Aurora escrita por Um conto em ponto


Capítulo 14
Clero




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—-Celebramos também em intenção da alma de Álvaro Garcia Vicello, que hoje se encontra nos braços  amparo do pai. –Dizia a voz rouca e mansa do padre Miguel que presidia missa na pequena cidade todos os domingos.
 A menina Aurora nunca se esquecia de seu amado tio, e fazia questão de mandar celebrar lhe uma missa uma vez por mês, a qual ela estava sempre presente. Sentava- se sempre no terceiro banco da fileira esquerda onde encostava-se em uma das seis colunas da pequena igreja, mantendo-se mais escondida, não era o lugar favorito dos fieis pois quase não dava para ver o altar. A igreja se localizava em uma cidadezinha pequena no interior, onde seu pai havia sido criado, mas Aurora não teve nenhum contato com a cidade antes do falecimento do próprio, não conhecia ninguém, e poucos se ligavam em mídia, pessoas mais velhas não a conheciam o que permitia se manter longe de olhos curiosos e ser tratada como todos. As poucas pessoas que a conhecia era de vista, afinal não falhava um mês, todos os primeiros domingos do mês as dez da manhã lá estava ela, mas quase não era notada, apenas assistia a celebração, e deixava a cidade, sempre sozinha.
—Senhora- Gritou um homem em quanto Aurora deixava a igreja.
—Sim?
—A senhora esqueceu os óculos e a carteira, tive a ousadia de abrir e tem um cheque em seu nome, mas juro era só para ver quem era. –Aquilo não lhe faria tanta falta, mas era uma quantia tentadora a ser roubada no cheque. Então ela o fitou, notou que usava uma espécie de batina e sorriu gentilmente, endente-lhe a mão pegando seus pertences e cumprimentando -o .
—Muito obrigada, prazer eu me chamo....
—Sim, eu sei quem a senhora é, é muito conhecida. Aurora herdeira da rede de tvs....
—Ela sorriu e soltou sua mão da dele.
—Só Aurora por favor.
—Sou Simon, é um prazer imenso te conhecer, sou um grande admirador seu. Está fazendo um trabalho maravilhoso, és uma rainha, uma Deusa. –Disse empolgado.
—Quanto exagero –Sorriu. –Mas fico lisonjeada Simon. –Ouviu-se o sino batendo marcando 12:00.
—Simon! –Ouviu-se a voz do Padre Miguel, mas dessa vez nada mansa diferente da celebração. Parecia ríspida.
—Tenho que ir, cuidado para não perder as coisas de novo, foi um prazer...-Saiu agitado e passou pelo padre de cabeça baixa.

 Aurora verificou seus pertences e permaneceu alí um tempo, quando padre Miguel notou de quem se tratava, sua feição enfurecida foi voltando-se para um sorriso doce e simpático, quase impossível de ser notado em meio a tanta barba. Havia algo de estranho no senhor, Aurora retribuiu o sorriso e não demorou muito tempo para que o padre fosse conhecer a moça de perto sendo que só a via nas missas ou na capa das revistas expostas na única banca da cidade. O homem foi então se aproximando, tinha uma bíblia na mão, e a estona nos braços. Conversaram por alguns minutos o qual ele espiculou sobre a morte de seu tio entre outras curiosidades mas Aurora estava apressada.
—Você é tão doce minha filha e muito gentil, agradeço a conversa, Deus tem grandes planos na sua vida.
—Tenho certeza que sim, mas agora eu realmente tenho que ir. –Apertou a mão do padre. –Hoje tenho compromissos a cumprir.
—Fique conosco para almoçar? –Dizia com um sorrisos largo e amarelado. –Depois você retorna a seus compromissos de barriga cheia.
—Eu realmente fico agradecida mas.....
—Não, que isso, venha. –Disse envolvendo seu braço em suas costas afetuosamente.
 Depois de muito insistir padre Miguel conseguiu convencer a jovem a almoçar com ele e seus meninos.
 Aurora avistou um grande portão de madeira o qual foi aberto por padre Miguel para que ela pudesse entrar com o carro, em seguida desceu no quintal, correu os olhos, um muro alto cercava a casa paroquial que era protegida também com cercas elétricas. Aurora viu também muitos animais, até sorriu pra eles, mas não demonstrou gostar muito o que fez o padre os mantê-los presos.  A casa não era cheia de luxo, mas era muito confortável, tinha rede, um lago o qual patos nadavam enfeitando-o , não demorou muito ela avistou o rapaz que tinha devolvido sua carteira na igreja. Ele agora estava vestido com roupas velhas e sujas, carregava lenhas levando para dentro da casa, com uma das mãos secava o suor que descia por sua testa sardenta.
—Que lugar aconchegante-Disse ela cortando o padre que vinha-lhe apresentando tudo, e dizendo o nome até das galinhas. –Mas não pude deixar de notar, o senhor não mora sozinho não é?
 O padre então arqueou uma das sobrancelhas, em seguida coçou a barba.
—Moramos em oito. –Disse surpreendendo-a . –Eu, padre Sílvio que está em outro distrito nesse momento, temos também três seminaristas, Felipe, Rafael, e Simon, temos a empregada Auzira que vem todos os dias é como da nossa família. E Augusto e Kaique, dois garotos de rua que cuidamos, queremos que cresçam e virem homens de fé, se sentirem o chamado como os outros que virem padres como nós.
—Entendo, é um bom trabalho que o senhor faz por eles, deve ter bom coração. –O olhou no fundo dos olhos deixando-o desconcertado.
—São como...como...como filhos mesmo.
 Simon surgiu por trás do padre interrompendo-os.
—Já fiz tudo que o senhor pediu. –Dizia de cabeça baixa. –E dona Auzira me pediu para que chamassem todos para o almoço.
—Obrigado, vá se trocar e lavar as mãos. E pode ir.
—Não. –Disse Aurora antes que o rapaz os deixasse. –Espere, quantos anos você tem? –Ela era capaz de imaginar-lhe em um terno, fazendo trabalhos para revistas.
—23 –Respondeu olhando mais para o padre do que pra ela em si.
—Padre, hoje esse rapaz me devolveu uma carteira com um cheque de cem mil reais dentro, e ele viu o cheque e ainda sim me devolveu. Saindo daqui eu tenho que entregar esse dinheiro em uma casa de reabilitação, é um trabalho voluntário, se ele não tivesse devolvido a casa ficaria mais uns dias sem alimentos, e eu nem se quer sei como agradece-lo. Então quero pedir que o senhor deixe eu ajudar esses meninos carentes que o senhor cuida, caso não queiram estudar para padres, vão estudar outra coisa, mas me deixe ajudar vocês, o que acha?
 O padre olhou Simon e frangiu o cenho o que era estranho para Aurora, mas não demorou muito para concordar. E assim iniciou a amizade dela com o clero. Todos os meses após as missas celebradas para seu tio, ela ia almoçar na casa paroquial se tornando cada vez mais íntima dos padres, de seus meninos, e ainda mais intima de Simon, seu favorito.

 Depois de um ano frequentando a casa todos os meses e os ajudando cada vez mais, já era considerada da família, e sentia-se como tal, de alguma forma aquele lugar era seu refúgio e lhe trazia paz.
 Certo dia em quanto sentada na rede balançando de um lado para o outro ao lado de seu mais novo irmão Simon, Aurora ao longe avistou Padre Sílvio e Padre Miguel ao longe perto de uma macieira colhendo seus frutos e os colocando em uma cesta, os dois estavam em perfeita harmonia o que tirou uma gargalhada da mulher.
—Do que você está rindo Deusa?
—Padre Miguel me chama de filha, na verdade nos chama de filhos, padre Sílvio também, então podemos dizer que somos frutos de um relacionamento homo afetivo ?
 Os olhos de Simon olharam Aurora com raiva, ele então levou suas mãos tampando a boca dela impedindo-a de falar.
—Nunca mais diga isso, nunca mais está me entendendo? –Era possível sentir fúria em sua voz.
—Me solta disse ela empurrando-o –Vai me dizer que é pecado? Acha mesmo que eu nunca notei que vocês são todos gays?
—Você nem se quer sabe do que está falando.
—Ta na cara que aqueles dois tem um caso, e você acha que não reparei essas marcas no seu braço? –Disse tocando seus pulsos. –Ser gay é pecado, sadomasoquismo não né? Quem é a pessoa que te deixa todo marcadinho? –Disse ironizando.
—Ninguém. –Respondia em quanto olhava longe onde vinham Padre Miguel e padre Silvio.
—É o Felipe? ou será o Rafael? Voto no Felipe.
—Para com isso deusa, me deixa quieto.
 Então Aurora se afastou mordeu os lábios em quanto pensava, sua face era maliciosa e diabólica me quanto tentava descobrir de quem se tratava o sexo nervoso de Simon. Olhando em seus olhos via sua fixação nos padres que vinham vindo, então sua face foi tomada por nojo.
—Claro, tudo se encaixa, os olhares tudo, como eu não percebi, mas você o odeia porque se sujeita a isso?
 Simon a olhou com lágrima nos olhos.
—Acha que é eu que me sujeito ? Acha que eu tenho que querer? Que eu tenho escolha? Eu não tenho mais ninguém.
—Não posso acreditar. –Levou a mão na boca incrédula.
—Não diga nada, por favor.
—Não vou dizer, fique tranquilo. Mas hoje eu vou passar a noite aqui e ele nunca mais vai encostar em você.


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