Você acorda num susto, sentando rapidamente na cama. Respiração ofegante e o suor escorrendo de sua testa. Olha envolta desesperado, como que procurando algo. Outro pesadelo. Ao perceber que não era real, sente-se aliviado. Lentamente sua respiração se acalma e o corpo para de tremer.

Sua cabeça ainda está acelerada, então resolve sair da barraca. No horizonte o céu começa a ser pincelado pelos tons alaranjados do amanhecer. Você olha em volta, procurando algo, por fim avista grandes rochas em torno do acampamento. Perfeito. Você anda sorrateiramente para lá.

Sobe com facilidade até o topo, afinal, você é um ninja. Sim, você é Lass Isolet, ninja mercenário, mestiço de Haro e humano. Sofreu horrores em sua infância e, apesar de já ser livre e possuir o controle do próprio corpo, essas criaturas continuam a te atormentar diariamente em seus sonhos. Entrou para a Grand Chase com o objetivo de se redimir pelos seus atos.

Lá de cima é possível ver todo o acampamento e mais além. A paisagem é formada de pedras escuras, sem nenhuma vegetação. Você pensa em como um local pode estar com essa aparência de destruição mesmo após 600 anos passados da guerra. Após alguns minutos o horizonte está todo iluminado.

O dia nasce alegremente, e agora você já se sente mais calmo. O silencio e a vista esplêndida traz até mesmo uma certa alegria em seu coração dolorido. Mas isso não dura muito, quando os guerreiros começam a acordar os barulhos se tornam cada vez mais altos e frequentes.

Você vê Lire saindo de sua barraca, que é próxima a entrada do acampamento, indo preparara fogueira. Logo Ryan também sai e a ajuda. “Deve ser mania de elfo acordar cedo” você pensa. O asmodiano, Dio, sai logo em seguida da barraca, ao fundo do acampamento, quase ao mesmo tempo que a Paladina, Holy. Você resolve descer da pedra e ir ficar com os companheiros.

Má ideia. Quando passava pelas barracas do lado direito do acampamento, um certo Haro cruza seu caminho.

— Veja quem já acordou se seu sono de beleza. – disse provocativo, quanto anda em sua direção. Você apenas fecha o semblante – Pena que não adianta, você ainda parece um palhaço.

Você sente seu sangue ferver. Cerra seus punhos em puro ódio. Os dois param de andar e se encaram com poucos metros os separando. Você pode jurar que a risada maléfica do Mestre de Cerimonias ecoou no ambiente. Após alguns segundos de tensão, você respira fundo e consegue ter uma aparência calma, apesar de ainda estar queimando por dentro.

— Pode me provocar Lupus, - você sorri cinicamente – mas não sou eu que vou dar o braço a torcer.

Agora é a vez do Haro cerrar os punhos e trincar os dentes. Seus olhos vermelhos se acendem de fúria e seu corpo enrijece.

— Fale o que quiser, mas você ainda é um pirralho fraco! – ele grita.

— E você não passa de um cãozinho latindo!

Vocês se encaram profundamente, como se pudessem machucar o outo somente com o olhar. A cada segundo a tensão aumenta, é como se o silencio predominasse entre os dois. Apesar de tudo, a ultima coisa que você quer é ter que batalhar um dia antes de enfrentar Astaroth.

— MESTIÇO RIDÍCULO!

— DEMÔNIO PATÉTICO! - vocês continuam gritando.

— Acho que está na hora de reformular sua cara, deixar como uma aberração de novo!

— Só se não se importar de perder alguns membros do corpo....de novo!

— JÁ CHEGA! – disse Sieghart se aproximando rapidamente. Ele os encarou sério e ficou no espaço entre os dois.

Você suspira fortemente para se acalmar, e volta a andar se afastando do local. Enquanto atravessa o lado direito do acampamento, indo para a entrada do mesmo, sente o sangue ainda fervendo e ainda está com os punhos cerrados. De costas consegue ouvir os outros guerreiros comentando sobre o ocorrido.

— Isso ainda não acabou! – Lupus gritou.

— Não fique no meu caminho! – você responde da mesma forma.

Sua mente não consegue pensar, como se uma nevoa espessa a inundasse. Quando dá por si está parado em sua barraca, repassando mentalmente o ocorrido. E é assim que você continua, em pé, parado, de punhos cerrados, com seu sangue fervendo enquanto repassa todas as palavras que o Caçador lhe falou. Como vocês podem ter o mesmo sangue? Ser, de alguma forma, parentes?

Você acaba por concluir, amargamente, que a vida não lhe sorriu. Em nenhum momento. Quando consegue se livrar de uma situação o destino lhe joga outra angustia bem na face. Por um acaso você zombou dos Deuses? Ofendeu lhes de algum modo, para obter esse fardo, essa maldição em sua vida? Minutos se passam e você acaba por pensar em pedir à maga para ver se realmente não está amaldiçoado.

— O café está pronto! – Você ouve o grito de Ryan, fazendo seu último pensamento evaporar.

Você já está consideravelmente tranquilo, sai da barraca e vê os outros guerreiros se juntando em volta da fogueira. Para evitar problemas resolve sentar ao lado de Ronan, afinal, ele era mais velho e sempre dava bons conselhos. Quando todos já se sentaram Holy distribui as tigelas. Você percebe que a Paladina possui uma expressão diferente no rosto, algo entre o medo e o desconforto, sem contar que ela parece evitar encarar os demônios. “Estranho” é só isso que consegue pensar.

Você é o primeiro a ir pegar comida, afinal, já está acordado há algum tempo e uma discussão sempre acaba dando fome. Pela aparência parece ser sopa de vegetais, a Lire e o Ryan já obrigam todos a serem vegetarianos há vários meses. No fim eles só estão fazendo seu trabalho como bons elfos.

Chega a vez de Elesis, que é a ultima, ela se levanta e fala com todos. Sim, a ansiedade e o temor da batalha estão afetando a todos no acampamento. Você repete mentalmente as ultimas palavras dela “chutar o traseiro dele”, a Elesis não seria e Elesis se não falasse algo assim.

— Eu vi o que aconteceu hoje. – Ronan interrompe seus pensamentos – Não devia enfrenta-lo.

— Ele que inicia as discussões.

— Entendo. – ele pensa um pouco – Mas não responda, só hoje, para não atrapalhar a batalha de amanhã. Afinal, os poderes de todos eles serão de suma importância. – falou se referindo aos demônios.

Todos conversavam animados enquanto comiam. Você resolveu comer rapidamente para poder sair logo dali e se acalmar. Ao terminar, você se levanta e guarda sua vasilha no local determinado, quando volta Ronan inicia uma conversa, talvez para acalmar os ânimos.

— Já percebeu que a Lin é muito parecida com você? – falou num tom animado.

— É? – “Mas que droga de assunto é esse?” você pensa. A tensão realmente deve estar afetando os outros.

— Sim, olhos azuis, cabelo liso e branco, personalidade amigável. - falou zombando. Você não se interessa muito no assunto, mas Ronan tirou o dia para lhe atormentar. – Vem vou te apresentar a ela.

Você não teve tempo para responder qualquer coisa. Ele te puxa pelo braço e anda a passos largos até a garota, do lado esquerdo do acampamento. Esta conversava com Holy que saiu quando vocês se aproximaram.

— Bom dia senhorita. – Ronan cumprimenta animadamente.

— Bom dia! – Lin responde.

— Quero te apresentar meu amigo Lass. – disse apontando para você.

— Olá. – você responde. “Por favor, Deusas, não deixem ele falar do assunto de sermos parecidos” você rezava mentalmente.

— Sabe, a Lin é a reencarnação da Deusa Agnécia. – Ronan tentava puxar assunto.

— Ah Ronan, não precisa ficar falando pra todo mundo! – respondia Lin envergonhada.

Neste momento você vê Dio e Rey conversando atrás de Lin, quaseno fundo do acampamento. Rey ficava olhando para os lados, parecia apreensiva. Instintivamente você também olha para o lado direito do acampamento e se depara com os olhos vermelhos de Lupus o encarando nervosamente.

— Mas ter uma Deusa para ajudar na batalha será muito importante! – dizia Ronan.

— Pode significar a vitória. – você complementa, encarando algumas vezes o Haro com a mesma intensidade que ele lhe olhava.

— Ainda preciso treinar bastante para chegar ao nível das divindades. – Lin respondia.

E assim se seguiu sua manhã. Ronan conversando com Lin sobre a batalha e contando como ele entrou para a Grand Chase. Lin também contou sobre a vila de onde veio. Por fim Holy chamou a Sacerdotisa para conversarem e elas se retiraram.

— O que foi aquilo “vocês são muito parecidos”? – você pergunta com indignação.

— Você estava mal, eu tinha que aliviar a tensão do momento.

— Eu achei que você ia falar desse assunto para ela, já estava preparando a Penumbra. – vocês dois riem.

Vocês começam a conversar sobre a batalha que acontecerá no dia seguinte. Ronan o leva até a barraca dele para mostrar o novo Égide que ele usaria. “Feita pelas mais sagradas rochas...” “fortalecida com poder 17 vezes maior...” e um monte de detalhes técnicos que você, sinceramente, não estava se importando muito. Mas por quê?

Sempre era atento ao que o colega dizia. Sempre se importava com suas novas armas e sua preocupação em ajudar os companheiros. Por que estava com tanta indiferença para algo que era tão importante para Ronan? Deve ser coisa dessa tensão pré-batalha.

Vocês almoçaram tranquilamente na mesma fogueira, feita no centro do acampamento, comendo a mesma comida do café-da-manhã. Você e Ronan foram os primeiros a se acomodarem, afinal, o amigo nunca se atrasava para nada. Viu os Asmodianos chegando, viu os membros veteranos se sentando e os mais novos vindo por último.

Quando todos já estavam comendo Zero chega empunhando Grandark, visivelmente irritado. Você percebe que falta alguém, mas não consegue distinguir quem é. O almoço segue tranquilo e no fim você resolve ficar sozinho. Sobe novamente na pedra que foi ao amanhecer e observa calmamente todos do local.

Vê que Holy, Lin e Amy estão conversando ao fundo do acampamento, um pouco afastadas. Jin e Sieghart estão conversando na estrada do mesmo. Zero também está afastado, do lado esquerdo do acampamento, acompanhado por Grandark. Ryan e Lire estão arrumando os utensílios do almoço.

Elesis está ao lado direito do acampamento, conversando com Arme e Ronan. Logo estes três se dispersam. “É impressão ou eles pareciam tensos?” você se pergunta. Algum tempo se passa e você percebe que estes três estão realmente inquietos pelo acampamento. “Algo está errado”.

Você resolve descer para verificar. Começa a andar procurando-os. Por fim encontra Arme conversando com Azin na entrada do acampamento. Resolve se aproximar da Maga, pois esta parece aflita e sinceramente, você não confia em Azin. Ao se aproximar rapidamente consegue ouvir a conversa.

— ...mas ela não faria isso! – diz a Feiticeira.

— Certeza? – Pergunta Azin meio indiferente.

— Claro! E ainda mais antes dessa batalha tão importante! – Arme se exalta.

— O que está acontecendo? – você questiona.

— A MARI SUMIU!

— Calma Arme, vamos acha-la, ela deve só estar testando os robôs dela. – você pensa um pouco e logo continua – Já procuraram alguma pista na barraca dela?

— Não.

— Eu vou lá ver, fique calma. – e você se retira, indo em direção a barraca da Tecnomaga.

“Como assim ela sumiu? Por quê?” sua mente pensa em muitas coisas de uma só vez. Você adentra na barraca. Tudo parece normal. As armas dela estão guardadas em um canto, junto com os robôs. Sua mochila parece intocada. A única coisa que parece estar faltando é o Manual. Você resolve comunicar isso a Arme.

Quando se vira para sair da barraca uma dor muito forte atinge seu peito. Parece que seus órgãos internos estão sendo retorcidos. O ar escapa de seus pulmões e você se ajoelha sentindo as pernas fraquejarem. A dor é tão intensa que você não consegue pensar em nada. Você pensa em gritar, mas não consegue, sua voz falha. Você começa a respirar pesadamente e o desespero inicial diminui, mas a dor ainda é intensa. No meio de tanta dor sua mente muda o foco para uma única coisa:

— COMO OUSA? IREI PUNI-LO EM NOME DOS DEUSES! – “Sieghart?”

— NÃO ME PROVOQUE, IMORTAL! – “Dio?”