Bom repouso, era o nome da pequena cidade cercada por verde de vários tons diferentes, e o canto dos pássaros eram a trilha sonora daquela tarde ensolarada. Quanto tempo Aurora não colocava os pés ali. Respirou o ar fresco e acolhedor que mesmo passando tantos anos ela nunca esqueceu aquele cheiro, sentiu o vento fresco tocar-lhe a face . Algumas coisas estavam mudadas, talvez a tecnologia tivesse chegado na cidade. Muitas pessoas a olhavam com curiosidade, outras se aproximavam, pediam para tirar fotos e a enchiam de perguntas. Sempre muito atenciosa despertou a atenção até do pequeno Gael.
—Por que todo mundo fica olhando pra gente?
 Aurora fitou aqueles olhos azuis e sorriu.
—Porque eles só nos veem na tv.
—Mas eles não passam na tv também?
—Não querido.
 Logo um carro apareceu para apanha-los e leva-los para a casa paroquial, que também não estava igual. Agora era uma luxuosa casa classe alta, iluminada, com belos carros na garagem.
—Nem acredito que chegaram –Disse Felipe empolgado dando um abraço forte em Simon que ficou sem graça. –Soltem essas malas, logo levamos para o quartos. Aurora, como está linda, e esse pequeno quem é?
—Eu sou Gael.
—Muito prazer Gael, lá atrás tem uma piscina grandona pra você se divertir, quer conhecer?
—Quero!!!!!!
—Não, antes você vai tomar um banho e tirar essa roupa suja de viagem.
—Quem diria você sempre livre agora toda mãezona –Felipe dizia rindo.
—Até os pássaros mais livres caem em arapucas quando sentem fome não é? Mas ele é meu primo, não é meu filho.
—Cade o pessoal? –Disse Simon interrompendo o assunto evitando especulações.
—Hoje tem missa, fiquei só para receber vocês. Bom deixe eu mostrar a nova casa, e vocês vão ficando a vontade.
 No andar de baixo era uma enorme sala de jantar, e tinha um corredor ligado a cozinha. No andar de cima era um corredor com oito quartos ligados e no fim do corredor uma sala de estudos com livros. No corredor haviam fotos de todos os padres que já moraram na casa inclusive padre Miguel. O qual Aurora parou e ficou olhando aquele barbudo por algum tempo, por um instante sentiu como se ele pudesse vê-la através dos olhos do quadro com a foto de tão vivo e real que estava. Simon colocou as mãos em suas costas e disse baixo –Venha, nem olhe. –E ela sorriu. Eu não me importo.
 A noite todos se preparam para missa de domingo, uma celebração a qual Gael nunca havia participado.
—Olha Aurora o teto é todo colorido. –Ela apenas concordava com a cabeça e sorria. –Olha, tem anjos. –Novamente ela concordava com a cabeça e sorria. –Olha, por que estão todos tão tristes? E por que aquele homem está machucado?
 Por um instante Aurora não disse nada, e tudo que queria era entregar o menino para a primeira pessoa que passasse.
— Vamos sentar no lugar que você sempre sentou? –Perguntou Simon interrompendo as especulações do garoto.
—Pode ser. Toma, segure a mão do Gael–Disse ela em quanto seus olhos reparavam na grande reforma que havia sido feita por ali.
—Tio Simon, por que aquele homem está tão machucado? –Simon sorriu e segurou a mão do menino.
—Aquele homem é Jesus, segundo as escrituras é o filho de Deus.
—Jesus é o homem que morreu por todos nós?
—Sim, esse mesmo.
—A Cida me disse que ele sofreu muito né tio ?
—A Cida deveria te ensinar a ser mais quieto ao em vez de ficar colocando bobagens em sua cabeça. –Respondeu ríspida.
—Ela me disse que ele pode mudar todo mundo, até pode ensinar a mamãe a me amar se ela acreditar nele.
 Simon mordeu os lábios e franziu o cenho, em seguida fitou Aurora esperando o que ela ia dizer. Ela então ajoelhou ficando do tamanho do garoto e o olhou nos olhos.
— Filinho, você não pode dar ouvidos a tudo que os empregados dizem, a Cida mesmo agora está na rua, assim que eu chegar vou manda-la embora e você vai ter que se acostumar com a nova empregada. E ouça uma coisa que vou te dizer, você não precisa do meu amor.
 O menino então abraçou Aurora sem parecer se importar e disse em seu ouvido.
—Mas eu amo você mamãe assim como esse moço machucado deixou nas escrituras. Eu não conheço esse tal de Jesus, mas vai ser bom pra gente não machucar igual ele.