Sinceramente, eu não estava nem um pouco a fim de ter que encarar Sherlock Holmes. Já não basta a má impressão que tive dele antes de ontem, também ocorreu o pequeno atrito dele com o professor ontem
Quando o sinal tocou, ele foi o primeiro a sair. Não deu brecha para que eu pudesse falar sobre o trabalho
Suspirei pesadamente e fui atrás dele. Quanto mais rápido eu resolvesse aquilo, melhor
—Sherlock! -tentei chamar sua atenção, mas com tanto barulho no corredor, achei difícil que ele me ouvisse -Sherlock! -novamente, ele não me escutou
Uma vantagem de ser pequena em relação aos outros é poder passar entre eles
—Com licença -eu dizia algumas vezes até alcançar quem eu queria
—Sherlock! -eu falei, quando o alcancei e encostei em seu ombro para chamar sua atenção
Parou onde estava e se virou para mim. Sua expressão era difícil de ler. Provavelmente quisesse apenas ir para a outra aula ou não estivesse com vontade de falar comigo
—Eu sei que você não quer fazer esse trabalho, eu também não quero. Mas vale nota e eu não vou ficar sem ela por você não gostar disso -abri os braços, indicando a escola no geral -Então, se quiser acabar logo com isso como eu, podemos fazer o trabalho o mais rápido possível?
—Tá, que seja. Amanhã, depois das aulas, no campus. Não se atrase -ele virou de costas e saiu com passos largos
Pelo menos, a partir de amanhã não vou precisar mais me preocupar com isso
***
—E então? Como foi com Você Sabe Quem? -perguntou Janine
—Com Lord Voldemort eu não sei, mas com Sherlock não foi tão ruim quanto eu esperava. Vamos fazer o trabalho amanhã depois das aulas
As duas sorriram
Durante o resto do dia, fique pesquisando coisas que poderiam ser utilizadas no trabalho. Afinal, quando menos eu precisasse ficar perto dele, menos chance daquilo dar errado
—Molly, não sei se você sabe, mas é um trabalho em dupla. E a sua dupla também precisa fazer -Mary comentou, dando ênfase da palavra 'dupla'
—Mary, relaxa. Eu não me importo de fazer o trabalho, mas com quem tenho que fazer -falei, ainda focada no livro
Ela revirou os olhos e eu, continuei pesquisando
***
No dia seguinte, não ocorreu nada de interessante durante as aulas. Mary e John estavam se falando cada vez mais e, durante uma dessas conversas Janine e Greg (finalmente) iniciaram uma conversa
Quando as aulas acabaram, a primeira coisa que eu fiz, foi ir até o campus. E ele já estava lá
—Olha quem está aí -ele me disse quando pôs seus olhos em mim -está um pouco atrasada
—As aulas acabaram agora -me justifiquei, um pouco ofendida
—Na verdade, as aulas acabam às 17:30. Da sala de aula até aqui são seis minutos. São 17:50. Você está catorze minutos atrasada
Bufei. Aquilo seria mais difícil do que imaginei
—Que seja. Vamos apenas terminar logo com isso
Sentei no banco em frente ao que ele estava sentado e peguei o meu livro
—Já marquei algumas coisas que achei interessante -comentei, procurando a página certa
—Deixe-me ver -ele pegou o livro da minha mão e abriu na página rapidamente
Ele leu os parágrafos grifados e as anotações feitas
—Nada mal, Hooper. Eu faria um pouco diferente, mas para uma pessoa como você não está nada mal mesmo
Olhei para ele e fiz uma careta
—Não e só com você, é todo mundo. Parece que para as pessoas o mundo é um mistério, mas para mim, é tudo tão óbvio. Onde as pessoas estiveram, com quem estavam, tudo!
—Ah, que seja. Vamos logo com isso
Quando, finalmente, já estávamos nas considerações finais já eram sete da noite
—Já que acabamos, vou para o meu dormitório -falei, arrumando minhas coisas
Quando eu levantei e fiz menção de começar a andar, ele me chamou. Eu olhei em sua direção. Ele estava em pé com a mochila nas costas e uma expressão séria
—O que foi? -perguntei, um pouco impaciente
—Qual é o seu problema comigo? Digo, eu não fiz nada com você
Estava claro que ele sabia o motivo. Só queria que eu confirmasse
—Você sabe, é inteligente. Não precisa que eu diga
—Sabe Molly, eu acho incrível esse união entre amigos. Mesmo que você não saiba nada sobre mim já escolheu ficar contra mim
—Tente mudar a imagem de convencido e arrogante e então eu paro de pensar mal de você
—Quer dizer que eu tenho que mudar minha imagem para você gostar de mim? -ele riu sarcasticamente -Você acha que é assim?
—Quer saber? Deixa para lá -eu me virei e comecei a andar na direção oposta à ele
—Você é patética, Hooper -ele disse
Eu parei no mesmo lugar e ele continuou a falar
—Você não tem coragem de falar na minha cara, não é? Assim como não tem coragem de me perguntar o que, de fato, aconteceu. Você me enoja
—Eu te enojo? Quer dizer que por eu acreditar que você usou uma garota para ter uma vantagem eu te enojo?! Me desculpe, Holmes. Vamos sentar para você me contar o que aconteceu -eu suspirei, e dei um meio sorriso, tinha uma ideia de como desarma-lo -Você não me conhece. Como pode dizer isso?

I know my a-b-c's, yet you keep teaching me

—Molly Lavagne Hooper. 16 anos. Estudou na escola St Barts Acadamy, uma das melhores de Londres. Filha única. O casamento dos pais parece estar piorando, provavelmente por causa de um problema deveras sério que ocorreu não muito tempo atrás. Tem algum trauma do passado, uma morte talvez, há chance de ser o tal problema. Você tem um segredo, ah se tem e é um dos grandes...
—Para -a minha voz saiu baixa, mas com certeza ele ouviu

I say fuck your degree, alphabet boy

Ele deu um sorriso de desdém e abriu os braços
—Parece que nós temos uma plateia -ele anunciou
Eu olhei em volta. Realmente, aproximadamente dez pessoas estavam nos encarando
—Você ainda acha que eu não sei nada sobre você?
Eu não respondi. Apenas corri. Corri para o mais longe possível de Sherlock Holmes
***
Parecia ser um lugar reservado. Um bom lugar para pensar, e talvez, se afogar em lágrimas
—O que aconteceu? -perguntou uma voz atrás de mim
Era um garoto. Parecia ser da minha idade
—Nada... Não é nada que eu gostaria de compartilhar
—Bem, se precisar desabafar, pode me procurar sempre que quiser. Afinal, a partir de amanhã, estudaremos juntos
—Obrigada -eu dei um mini sorriso -E a propósito, sou Molly Hooper
—Prazer, Molly. Sou James Moriary