Caminho Incerto escrita por Clarinesinha


Capítulo 20
19 - Desespero




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Eu e o Martim deixámos a Mara sozinha com a Madalena, embora eu soubesse o que tinha acontecido para ela talvez fosse mais fácil falar com uma rapariga. A vontade que eu tinha era de ir a Lisboa e dar cabo daquele animal. Martim percebeu a raiva com que eu estava, porque eu não a conseguia disfarçar.

— Vê se te acalmas...não sei o que se passou, mas ficares com raiva não vai ajudar a Madalena...

— Eu sei, mas eu não consigo evitar...o que aquele animal lhe fez...- respiro fundo tentando acalmar-me um pouco...- Eu não sei se algum dia ela vai conseguir superar tudo o que lhe aconteceu.

— Perder os pais é difícil...eu já passei por isso. Perdi os dois num espaço curto de de tempo, tive a sorte de ter uma avó que me amou como um filho, mas mãe e pai são insubstituíveis.

— A Madalena perdeu muito mais que a mãe...ela perdeu-se por inteiro. Martim, a Madalena foi agredida pelo ex-namorado...e quando digo agredida não foi apenas com uma bofetada ou um pontapé...

Contei ao Martim tudo o que aconteceu entre mim e a Madalena: como nos conhecemos, as trocas de mensagens, o descobrir que afinal ela era menor. Até que chegou à noite em que tudo aconteceu, contei-lhe ao pormenor e depois de eu acabar, vi o Martim com lágrimas nos olhos e percebi que eu estava igual. Levantei-me de onde estava e decidi ir ter com elas, senti algo no meu intimo que me fazia ter medo, medo de perder o meu amor. Quando cheguei vi o olhar chocado de Mara, percebi imediatamente que a Madalena lhe tinha contado...

— Madalena...- a minha Rainha só chorava...e a Mara estava chocada com o que tinha acabado de ouvir...- Ele...

— Não. Ele não chegou tão longe eu cheguei a tempo. E só não matei o desgraçado ali, porque o nosso primo me impediu.- disse eu interrompendo a conversa das duas...- A Gabi já tinha chamado a ambulância e assim que olhei para a Madalena desmaiada, não pensei em mais nada...- sentei-me ao seu lado e abracei-a...- Não te deixei sozinha até que os teus pais chegaram ao hospital. Contei-lhes o que tinha visto, os médicos conversaram com eles, e confirmaram que houve apenas uma tentativa de abuso.

— Tu estiveste com os meus pais? Tu viste-os?- pergunta-me Madalena confusa...

— Sim. O teu pai estava bem nervoso quando descobriu o que te aconteceu. Acho que no início estava furioso contigo, por teres saído e mentido, mas depois a fúria passou para aquele desgraçado.

— Espera...tu sempre soubeste o que me tinha acontecido? Tu nunca pensaste em me contar? Tu mentiste-me Diogo...

— Eu não te menti. No início, quando te encontrei naquela capela eu nem sabia quem eras. Depois lembrei-me da minha "Rainha da Noite", mas eu percebi que tu não sabias quem eu era. Depois quando finalmente me reconheceste eu falei com o teu irmão e soube que tu não te lembravas de nada daquela noite e que os médicos disseram a todos que ninguém te podia contar...que se um dia te lembrasses então...

— Mas tu...eu confiava em Ti.- as lágrimas começaram a escorrer-lhe pelos olhos. Senti ali que a tinha decepcionado, que talvez...não eu não a posso perder apenas por querer protegê-la.

— Madalena, eu não consegui...tu já estavas a sofrer tanto por estares em Coimbra...

— Eu estava a sofrer porque ninguém me contava o que raio se tinha passado, porque todos olhavam para mim como se eu tivesse a culpa de tudo, e sabes que mais: Eu tive culpa, eu matei a minha mãe, eu coloquei o meu pai numa cama de hospital...

— Madalena, não é bem assim. Tu não pediste para que aquele animal fizesse o que fez contigo, a culpa não foi tua...- diz a Mara tentando acalma-la

— Foi Mara, porque a decisão de ir com o Richi naquela noite foi minha, de mais ninguém...- ela levanta-se, vira costas e afasto-se de nós.

— Madalena, Madalena...- grito por ela, mas ela ignora-me...corro um pouco e consigo para-la...- Onde é que vais?

— Quero ficar sozinha...- diz, e sai caminhando, e eu fico ali sem saber se vá atrás dela, ou se lhe dou este espaço...

— Diogo...- sinto Mara perto de mim...- Deixa-a sozinha um pouco, acho que foi muita coisa hoje. Ela precisa de se reencontrar, de perceber o que sente...vem, vamos...

— Não, eu não vou sair daqui.- e sinto uma dor no peito, como se algo estivesse a perfurar o meu peito...- Mara, ela está a precisar de mim...eu sinto...algo se passa com ela...- levanto-me e caminho por onde a vi desaparecer.

Assim que chego ao pé do lago, no mesmo local onde nos beijamos pela primeira vez , vejo algo que me faz gelar...a Madalena...no lago. Não ela não pode ter feito isto, atiro-me para o lago e grito pela Mara. Consigo chegar até a Madalena, os seus olhos estão fechados, pego nela e saio do lago. Coloco-a deitada na relva, Mara que felizmente ouviu os meus gritos chega com o Martim...

— Por favor, ela não pode...ela não...Mara salva-a, ela não está a respirar...- sinto os meus olhos a ficarem molhados, eu não a posso perder.

— Diogo, preciso que te afastes...- mas eu não largo a Madalena, não consigo... sinto alguém a puxar-me enquanto vejo Mara a fazer as manobras de reanimação. Só agora percebo que Martim está ao telefone.

— A Ambulancia está a chegar...- ele olha para mim e para a Mara...- Mara...

— O pulso está muito fraco, ela está em hipotermia, ajuda-me a retirar as roupas...- ela olha para mim...- Diogo, vai buscar a toalha que trouxemos, temos que a aquecer...- fico ali parado, não consigo nem ouvir o que a Mara me diz...- DIOGO...preciso da tua ajuda, sei que estás com medo, mas ela precisa de ti. Vai buscar a toalha...

Vou até ao carro e tiro a toalha e mais uma manta que encontrei no mesmo, chego e entrego a Mara que embrulha a Madalena, Martim está agarrado a ela sem a camisa fico vermelho de raiva, a minha irmã explica-me que o contacto de pele com pele pode aquecer a Madalena. Ouvimos as sirenes e pouco depois vemos os paramédicos a chegarem, Mara explica o que aconteceu e o quadro da minha Rainha, eles levam-na e Mara vai com eles, eu fico com o Martim e vou com ele de carro.

Assim que chegámos Mara entra e eu fico ali naquela sala à espera de saber da minha Rainha. Martim vai fazer a ficha dela, e tentar que entrem em contacto com o avô. Não demora muito e vejo-o, pelos vistos ele estava no hospital com o filho. Martim explica o que aconteceu, e que Mara está lá dentro com Madalena.

Eu continuo ali parado sem me mexer, parece que cristalizei, ouço o Martim a falar comigo a levar-me não sei para onde. Entramos num quarto, ele pede que eu tire as roupas e dá-me umas calças daquelas que os médico usam no hospital e uma Sweat dele. E só neste momento percebi que tinha as roupas ensopadas, mas o medo de perder a minha rainha era tão grande que nem consegui sentir frio. Ele pede que me deite na cama, e uma enfermeira entra, Martim diz que me vai dar apenas um antibiótico de prevenção pois estive muito tempo com a roupa molhada. Aos poucos fui fechando os olhos, e apercebo-me que o Martim me dopou, ele deu-me tudo menos um antibiótico.

Quando abro os olhos, vejo os meus pais e Mara ao meu lado...eles falam baixinho. Mas eu consigo ouvi-los, e percebo que a minha mãe está a chorar. Não sei o que se passou para estar aqui deitado, só me lembro de Martim a falar comigo, depois de falar com o avô da Madalena...a Madalena, e o meu coração começa a disparar, como é que ela está? Será que ela...não, ela não pode ter partido, eu não vou aguentar se ela...

— Ei...olha só quem acordou.- sento-me depressa de mais e sinto uma tontura...- Calma, o Martim deu-te um calmante para descansares, entraste em choque...não deves levantar-te assim...

— A Madalena? O que aconteceu com a Madalena? Por favor diz-me que ela está bem...por favor...- Mara olha para mim enquanto a minha mãe caminha até mim e tenta dar-me um abraço. Eu afasto-a com alguma rispidez,contudo, a única coisa que quero neste momento é ver o meu amor. Sim porque eu já aceitei que estou perdidamente apaixonado por ela...

— Diogo.- o meu pai grita comigo, sei que fui seco e até insensível com a minha mãe, mas o meu coração está ferido, está dorido...- Sei que estás preocupado com a Madalena, mas eu e a tua mãe estamos preocupados contigo...

— Desculpa pai, desculpa mãe.- digo dando eu agora um abraço à minha mãe...- Mara como é que ela está, quero ir vê-la, por favor, deixem-me ir vê-la...

— Não podes Diogo, a Madalena...ela...- Mara não consegue terminar de falar sem baixar os olhos, e quando levanta de novo, eu sei que a situação da minha Rainha é grave, a Mara não precisa de dizer mais nada...- Ela está viva, mas o estado dela é grave, não te vou mentir, ela está em coma.

Olho para a minha irmã como se lhe pedisse que retirasse o que acabou de dizer, que era mentira, que eu estava sonhar, mas a Mara apenas me abraçou. E o meu mundo acabou de desabar, a minha vida terminou neste momento e o meu coração partiu-se em mil e um pedaços. Eu não vou conseguir viver sem ela, sem o sorriso, sem as piadas, sem aquelas saídas doidas que eu amo.

— Filho.- a minha mãe abraça-me de novo, Mara junta-se ao mesmo abraço...- Ela vai ficar bem, temos que ter fé...- diz a minha mãe e desta vez eu não afasto nenhuma das duas, pelo contrário abraço-as e choro.

Deixo tudo o que está cá dentro sair: a dor e o medo, é tudo o que consigo sentir. Dor por saber que a Madalena esta a sofrer de novo, porque a dor dela se transformou na minha. E medo, um medo absurdo de a perder, um medo que faz com que o meu coração se aperte. Aos poucos vou-me acalmando e os olhos pesando de novo, tenho a certeza que a alguém me injectou de novo alguma coisa no soro...e tudo fica escuro de novo.

"- O Avô dela já cá veio duas vezes Mara, ele está furioso. Diz que a culpa é do Diogo, que ele vai apresentar queixa à polícia. Mara estou com medo, sabes que o teu irmão já tem ficha...e se..."- como assim apresentou uma queija contra mim, bolas eu salvei-a de novo, eu salvei a neta dele...

"- Aquele velho é...- silêncio...- Desculpa sei que não devia falar assim de uma pessoa idosa, mas aquele homem irrita-me. Mãe, não te preocupes eu estava no Parque com o Diogo e com a Madalena sei o que se passou, e o Martim também estava, então podemos ser os dois testemunhas."- a Mara como sempre a defender-me com unhas e dentes.

"- O que vai ser do teu irmão, ele não pode ter mais nenhuma queixa o advogado avisou-nos. E os avós da Madalena eles têm dinheiro Mara, tu sabes quem é aquele homem não sabes?"- não quero ver a minha mãe sofrer, a Dona Marina já passou por muito.

"- Sei, e depois. Não é porque é um poderoso juiz e político que me intimido. O Diogo salvou a Madalena, está tão destruído ou mais do que eles. Bolas, é a terceira vez que ele a salva e não ouvi nenhum deles agradecer uma vez se quer."

"- E achas que eles querem saber disso, para aquele Senhor o Diogo é apenas uma má influencia na vida da neta. Eu sei que o teu irmão errou muito no passado, que fez uma serie de asneiras e pagou por elas assim como todos nós..."

"- Ele pagou pelos erros, mãe foram dois anos longe de nós...ele aprendeu bem a lição.- e se aprendi, foram os piores anos da minha vida, dois anos longe de quem eu verdadeiramente amava e fiz sofrer. Acho que por isso o meu pai é tão firme comigo agora.- E queres saber mesmo com todos os seus defeitos, com todo o seu historial...ele é muito melhor que aqueles dois que estão lá no quarto com a Madalena."

"- E a Madalena, como é que ela está? Tu é que a estás a seguir, ou tiveste que passar para outro médico?

"- Eles bem quiseram tirar-me do caso, mas o Dr. Cabral não deixou, e eles tiveram que calar a boca e engolir o orgulho e colocá-lo no...naquele lugar...- a Mara nunca falava desta forma, a não ser quando estava mesmo chateada ou no TPM característico das mulheres.- Desculpa, sério desculpa. A Madalena está estável o que para agora não é mau...temos que esperar que o corpo recupere."

"- Achas que ela vai sair desse coma?- pergunta a minha mãe e eu quero muito saber a resposta, mas de novo a escuridão me cerca e eu deixo-me ir por ela, mesmo que tente lutar contra ela é mais forte que eu.

 


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