Muitas pessoas decidem comemorar a folga de seus trabalhos no fim de semana indo a um cinema, até mesmo um shopping, ou ficando em casa assistindo filmes em família; mas os Grace não, eles sempre tinham que ir para lugares estranhos.

— Tia Thalia, eu quero jogar naquela barraquinha!

No caso, para Thalia, o lugar estranho dessa vez era o parque de diversões que havia aberto há pouco tempo; assim que seus olhos azuis elétricos avistaram a roda-gigante que lhes aguardava no fim do parque, tratou de segurar o braço pequeno de Amélia e desviá-la do curso, tentando a todo custo entrar na frente dela, para que não visse o brinquedo e inventasse de ir lá.

— Vamos na barraquinha, então. – Comemorou, fingindo uma falsa empolgação, vendo a pequena McLean agarrar a mão de Catrina e as duas correrem para o lado contrário, indo atrás de uma barraca que tinha várias garrafas para derrubar.

— O que está te deixando nervosa?

A morena reconheceria de qualquer lugar aquela voz mergulhada no sotaque italiano, fazendo-a encolher os ombros de leve ao notar que o menino estava bem próximo de si, praticamente colado ao seu corpo.

— Nada, Di Ângelo.

— Vou fingir que não tem nada a ver com aquele brinquedo. – Para enfatizar sua frase, Nico ousou em encostar uma de suas mãos no quadril dela, apontando para a roda-gigante que, agora, brilhava com luzes neon por conta da noite ter caído.

— Por favor, pare de ser tão patético. – Thalia depositou sua mão em cima da dele, tirando-a dali e continuando a andar, torcendo para não perder as meninas de vista, caso contrário, Annabeth e Piper iriam matá-la.

— Está gostando de ser mãe, Thalia? – Jason questionou ao se aproximar da irmã, fazendo-a ter um sobressalto e se virar para ele com raiva.

— Olhe aqui, você está encrencado ao quadrado na minha mão!

— Acho que alguém não gostou de ser abandonada no parque com duas crianças e um Di Ângelo. – Annabeth comentou se juntando a rodinha, fazendo a morena a fuzilar. – Ei, foi ideia da Piper.

— O que? Eu precisava de uma folga! E Amélia ama você e o Nico, então pensei: porque não? – Respondeu a McLean, sorrindo inocentemente e observando sua filha tentar acertar as garrafas de cima, falhando miseravelmente.

— Moço, você tem um banquinho? – Mel questionou, fazendo o italiano soltar uma risada que foi abafada por sua própria mão.

— Amélia, deixa que eu te seguro. – Jason se ofereceu, pegando-a no colo e a arrumando, ficando de um jeito que ela conseguia jogar as coisas com facilidade.

— Vem você também. – Percy pegou a filha de surpresa ao ergue-la do chão, levando-a a fazer um bico, mas que logo se transformou em um sorriso fofo e agradecido.

— Eu mereço um tempo longe de vocês, me encontrem depois. – Thalia ergueu a mão e se retirou, caminhando lentamente pelo meio do parque, observando as barraquinhas com uma leve curiosidade, decidindo se deveria ou não jogar em alguma.

Seus olhos azuis elétricos captaram um tiro ao alvo, sorrindo consigo mesma e rumando até lá, deu a ficha para o moço e pegou a arma, trazendo-a para perto de seu rosto.

Não foi algo que se orgulhava, mas quando sentiu a presença de mais um corpo grudado ao seu, foi inevitável não se arrepiar ao sentir a respiração dele contra sua nuca; uma de suas mãos em seu quadril, endireitando seu corpo e o encaixando contra o seu. Nico estava ali.

— Levante o queixo... - Sussurrou com a voz rouca em seu ouvido, trasbordando seu sotaque italiano, que ela achava totalmente sexy, mas nunca admitira -.

Thalia quis negar e pedir para ele se afastar, mas apenas rolou os olhos e fez o que ele pediu, fazendo a pressão contra o gatilho e semicerrando os olhos, atirando e acertando em cheio no meio do alvo, abaixando a arma e dando um passo para frente, desencostando-se do corpo dele.

— Você foi ótima. – Parabenizou o dono da barraca, ganhando um sorriso dela. – O que vai querer?

A morena observou os ursinhos que ali estavam, acabando por escolher um unicórnio médio, se agarrando a ele e acenando para o senhor, indo atrás de outra coisa para fazer.

— Você não vai me agradecer?

— Eu conseguiria acertar sem você, Di Ângelo. – Retrucou sem olha-lo. – E tenho certeza que só fez isso para imitar as famosas cenas clichês de livros: a mocinha que tenta acertar algo no parque, erra, o mocinho ajuda ela, e de repente ela está morrendo de amores por ele.

— Então quer dizer que Thalia Grace está morrendo de amores por mim?

Thalia cometeu o erro de se virar incrédula para ele, vendo o sorriso de canto que estava estampado em seus lábios.

— É tão possível eu morrer de amores por você, assim como é possível dividir um número por zero.

— Mas não é possível dividir um número por...ah, ironia. – Nico entendeu, fazendo uma cara indignada logo após o ato. – Ou!

A garota apenas deu um sorriso um tanto travesso e deu as costas para ele, saindo na frente e dando risada consigo mesma.

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Amélia estava quase chorando diante de sua tia, implorando para que a morena fosse na roda-gigante também, já que não queria ninguém com os pés no chão.

— Mas..., Mel, você já vai com seus pais! –Argumentou Thalia, estando agachada na frente da pequena McLean, que tinha um bico enorme em seus lábios.

— Não me importo! Eu quero que você vá.

A Grace se levantou, tratando de verificar se seu vestido estava no devido lugar, para logo após levantar seus olhos para o enorme brinquedo a sua frente, sentindo suas pernas bambearem apenas de se imaginar estando lá.

— O tio Nico pode ir com você, ele é seu amiguinho, amiguinhos vão junto com os outros nos brinquedos! – Amélia sorriu com o que conseguiu arranjar para debater com sua tia, dando um pulinho no lugar.

— O tio Nico me empurraria de lá de cima. – Thalia murmurou baixinho, fazendo uma careta e cruzando os braços ao sentir um vento gelado passar por sua pele exposta.

— Então isso é um sim? – A pequenina comemorou e agarrou a mão da tia, a puxando para a fila – que se resumia em seus amigos -.

— Grace? Você vai? – Nico não perdeu a deixa de caçoar da professora, que ergueu a sobrancelha em sinal de desafio, fazendo-o chegar mais perto dela disfarçadamente. – Pois bem, eu duvido.

— Eu já disse que não te suporto hoje?

— Eu acho que já sim, mas vamos deixar essa coisa que você acha que me ofende para depois, vamos. – Ele segurou em sua mão, a puxando para dentro do brinquedo, caminhando até um dos carrinhos e soltando-a, fazendo as honras de deixa-la entrar primeiro.

— Você é patético. – Concluiu a morena, tentando controlar os movimentos de suas pernas, já que estava trêmula e sentia que a qualquer momento iria desmaiar.

Assim que a trava desceu, ela tratou de se agarrar ali, evitando qualquer movimento brusco, já que tinha começado a se movimentar, e seus instintos de que algo iria dar errado se acionaram.

O banco onde estava sentada balançava para frente e para trás, coisa que deixava a Grace totalmente desnorteada, já que pareciam fazer o mesmo com seu estômago.

— O que foi, Grace? – Nico questionou ao seu lado, estando totalmente relaxado e apreciando a vista.

O máximo que ela pode fazer, foi engolir em seco e fechar os olhos, sentindo a brisa gelada da noite bater contra seu rosto pálido.

E para o desespero de Thalia, com um baque surdo, tudo se apagou e parou.

— Bom...parece que acabou a energia. – Nico comentou distraído, inclinando um pouco para a frente com o intuito de ver o que estava lá embaixo, fazendo o carrinho seguir seu corpo, tendo seu braço agarrado com força.

— Para. 

O Di Ângelo passou os olhos por todo o rosto da garota, desde seus olhos fechados com força, até seu cenho franzido, seus dentes brancos mordendo o lábio inferior com tanta força que ele pode ver um filete de sangue escorrer por ali.

— Você está com medo. – Concluiu se lembrando do medo de altura que a garota possuía desde criança, se lembrando de como foi doloroso ter descoberto isso, já que ela o empurrou de cima de um escorregador, por ter a feito subir com ele até lá, falando que era baixo.

O italiano agradeceu por estar usando sua jaqueta preta de couro, visto que se estivesse apenas de camiseta, as unhas grandes da professora iriam o machucar.

— Thalia, acalme-se. – Pediu escutando alguns gritos lá embaixo, mas não conseguia ter certeza do que se tratava, mas agora estava torcendo para que fosse os donos do parque concertando a queda de energia.

Sem resposta, ele depositou sua mão em cima da dela, fazendo-a ter um sobressalto e balançar o carrinho, apertando mais o braço dele, que ofegou.

— Grace...- Chamou e suspirou, sabendo que teria que fazer mais do que isso para chamar sua atenção.

Para piorar a situação, Nico conseguiu sentir quando as mãos de Thalia começaram a tremer loucamente, fazendo-a abrir os olhos totalmente perdida e mirar lá embaixo, começando hiperventilar no mesmo segundo. E para o desespero dele, o moreno pode reconhecer o que estava por vir.

— Não! Não! Thalia, aqui em cima não. – Pediu colocando a mão em seu quadril e a puxando para mais perto de si, fazendo-a arregalar os olhos. – Está tudo bem, olhe para mim, Thalia.

Calafrios passaram por todo o corpo dela no momento que seus olhos azuis elétricos cruzaram com os olhos negros dele, fazendo-a focar apenas em suas írises.

— Isso...se acalme...- Ele fez uma pausa, aproximando seus rostos perigosamente, vendo-a prender a respiração. - ...principessa.

Nico desceu os olhos para a boca dela, agora entreaberta, sentindo seu hálito de morango bater contra sua própria boca, subindo o olhar para seus olhos, que tinham um brilho desesperado.

Então, só suspirou e se inclinou de leve, quebrando a distância que faltava para selarem seus lábios.