Oásis Proibido escrita por Machene


Capítulo 9
Punições




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Cap. 9

Punições

 

{Prédio 13, 30/10, 08h}

— Uma festa de Halloween? – questionam ao mesmo tempo os presos da cela 13 e o da 11, todos sentados no chão do primeiro recinto.

— Isto! – a produtora cultural da prisão acena contente, de pé em frente a eles – Eu pensei bem e acho que vocês estão merecendo alguma diversão, visto que agora já andam obedecendo as normas do presídio e trabalhando direitinho para reduzir sua pena.

— Mas alguns dias atrás nós recebemos permissão para ir à festa na piscina do prédio 5. Outra festa não vai irritar os guardas e supervisores?

— Não mele nossa diversão, Tsukumo! – Uno reclama – Esta atração é do tipo que estávamos precisando. Eu sou a favor! – ele declara rapidamente, erguendo a mão.

— Eu também! Faz tempo eu queria saber como é uma festa de Halloween!

— Não vai ser como o evento tradicional, Nico. – Usagi explica com o indicador da mão direita levantado – Nessa data as crianças costumam pedir doces de porta em porta depois de se fantasiarem, e é permitido pregar peças. Por isto é uma das minhas épocas favoritas do ano! – ela confessa sorridente, recebendo um peteleco na testa de Serafina.

— É, e justamente por estes detalhes nós não recebemos permissão para deixar vocês andarem livremente de prédio em prédio. – a terapeuta continua explicando – Mas todos vamos poder comemorar o evento na noite de amanhã, no salão de festas da prisão.

— Nós temos um salão de festas? – Jyugo indaga um tanto surpreso.

— Ah, o que importa?! – Rock dá de ombros – Estou animado! O que vão fazer?

— Bem, terá diversos comes e bebes de diferentes países no dia. – Kazumi prossegue – Paola fez a encomenda com a ajuda do Shiro. E quem quiser também terá a chance de se caracterizar para o evento, com fantasias elaboradas pela Alita e fabricadas com ajuda do senhor Kiji e dos meninos do prédio 3. Esme se dispôs a ajudar na preparação daqueles que desejarem. Irina e Victória cuidarão dos preparativos quando Hoshi avisar da chegada do navio com a carga de equipamento da festa, mas Min-Hee já está fazendo ajustes no salão para a instalação da parte eletrônica da decoração.

— E eu vou conferir toda a lista de suprimentos necessários para estocar o que sobrar, e assim não faltará nada na festa. – a almoxarife relata – Todos os supervisores e guardas vão participar da festa, porém aceitaram relaxar um pouco no monitoramento e deixá-los se divertir. Cada um vai ajudar como pode.

— Bom, se todos estão de acordo, eu com certeza quero contribuir. – Tsukumo diz.

— Eu também. Embora não tenha certeza do que eu possa fazer.

— Pode verificar as rotas de fuga. – Victória brinca, fazendo todos rirem – Desculpe gatinho heterocromático, força do hábito. Vai descobrir o que só você pode fazer, Jyugo.

— Tudo bem garotas, a hora da visita acabou. – Yasmin informa ao abrir a cela 13.

— Ok, já terminamos. De qualquer forma, só viemos dar o aviso. Aproveitem o dia de folga de vocês, que amanhã todos vamos curtir até depois da meia-noite!

— Não haja como se fosse virar madrugada adentro enchendo a cara de bebida, pois comigo aqui isto não vai acontecer mesmo.

— Sim senhorita, inspetora da conduta! – a latina atrevida caçoa ao passar pela atenta guarda – Mas não seja chata só porque conseguiu pra gente permissão e alguns dos seus contatos fiéis de mais importantes para fazer a festa acontecer. Está dizendo essas coisas agora, mas duvido que quando os outros começarem a armar alguma competição no dia, você vai se recusar a participar para manter a compostura. Mesmo com o Yamato lá.

— O que tem o Yamato? – Jyugo questiona diante o sorriso malicioso da produtora cultural, fazendo a brasileira corar.

— Nada! Vão logo, deem o fora que eu ainda tenho muito o que fazer!

— Até amanhã meninas! – Uno acena, tal qual os outros presos, e elas retribuem ao partirem antes de Yasmin levar os detentos até outro cômodo para criarem novos objetos de mobília ou artísticos; ou ambos, dependendo do ponto de vista da bagunça.

...

{Refeitório, 30/10, 12h}

— Yamato! – o vice supervisor vira a cabeça a tempo de ver a dona da voz feminina que o chamou se aproximar como um relâmpago e sentar ao seu lado.

— Oh, senhorita Yasmin. – ele sorri, interrompendo o caminho do arroz no hashi em sua mão direita – Vejo que pegou pudim hoje. É uma sobremesa deliciosa.

— Pode parar, tá?! – ela pede ao deixar a bandeja com sua refeição sobre a mesa, e olha para os lados com desconfiança, deixando-o inquieto – Acho que estão sabendo da gente. – mal a brasileira termina de falar, o japonês larga a comida e chega mais perto.

— É sério? Quem? Pensei que estávamos sendo discretos.

— Agora mesmo não tem nem perigo de parecer isto. – Yasmin segura a vontade de rir ao vê-lo corar e se afastar um pouco, bebendo um gole de sua bebida, e resolve fingir que também está aproveitando tranquilamente sua hora de almoço – Eu também pensei que ninguém tivesse suspeitado do nosso envolvimento extraprofissional, mas Victória foi bem insinuante comigo esta manhã. Talvez mais alguém além dela suspeite de nós.

— Bom, isto é preocupante... Mas sabíamos que poderia acontecer, não é mesmo?!

— Que sorriso é esse? Você entendeu a gravidade do que estamos enfrentando? Não podem nem sonhar que estamos... Juntos. – a loira desvia os olhos um tanto rubra, logo voltando a encará-lo com nervosismo – Se descobrirem, além de perdermos nossos cargos no mesmo instante, você será punido e eu receberei, no mínimo, um imenso sermão.

— Ora, eu não estou dizendo que não me importo. Contudo, quando ocorreu de nos cativarmos um pelo outro, entendíamos bem os riscos, e ainda assim aceitamos. – a moça enrubesce mais e abaixa o olhar outra vez, remexendo na comida com a colher separada para o pudim, então Yamato suspira, retomando um sorriso mais terno ao olha-la de banda – Se sua família ficar aborrecida, eu posso dizer que a culpa é toda minha.

— Ninguém vai acreditar que você me seduziu e eu cai neste truque. – ela rebate em voz baixa, com um biquinho deprimido.

— Talvez se eu for mais duro. Embora não tenha certeza se consigo bancar o vilão.

— Não, não consegue. – os dois riem de leve – Mas faria mesmo isso por mim?

— Claro. – ele responde sem pensar duas vezes, despertando um sorriso carinhoso nela ao tomar sua mão por debaixo da mesa – Você me disse que a sua família é rígida e rigorosa, principalmente se tratando de relacionamentos no trabalho, então não quero ser responsável por estragar o marco inicial em sua desejada carreira de patentes.

— Não vai estragar. Você tem razão; sabíamos do que pode acontecer quando fomos nos envolvendo, e ainda não quero desistir do que temos. No começo pode ter sido apenas um escorregão quando te ajudava a alimentar Yamatomaru, mas se ele não tivesse jogado aquele monte de feno no meu caminho naquela hora, talvez não tivéssemos percebido que nos damos tão bem juntos. Afinal, quem melhor do que uma descendente de militares pra lidar com a sua falta de senso de direção? – ambos dão risada.

— É verdade! Se não fosse você, eu ainda estaria me perdendo pelos corredores!

— Eu sei. Realmente não me importa continuar te seguindo pra ajudar com isto, pelo tempo que for necessário. – o vice supervisor vira todo o rosto para fita-la desta vez.

— Eu acredito que ainda vou precisar muito da sua ajuda. De você.

— Estou bem com esta ideia. – a guarda declara sorridente e rubra, bebendo um gole da sua bebida e incentivando-o silenciosamente a retomar a refeição dele sem soltar sua mão – Você é um homem maravilhoso, senhor Yamato. É atlético, esforçado, gentil e, na minha opinião, melhor amante do que guerreiro, – neste momento, o japonês engasga de surpresa e tosse um pouco, fazendo-a rir – embora assuma muito bem o outro papel.

— Obrigado. – ele agradece com as bochechas quentes, bebendo para disfarçar.

— Minha família seria louca se não gostasse do senhor, então acredito que não seria problema se soubessem de tudo. – a brasileira morde a ponta do lábio inferior – Embora esconder ainda seja excitante. – Yamato abre um raro sorriso malicioso ao escutar o seu sussurro, sabendo que a experiência trocada por ambos, sendo nova e antes impensável da parte dela, consegue render muita emoção e adrenalina, porém rapidamente retorna ao seu estado cavalheiro, notando algumas pessoas prestando atenção.

— Deixe-me ajudá-la com seu hashi. – ele toma os palitinhos da bandeja da jovem e os ajeita na mão feminina, ensinando a pegar a comida.

— Obrigada. Ainda sou uma tragédia usando isto ao invés de talheres! – eles riem de leve, entreolhando-se com cumplicidade – Talvez mais tarde também possa me ajudar a carregar alguns materiais pesados. Eu sinto que, da mesma forma, ainda precisarei contar muito com o senhor. Do mesmo jeito, continuarei aos seus serviços.

— É muito bom saber. Será um prazer.

...

{Salão de festas, 31/10, 15h}

— Oh, agora sim este salão está começando a ganhar mais cor! Very chic!

— Não é?! – Tiffany concorda com Mitsuru, pondo as mãos na cintura e se voltando para a parede de frente para a porta – Oi, rapazes, ainda não arrumaram essa faixa?

— É difícil acertar a posição quando não estamos enxergando de frente! – Samon rebate aborrecido, segurando uma ponta da faixa onde se lê “Feliz Halloween”.

— Não pode nos dizer se está torto? – Hajime pede cansado, de cima de outra escada na ponta contrária – E pare de puxar a corda para o seu lado, macaco!

— Me chame de “macaco” outra vez e eu faço você engolir seu quepe!

— Calem as matracas, vocês dois! – a texana grita de baixo – Se rasgarem essa faixa que a Kazumi teve tanto trabalho para fazer, vão receber quinze chicotadas cada um!

— Melhor escutarem e fazerem uma trégua por enquanto, rapazes! – ri o locutor de rádio ao ver a dupla suspensa fazer careta e recomeçar a posicionar a faixa de acordo com as orientações da sua parceira loira, então ele vai para perto de Kazumi – Oh! A senhorita Kazu-chan tem talento para decorar ambientes! – a moça sorri enquanto ambos admiram a mesa colorida que terminou de organizar, posicionando doces e vários outros quitutes e bebidas de maneira atraente entre os enfeites assustadores da ocasião – Que mãos de fada!

— Não é para tanto senhor Mitsuru, está me encabulando. – ela responde corada e contente – Na verdade, eu adoro fazer decoração. Em todas as festas na minha casa, me acostumei a preparar e montar todos os enfeites e demais acessórios.

— Ora, ora. Aposto que seus pais pensaram que fosse trabalhar com isso um dia.

— De fato. Acredito que na opinião deles, principalmente na do meu pai, eu deveria ter seguido esse caminho ao invés de escolher ser investigadora. Ele adora seu trabalho, mas acha que minha personalidade é incompatível com esta profissão. Penso que eles se sentiriam melhor se eu seguisse uma carreira, no máximo, parecida com a da minha mãe.

— Oh. – o ouvinte resmunga pensativo – Se quer saber, eu não consigo imagina-la vestindo terno. – os dois riem de leve até ele levantar o indicador – Mas é fácil perceber que se importa com os condenados e deseja ajudar os necessitados de maneira justa, então talvez se saísse bem como advogada. Entretanto, se sente satisfação no serviço que está prestando agora, não há mais o que pensar: está no lugar certo.

— Sim, eu creio no mesmo. – ambos sorriem alegres, e neste momento Celiny surge com Seitarou no encalço, segurando várias caixas – Ah, olá pessoal! O que trouxeram?

— Montes de velas e lanternas de abóboras. – responde a inglesa, arqueando uma das sobrancelhas – Aliás, se as abóboras acendem, para quê precisamos de velas?

— Bem, as lanternas não são eletrônicas. As velas vão dentro das abóboras para elas acenderem e iluminarem o ambiente à noite. – explica a japonesa.

— Ah tá. E onde podemos deixar as caixas, antes que o Seitarou se borre todo?

— Ali no canto. – a investigadora risonha aponta para uma parede – Perto da Min-Hee. Ela está terminando de instalar o som para colocarmos as músicas. Mas Celiny, por favor, tente ficar longe dos enfeites. Não me leve a mal, você sabe... É que...

— Eu tenho mania de destruir objetos inconscientemente. Eu sei, eu sei, não precisa se preocupar. Vamos Seitarou! Por aqui!

— Heim? – o rapaz tenta olhar por trás da pilha de caixas em mãos, se desesperando quando quase perde o equilíbrio, e a sua parceira suspira, dando a volta para empurra-lo pelas costas até o destino – Não tão rápido, senhorita Celiny!

— Vou diminuir o passo se parar com o “senhorita” e me chamar só pelo meu nome.

— Esses dois combinam bem juntos, não acha?! – Mitsuru pergunta insinuantemente.

— Bem, sim. Pode ser apenas impressão minha, mas parece que eles têm conseguido melhorar seus defeitos desde que começaram a trabalhar juntos.

— Deveras. A senhorita também tem causado muito impacto por aqui.

— Eu? Por que diz isto? – o locutor olha de banda a aproximação do recém-chegado prisioneiro 15 do prédio 13, encarando a moça atentamente no processo.

— Porque parece simplesmente impossível fugir do seu charme. – Kazumi sorri com graça, fazendo uma falsa careta de quem reconheceu uma esperteza, e ri quando ele beija sua mão direita em sinal de cortesia – Contudo, tome cuidado, my lady, pois nós somos eternamente responsáveis por tudo que cativamos. – sem entender a última parte, ela vê o guarda se afastar e vira o rosto ao sentir a chegada de outra pessoa.

— Oi. – Jyugo abre um sorriso tímido em comparação ao aberto dela – Vim ajudar.

— Que bom. Celiny e o senhor Seitarou acabaram de chegar com as lanternas. Quer me ajudar a monta-las? – com a confirmação esperada, a dupla inicia seus afazeres.

...

{Salão de festas, 31/10, 23h}

— Senhorita Irina! – Trois grita para chamar a atenção da moça no meio da música alta, se aproximando do balcão de bebidas onde está acomodada, sentada em um banco – Tomei a liberdade de lhe trazer mais um pouco de ponche!

— Obrigada. – ela responde ao tomar o copo da mão dele – O que está achando?

— Da festa? Animada. – os dois concordam, observando Hajime fazer uma queda de braço com Samon em uma mesa num canto enquanto, em outra ponta da concentração de casais dançando no meio do salão, Liang e Tsukumo disputam para ver quem consegue passar mais tempo bebendo umeshu de cabeça para baixo – Até Hitoshi e Henri vieram.

— É uma pena que Momo não pôde. O trabalho está acabando com ela.

— Talvez consigamos convencer o supervisor Hajime a levar alguma coisa para ela em seu escritório. – Irina fita o prisioneiro, de pé ao seu lado, com igual sorriso malicioso.

Nakhodchivyy. Gosto da sua maneira de pensar.

— E eu das vezes em que fala russo. Para tão exótico e atraente. – a russa corada ri.

— Vamos com calma senhor, que hoje eu já não sou tão adepta a brincadeiras.

— É uma pena. Embora eu não esteja brincando. – a jovem paralisa a mão com o seu copo de bebida no meio do caminho, encarando o sorriso faceiro dele, e quando seu rubor aumenta ela entorna o ponche – Uou! Aceita mais um?

— Martini desta vez! – a professora alerta olhando para o outro lado, então ele toma o próprio drink de uma vez e some no meio da multidão, voltando em pouco tempo com mais duas taças – Obrigada. – a loira agradece sem fita-lo, esperando que apoie os seus cotovelos no balcão outra vez – Sabe Trois, desde que nos conhecemos, eu pensei mesmo que fosse um sabido devorador de mulheres, mas não é pior que outros que conheci.

— Obrigado... Eu acho? – os dois riem de leve e ela bebe um gole de martini.

— Não me leve a mal. O problema está na minha confiança de que nenhum homem age sem segundas intenções, e eu só trabalho com pratos limpos.

— Entendo. Experiência própria? – Irina ergue a sobrancelha com um sorriso de ar travesso, igual ao de Trois, e balança sua taça de modo distraído.

— Uma vez eu fui abordada por um cara que começou a me dizer coisas vulgares, do tipo “você é muito gracinha para estar sozinha”, “vamos nos divertir juntos”, “adoraria te devorar todinha”. – ambos riem, ela com uma expressão de leve nojo pelas lembranças – Eu não ia poder com ele em matéria de força bruta, então fiz a primeira coisa que passou pela minha cabeça: dei uma de doida. – relata gesticulando – Disse “ah claro, vamos nos divertir! Eu sempre achei pouca a quantidade de idiotas que existem neste mundo. Vamos aumentar a contagem”. – o casal retoma as risadas conjuntas e a jovem esconde a boca por um breve momento com a taça – Ele ficou tão surpreso pela minha reação atirada que nem questionou o que eu dizia e se mandou. Pode não ter sido uma abordagem sutil, mas surtiu o efeito desejado. Ninguém mais mexeu comigo naquele dia, e a boate estava cheia.

— Você é incrível! Francamente, fico surpreso que nenhum homem com um pouco de inteligência tenha percebido isto. – a russa baixa o olhar de repente e seu sorriso reduz.

— É... Bom, teve um. – ela confessa bebendo mais um gole do martini, deixando-o atento novamente – Ele foi o meu último namorado. Talvez tenha ficado mais marcado na minha mente porque ele terminou comigo. – a professora ri sem graça – Não sei se foi só na minha cabeça, mas parecia que éramos apaixonados um pelo outro. Ele era esperto, atraente, rico; pelo menos o suficiente para ter uma vida de conforto e luxo. Tudo o que uma garota podia querer... Quer dizer, tudo o que as outras mulheres ao meu redor mais queriam. Na época eu era apenas a filha única, meiga e bonitinha, dum botânico com uma bióloga marinha. Não era muito vaidosa, nem confiante... Pensando bem depois, talvez não fosse mesmo o tipo dele. Mas ele me quis, e nós começamos a sair. Todo mundo nos invejava. – o prisioneiro escuta com lamento as risadas tristes dela sem se pronunciar – Mas aí apareceu outra garota. Ela era tudo o que eu não era: maliciosa, convencida... Todo dia se atrevia a aparecer de surpresa na porta da minha casa quando meu namorado vinha me buscar, e se convidava para sair conosco. Logo ele foi fisgado pelos caprichos dela.

— Sinto muito. – Trois diz após Irina virar seu drink, deixando a taça no balcão.

— Não faz mal. Eu me vinguei. – ela conta sorrindo maliciosa, apoiando os cotovelos no tampo de madeira – Primeiro dela, trocando suas compras no mercado para que usasse na máquina de lavar um tipo de sabão do qual era alérgica. Depois que saiu na rua lutando para não coçar a virilha em público, espalhei o boato de que tinha chato. – o rapaz arregala os orbes em surpresa, sem saber se acompanha as risadas ou treme de medo – Logo foi a vez dele. Pensei em cortar o seu pênis quando estivesse dormindo, mas não quis correr o risco de ser presa, então decidi deixar o nosso cachorro fazer o trabalho. Aproveitei que ele precisava pegar umas coisas em casa e fiz com que sentasse sobre o molho de carne que espalhei na cadeira. Depois... – a moça ri, tomando a taça da mão do ouvinte e dando um gole na bebida – Basta dizer que ele nunca mais comeu carne, ou andou ereto de novo. – o francês engole a seco, fazendo-a achar graça da cena – Acho que isso fez com que eu ficasse mais parecida com aquela cretina, mas não me importa. Mesmo assim, era chato escutar meus pais reclamarem da minha nova personalidade todo dia.

— Por isso aceitou o trabalho para o qual foi escolhida aqui? – a loira confirma com a cabeça, virando o drink garganta abaixo e largando a taça ao lado da outra no balcão, e se surpreende quando ele toma suas mãos e sorri – Não posso dizer que não fico feliz por nenhum desses trogloditas ter conseguido toma-la em mãos como se deve, mas lamento que suas experiências com eles tenham sido ruins, a ponto de achar que não exista alguém capaz de trata-la como uma dama deve ser tratada. Senhorita Irina, permita-me persuadi-la do contrário. – o jovem pede beijando-lhe a mão, deixando-a inquieta e corada, porém ela mantém um sorriso ao segurar seu rosto entre os dedos e força-lo a fita-la nos olhos.

— Não me importa o que ou quanto tente, não cederei ao seu charme. – a professora afirma, passando delicadamente os polegares nas bochechas masculinas em um carinho – Agora, contanto que não se arrependa de trocar a possibilidade de ter todas as mulheres do mundo para ficar apenas com uma, talvez possamos conversar sobre isto novamente.

— Podemos trocar uma ideia em particular agora mesmo? – o prisioneiro responde de imediato, tirando uma risada feminina, e acaba vibrando internamente quando ela toma sua mão esquerda e o guia para longe da multidão, saindo do recinto.

...

— Honey?! – o jovem se vira ao escutar a voz feminina lhe chamando e sorri vendo Esme se aproximar – Por que está aqui sozinho, do lado do som?

— Ah, pensei que neste canto escuro não atrapalharia os casaizinhos ternura. – os dois riem – Kiji está ali, brincando com as máscaras e tintas do Dia das Bruxas com Alita.

— Ela virou a melhor amiga dele. – a dupla concorda – E onde está Trois?

— Sumiu de repente. Eu também não vi Irina, então... – a francesa arregala os olhos em compreensão e cora, desviando o olhar por um instante.

— É... Eu queria saber se você não viu o meu irmão. Ele se separou de mim quando a música ficou lenta e também desapareceu.

— Pode ter saído com Hitoshi. Hajime estava procurando por ele antes de receber uma mensagem no celular. Depois disso, ele recolheu algumas coisas da mesa de comida e bebida e foi embora, meio bêbado.

— Será possível que todos nesta festa estão bêbados? Começaram a ultrapassar todos os limites e os supervisores nem se incomodam!

— Bom, pelo menos estão todos felizes. Pior seria se ficassem se preocupando com a conduta o tempo todo. – Honey dá de ombros – Quebrar as regras de vez em quando é bom. – a visagista fita os grupos e pares interagindo e encara o rapaz de braços cruzados.

— Tem razão Honey. Não adianta fazer drama por tão pouco. Se formos punidos, ao menos vai ter valido a pena quebrar as regras.

— Do que está falando? Você não quebrou algo. – o corpo dele se arrepia ao vê-la chegar mais perto neste momento, com uma expressão envergonhada.

— Antes estava achando melhor me segurar, mas... Eu venho conversando com Henri sobre o assunto, e gostaria de dizer que... A sua companhia muito me agradou esses dias, até quando nos encontramos por acaso, como na enfermaria. – o prisioneiro engole a seco, sentindo comichões involuntários com o toque caloroso em seu braço.

— De-Devo admitir que... Na-Na verdade, a-aqueles encontros foram... Propositais.

— Mesmo? Todos eles? – ele reafirma com a cabeça – Quer dizer que chegou até a se machucar de propósito para me ver?

— E-Eu sei que foi uma estupidez, mas... Eu co-comecei a apreciar muito sua com-companhia também esses dias. – o jovem suspira profundamente, tossindo pela vergonha de gaguejar, e mantem o olhar desviado do dela – Senti falta quando ficava longe.

— Oh, Honey. Isto é muito... – Honey abaixa a cabeça, pensando que vai escutar uma reprovação, – Adorável. – e se surpreende com o sorriso de Esme – Por acaso você acha que é possível amar à primeira vista?

— Bom... Se apaixonar com certeza sim. No segundo caso... – ele toma as suas mãos – É preciso tirar a prova. – ela o fita de um modo que, em sua cabeça, parece bem erótico, e olha por trás do ombro para a multidão distraída.

— Poderia me ajudar a fazer o teste lá fora?

...

— Ei, Kenshirou?! – Nori chama o supervisor de cara no balcão de bebidas, tocando seu ombro – Está tudo bem? O que está sentindo?

— Dor. – ele responde embriagado, levantando o rosto apenas para admirar seu copo de bebida, então sua parceira aproveita a música suave e senta ao seu lado para conversar.

— É porque o Hajime saiu daqui levando doces e uma garrafa de saquê para a Momo? – a careta de Kenshirou aumenta de forma cômica, fazendo-a segurar um riso – Eu sinto muito. Sei que você sempre gostou bastante dela.

— É... Mas ela quer aquele gorila retardado de mão pesada. – a supervisora estica os olhos, surpresa por ouvi-lo xingar pela primeira vez – Qual o problema comigo?

— Não tem qualquer coisa errada com você. Só não pode escolher quem vai amar. A Momoko escolheu ele. – a expressão de tristeza no rosto do homem aumenta, fazendo-a suspirar – Escute, sei que é difícil acreditar agora, mas você vai encontrar outra pessoa a quem possa dedicar o seu afeto. E ela vai retribuir. – o supervisor dá um sorriso leve.

— Realmente, é bastante difícil cogitar isto agora. É mais fácil pensar que, quando a festa acabar a meia-noite, os espíritos do Dia das Bruxas vão me amaldiçoar.

— Só porque está deprimido? – Nori ri, ficando de pé – Se eles colassem tão fácil em pessoas melancólicas, viriam me pegar primeiro. – declara, pegando um ramo de hagi de um vaso próximo e deixando perto dele – Pode não ser muito, mas minha mãe sempre diz que as flores afastam o mal e atraem o bem. Deve ser verdade, já que ela conheceu meu pai quando foi comprar um buquê na sua loja para a sala dele, depois de virar juiz. – ela ri de leve, atraindo a atenção do parceiro – Você pode não se importar, mas eu não gostaria de vê-lo ser levado por fantasmas, ou pela depressão. – dito isto, a ruiva sai, deixando-o refletir silenciosamente ao encarar as flores rosadas.

 

Continua...


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