado, pode tentar a posição.

O rosto de Suga se ilumina num sorriso enorme e ele aperta os dedos de Daichi com força. Henry ri de sua expressão.

—- O que você acha?

—- Ótimo! Maravilhoso!

—- Pode começar na segunda. Toma – ele pega do bolso um cartãozinho de papel e entrega a Suga --, depois me manda um e-mail com seu nome e telefone que eu já deixo tudo pronto na portaria. Ok?

—- Ok! Obrigado!

Suga ri enquanto aperta a mão de Henry, e ele se despede com um aceno.

Pulando nos braços de Daichi, Suga mal consegue acreditar em sua sorte, rindo feito criança enquanto é girado no lugar.

.

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Arrancando a camiseta e os tênis, Suga corre pela areia morna e se joga no mar de braços abertos, suspirando de alívio. Daichi corre atrás dele, também pulando na água, e abraça Suga com força.

—- Sinto falta da gente aqui todo dia – ele diz, escorregando as mãos pelas costas de Suga, beijando seus ombros. Suga prende os braços ao redor do pescoço dele, fechando os olhos.

Com a água no peito, eles aproveitam a companhia um do outro naquela linda tarde de verão, ouvindo as gaivotas e as ondas explodindo contra as pedras. O toque da pele quente de Suga faz Daichi se sentir bem e feliz. O sol da tardinha deixa as maçãs dos rostos deles vermelhas, e Suga fica feliz ao poder desenhar padrões nas sardinhas nos ombros e costas de Daichi novamente.

Depois de namorarem por um tempo, Daichi resolve ensinar Suga a nadar, mostrando os movimentos das pernas e dos braços, segurando em suas mãos para que não afunde.

—- Bate as pernas com mais força!

—- Assim?

—- É! Agora eu vou soltar sua mão e você faz aquele movimento com os braços também, os dois ao mesmo tempo. Prende a respiração, ok?

—- Ok.

Daichi solta a mão dele e Suga afunda, ainda batendo as pernas com força. Ele começa a ir para frente, submerso, e logo se levanta e esfrega os olhos.

—- Muito bem!

—- Meus olhos tão ardendo – ele começa a lacrimejar enquanto pisca.

—- É por causa do sal. Vem, deixa eu limpar.

Eles vão até a areia e Daichi busca a garrafa de água no carro, sentando ao lado de Suga e segurando o queixo dele. Suga pisca devagar enquanto a água doce lava seu rosto.

—- Melhorou?

—- Sim, obrigado.

Daichi puxa o queixo dele e beija sua boca. Suga sorri. Daichi se afasta e passa o polegar na bochecha dele, acariciando as partes vermelhas.

—- Dói?

—- Não.

—- Talvez seja melhor passar mais protetor.

—- E se a gente ficar na sombra? Eu queria tirar uma soneca... Tô cansado.

Daichi vê os olhos meio caídos de Suga e sorri de volta, pegando as duas bochechas dele nas mãos e beijando a boca dele.

—- Ok.

Os dois vão até a sombra das árvores na ponta da praia e deitam-se na areia fresca, acomodando-se nos braços um do outro. Pouco tempo depois, Suga já está suspirando, imerso no sono, e Daichi olha para o rosto dele se perguntando se tinha mesmo o direito de estar tão feliz.

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.

Passando os dedos pelas mechas macias do cabelo de Suga, Daichi se perde lendo termos jurídicos dos documentos que Leo e Surati tinham mandado sobre os processos. Apesar de coisas como "invasão de propriedade privada" e "agressão física", Daichi acha que podem apelar à Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Quer dizer, se o tribunal considerasse sereianos como sendo animais... Caso não, talvez algum artigo da dos Direitos Humanos deva bastar. Ou uma mistura dos dois. Crime ambiental também vale, certo? Afinal, sereianos são parte da fauna silvestre...

Suga, deitado com a cabeça apoiada no colo de Daichi, revira-se um pouco e puxa para cima de si o cobertor que estava pendurado no braço do sofá.

—- Tá com frio, Suga?

—- Tô...

Daichi fecha a pasta marrom e a coloca em cima da mesinha.

—- Você tá se sentindo bem?

—- A-Ahn...

Daichi levanta o cabelo da testa de Suga e coloca a palma da mão nela, afastando-a quase que imediatamente.

—- Suga, você tá muito quente! Muito mais do que o normal!

Daichi coloca Suga sentado no sofá e ajoelha no chão na frente dele, segurando seu rosto com as mãos. As bochechas dele estão vermelhas e ele sua um pouco nas têmporas, além de ter olheiras bem escuras debaixo dos olhos. Suga estremece, apertando mais o cobertor contra si.

—- Tô cansado...

—- Ok... Ok, deixa eu pegar um pouco de água. Você parece desidratado.

Daichi vai até a cozinha e pega um copo, enchendo-o com água fria do filtro.

—- Daichi. – Suga chama do sofá, urgentemente. Ele joga a coberta para o lado e se levanta, mole nos joelhos – E-Eu vou vomitar.

Daichi larga o copo em cima do balcão e pega Suga pelos ombros, arrastando-o para o banheiro. Suga se joga em cima da privada, agarrando a lateral dela com força enquanto vomita. Daichi para atrás dele, segurando seu cabelo longe do rosto, vendo como a camiseta dele estava molhada de suor.

Suga deixa-se cair no chão, tremendo de leve. Daichi dá a descarga e sai do banheiro, voltando segundos depois com a água e um termômetro. Suga bebe pequenos goles enquanto Daichi coloca o aparelho em sua axila e vê os números subindo rapidamente. Asahi tinha dito que a temperatura média dos sereianos era por volta dos 39°C ou 40°C, mas o termômetro já estava nos 45°C e continuava a subir.

Ao chegar nos 48°C, o aparelho apitou e na tela apareceu erro.

—- S-Suga... S-Será que eu posso te dar remédio? Você tá com muita febre...

Ele não responde, só escala a privada de novo e vomita mais uma vez.

Terminado, Daichi pega Suga no colo e o leva até o sofá, tirando a camiseta dele. Suga abre os olhos um pouquinho, se cobrindo com os braços.

—- T-Tá frio...

—- Você que tá muito quente.

Daichi busca um pote com água e várias pedras de gelo, molhando um pano de algodão e o colocando na testa quente de Suga. Ele segura alguns gelos na nuca dele, sentindo-os derreter absurdamente rápido. Suga começa a tremer, batendo os dentes.

—- Ai, meu deus. Eu não posso te levar pro hospital... T-Talvez seja melhor ligar pra Surati ou pro Leo...

—- Não vai embora, Daichi... – Suga pega na barra da camiseta dele, parecendo bem fraco.

—- Não vou, Suga. Prometo. Só vou pegar meu celular. Segura isso assim pra mim. – ele coloca mais pedras de gelo na mão de Suga e a aperta contra sua nuca.

Ele corre até o banheiro e pega o celular na pia, procurando o número na lista de contatos. O telefone chama várias vezes enquanto ele volta para a cozinha e pega uma garrafa de Gatorade da geladeira.

—- Alô? – a voz feminina do outro lado da linha responde.

—- Oi, Surati. É o Daichi.

—- Oi, Daichi! Conseguiu ver os documentos que eu mandei?

—- Tô vendo ainda... – Daichi abre a tampa e entrega a garrafa para Suga, que bebe um pouquinho e derrama um tanto sobre si enquanto treme – Escuta, você disse que a ACASE tem um médico no time, né?

—- Temos sim, a Dra. Val. Aconteceu alguma coisa? – ela parece preocupada.

—- O Suga tá com muita febre e vomitando, ele não parece nada bem...

—- Quanto de febre ele tá?

—- Meu termômetro disse 48°C antes de pifar, então provavelmente mais.

—- Deuses! – Daichi consegue ouvir os passos dela no chão e uma porta sendo aberta – Mais alguma coisa?

Daichi ajoelha perto de Suga, perguntando baixinho se ele sentia dor em algum lugar. Suga aponta para a garganta e para a cabeça, ainda tremendo de frio, encharcado de suor e água.

—- Dor de cabeça e de garganta.

—- Entendi. – ela afasta o telefone da boca e grita – Leo, liga pra Dra. Val e manda ela pra casa do Suga e do Daichi imediatamente! Quê? – Surati suspira perto do telefone – A Dra. Val acabou de entrar no plantão e só vai sair do hospital às cinco da manhã. Você acha que tudo bem esperar?

—- Ah... Bom, -- Daichi olha para o relógio no pulso – São nove da noite. Acho que tudo bem...

—- Ótimo. Espero que fique tudo bem. Vou deixar você em paz. Mais tarde eu ligo pra saber da situação, ok?

—- Ok. Obrigado.

—- Não há de quê. Faça uma canja de galinha, todo mundo sabe que é o melhor remédio.

Daichi desliga o telefone e o coloca na mesa. Ele passa a mão pelo rosto de Suga, tirando todo o cabelo grudado da pele dele, vendo-o fraco e sem sua usual vitalidade.

—- Vou fazer uma sopa pra gente, pode ser? – Suga balança a cabeça – Continua bebendo o Gatorade e colocando esse pano na testa, ok? Deixa ele bem molhado.

—- T-Tá bom.

Daichi começa a cortar os pedaços de frango, sentindo a sensação esquisita do medo em seu estômago. Conhecia Suga há tantos anos e nunca o tinha visto desse jeito. E ele está com tanta febre... Daichi tem medo de dar algum remédio e Suga ter uma reação alérgica ou coisa parecida, e simplesmente não podia levar Suga ao hospital. O que diria quando os médicos e enfermeiros vissem que ele está com mais de 48°C de febre? Que tem marcas estranhas no pescoço? Que a anatomia dele não é nada humana?

Daichi não entende nada de medicina, mas sabe que febre muito alta por muito tempo definitivamente não faz bem pro corpo.

Ele coloca todos os ingredientes numa panela e deixa cozinhando por um tempo. Ao voltar para a sala, ele vê Suga encolhido no canto, apoiando a cabeça no braço do sofá e tossindo baixinho. Daichi passa a mão no rosto dele de novo, reprimindo o impulso de se afastar, e de repente lembra de quando estava doente quando criança e como sua mãe sempre o levava para tomar banho.

É. Água fria parece uma boa.

—- Ei, Suga. Vamos tomar banho?

Suga abre os olhos devagar e com dificuldade, deixando cair o pano úmido no chão. Ele estica os braços na direção de Daichi e ele o pega no colo, suando de esforço e calor.

Daichi coloca Suga em pé no box e fecha a porta de vidro.

—- Vem, me abraça.

Suga passa os braços ao redor do tronco de Daichi e apoia a cabeça no ombro dele, fechando os olhos. Daichi lhe dá um beijo na cabeça e se estica na direção do registro, ligando o chuveiro na temperatura mínima. Um jato de água voa nas costas dele e ele se arrepia todo.

—- A água tá gelada pra diminuir sua febre, ok?

—- Ok...

Daichi vai se enfiando debaixo da água devagar, deixando os pingos escorrerem pelos ombros e molharem Suga levemente. Suga começa a tremer, apertando o rosto contra Daichi e batendo os dentes.

Logo mais os dois estão debaixo do jato do chuveiro, abraçados. Daichi afasta Suga de leve e ergue sua cabeça, fazendo água fria cair em seu rosto e cabelo, aliviando a vermelhidão de suas bochechas. Suga parece muito cansado, mas ainda sorri de leve vendo o rosto de Daichi.

Eles saem do chuveiro e Daichi coloca Suga sentado no vaso enquanto mede sua temperatura de novo. 43°C. Suspirando de alívio, ele ajuda Suga a se secar e o coloca de novo no sofá, indo ver a sopa. Daichi volta à sala com duas tigelas.

—- Tá se sentindo melhor?

—- Tô. – até a voz de Suga tinha ganhado mais força. Ele pega a tigela e a colher – Obrigado, Daichi.

—- Não precisa me agradecer.

—- Hmmmm... – Suga sorri para seu prato – Tá muito gostoso.

—- Você acha? Desculpe, eu coloquei frango porque ajuda bastante quando alguém está doente...

—- Não tem problema. Eu amo você, Daichi. Obrigado por cuidar de mim.

—- Eu vou sempre cuidar de você. – Daichi sorri e deixa Suga todo bobo.

—- Promete?

—- Prometo.

.

.

Suga e Daichi vão para a cama tentar descansar um pouco. Suga se enrola em um cobertor e deita com a cabeça apoiada no peito de Daichi, que se esforça para se manter acordado, vigiando Suga. Mesmo assim, ele acaba adormecendo por volta das três da manhã.

Daichi acorda com muito calor, ouvindo a respiração entrecortada de Suga e muita tosse. Suga está encolhido novamente, agarrando o cobertor como se sua vida dependesse disso, tremendo e suando horrores, deixando a roupa de cama molhada. Os dentes dele batem e ele tem o rosto vermelho de novo, e cabelo grudado na testa e nas bochechas.

Apesar de se sentir mal em acordá-lo, Daichi resolve levar Suga de volta para a sala, assim ficariam mais perto do banheiro e da cozinha caso precisassem.

—- Meu peito dói, Daichi. – Suga começa a respirar mais rápido, fazendo Daichi segurar as mãos dele com força – E-Eu não quero morrer...

—- Você não vai morrer, Suga. Não diz isso. Vai ficar tudo bem.

Ele olha para Daichi e seus olhos se enchem de lágrimas.

—- Não chora.

—- Eu tô com medo...

Daichi engole a própria insegurança e sorri. Suga coloca uma mão na barriga.

—- Eu vô vomitar de novo.

Daichi corre na cozinha e pega um balde, enfiando-o no colo de Suga no momento que ele começa a vomitar.

O relógio na parede diz que são quatro da manhã. Dra. Val só sairia do hospital em mais uma hora.

Daichi pega mais Gatorade na geladeira e puxa Suga para perto de si, ligando a televisão para tentar distrair os dois.

—- Oh... Oh, não...

—- O que foi?

Olhando para baixo, Daichi vê o rosto de Suga vermelho de sangue, que escorria do seu nariz pelo queixo e pescoço, descendo pelo peito nu. Suga começa a tossir quando sente o gosto metálico na boca, irritando seu estômago. Daichi levanta do sofá num pulo e pega o pano, apertando-o contra o nariz de Suga.

—- Por que isso tá acontecendo? – ele pergunta, com a voz abafada.

—- N-Não sei... Vem, vamos ali na pia.

Com ajuda, Suga vai até a pia da cozinha e de debruça sobre ela, vendo o sangue pingar.

—- Respira pela boca devagar e assoa bem de leve.

Daichi abre a torneira e a água manchada de sangue faz voltas ao redor do ralo antes de desaparecer. Suga sente vontade de chorar de novo, sentindo o peito pesar ao respirar e o corpo doer. Daichi segura a ponte do nariz dele, e logo o sangue para de escorrer. Ele limpa o rosto de Suga com um pano úmido e passa a mão na cabeça dele.

Suga passa os braços ao redor de si mesmo e estremece. Quase morrendo de preocupação, Daichi o coloca de volta no sofá e Suga agarra o cobertor.

—- Suga, não, você tá muito quente. – Daichi tenta pegar a coberta, mas Suga a segura no lugar e o olha com a vista embaçada.

—- M-Mas eu tô com muito frio, Daichi...

Daichi se sente muito mal em ver Suga daquele jeito, então resolve deixa-lo com a coberta. Eles se espremem juntos no sofá, vendo um canal qualquer de culinária, enquanto Suga treme e sua sem parar, deixando todos os pelos do corpo de Daichi em alerta.

—- Uh... Ugh...

—- Vai vomitar de novo?

—- Vou...

Eles correm pro banheiro e Suga vomita um pouco, deixando os cabelos de Daichi em pé. Suga senta no vaso e Daichi tira a temperatura dele de novo. Erro.

—- Subiu de novo. – Daichi esfrega a mão no cabelo. Ele olha para Suga, com a cabeça apoiada na parede e olhos fechados, e sangue escorrendo pelo nariz direto pro peito – Suga!

Com o grito ele abre os olhos, assustando-se ao ver sangue por todo lado. Ele levanta e se apoia na pia, cuspindo sangue.

Daichi estava ocupado limpando o torso de Suga quando a campainha tocou.

—- Ah! Deve ser a médica! – ele lança a toalha no box – Espera aqui, Suga, eu já volto.

Daichi corre até a porta da frente e se depara com uma senhora de uns 60 anos, cabelo branco, baixinha, carregando uma maleta marrom.

Ela inicialmente tem um sorriso bem gentil, mas o olhar dela cai nas mãos e braços de Daichi.

—- Porque você tá coberto de sangue? – ela ergue o olhar de novo. – Você é o menino Suga? O que diabos...

—- N-Não! Eu sou o Daichi, o Suga tá lá dentro.

—- Ah, você é o namorado.

—- S-Sou...

—- Muito bem. Eu sou a Dra. Val. Surati e Leo pediram para que eu viesse. Tá tudo bem por aqui? – ela olha de novo para as mãos ensanguentadas de Daichi.

—- Sim, sim... Por favor, entre. Uh... O nariz do Suga tava sangrando, só isso.

—- Entendo. – Daichi fecha a porta atrás dela e ela coloca a bolsa no balcão da cozinha – Me explica o que tá acontecendo.

—- Bom... Eram mais ou menos 9 da noite quando o Suga começou a ter muita febre, tipo muita mesmo, tanto que meu termômetro simplesmente não conseguia medir e deu erro e ele tava vomitando e parece muito mal e tá suando muito...

—- Calma, rapaz. – ela ergue uma mão, calando Daichi. De dentro da bolsa ela pega um par de luvas azuis e as coloca – Cadê o menino?

—- No banheiro.

Daichi a leva até lá, deparando-se com Suga sentado novamente no vaso, cheio de restos de sangue no rosto. Ele ergue o olhar quando vê Daichi acompanhado de uma senhora.

—- Oi, Suga. Meu nome é Dra. Val e eu vim te examinar, beleza?

Ele balança a cabeça e suspira. Dra. Val coloca a mão em sua testa por alguns segundos e tira do bolso um negocinho de plástico amarelo, mirando-o na testa dele.

—- O-O que é isso?

—- Bom, como os termômetros convencionais não funcionam direito depois de certa temperatura, eu sempre uso esse aqui. Ele é de comida mesmo. – o aparelho apita uma vez e ela olha o visor – 49,5°C.

Com uma lanterninha, ela examina os olhos de Suga e depois ouve seu peito. Ela também mira o feixe de luz no nariz dele.

—- Quantas vezes você vomitou, querido?

—- Quatro.

—- E quantas vezes seu nariz sangrou?

—- Duas.

—- O que você tá sentindo? Tem dor em algum lugar?

—- E-Eu sinto enjoo e meu corpo inteiro dói... Tô com dor de cabeça e de garganta e meu peito faz um barulho estranho quando eu respiro. – a voz de Suga é fraca e cansada.

—- Okay. Antes de mais nada, vamos te colocar no banho pra abaixar essa febre.

Suga solta uma reclamação, lutando para ficar em pé. Daichi entra com ele no box e liga o chuveiro. Suga volta a tremer debaixo da água fria. Dra. Val os deixa a sós.

—- Tô tão cansado... Posso dormir? – as olheiras de Suga estão bem piores do que antes. Daichi afaga seu rosto.

—- Depois que ela te passar algum remédio, a gente volta pra cama.

—- Hm...

Suga o abraça, aproveitando a sensação da água na pele apesar do frio.

Minutos depois, eles aparecem na sala, vestidos. Dra. Val faz mais alguns exames rápidos e coloca Suga de volta no sofá, parando na frente dele com as mãos na cintura.

—- Bom, rapaz... Parece que você tá com uma gripe das brabas. – ela vira para Daichi – O que vocês fizeram esses últimos dias?

—- Ahn... Nada demais, na verdade. Saímos para almoçar, fomos na praia, passeamos no parque, visitamos o aquário...

—- O aquário... – ela coloca a mão no queixo – Deixa eu adivinhar: crianças? Ar-condicionado?

—- O-Os dois.

—- Ah, é o ambiente perfeito pra pegar essas doenças contagiosas. – ela sorri e vai buscar a maleta – Eu separei alguns remédios aqui que vão ajudar, mas lembre-se de mantê-lo hidratado e bem alimentado, especialmente se ele continuar vomitando. E muito descanso. Nada de sair de casa.

—- T-Tá...

Dra. Val começa a tirar caixas e mais caixas de remédio da bolsa, fazendo Daichi arregalar os olhos.

—- Tudo isso! – ele exclama – Não era só uma gripe?! – até Suga tem os olhos meio arregalados.

—- Ah, não. São três remédios, só. Um antibiótico, um para a febre e um para a dor. É que o metabolismo dele é muito acelerado e vai consumir os remédios rápido, então a dose tem que ser aumentada. O laranja ele deve tomar 10mg a cada 2 horas, esse branco pode ser de 3 em 3 horas, e o transparente a cada 40 minutos por um dia. Tá bom? Posso escrever se você quiser.

—- Quero... Por favor.

Dra. Val pega um papel no bolso e começa a escrever as instruções nele.

—- E o sangramento no nariz?

—- Ah, se ele parar de vomitar vai se resolver sozinho. Veja, o ácido do segundo estômago queimou a parte de dentro do nariz, por isso estava sangrando. Só lavar com soro fisiológico várias vezes por dia, especialmente se ele continuar vomitando.

—- O-Ok...

Ela entrega o papel para Daichi e abaixa na frente de Suga, sorrindo docemente.

—- Abre a boca, querido. – ele obedece, e ela enfia um pirulito vermelho dentro – Pronto. Daqui uns dias você vai ficar bem. Você não tomou nenhuma vacina, né? Depois eu apareço pra aplica-las. Água e descanso, tá? Se cuida. Pode me ligar qualquer coisa.

Ela também dá um pirulito para Daichi e pega a bolsa, indo na direção da porta. Com um último aceno, ela sai.

—- Ela é engraçada – Suga sorri de leve, rolando o pirulito na boca. Daichi senta ao lado dele e lê as instruções.

—- Vou te dar seus remédios agora e podemos ir dormir. Que tal?

—- Acho ótimo.

.

.

Por mais que Daichi adore as aulas de Direitos Humanos, mal consegue esperar para sair dali e ir se encontrar logo com Suga na praia.

Suga tinha dito que gostaria de passar uma semana no mar como sereiano novamente, porque sentia muitas saudades da família e dos amigos, e lá ele foi. Daichi, que já estava acostumado com a presença dele todos os dias em casa, está sofrendo com um pouquinho de saudades. Como antes, ele estava indo à praia todo dia depois da aula.

Hoje não seria diferente.

O sinal bate e Daichi enfia as coisas na mochila ansiosamente, vestindo o casaco e saindo rápido na direção do estacionamento. Foi quando estava atravessando o campus e desviando das pilhas de folhas no chão que viu a luzinha de seu celular piscando, mostrando que recebera uma nova mensagem.

.

O Hinata e o Kageyama estão aqui! :D

.

Um sorriso enorme aparece no rosto de Daichi e ele anda mais rápido, desviando das pessoas e indo até o carro. Ele se lança no banco de trás e começa a tirar a roupa, vestindo a roupa de mergulho de sempre para conseguir aguentar a fria água de final de outono.

Sem correr acima da velocidade e pegando todos os faróis abertos, Daichi chega à praia em tempo recorde, já estacionando o carro debaixo da árvore e pegando a prancha, marchando pela areia.

Daichi solta uma exclamação de surpresa ao colocar os pés na água gelada, sentindo os dedos na areia e o vai e vem das ondas. Tomando coragem, ele corre até o fundo e se joga, estremecendo de frio, e monta na prancha, remando até o fundo na água turva.

—- Suga! Tô aqui!

Ele tenta espiar o fundo, mas não consegue. O céu nublado também não ajuda muito.

De repente, a prancha de Daichi começa a chacoalhar violentamente e o coração dele quase voa pela boca. Daichi agarra as laterais e sente vontade de gritar até ver uma mancha alaranjada na água, e de repente Hinata emerge, rindo.

—- Hinata! – Daichi diz, surpreso.

—- Hinata, mas você é um idiota mesmo.

—- Kageyama!

Do outro lado, Kageyama aparece, braços cruzados sobre o peito, cabelo grudado na testa, e uma cauda azul bonita e brilhante balançando embaixo de si.

Daichi pula da prancha e puxa os dois pelo pescoço para um abraço apertado. Hinata o esmaga, e Kageyama lhe dá tapinhas carinhosos nas costas.

—- Como é bom ver vocês! Quando vocês chegaram?

—- Faz algumas horas. – Tobio responde.

—- É! Viemos super bem, na verdade – Hinata se pendura no pescoço de Kageyama – O mar não estava tão agitado quanto daquela vez – e ri.

—- Cadê o Suga?

—- Tá lá embaixo. Ele pediu pra te levar. Vamos? Kageyama, leva a prancha dele pra areia.

—- Eu? Por que eu? Leva você!

Mas Hinata o ignora, já concentrado em fazer uma bolha na cabeça de Daichi. Kageyama resmunga, mas pega no lash da prancha e a puxa rapidamente até a praia. Com um pop! nostálgico nos ouvidos, Daichi pega na mão de Hinata e é puxado para baixo na direção do recife.

Surpreendentemente, ele não consegue ver nenhum sinal do recife. Porém, ao sentir uma onda gelada atravessar sua pele, de repente ele dá de cara com o pequeno recife todo lindamente iluminado pelas pedras brancas que agora cresciam entre os corais.

Suga, lá embaixo, acena para os dois e nada rapidamente na direção deles, envolvendo Daichi em um mega abraço e beijando o sorriso dele amorosamente.

—- Você chegou!

—- Cheguei.

—- Tenho mais uma surpresa!

E, entrelaçando os dedos juntos, Suga o leva até os corais alaranjados.

—- Oi, Daichi.

Asahi dá um sorriso grande quando sai de trás de uma das pedras, também de bolha na cabeça.

—- Asahi! Você também! – Daichi o aperta forte, rindo de felicidade.

—- Pois é. A Aouli, o Noya e o Tanaka infelizmente não puderam vir dessa vez, mas disseram que na próxima eles vêm com certeza.

Daichi sorri, lembrando carinhosamente da menina de cabelo verde e rabo de golfinho, especialmente daquela vez que ela o beijou e deixou Suga bravo.

Boas lembranças.

Tanaka e Noya aparecem em sua cabeça também. A imagem deles brincando com as crianças e fazendo competição de quem come mais é nítida.

—- Tudo bem! Fico feliz que vocês estejam aqui! – Daichi dá mais um aperto nele – Você também veio por mar?

—- Não, eu peguei o ônibus na verdade.

—- Falando em ônibus, nós precisamos conversar sobre sua ideia genial de roubar roupas alheias e enfiar Suga num ônibus e depois larga-lo na cidade.

—- A-A culpa não foi minha! – Asahi ergue as mãos, tentando jogar a culpa para longe de si. Suga ri, colocando uma mão no ombro dele.

—- É verdade. Eu que estava irritando bastante. Acho que você até ficou feliz quando eu fui embora, hein Asahi? – Suga espia o rosto dele.

—- Ahn... – ele desvia o olhar – U-Um pouquinho, eu admito.

Os três caem na risada

.

.

—- E como você fez isso mesmo?

—- Lembra daquela caixa que recebemos outro dia? Que tinha os colares e o celular?

—- Lembro.

Daichi, sentado numa pedra, passa os dedos pelas graminhas crescendo ali perto, enquanto vê Suga apoiando as mãos numa parede de corais arroxeados, fazendo as veias de pedra branca brilharem mais fortes.

—- A Aouli mandou uma pedra branca dessas e um manual de instruções.

—- Mas como você fez a pedra crescer? E se espalhar pelo recife?

—- Ela explicou direitinho em termos técnicos, mas eu basicamente pedi para que ela crescesse – Suga sorri, ainda olhando a parede.

—- Pediu.

—- Sim.

—- E ela obedeceu.

—- Como você pode ver, sim.

Suga franze a testa um segundo e fecha os olhos. A luz branca fica mais e mais brilhante, mas logo volta ao normal, e Daichi consegue ver mais rachaduras aparecendo no topo e outras entre a areia do fundo.

—- Viu? – Suga suspira e nada até Daichi, sentando no colo dele – Aí, pra não chamar muita atenção, eu fiz uma redoma protetora igual àquela que tem em Nerida, então as pessoas não conseguem ver nada pelo lado de fora.

—- Ahhhh, entendi. Você fala como se fosse fácil – Daichi sorri, afagando-o na base das costas – Lembro quando você fez uma bolhinha desse tamanho aqui ó – ele junta os dedos.

—- Mas agora eu sou um mestre. Um mestre das bolhas.

—- Tô vendo.

Eles se beijam, e Daichi passa as pontas dos dedos entre as escamas da cauda de Suga.

—- Senti falta de te ver assim – Daichi diz ainda nos lábios de Suga.

—- Assim como?

—- Pelado. – Daichi sorri no meio do beijo.

—- Você me vê pelado toda hora. – Suga esmaga a boca na dele – Até demais.

Daichi ri e Suga se afasta, ainda mantendo o rosto bem próximo.

—- Eu quis dizer aqui, no mar. Com escamas. Com seu cabelo balançando com as ondas, suas bolhas.

Daichi olha para ele, e Suga vê um pouquinho de tristeza ali no fundo. Suga acaricia sua bochecha e solta um sorriso.

—- Que foi? – Daichi pergunta.

—- É que o Hinata tá perguntando pro Kageyama porque você me vê pelado toda hora e ele não sabe como responder.

—- Você consegue escutar a conversa deles? – Daichi pergunta no meio de uma risada feliz.

—- Consigo. E eles conseguem ouvir a nossa também. O Asahi te falou que a gente escuta bem, né?

—- Falou.

—- Daqui eu consigo ouvir os barcos passando lá no porto. – Daichi, então, parece um pouquinho inseguro, tentando procurar Hinata e Kageyama por cima do ombro de Suga – Você quer ir conversar em um lugar mais reservado?

Daichi balança a cabeça timidamente

Suga aperta os dedos dele e o leva até as pedras no final da praia, afundando na água turva e levando-o pelo túnel escuro e apertado até a caverna subaquática cheia de algas bioluminescentes.

Parando na piscina natural, Suga e Daichi se abraçam por longos momentos, banhados na luz azulada suave. Eles flutuam e balançam suavemente com as ondas, sentindo as bolhas na pele e o cheiro do sal.

—- Eu amo você – Suga diz, baixinho, encolhendo-se ainda mais no abraço de Daichi, passando a mão em seu cabelo úmido, ronronando.

—- Eu amo você também – Daichi responde, afagando sua nuca, enrolando os dedos no cabelo prateado. – E eu amo chegar em casa todo dia e te encontrar lá, esperando por mim.

Suga se afasta para olhar o rosto dele, segurando sua bochecha.

—- Mas...

—- Mas eu sei que não é o lugar o qual você pertence. Seu lugar é aqui. Eu amo ter você em casa, mas eu fico com a impressão que você é mais feliz no oceano.

—- Daichi... – Suga ergue a mão e segura a outra bochecha dele também – Daichi, eu sinto muita falta daqui, da minha família, dos meus amigos... Mas eu quero ficar com você. Meu lugar é onde você estiver. Eu sou mais feliz junto de você.

—- Mas... Mas você não sente falta disso? De toda a liberdade, de toda essa vastidão, de todo o espaço? De nadar livremente por aí?

—- Claro que eu sinto. O oceano vai ser sempre uma parte de mim. Mas nada disso faz sentido se você não estiver aqui. Não quero ter todo esse espaço se não tenho com quem compartilhar. Eu quero estar com você, não importa onde, Daichi.

Os olhos de Daichi ficam levemente embaçados e ele abaixa o olhar, vendo as ondulações na água morna entre eles.

—- E-Eu só queria ter certeza... Não quero que você faça um negócio que não quer por minha causa. Eu me sentiria muito mal. Se você quiser ficar, eu entendo. A gente continua fazendo como fizemos todos esses anos, não tem problema.

—- Tá brincando? – Suga abre um sorriso enorme e ergue o rosto de Daichi, forçando-o a olhar para ele – O mundo humano é incrível! Eu tô lá por você e porque é tão legal! Você não tá me obrigando a nada. Eu vou pra fora porque eu quero, eu moro na sua casa com você-

—- Na nossa casa.

—- ... N-Na nossa casa porque eu quero, porque eu gosto. O mundo humano me fascina. Eu gosto de lá, Daichi, e quero ficar lá com você.

—- E eu quero que você fique comigo. Eu gosto de acordar todo dia de manhã e ver você dormindo, gosto de ver você tentando cozinhar, gosto de ouvir você falando sobre seu dia no trabalho, gosto de ir dormir e ter você ali na cama comigo. Eu sou tão feliz quando tô com você. Suga, você foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu quero ficar com você pra sempre.

—- Eu vou ficar com você pra sempre. Aqui, ou lá fora, onde seja. Eu prometo.

Segurando o choro, Daichi o abraça mais uma vez, sentindo o peito vibrar com uma risadinha de Suga.

Eles se beijam ardentemente por minutos a fio, na água já quente, sob a luz azul suave que emana das paredes. A areia é fofa nos pés de Daichi. O gosto do sal nos lábios de Suga é gostoso e familiar. A água fria escorre pelos rostos dos dois, pingando na água. Eles suspiram, apertando-se, enquanto a caverna os esconde do mundo.

—- Eu amo você.

—- Eu amo você também.

Daichi sorri para Suga, fazendo seu coração disparar, e tira as mechas de cabelo grudadas no rosto dele.

—- Tá pronto pra ir pra casa?

Suga observa cuidadosamente os olhos castanhos de Daichi, perdendo-se momentaneamente neles, enquanto agradece a Netuno e a todos os espíritos aquáticos pela chance que teve de, naquele dia cinco anos atrás, conhecer a pessoa que faria sua vida muito mais feliz.

—- Estou, sim.


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Notas finais do capítulo

Isso é tudo, pessoal!

Obrigada por terem lido essa história que fiz com tanto amor e carinho. Me diverti muito escrevendo, então espero que vocês tenham se divertido lendo também. A gente se vê por aí! ♥



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