Estava uma noite agradável no santuário, para compensar os dias de calor que andava fazendo. Parecia que o sol estava mais próximo da Terra. Atlas estava sentado no trono do Grande Mestre. Tinha acabado de jantar e tinha ido pra lá, apesar de que por ele o santuário teria seu fim, ainda era o Grande Mestre. Seu cabelo estava cada vez maior assim como sua barba, ele não prestava muita atenção nisso mesmo com a sua barba coçando um pouco às vezes. Já fazia quase um mês que convivia apenas com alguns servos do santuário que lhe traziam sua refeição ou limpavam sua sala. Ele tentou os dispensar dando uma boa quantia para que eles vivessem bem, mas a proposta foi recusada educadamente pelos funcionários, que falaram que serviriam o santuário pelo resto da vida.

    Os dias depois da expulsão de Scarlet foram complicados. Tyrion, discípulo dela, vinha todo dia pedir pela sua mestra. Implorava, dizia que abandonaria o santuário para viver a vida que o Grande Mestre queria se a mestra dele voltasse; afirmava que ela viveu a vida toda como amazona e não saberia viver no mundo normal. Atlas não mudou sua decisão, mesmo aquilo o machucando por dentro. Conhecia Scarlet desde criança, treinaram juntos, passaram por muitas batalhas como companheiros e irmãos de guerra, mas ele sabia que tinha feito o certo.

— Te deixei pensar por uma semana seu touro teimoso. Já que não criou juízo eu mesmo colocarei em você! – Gritou Santino, invadindo o salão do Grande Mestre chutando a porta.

A voz de Santino ecoou na sala do Grande Mestre. Atlas pensava que tinha se livrado dele, afinal Santino já tinha ido lá no mesmo dia após a expulsão. O cavaleiro de outro trajava sua armadura de escorpião e parecia pronto para batalha com a sua unha escarlate brilhando.

— Santino, vá embora. – Atlas falou com sua voz cansada, olhando para o chão. Não queria ter que fazer o mesmo com Santino.

— Não enquanto você manter sua posição. – Santino começa a se aproximar, olhando fixamente para Atlas.— Conversei com Tyrion e ele me disse seus argumentos, quanta bobagem.

— Você não acha que esses garotos merecem uma vida melhor? Você não acha que você não merecia uma vida melhor? – Santino estava começando a irritar Atlas, que aumentou o tom de voz sem perceber.

— Eu sou um guerreiro Atlas! É tudo que eu sei ser. Meu pai era um guerreiro, foi tudo que ele me ensinou. Não sei ser outra coisa, não quero ser outra coisa. Se for preciso morrerei como um santo de Atena, assim como meu pai. – Atlas percebeu que Santino estava sofrendo com o que estava acontecendo.

— Santino... – Atlas baixou a cabeça olhando para o chão, apertando o apoio para o braço do trono com a mão. Estava tão cansado de tudo, achava que deveria ter morrido com seus companheiros na guerra contra Hades.

— O tempo de morrer passou meu amigo. Seu pai e nossos companheiros se asseguraram disso. Ares foi definitivamente derrotado na guerra santa passada, nessa derrotamos e matamos o corpo original de Hades, ele não voltará mais. Poseidon já é nosso aliado a mais de quinhentos anos é não tem a menor pretensão de mudar isso, ele perdeu o interesse na Terra. Então me diga Santino, por que você iria precisar morrer? – Perguntou Atlas agora olhando para Santino.

Santino ficou olhando Atlas com tristeza, nem Atlas se reconhecia mais. O Grande Mestre se levantou do seu trono e foi em direção a Santino, colocando a mão em seu ombro.

— É triste ver você assim. – Falou Santino com tristeza. — Te admiro desde criança, mas você não sobreviveu à guerra. Será que ela gostaria de ver você e Scarlet assim?

— Nós temos cavaleiros e soldados contratados para ajudar as nações afetadas, mas depois disso o santuário deve acabar. Ela morreu pela nossa paz. – Atlas voltou para o seu trono passando a mão onde deveria estar seu braço direito, perdido na guerra, enquanto Santino saiu sem dar uma palavra.

Já tinha se passando algum tempo desde a conversa com Santino, mas ela ainda deixava Atlas triste. Viu ele garoto crescer e tinha prometido para Luigi que cuidaria do garoto, não gostava de agir assim com ele. Aproveitando a brisa noturna, foi visitar a estatua de Atena. Gostava de olhar para ela e relembrar da sua querida Alice, sua amiga e companheira de treinos que depois ele descobriu que na verdade era sua Deusa. Alice era uma verdadeira deusa da guerra, lutou contra Hades varias vezes, derrotando o corpo do seu hospedeiro e o forçando a usar seu verdadeiro corpo. No fim, teve que se sacrificar para acabar de vez com o Deus do submundo. Algo que sempre machucou Atlas. Ela era a deusa e eu o guerreiro, eu deveria está morto e ela viva.

   Algumas horas haviam se passado desde que ele estava olhando a estatua, resolveu visitar a garota, mas ela estava dormindo. Lembrava-se de quando tinha se tornado santo e ficava tendo pequenas batalhas com Matt para entreter Alice e Scarlet, mas algo o tirou do mundo das memorias. Um cosmo diferente, um cosmo que ele nunca sentiu antes. Logo pequenos cosmos chegaram ao local e rapidamente foram se apagando. Mas o que é isso? Um ataque?

— Meu amigo, estava com saudades de você.

Então Atlas ouviu aquela voz, uma voz que ele não ouvia há anos e rezava com todas suas forças para ouvir mais uma vez. Uma voz doce e ao mesmo tempo forte era a voz dela! E ao se virar em direção à voz ele teve a certeza. Sua querida amiga Alice, sua amada deusa Atena. Ela flutuava na sua frente, como se fosse um anjo. O cosmo da deusa inundou o coração de Atlas de alegria, um cosmo gentil e afetuoso.

— Alice, você voltou? – As lagrimas rolavam pelo rosto de Atlas sem ele perceber.

A deusa sorriu amorosamente para Atlas.— Não meu amigo, o meu tempo aqui já acabou, mas vim te dar um aviso. Preciso que você volte a ser quem você era. A Terra precisará dos santos de Atena mais uma vez.