Subaquático escrita por ohhoney


Capítulo 10
Brilho nos seus olhos




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 — Ei, acordem. A festa tá começando.

Daichi sente Suga mexer-se em seus braços, despertando-o. Ele abre os olhos e, por entre o cabelo de Suga, vê a cabeça de Nishinoya para fora da água, olhando na direção deles.

Dolorido, Daichi levanta-se, puxando Suga consigo. Eles coçam os olhos e suspiram.

— Desculpe, Noya, a gente acabou dormindo... — Daichi coça a nuca.

— Não tem problema. Antes de irmos para a festa, a Miria pediu para levá-los à biblioteca.

— Biblioteca...?

— Sim, vamos. Tem alguém que vocês precisam conhecer.

Noya sorri e afunda. Daichi e Suga pulam na água atrás dele. Segurando firme na mão de Suga, Daichi deixa-se levar pelos túneis coloridos. Dessa vez eles estão iluminados pela luz branca e suave das pedras brancas encravadas nas paredes; olhando para cima, Daichi vê que não há mais raios de sol — já é noite.

Estranhamente, os túneis estavam desertos. Eles ouviam as correntes de água passando pelos corais, e mais nada. Na próxima curva, encontraram-se com Tanaka guiando Hinata e Kageyama, que pareciam tão confusos quanto eles. Virando à direita, eles se deparam com uma grande e alta abertura na pedra.

O coração de Suga palpita no peito. Ainda seguindo Noya e Tanaka, eles entram pela abertura.

É uma área circular enorme. As paredes sobem até muito alto e descem por vários metros. Nelas, várias prateleiras cavadas na pedra contêm livros, frascos, objetos de vidros, caixinhas de madeira, e mais centenas de outras coisas.

Suga olha ao redor, sentindo algumas de suas escamas se arrepiando. Tantos livros... Ele sequer conseguia imaginar quanto conhecimento estaria ali. Os antigos reis dos mares aparentemente eram um povo muito curioso.

— Aqui! Aqui!

Noya acena do alto. Os quatro nadam atrás dele, surpresos em verem outro bolsão de ar no topo da caverna. De lá eles veem uma plataforma, como a dos lugares que eles tinham ficado, mas ela levava para dentro de um buraco na pedra que parecia seguir metros adentro.

— Oi! Asahi!

A voz de Tanaka ecoa na pedra, e eles ouvem um "tap tap tap" no piso molhado.

— Ai meu Deus, calma, eu esqueci de guardar esses livros. Nishinoya, você pode- Ah!

A pessoa que veio de dentro da mini caverna era um garoto alto de cabelos compridos, e ele carregava uma pilha enorme de livros; ela voou de suas mãos quando ele escorregou e quase caiu, apoiando-se na parede. Os livros caíram no chão, alguns deles rolando até a água e afundando.

— Você é humano! — Daichi e Kageyama dizem ao mesmo tempo, apontando para o garoto na parede. Ele tinha pernas (bem compridas, aliás) e usava uma camiseta roxa.

— Vocês também...?

Ele se equilibra de novo e vai até a beirada da plataforma, ajoelhando. Observa Daichi e Kageyama cuidadosamente e depois põe os olhos em Noya e Tanaka.

"Já abrimos exceção uma vez, podemos muito bem fazer de novo", dissera Miria.

Kageyama não entende muito bem o que está acontecendo. Tinha outro garoto humano ali na frente dele, de camiseta e shorts, como se estivesse em sua própria casa.

— Eles chegaram hoje de tarde — Tanaka explica, e o outro se estica para recolher os livros que deixara cair — São o Suga, o Daichi, o Kageyama e o Hinata.

— Ah... Ah, prazer. Eu sou o Asahi — ele levanta com os livros na mão e sorri — Miria já tinha me informado.

— Ótimo — Noya sorri também —, porque você vai ser o guia deles na festa.

— É o quê?!

Asahi escorrega de novo, quase cai, e os livros voam na água. Tanaka os recolhe rapidamente. Asahi se levanta, nervoso.

— Miria pediu para que você fosse o guia deles na festa. — Noya cruza os braços, agitando a cauda — Dois deles são humanos, como você, e os outros dois são acostumados com humanos, que é o que você é.

— E foi Miria quem pediu?

— Foi.

Asahi suspira e deixa cair os ombros. Ele olha para seu relógio no pulso e quase dá um pulo, já arrancando a camiseta pela cabeça.

— Merda, tamo atrasado. Tanaka, joga isso em qualquer canto que mais tarde eu arrumo — ele prende o cabelo e pula na água. Noya vai até ele e faz uma bolha em sua cabeça, e eles dão as mãos. — Pelo silêncio aqui dentro, imagino que a festa já tenha começado. Vamos?

Asahi sorri gentilmente e afunda na água, sendo puxado por Noya. O resto dos meninos os seguem de perto, virando por vários corredores coloridos.

— E como vai ser essa festa, Asahi? — Daichi pergunta.

— Meio como nós fazemos: tem música e comida, as pessoas se divertem e conversam. Ih, só tem um problema...

— Que problema? — Hinata ergue as sobrancelhas.

— Bom, ahn... — Asahi ri sem graça — Vamos dizer que alguns jovens ficam bem empolgados quando surge gente nova.

Asahi continua rindo sem jeito, fazendo com que todo mundo se encare em dúvida. Tanaka e Noya também dão risadinhas.

.

.

—... É seguro comer isso?

Kageyama observa a geleia rosa em suas mãos com interesse, cutucando-a com a ponta do dedo. É levemente translúcida e bem molenga.

— É sim. Esse é até gostoso, por sinal. — Asahi enfia um pouco da geleia na boca e mastiga — Pode comer esse daí também, Daichi. Só recomendo que vocês fiquem longe dos que são muito escuros, porque vai tinta de lula. Da última vez, fiquei com dor de barriga por três dias.

— Pensei que tinta de lula fosse comestível? — Daichi parece levemente preocupado enquanto analisa uma massa feita de algas.

— É, mas normalmente ela é diluída. Aqui tá bem concentrado. Ah! — Asahi chega perto dos meninos e aponta para a outra mesa, cheia de fatias grossas de peixe — É melhor evitarem também aquele peixe de carne meio azulada... Ainda não tive tempo de estudar os efeitos mais graves, mas...

— Efeitos mais graves?­

— Bom... — Asahi aperta as mãos e fica sem graça — Notei que alguns sereianos ficam muito alterados quando comem aquele peixe. Tipo saem nadando sem parar pelo recife ou têm vontade de ir brigar com os tubarões.

Asahi e Daichi se encaram.

— Basicamente eles estão se drogando? — Kageyama pergunta como se fosse a coisa mais natural do mundo, fazendo as sobrancelhas de Daichi irem às alturas e Asahi soltar uma risada nervosa.

— Não! Não, não é bem isso... — Asahi tenta formular alguma coisa para falar, mas se engasga todo — É que... Bom, tipo... Ahn... Ah.

— Eles estão cientes do que o peixe faz e comem por prazer? Por que querem? — Daichi de repente tem vontade de virar vegetariano e comer só algas.

— A-Acredito que sim...?

— Asahi, eles estão se drogando! O peixe dá barato que nem maconha pra gente!

— É que eu não posso colocar assim no meu relatório! — Asahi agita as mãos — Da última vez que eu comi...

— Você comeu?! — Daichi praticamente grita.

— Eu tava pesquisando!

— ... O que aconteceu? — Kageyama come mais um pouco da geleia rosa enquanto passa o olhar de um pro outro.

— Claramente nosso organismo não aceita o tipo de substância que tem naquele peixe, porque eu, hm... — Asahi desvia o olhar rapidamente e enrola o cabelo no dedo — ... Meio que senti os efeitos por uma semana direto.

Suga não consegue ouvir o que Daichi, Kageyama e Asahi estão falando, mas eles parecem estar se divertindo. Daichi agita os braços e parece gritar alguma coisa, e arranca uma risadinha de Suga. Ele volta sua atenção aos sereianos que fazem um barulho gostoso.

Um deles bate ritmicamente em uma pedra oca, e outro amarrou algas compridas em um pedaço de madeira e faz um barulho cada vez que puxa uma alga; uma mulher raspa diferentes tamanhos de conchas em uma pedra e faz um som agudo, e todos eles soltam apitos felizes em uníssono. Suga está encantado.

Além da música, todos os outros sereianos estão reunidos no fundo do recife, cercados de pedras brancas luminosas, muita alga e peixes fatiados. Vários estão rindo e se abraçando, e os mais diversos animais nadam entre todos eles. Todo mundo parece se divertir e aproveitar a vida — "como um lembrete de que estamos vivos", dissera Miria. Suga mal consegue conter sua empolgação e felicidade em ver todos aqueles seres iguais a si despreocupados e juntos, como uma grande comunidade.

Suga solta bolhas de felicidade.

Lá no alto ele vê três sombras escuras nadando em círculos perto da redoma transparente.

— Cris, Alex, Jem! — Miria ergue os braços e acena para as sombras. Com esse movimento, um buraco se abre na redoma e eles passam, nadando rapidamente na direção do recife.

— Oi, Miria!

— Oi, Miria!

— Oi, Miria!

Cris e Alex, os tubarões irmãos, afundam e vão até Miria, que lhes faz carinho na cabeça. Logo em seguida, eles dão meia-volta e vão até Sugawara. O garoto repara que eles carregam coisas entre os dentes afiados.

— Oi, garoto!

— Vocês acharam Nerida!

— Achamos — Suga ri. Os tubarões parecem muito mais amigáveis do que antes.

— Trouxemos essas coisas que estavam naquele barquinho laranja.

— E empurramos o barquinho pra ilha pra ele não sair por aí!

— Ah! — Cris e Alex deixam as coisas nas mãos de Suga. São as mochilas de Kageyama e Daichi, com grandes marcas de dentes e tecido rasgado. Suga solta uma risadinha e apoia as coisas em um canto. — Obrigado, gente. Quem é aquele que veio com vocês?

— É nosso amigo, Jem. — Cris sacode suas barbatanas.

— Ele ficou sabendo que tinha festa hoje e quis aparecer. — Alex chacoalha a cabeça.

— É que ele gosta da Miria hehehehehehehehe

— Mas acho que a Miria não gosta dele heheheheheheheh

Os irmãos exibem seus grandes dentes como se estivessem sorrindo. Suga espia por trás deles e vê um tubarão menor, com as pontas de suas barbatanas em preto, nadar perto de Miria. A moça agita seus tentáculos e conversa com ele animadamente.

— Como assim, "gosta"?

— Ele quer fazer bebês com ela.

— Disse que vai caçar quantos peixes ela quiser.

— Fazer bebês?!

Ninguém parecia prestar muita atenção em Miria e em Jem. Daichi, Asahi e Kageyama ainda estavam conversando sobre a comida, mas vinham nadando na direção de Suga. Hinata tinha ido um pouco mais para longe conversar com Natsu.

— Jem, vai começar com isso de novo? — Miria solta várias bolhas.

— Miriaaaaaaaaaaa me dá uma chance! Imagina como nossos bebês vão ser lindos! Eles podem ter tentáculos e dentes afiados!

— Jem, eu já expliquei não sei quantas vezes...

— Vamos fazer bebês, Miria! Por favor!

Daichi segura no ombro de Suga, olhando para ele como se estivesse tentando processar que era aquilo mesmo que ouvia. Kageyama ficou encolhido atrás de Asahi, com medo de Cris e Alex.

— Ele tá mesmo...? — Daichi mal consegue formular uma frase.

— O Jem fica chato quando é época de fazer bebês.

— Não que ele não seja chato quando não é também.

Os irmãos riem. Suga e Daichi olham para Asahi, tentando buscar uma explicação.

— O Jem, hmmmm... — Asahi fica vermelho nas bochechas — Ele meio que dispensa todas as outras fêmeas pra tentar acasalar com a Miria...

— MIRIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA POR FAVORZINHO!

— Jem! — Miria aperta os punhos — Não vou fazer bebês com você! E mesmo se eu quisesse, não tem como!

— Você nem tem certeza disso...

— Eu sou sereiana, você é tubarão. Ugh, quando essa sua época chata passar a gente conversa de novo, ok? — ela vira o corpo e começa a nadar para longe — Vai ficar com o Alex ou com a Cris.

— Miria, esperaaaa por favorrrrrrrrr

Jem agita a cauda rapidamente. Daichi e Kageyama quase quebram os ombros de Suga quando Jem morde o braço de Miria.

— AI! — uma nuvem de sangue paira na água ao redor deles, e todo o recife parece ficar em silêncio. Miria segura seu antebraço com a mão. O cabelo dela se espalha ao redor de sua cabeça e seus tentáculos se esticam completamente; bolhas furiosas começam a aparecer ao redor do corpo dela, e todo mundo consegue sentir a temperatura da água aumentar — JEM! EU VOU TE MATAR!

Um jato de tinta voa na cara de Jem e ele sai nadando à toda velocidade, escondendo-se atrás de Cris, engasgando com a tinta.

Miria solta um grito furioso e dispara na direção de seus aposentos. Jem, Cris e Alex se tremem por inteiro.

— Jem... — Asahi suspira — Já falei que você e a Miria não conseguem fazer bebês. Se quiser eu explico de novo se você não entendeu ainda...

— JEM!

— JEM!

— DESCULPA FOI SEM QUERER É QUE EU GOSTO TANTO DELA E-

Enquanto os tubarões e Asahi discutem, Kageyama e Daichi olham completamente aterrorizados para Suga.

— ELE MORDEU ELA! — Daichi berra — ELA TÁ BEM? MEU DEUS DO CÉU

— EU QUERO IR EMBORA — Kageyama sacode o ombro de Suga com força.

— Calma, ela tá bem. — Suga sente-se meio abalado também — Jem não mordeu com força e nossa pele é bem resistente. Deve ter sido só um cortezinho. — Suga vira e sorri para os dois garotos humanos — Calma, tá tudo bem.

Hinata vem nadando lá de longe parecendo meio cabisbaixo. Quando chega perto, Kageyama pega em seu braço com força.

— Não vai embora. Fica aqui comigo porque eu não confio nesses tubarões e eles já morderam a Miria — Kageyama vomita todas as palavras rapidamente e se prende no braço de Hinata, encarando-o com seus grandes olhos azuis.

— ... Não vou embora, Kageyama.

Hinata parece exausto. Daichi, Suga e Kageyama se olham rapidamente. Hinata está bem triste e suas escamas até perderam um pouco da cor.

— Talvez a gente devesse deixar eles conversarem — diz Daichi baixinho, segurando na mão de Suga. — De certo modo, eles se entendem.

— Você acha que tá tudo bem? — Suga segura no quadril de Daichi e solta algumas bolhas.

— Hm... Acho que é sobre a mãe do Hinata.

Eles apertam os dedos juntos e se distanciam, deixando Hinata e Kageyama sozinhos para conversar.

Depois do ataque de fúria de Miria, todo mundo já estava retomando o que fazia. A música começou de novo, Asahi e os tubarões foram conversar no alto, Hinata e Kageyama estavam meio escondidos atrás de uma pedra. Daichi segurou na mão de Suga e entrelaçou os dedos nos dele.

— Já comeu alguma coisa? — perguntou.

— A-Ainda não... Tava tentando processar tudo — Suga ri sem graça e afaga os dedos de Daichi.

— Ali tem meio que bolinhos de alga, se você quiser. Eu experimentei e tá bem gostoso.

Daichi oferece um sorriso gentil e Suga retribui.

— Aqui é bem bonito, né? — Suga pergunta enquanto guia Daichi até a comida.

— Sim... É tão colorido e animado. Parece coisa de filme. E dá pra ver a Lua daqui.

Os dois olham para cima. A redoma transparente, bem lá no alto, faz com que a Lua pareça mais brilhante e que as estrelas se destaquem mais contra o céu preto.

— Você sente saudades de casa? — Daichi pergunta, apertando a mão de Suga.

— Um pouquinho... Mas se você tá aqui comigo, então tudo bem.

Eles abaixam o olhar um para o outro, mas dão de cara com uma sereiana encarando-os fixamente a poucos centímetros de distância. Daichi se assusta com a presença repentina da moça e se afasta. Suga solta bolhas de curiosidade.

— O-Oi...? — Suga pergunta, meio incerto.

— Vocês são os caras que acabaram de chegar, né? — a voz dela é fina e melódica. Os grandes olhos verdes dela brilham com força, e ela sorri. A cauda de tubarão balança de um lado para o outro em curiosidade.

— Sim, chegamos agora de tarde... — Daichi responde e a menina mostra os dentes pontudos em um sorriso largo.

— EI! EI! SÃO ELES SIM! AQUI, Ó!

Ela ergue a mão e acena freneticamente, olhando na direção de um conjunto de algas compridas. Os garotos veem vários pares de olhos no meio do verde, e depois que a menina gritou, pelo menos uma dezena de sereianas saiu de trás das algas e nadou rapidamente na direção deles.

— AI MEU NETUNO

— NOSSA ELES SÃO BONITOS NÉ

— VAMOS FAZER BEBÊS?

— EU QUERO TAMBÉM!

Daichi e Suga são cercados pelas meninas, que nadam empolgadamente ao redor deles, separando-os. Daichi sente a cara inteira pegar fogo porque elas estão com os peitos de fora e são tão bonitas.

— Nossa, você é humano, né? — a de cabelos rosa chega bem perto do rosto dele.

— Será que dá pra fazer bebês com humanos? — a sereiana de olhos pretos começa a cutucar o corpo de Daichi.

— Estou disposta a tentar — um longo rabo de golfinho balança atrás da garota de cabelo preto comprido, e ela dá uma risadinha.

— Eu me voluntario pra ser sua parceira! Eu, eu!

— Não, eu!

— Eu! Me escolhe!

— O Asahi me disse que os humanos não têm bolso interno, é verdade? — a menina de cabelo verde-água cutucou a frente do shorts de Daichi e ele se encolheu inteiro.

— N-Não encosta aí, por favor! — ele suplica, tentando se esconder atrás das mãos.

Do lado dele, Suga não estava sendo menos assediado. As sereianas nadavam ao redor dele e passavam as mãos por seu tronco e cauda, dando risadinhas. Suga estava vermelho até o pescoço com tamanha atenção.

— Você é lindo! Nossos bebês vão ser maravilhosos.

— Mas se você não quiser ter bebês ainda...

— A gente pode fazer bebês e não ter os bebês, o que você acha?!

— A cauda dele é tão brilhante...

— Verdade que você veio de muito longe?

— Ahn... Ahn... E-Eu...

— Vem comigo? — uma sereiana com tentáculos de lula segura o rosto de Suga com delicadeza e encosta o nariz no dele, piscando seus longos cílios castanhos — Deixa eu te levar ali na minha caverna e a gente pode fazer bebês várias e várias vezes.

As escamas de Suga se arrepiam e ele solta algumas bolhas grandes.

— Com licença?! — Daichi sacode as mãos na frente do corpo e afasta as sereianas mais próximas, aproximando-se de Suga — "Fazer bebês"?!

Suga vira o rosto e encontra o olhar com o de Daichi, ainda meio besta e de olhos arregalados. Daichi ergue as duas sobrancelhas.

— Eu... E-Eu, ahn...

— Já sei! — a menina da cauda de golfinho diz, empolgada — Que tal irmos todo mundo pra uma caverna e aí todos nós fazemos bebês várias vezes?

— MENINAS! — A voz de Asahi se sobressai no meio das outras, e ele vem batendo as pernas na direção deles — Eu já falei que vocês não podem ser assim com todo mundo que chega no recife!

— Mas Asahiiiiiiiiiiii

— Eles são tão bonitos!

A garota de cabelo rosa pega na mão de Suga e olha fundo em seus olhos:

— Você já tem parceira?

Todo mundo fica quieto e todos os olhos são pregados em Suga. O garoto solta mais bolhas e pisca várias vezes.

— Ahn... Ah- Já...?

As meninas soltam reclamações, mas logo voltam a atenção para Daichi e piscam seus enormes olhos na direção dele.

— E você, humano?

— Não deve ter! Me escolhe!

— Vamos ter bebês lindos...

— E-Eu... — Daichi tenta a todo custo não olhar para os peitos das garotas — T-Tenho, desculpe...

E tão de repente quanto chegaram, elas vão embora reclamando. Asahi balança a cabeça e suspira.

— Tô puto com você! — Suga vira bruscamente para encarar Daichi, de punhos fechados ao lado do corpo e uma expressão bem séria.

— Quê?! Por quê?! — Daichi mal teve tempo de se recuperar do choque.

— Porque...! Porque elas queriam fazer bebês com você! E você tava gostando que elas queriam!

Daichi pisca algumas vezes. Suga está com as sobrancelhas juntas em fúria e de orelhas meio vermelhas. O cabelo dele flutua suavemente ao redor e ele agita a ponta da cauda. É fofo.

—Você não tá bravo comigo. Isso é ciúmes. — Daichi deixa um sorrisinho escapar.

— E o que é isso?

Daichi entrelaça os dedos nos de Suga, encarando-o ternamente.

— É quando você acha que outra pessoa vai roubar o que é seu.

—- Q-Que besteira... – Suga fica levemente vermelho e olha para o outro lado – E você não é sequer um objeto pra me pertencer...

Daichi ri gostoso e passa os braços ao redor de Suga.

—- Desculpem por isso... – Asahi enrola uma mecha de cabelo no dedo – As meninas ficam meio... Hm... Empolgadas quando chega gente nova. Mas não se preocupem! – ele acrescenta rapidamente – São só os feromônios, eles meio que despertam um dos instintos mais básicos... – e ri sem graça – Amanhã elas sequer vão lembrar disso, eu acho.

—- Empolgadas como gatos com catnip? – Daichi sorri.

—- É, tipo isso – e Asahi sorri de volta.

.

.

Kageyama e Daichi seguem Asahi até a caverna no topo da biblioteca. Eles passam pela abertura e ficam surpresos ao verem alguns móveis de madeira.

—- Podem ficar à vontade. Vocês devem estar exaustos, vou preparar um lugar pra vocês dormirem...

Asahi começa a empilhar pilhas de papel. A caverna é bem funda e espaçosa. Tem uma cadeira e uma mesa de madeiras, um rádio, um laptop, um fogãozinho elétrico, poucos pratos e talheres, dezenas de livros e documentos pelo chão e na poltrona no canto; um pouco para a esquerda, podiam ver várias roupas em prateleiras nas paredes ao lado de um colchão no chão, e na direita um penico e um cano saindo da parede.

—- Asahi... Você mora aqui? – Daichi pergunta, olhando curiosamente ao redor.

—- Eu não moro moro... Ah, amanhã eu explico, pode ser? – Asahi boceja e se espreguiça – Podem tomar banho também, a água aqui é quente por causa do vulcão embaixo do recife.

Kageyama junta as sobrancelhas.

—- Mas a água é doce?

—- Sim, algumas das meninas criaram um sistema que destila a água do mar. Tem shampoo e sabonete também, todos biodegradáveis.

—- Hm... – Kageyama vira a cabeça – Daichi-san, você se importa se eu for primeiro? Meu cabelo tá duro – ele torce as pontinhas da franja.

—- Claro, pode ir. – Daichi sorri e Kageyama leva consigo sua mochila – Vou falar com o Suga, tá?

Asahi acena com a cabeça, procurando cobertores em um baú. Daichi sai da caverna e se depara com Suga flutuando sozinho, olhando-o.

—- O que foi? – Daichi senta na beirada da pedra e coloca os pés na água. Suga vai até ele e apoia os braços em seus joelhos. Os olhos castanhos dele refletiam a luz das paredes.

—- Posso perguntar uma coisa?

—- Claro.

—- Quando... Quando você disse que já tinha uma parceira... – Suga abaixa os olhos e brinca com a barra da bermuda de Daichi – Tava falando a verdade?

Os olhos de Suga parecem conflituosos, e Daichi mal sabe como responder.

—- ... Tava falando de mim?

Daichi sente vontade de rir, mas percebe que Suga está falando muito sério. Ele se estica e pega as bochechas quentes de Suga, apertando-as com força.

—- É claro que eu tava falando de você! – ele solta uma risadinha e arranca um sorriso do outro – Pensei que a gente estivesse namorando.

—- O que é isso?

—- Meio o que a gente tem feito nos últimos dois anos – Daichi ri – Lembra no último filme que a gente viu?

—- Ah! É tipo o que as pessoas fazem antes de casar, né? Pra terem certeza que combinam?

Daichi solta uma risada gostosa e recebe um beliscão na coxa.

—- Bem isso, Suga.

—- Eu acho que a gente combina! – ele abre um sorriso enorme e agita a cauda. O brilho nos seus olhos aquece o peito de Daichi – Então acho que já podemos casar, né?

—- Que tal quando formos um pouquinho mais velhos? –- as bochechas de Daichi ficam vermelhas e ele afaga o cabelo claro de Suga -– Daqui uns anos?

—- Ok, pode ser também. –- Suga coloca a mão no queixo –- Qual de nós vai usar vestido?

Daichi, apesar de estar rindo bastante, é salvo pela voz de Kageyama dizendo que terminou o banho. Eles se despedem e Daichi fica muito, muito feliz de finalmente poder se lavar com sabonete. Ele sai se sentindo um novo homem, mas também morrendo de sono. Encontra Kageyama deitado na poltrona, tentando se manter acordado para tomar seu chá.

—- E o Hinata? – pergunta.

—- Ele disse que ia ficar com a Natsu hoje.

Asahi chega com uma caneca de chá para Daichi e dá um sorriso.

—- Coloquei todas as coisas de vocês pra secar, já que a Cris e o Alex molharam tudo quando trouxeram. Não sei quanto tempo vocês planejam ficar, mas vamos dar um jeito de encaixar todo mundo.

—- Obrigado, Asahi. Eu vou embora domingo, o Kageyama...

Eles viram para o garoto na poltrona, mas ele já estava dormindo, a caneca de chá intacta em suas mãos. O rosto dele está vermelho de sol nas bochechas e no nariz, que nem os ombros de Daichi.

—- Amanhã falamos sobre isso, ok? –- Daichi sorri.

—- Claro. O Suga estava te chamando. Posso colocar sua cama lá fora, se você quiser.

—- Valeu, Asahi.

—- ... – ele aperta a caneca nos dedos – Vocês estão juntos, não estão?

—- Ahn –- Daichi se encolhe um pouco – Sim...

—- Meu deus, eu tenho tantas perguntas pra fazer. Acho que dá pra escrever um capítulo inteiro só sobre isso...

—- Capítulo?

—- A-A gente conversa mais amanhã – Asahi ri sem graça e pega os cobertores do chão, levando-os para fora.

Daichi pega a caneca de chá de Kageyama e também vai para fora. Asahi coloca as cobertas no chão junto com algumas almofadas, e Daichi entrega o chá para Suga. Eles agradecem e dão boa noite, e Asahi se retira para sua caverna.

Depois de tomarem o chá, Suga sobe para a plataforma e se acomoda nos braços de Daichi, onde dorme tranquilamente e tem sonhos felizes.


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