Durante o sono minha mente viajava, repetia inúmeras vezes a grandeza do momento em que eu e Carter nos beijamos, e a maravilhosa sensação de quando foi com Melissa. Seria mesmo que estava dividido entre as amizades dos meus amigos? Tudo que pensava era que poderia perde-los por esses momentos de excitação em que nossos sentimentos falaram mais alto do que nossas razões. Agora tudo que me restava era esperar, o tempo diria tudo e todas as respostas que desejava viriam a tona. 

Acordei bem tarde. Carter já não estava mais no quarto, enquanto a Gary ainda dormia feito um bebê, um bem nerd. Vesti roupas e desci até a área de serviço do hotel, esperando encontrar Melissa por lá. Depois pensei que ela poderia estar ensaiando com a banda novamente, principalmente pelo enorme sucesso que fizerem entre o pessoal do colégio, desisti de procura -la. Encontrei então Chloe, que lia um jornal, sentada na enorme e vermelha poltrona do hotel. 

— O que acha de irmos tomar um sorvete? Todos já foram na sorveteria da esquina e dizem que é muito boa. - dou a idéia. 

— Como se tivesse coisa melhor para fazer nessa grande porcaria. - diz. 

Subo ao meu quarto novamente, apenas para pegar meu chapéu de moda local que havia comprado ainda no aeroporto, não minto, adorei, além de tirar muitas fotos a todo momento com ele. 

Saímos do hotel, as pessoas de Paris valorizam muito a imagem que irão transmitir, todas bem arrumadas e com uma pose inigualável, as mulheres então nem se fala, todas bem perfumadas e bom um belo decote. Tinha até aquelas mais idosas passeando com aqueles cachorros com pouco pelo, igual mostra em muitos filmes por ai. 

Andamos até a esquina e em menos de dois minutos estávamos lá. Por mais uma maldita obra do destino Carter e minha ex estavam sentados em uma das mesas do estabelecimento, dividiam um sorvete de frutas com calda de menta, uma péssima combinação, se é que me permitem. 

Chloe escolhe sentar bem ao lado deles. As vezes me pergunto se ela ainda sentia algo por Carter, ou até mesmo indago porque nós ficamos tão próximos repentinamente se antes não podíamos ver um ao outro. Apenas ignorei. 

Pedi um de Nutella, meu favorito, enquanto Chloe preferiu pegar um simples de morango. 

O sorvete estava impecável, agora entendia a fama do lugar. Olho sem intenções para Carter, havia sorvete escorrendo de sua boca, ele passa a língua em teus lábios para limpar, algo que qualquer garota diria sexy, ou garotos também, vai saber. De repente ele pisca um dos olhos para mim, e mais uma vez vem o sorriso, aquele maldito sorriso. 

Porque fazia sempre isso comigo? Mexia comigo e depois simplesmente me derrubada verbalmente. Eu sentia que já estava na hora de por um basta, mesmo sabendo que me daria muito mal com isso. 

Levanto-me da mesa e vou até a onde estavam os dois sentados. 

— Por que você faz essas coisas? Porque uma hora é legal e na outra me bota para baixo obstinadamente? 

— Não enche Adan. 

— Você esta drogado de novo? 

— E se estivesse? Para de se preocupar tanto comigo, cuida da sua vida! - diz sarcasticamente. 

— E a promessa de sempre sermos amigos? Acabou? - pergunto com os olhos já cheio de lágrimas. 

— Dawn é minha verdadeira amiga, ela me entende e consegue me fazer feliz. 

— Te drogando? 

— JÁ DISSE PRA PARAR DE SE PREOCUPAR IDIOTA. 

— Não conheço mais você. 

— Já chega vai embora. 

— Você é um grande panaca. - digo virando as costas. 

— O que disse? - levanta-se bravo e aperta os punhos com força. 

Ele me empurra, caio por cima da mesa de uma senhora que não tinha nada a ver com isso. Revido com outro empurrão. Foi isso até um guardinha de rua nós parar. Ele nos separou, mas o pior de tudo foram suas palavras. 

— Vocês vão para a delegacia por causa da destruição que fizeram. Até seus responsáveis não virem te buscar vocês não saem. - pelo menos foi isso que traduzi com a ajuda do meu mini dicionário francês. 

Posso afirmar... Estávamos literalmente fodidos. 

Lá estávamos nós, dois jovens de 16 anos presos em uma delegacia em Paris. E tudo graças aos meus pensamentos. Poderia se dizer que abalado era o que me descrevia no momento. 

Durante meia hora ficamos os dois um encarando o outro com caras e bocas, dentro das grades, até que por fim resolvo falar. 

— Achava que me queria como amigo. 

—Adan, olha me desculpe. Eu sei como você se sente e sei o seu medo. Eu realmente sou um idiota. 

— Eu que devo desculpas, não deveria querer medir seus relacionamentos com ninguém. — É que eu acho que...

— Sentiu ciúmes? - pergunta sorrindo. 

— Não sei, é que...

— Relaxa, é normal. Vou admitir, quando beijou Melissa eu também senti o mesmo. 

— Gosta dela? Da Melissa eu digo. 

— Senti ciúmes por você Adan! 

Meu coração mais uma vez parou, mas dessa vez era mais frio que o da Elsa do Frozen. Minhas mãos tremiam e já não saiam mais palavras de minha boca. 

— Só vamos parar de brigar, amigos não brigam tanto assim. - conclui por fim. 

— Ta bem... - concordo. 

Finalmente nossa professora aparece toda descabelada e desesperada na delegacia. Fala então com o chefe da polícia local. 

— Meu senhor, sinto muito pelos meus alunos! Estamos em intercâmbio aqui, mas não sabíamos que haveriam uns que fossem dar tanto trabalho. 

— Tudo bem senhora, é só assinar essa papelada e eles já podem sair, afinal o pai de um deles já pagou os estragos da sorveteria. 

Só poderia ser o pai de Carter, ele mima o filho com dinheiro. Aposto que ele ou a irmã nunca ouviram a frase "Não podemos pagar isso".

— Tudo bem senhor policial, mas é senhorita viu, SENHORITA. 

— Ok senhora, podem ir. 

Finalmente somos liberados da cela depois de praticamente uma hora lá dentro. 

— Vocês estão muito encrencados. O chão do hotel espera por vocês! - diz. 

Até que nos livramos fácil. Além de fazermos as pazes ainda só tivemos que limpar os pisos da área de serviços. Ele ficava jogando espuma em mim toda hora, eu contribua, e assim passamos o resto do dia, pagando nosso castigo, mas nos divertindo com isso. 

Carter era uma amizade que queria levar pelo resto de minha vida, mesmo sabendo que uma hora ou outra a minha escuridão ia voltar. Antes disso acontecer ia aproveitar todo o tempo o possível com ele, e é claro com as outras pessoas que eram meus motivos de continuar...