Alvo Fácil escrita por Ametista


Capítulo 5
O confronto


Notas iniciais do capítulo

Eeeeaí? Galera, vocês não decepcionam mesmo! Esses comentários me fizeram ganhar a semana! Agora, em contrapartida, acho que vou precisar decepcioná-los um pouquinho. Esse capítulo precisou ser dividido... e acabou que a explicação ficou para a próxima parte. Espero que me perdoem!



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O BMW avançava na madrugada em meio à autoestrada que cortava o deserto rumo à Los Angeles. Pisei com mais força no acelerador, testando os limites de velocidade do carro ao que Freddie, acomodado no banco do carona, fazia alguns curativos improvisados em seus ferimentos – um corte no supercílio e outro no antebraço, não havendo muitas opções para o na parte interna da boca – com a caixa de primeiros-socorros se equilibrando no colo. Ele estava evitando olhar na minha direção, isso era evidente. E também percebi que ele aceitou minha ajuda por temor à morte e não por necessariamente por confiar na minha pessoa. Queria pressioná-lo para fazê-lo despejar tudo o que estava acontecendo, mas sabia que não era a melhor hora. Permaneci quieta, aguardando-o puxar assunto – afinal, Freddie tinha tantas perguntas por fazer quanto eu –, só que isso pareceu enfurecê-lo.

— Vai ficar calada a noite toda? – começou de má vontade à certa altura, o cenho franzido. – Não acha que me deve algumas explicações?

Balancei a cabeça e ri baixinho, sardônica.

— Estava esperando você se manifestar. – Olhei para ele com um sorriso largo. – Você ainda está com aquela cara de alvo no pelotão de fuzilamento. – Suspirei, revirando os olhos. – E, caso não tenha notado, eu não devo nada porque salvei seu pescoço. Montanha ia lhe transformar em chiclete.

— Conhece esse cara faz muito tempo? – questionou, os músculos tensos.

Dei de ombros, olhando sem ver a areia e a vegetação mirrada que se estendia pelo horizonte.

— Desde que me associei. Montanha já trabalhou com tio Carmine e depois comigo. Foi meu mentor de armas de fogo quando me tornei guarda-costas de Victor Montello.

— E você continua sendo guarda-costas? – indagou, esperançoso.

— Deve imaginar que não mais.

Freddie hesitou e mordeu o lábio inferior, me encarando com tristeza. Os olhos lampejaram várias vezes para a Lua, branca e quase perfeitamente redonda no alto do céu do deserto, antes de voltar a me dirigir a palavra.

— Você ia mesmo me matar, Sam? Considerando tudo o que já vivemos juntos?

Cometi o erro de olhar em seus olhos derretidos ao me espantar com a pergunta. O carro desacelerou.

— Não – confessei sem querer. – Eu jamais seria capaz. Mas vou esganá-lo se não começar a abrir o bico. Se vou entrar de cabeça nessa briga, tenho que conhecer o campo de batalha.

Silêncio. Freddie agiu como se tivessem lhe arrancado a língua, fitando seriamente a paisagem entorno pelo restante do trajeto.  

— Tudo bem, donzela – fingi me render. – Vou ser paciente nessa sua primeira vez.

Ele não riu da minha piada ruim.

As horas de passaram e, pouco antes da alvorada, a silhueta da familiar e esparramada Los Angeles surgiu no horizonte ladeada por uma cordilheira montanhosa. Pensei que Freddie havia pegado no sono durante a viagem, mas o vi se inclinar com uma ruga no cenho enquanto eu serpenteava com o BMW pelas ruas até a área industrial da cidade, mais precisamente próximo do porto.

— Por que não estamos indo até a polícia? – perguntou, parecendo perdido.

Reprimi um sorriso. Era tão irônico. Freddie não confiava em mim, mas confiava em policiais. Pobre idiota inocente.

— Por que já não foi até a delegacia? – sondei, tentando não dar a impressão de que estava zombando dele. Não deu muito certo.

— Não... – pigarreou, com um tom de rosa tingindo suas bochechas. – Não queria ter que me explicar.

Assenti, surpresa por vê-lo enrubescer. A última vez que assisti isso acontecer também foi em Los Angeles.

— Foi muito esperto da sua parte, Benson. A polícia está toda comprada – revelei. – Quando descobrissem que seu lindo nome de CDF está em um contrato, abririam caminho para o primeiro que desse as caras. Para a sua sorte, essa pessoa fui eu.

Algo em sua expressão me disse que ele não concordava comigo. Essa expressão se acentuou logo que estacionei diante de um galpão, aparentemente um depósito cargas marítimas de médio porte que de fato, quando se abria o portão, via-se lotado de muitas cargas armazenadas no primeiro nível. Entretanto, no que direcionei o veículo pela lateral e o dispositivo de segurança reconheceu o sinal da Viper, o sistema destravou e revelou a rampa que levava até o subnível. Entreouvi um ganido seco escapar de Freddie conforme descíamos e ele se dava conta do que construí. Desliguei o carro ao lado de outros dois e saí para fora – houve um clique na porta automática do apartamento com nossa presença, as luzes se acenderam e o ar-condicionado começou a funcionar.

Não era exatamente um apartamento. Na verdade, era bem difícil definir aquele lugar além de um refúgio de quem se preparava para uma guerra. Havia um quarto com uma cama grande e confortável, um closet com roupas e disfarces diversos, uma sala com sofá e TV de tela plana, uma cozinha com um estoque bem abastecido de mantimentos que eu trocava regularmente, um banheiro espaçoso... mas tudo isso era dividido com paredes à prova de som, uma área de treinamento repleta de armamentos pesados e uma sala de interrogatórios do lado externo.

A primeira coisa que fiz ao adentrar foi tirar as botas e, Deus do céu, aquela regata de combate apertada, ficando somente com o sutiã. Suspirei, aliviada, indo direto até a geladeira, contente por ter enfiado algumas latas de refrigerante nela no dia em que passei por ali. Peguei uma a mais para oferecer ao Freddie, porém ao girar os calcanhares percebi que ele não estava atrás de mim.

— Freddie? – chamei, confusa. Onde ele havia se metido? Será que estava explorando o local? Com um sobressalto, larguei as latas e disparei para a área de treinamento atrás da sala de TV. – Freddie, cuidado! Não toque em nada!

Como eu calculei, encontrei-o com os olhos correndo pela minha coleção de armas, sobretudo as pistolas Glock. Soltei o ar – que nem reparei que havia prendido –, mas ergui a sobrancelha quando Freddie se voltou para mim. Estava empunhando uma espada de esgrima, um dos itens que eu mantinha mais por decoração do que por qualquer outro motivo.

— Você é uma assassina – murmurou com a voz trêmula, a postura defensiva, os olhos flamejantes. – Foi enviada para me matar. Era o que estava fazendo no baile, não é, Sam? Quando você apareceu em minha casa com todas aquelas incriminações... Pensei que tivesse escutado algum rumor, trabalhando como mensageira, talvez, e que havia ficado preocupada com o que pudesse me acontecer. Mas jamais imaginei algo assim... Jamais imaginei algo tão baixo... Não de você, Sam Puckett. – E me apontou a espada.

De início, fiquei completamente imóvel, sem entender aquela lâmina em riste apontando para o meu peito.

Em seguida, uma fúria sem tamanho me subiu o corpo; como ele se atrevia a me julgar depois de tudo o que fiz por ele? Depois de ter me arriscado por ele?

Como um interruptor que apaga uma lâmpada, qualquer empatia que eu possuía pelo homem na minha frente, o homem que um dia amei, se desligou; repentinamente Fredward Benson era só mais um alvo, um inimigo que eu devia derrotar. Ele viu a mudança em meus olhos, a caçadora intrépida assumindo o controle. Investiu com um movimento da espada, mas como espadas de esgrima são feitas para perfurar e não cortar, eu chutei a base da lâmina para a esquerda e joguei o corpo para a direita, parando junto às outras espadas e puxando uma para mim. Avancei sem dó nem piedade ao mesmo em que ele tentava ardorosamente se proteger do meu ataque selvagem; Freddie era um esgrimista habilidoso, no entanto – como ele bem salientou – eu era uma assassina, e uma que passou anos sob a tutela de gênios das artes marciais. A ponta de minha espada roçou feito o toque de uma pluma por seu antebraço – o que ainda não estava ferido – e um filete de sangue se desprendeu da pele clara. Girei a lâmina com uma agilidade precisa na dele e então o punho da espada saltou de sua mão, rolando pelo piso emborrachado.

Uma vez que o vi desarmado, minha visão se tingiu de vermelho puro. Atirei a espada para o lado, onde se espetou na parede, e rodopiei o corpo para perto antes de acertar um soco no espaço entre seu ombro e o peito. Mal Freddie cambaleou com o golpe, puxei seu braço por cima da cabeça, fazendo-o tombar de costas no chão. Empoleirei-me por cima dele, puxando uma faca do cinto e pressionando o antebraço contra seu pescoço, meu sangue cheio de adrenalina pulsando alto nos ouvidos.

Freddie não olhou para a faca posicionada a centímetros da sua jugular. Ofegante, de lábios entreabertos, tinha os olhos presos nos meus e não havia qualquer nota de medo ou confronto neles, o que além de me perturbar me enervou mais. Havia outro sentimento, porém, um mais forte e mais intenso, e que eu não soube definir até que ele baixou o olhar sedento para meus seios, que quase irrompiam dentro do sutiã de renda negra.

Minha resistência não durou um segundo.

Lancei a faca para longe e de súbito eu estava devorando sua boca, sendo correspondida com a mesma ferocidade. Freddie me enlaçou pela cintura e girou por cima de mim, os lábios molhados percorrendo uma trilha de fogo até minha clavícula, as mãos desafivelando o cinto com uma urgência desenfreada. Escutei o objeto caindo em algum canto ao que meus dedos cobiçosos buscaram os botões de sua camisa, mas Freddie foi mais impaciente que eu; abriu-a com um puxão, arrebentando os botões e se livrando no pedaço de pano em um único impulso. Desci as unhas por suas costas largas, fazendo um rugido baixo e primitivo ressoar em seu peito, arrepiando-me por completo com as ondas que se espalharam pelo meu corpo com o roçar de sua barba na pele sensível de meu pescoço. Quase bestial, ele se afastou para puxar minhas calças e uma vez que conseguiu, fez o caminho de volta com mordidinhas na parte interna da minha coxa.

Eu sabia que era errado. Tinha certeza que me arrependeria mais tarde. Mas não consegui pensar em mais nada quando ele tirou meu sutiã e tomou meu mamilo enrijecido com a língua e... Ah, droga! Aquelas sensações... Mordi o lábio inferior para não gemer ao que suas mãos cálidas me apertavam, arqueando a coluna em sinal de entrega e sentindo o meu ventre latejar na necessidade louca de tê-lo. Enquanto eu o assistia terminar de se despir e me revelar sua nudez deliciosa, libertando a presunçosa ereção e voltando a se debruçar faminto sobre mim, me ocorreu que havia uma cama macia a não muitos metros de nós, mas isso já era longe demais com o desespero que tínhamos de matar a saudade um do outro. Analisei-o de cima a baixo, sentindo minha boca ficar seca de desejo.

Aquele maldito meio sorriso cínico curvou sus lábios.

Enterrei meus dedos em seus cabelos com força, arrastando sua boca para a minha com avidez em aplacar a agonia que me queimava, e essa agonia só ficou maior quando o senti me preencher, invadir-me até o fim. Suas estocadas violentas, raivosas e nada gentis alimentaram essas chamas, aumentando o incêndio que me consumia por dentro e me deixava de pernas bambas, e quando o ápice enfim me alcançou, eu me fragmentei em uma explosão devastadora sem conseguir conter um grito. De algum lugar distante, ouvi Freddie gemer alto e desabar sobre meu peito, onde um coração batia rápido e desembestado.

Mantive os olhos no teto à medida em que tentava acalmar minha respiração arfante e não ousei me mexer um milímetro que fosse, mas Freddie sim. Seus olhos castanhos, aqueles mesmos olhos que me davam a impressão de ter os ossos transformados em geleia, procuraram os meus em uma pergunta silenciosa – estávamos tão conectados que palavras eram totalmente dispensáveis. Devíamos conversar agora, colocar tudo em pratos limpos, esclarecer as diferenças e as adversidades que nos levaram àquilo?

Pensei por um momento, no entanto acabei girando por cima dele com um sorriso diabolicamente malicioso, apertando as pernas em torno de seus quadris. Podíamos deixar a conversa para mais tarde.


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Notas finais do capítulo

E então, estou perdoada por deixar as revelações só para o próximo??



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