Aurora escrita por Um conto em ponto


Capítulo 18
Por acaso




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—Com licença senhor, podemos nos sentar aqui? –Perguntou Simon educadamente ao homem que ocupava o banco o qual Aurora costumava sentar todos os meses nas missas que mandava celebrar para Alvaro seu tio.
—Sem problema. –Disse o homem chegando para o canto dando-lhes espaço.
—Não acredito que é você, o que faz aqui? –Disse Aurora fitando o rapaz.
—Você o conhece? –Simon estava tão surpreso quanto os outros dois.
—Sim, é o marido da Mel.
—E quem é Mel?
—Minha psicóloga Simon, já falei dela pra você.
—Ex marido, nos separamos.
 Por um instante Aurora sentiu-se estranha, não sabia reconhecer o que estava sentindo, um nó subiu-lhe a garganta e um sorriso discreto surgiu em seus lábios vermelhos.
—Anda Simon, pegue o Gael, sente-se, a missa vai começar.
 Marcelo olhou o menino Gael no colo do ruivo amigo de Aurora e sorriu, o garoto olhou para ele tímido, com aqueles grandes olhos azuis e retribuiu o sorriso.

— Aurora? Podemos tomar sorvete?
—A essa hora menino?
—Eu gosto de sorvete.
—Eu te levo Gael, cuidado com o degrau. –Dizia Simon pegando o garoto pelas mãos em quanto deixavam a igreja.
—Eu queria ser assim sabe.
—Assim como Deusa?
—Levar jeito com criança, e gostar desse menino.
—Você leva, só não sabe ainda.
 -Você é apaixonado por mim, não entende que eu realmente não importo.
—Isso também é verdade.
—Aurora??? –Gritou Marcelo chamando a atenção dela e de algumas pessoas que deixavam a igreja. -Su– carteira.
—Você esqueceu a carteira de novo? –Disse tendo um flash back com o acontecimento de anos atrás.
—Dessa vez foi de propósito. –Respondeu baixinho em quanto visualizava Marcelo correndo em sua direção.
—Por que?
—Xiuu..... –Disse em seguido sorriu para Marcelo, que a olhava fixamente, e sentia-se preso em seus olhos negros. –Obrigada Marcelo, eu vivo esquecendo tudo.
—Imagine, você deve ser muito ocupada, muitas coisas na cabeça, mil coisas para fazer...
—Aqui nem tanto, costumo vir para relaxar. –Dizia em quanto sentia Gael puxando-lhe a roupa.
—O que foi?
—Você vai me dar sorvete?
—Simon, quer levar ele lá em quanto espero vocês aqui?
 Simon era capaz de compreender os olhares e as intenções de Aurora a distância, e sempre fazia o que ela mandava, e não foi diferente dessa vez, pegou o pequeno Gael no colo e o levou. Então ela e Marcelo caminharam lentamente em círculos na pequena praça.
—Como eu amo crianças, não esperava te ver com uma você não me parece ser o tipo maternal sabe.
—Eu não pareço ser milhares de coisas que eu realmente sou.
—Ele é um menino lindo.
—Sim, ele é realmente incrível, mas as vezes me deixa louca.
—Eu sempre quis ter filhos, mas a Mel nunca mais quis depois que.....-Seus olhos se perderam olhando para o nada e sua mente lembrou do passado. Era notável que esse Marcelo era um Marcelo diferente, e mais frágil.
—Depois que?
—Depois que ela se formou, é .
—Ela é jovem, logo vocês terão a chance de tentar, você tem que dar esse tempo a ela, eu mesma foi o acaso, foi o destino que trouxe o Gael pra minha vida, caso contrário eu jamais teria tido uma criança.
—É, você está certa, mas me conte o que te trouxe aqui?
—Tenho muitos amigos aqui, e esse lugar não parece fazer parte do mundo, eu posso ficar quieta longe de mídia, especulações...mas e você?
—Meus pais são daqui, e quem são seus amigos?
—Venho pra cá desde o tempo do padre Miguel. Padres, seminaristas, esses são meus amigos.
—Verdade, você deve ter sofrido muito quando ele faleceu daquela maneira tão trágica né?
 Aurora ficou em silencio e as cenas do sino voltaram a sua mente. Ela se via correndo do padre e rindo, dando gargalhadas cantarolando “você não me pega, você não me pega” Era capaz de sentir o padre passando as mãos em suas pernas tentando alcança-la em quanto ela subia aquela enorme escada espiral que dava no sino. Quando ela se enroscava nos corrimãos de madeira, o padre a abraça por trás e respirava cansado com sua voz envelhecida em seus ouvidos, ela sentia o desejo do padre por seu corpo jovem, sentia as mãos dele apertarem seus seios e novamente corria subindo as escadas em quanto ele segurava seu vestido repetindo as palavras “Estou muito velho, volte aqui sua danadinha” Aquilo a excitava, mas ao mesmo tempo a enojava.
—Me desculpe ter tocado no assunto, eu sinto muito, você como amiga deles não deve ser...me desculpe.
—Tudo bem Marcelo, não se incomode com isso. Bom, os meus meninos estão vindo. –Disse referindo-se a Gael e Simon que vinham sorrindo e comendo sorvete. –Foi um prazer te encontrar.
—O prazer foi todo meu. –Disse abraçando-a e virando-se de costas para seguir seu caminho.
—Marcelo?
—Sim?
—Minha carteira. –Estendeu a mão.
—Ah, eu já ia me esquecendo. –Entregou a carteira e ao tocar a mão da moça viu um sorriso tímido em seu rosto. –Na verdade eu adoraria ter uma desculpa para te ver amanhã.
—Você não precisa. –Disse ela sorrindo e olhando-o nos olhos. –Eu tomo café no toninho as 15:13, te espero.
 Então os dois se distanciaram .
—Você também quer sorvete? –Perguntou Simon.
—Quero saber o que fez a Mel e esse cara se separarem.
—Achei que gostasse dele, notei uns sorrisinhos.
—Fico excitada sempre que estou perto dele.
—O que você está dizendo Deusa? –Simon abriu a boca, e com uma das mãos tapou o ouvido de Gael. –Vá correr, brincar Gael a gente te alcança.
—Imagine esse homem nú amarrado, e eu o mordendo com toda a minha força, e o batendo com um chicote de alpinismo, na cara, na cara para ver o sofrimento.
—é, pensando por esse lado-Deu uma chupada no sorve. –Não seria uma cena tão desagradável, tirando o fato de que ele morreria não é ?
—Essa é a parte mais excitante, e a que seria sem duvidas a mais agradável do resto tudo. Mas foi só um pensamento, você sabe que eu mudei.
—Sei que você fez terapia com a mulher dele, e até agora não tocou no nome dela estranhamente.
—Ela desistiu do meu caso, e disse que eu era viciada em sexo, viciada em matar e que eu não sou capaz de mudar, claro que eu sou, se eu quisesse já tinha transado e matado o maridinho dela inclusive, mas como não sou viciada eu não fiz isso.
—Esse é o meu medo.
—Vai dizer que você também não acredita que eu consigo.
—Acredito que sim, mas você tem que se manter longe dessas coisas que te causam tamanho impulso.
—Aí Simon, eu transo com você essa noite só pra provar que eu consigo ficar sem matar. –Deu no amigo um tapa na bunda.
—Olha Deusa, eu te juro que se eu gostasse de mulher eu morreria na sua mão, mas como eu não gosto, vou esperar a próxima vítima. –Abraçou Aurora  e seguiram para casa paroquial.
 


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