O despertador toca, viro-me e pra minha infelicidade esqueci que só estava com metade da cama disponível. Conclusão caí no chão. Carter se assustou com o barulho da minha cabeça batendo na quina. 

— O que foi isso? - pergunta.

— Nada eu só cai. 

— Você é muito idiota haha. 

— Talvez se não ocupasse toda a cama pra você. 

— Só queria estar ao lado do meu amigo pra recompensar tudo pela Chloe. 

— Mesmo assim, poderia ser menos espaçoso. Babaca. - rimos. 

Fomos até o colégio caminhando, e tudo que pensava no caminho era meu beijo com Melissa. 

— Tá tudo bem Adan?

— Quê? Claro... tá sim. - estava distraído.

— Vamos andar rápido, faltam três minutos para o sinal tocar.  

— Sim, vamos...

Chegamos na entrada, e lá vejo Justin e Melissa se pegando de novo. Fico bem mal, mas finjo que tava tudo bem. 

— Oi gente. 

— Oi Adan, Carter. - ela sorri graciosamente. 

— Eai. - Justin também cumprimenta. 

— Vão indo pra aula de cálculo garotos, encontro vocês lá. 

Obedecemos, eles continuam conversando enquanto nós vamos para sala. 

— Posso ser sua velha dupla de novo? - pergunta Carter. 

— Claro que sim. Desde que não saia correndo pra ver como Chloe está. 

— Estou em uma dieta zero Chloe no momento. - brinca. 

Rio, ele me olha e sorri também. Finalmente meu amigo havia voltado a ser como antes. O Carter que conheci, o verdadeiro e único, aquele que ajudei enquanto desabafava por perder a namorada mais nojenta da escola inteira. E não tinha como agradecer por isso. 

Mel chega depois que o sinal já havia tocado, o professor quase não a deixa entrar, mas sua idade o deixa mais "bonzinho". Era um velhinho muito bondoso afinal. 

— Onde estava? - pergunto. 

— Estava conversando com Justin sobre a banda. Acho que tenho uma ideia para uma música autoral. 

— Estava fazendo isso mesmo, ou estava esfregando seus lábios na boca dele? - digo sem pensar. 

— Como assim, por quê ta falando desse jeito comigo? 

— Não é nada, foi só uma brincadeira. - minto. 

A aula segue assim. Os velhos amigos estão de volta juntos, o me deixa bem menos depressivo. Não estava com raiva dela ou algo do tipo, só... Bom nem eu sei direito.

Carter e eu mandamos muito bem na atividade em dupla, enquanto Melissa fez com uma garota que nunca tinha falado antes, foi o que sobrou para a coitada, seu nome era Dawn Haruka, tinha descendência japonesa. Era linda, pode se dizer, tinha longos cabelos castanhos claros e um olhar penetrante.

Depois, já no horário do intervalo, fomos até o refeitório onde Justin nos encontrou.

— Melissa, os ensaios da banda começam hoje depois do horário de aula.

— Tudo bem estarei lá com certeza. – sorri.

— Está compondo a música que me contou ontem à noite? – pergunta.

— Sim estou, espero que gostem!

— Vindo de você é claro que vou.

— Mas e o time de basquete?

— Eles não sabem, não quero sair do time. Vou ir escondido deles.

— Isso não é legal.

— Não é legal abandonar as coisas também. Vou indo agora, preciso encontrar os caras do time. Até mais.

Ela acena com a cabeça.

— Então vocês se falam fora da escola também? – pergunto.

— Adan, me diz logo por quê está assim..... Foi por causa daquele beijo de ontem?

— Quer saber foi sim. A gente se beijou, e hoje vejo você beijando ele? Nada contra o Justin, ele é incrível, mas...

— Adan, sabe que sou sua melhor amiga... Não podemos, você sabe...

— É sei sim. Até mais amigona.

Sai de perto da cantina e fui para o banheiro masculino. Encosto na parede, escorrego minhas costas contra o azulejo azul marinho, sento, e começo a fazer o que faço de melhor... Chorar.

Não demora até Carter chegar.

— Calma, vai tudo melhorar.

— Como você sabe?

— Olha, digamos que um grande amigo meu me disse isso uma vez. – diz sorrindo para mim.

— Ironia, até ontem cedo esse “amigo” não existia para você não é? Só pensava em Chloe, e os seus planos para transar com ela.

— Para começar eu não precisaria de planos, e segundo eu era um idiota. Você foi o primeiro a me perdoar, porque isso agora?

— PORQUE EU CANSEI DE NUNCA CONSEGUIR SORRIR. Todas as vezes eu escondo o que sinto atrás de um sorriso. Me sinto machucado, sinto que todos vão me abandonar de novo. Eu queria ter segurança, mas tudo que tenho é a certeza que vou voltar para a escuridão.

— Adan, então me deixe tira-lo dessa solidão?

— Como?

— Sendo seu amigo, seu verdadeiro amigo. Eu não vou sair do seu lado, pelo menos não mais. Eu prometo.

Olho para ele com um falso sorriso, as lágrimas cessam repentinamente. Ele inclina e encosta sua cabeça em meus ombros, e por fim sorri.

— Vou estar sempre aqui.

Carter e sua maldita magia de me fazer melhorar nos piores momentos. Aliás não vimos Chloe até agora, isso era novidade.

Voltamos ao refeitório, ele estava com o braço em volta do meu pescoço, e não o retirou até sentarmos na mesa.

— Mel, quero pedir desculpas. Você tem razão, somos melhores amigos. Não iria funcionar. Eu só... não sei, ultimamente eu me sinto muito mal.

— Tudo bem Adan, não tem problema. Só para deixar claro, não tem nada entre mim e Justin.

— Eu sei, e mesmo se tivesse, ia ficar feliz por você. Amigos são pra isso afinal.

— Mas quanto a você eu já não sei. Sabe a garota com quem estava sentada hoje na aula de cálculo?

— Dawn? – pergunto confuso.

— Ela mesma.  – confirma.

— O que tem?

— Ela disse que sempre te achou um gatinho, e pediu seu número. Ela queria marcar de tomar um café hoje depois da escola, e eu meio que disse que você iria. Por favor não me mate...

— A Dawn? Tomar café comigo? Comigo?

— Sim, porquê? Você é um garoto incrível e bonito, melhor seria perguntar os motivos se ela não quisesse.

— Caramba...

— Você vai né?

— Bom, ta legal... Eu vou. – concluo.

Enquanto isso Carter se distrai com algo e acaba saindo correndo da mesa. Quando eu e Melissa olhamos bem percebemos que estava indo atrás de Chloe, que a proposito estava chorando, ou vindo dela forçando uma cena de teatro.

É claro que ficamos indignados, mas concordamos em segui-los, quando finalmente os encontramos, começamos a escutar a conversa.

— O que você fez? Tentou se cortar? – Carter pergunta.

— Me deixe em paz, não me queria fora da sua vida não é?

— Não me disse que estava mal.

— Mas estava, tanto a ponto de tentar suicídio.

— Isso é uma blasfêmia. – interrompo de surpresa.

— Adan, Melissa, me seguiram.

— Cale a boca traidor idiota. Mas quanto a você Chloe, está mentindo.

— Como assim? Acho que o idiota aqui é você.

— Não, não sou. Carter me disse que tem um psicólogo que te visita a toda semana.

— Sim, tenho mesmo. Algo contra?

— Quem tenta suicídio fica em observação geral por no mínimo 72 horas. Incrível que justo com você foi diferente não é.

— Deixe-me ver esse braço. – Carter a segura pelo pulso.

Ao afastar a blusa dos lugares dos supostos machucados, nada é encontrado. A cara que Carter fez depois de descobrir que era mentira não é nada fácil de explicar, só digo que ninguém gostaria de ver aquilo a noite em um quarto escuro.

— Não acredito que quase cai nas suas mentiras de novo. Como eu sou idiota.

— Carter, por favor me perdoe, fiz isso porque não queria mais falar comigo e estava me ignorando.

— E agora vou esquecer que existe. Até nunca mais.

Saímos por fim de lá. Ele pede desculpas por quase ser um retardado outra vez, mas nem ligamos muito, afinal se fosse verdade ele nunca mais se perdoaria.

Ao término das aulas me encontro com Dawn na porta, enquanto Melissa, parte para o ensaio da banda e Carter volta pra casa.

Havia chegado a hora de encarar meu primeiro encontro. Não nego, estava aflito...