Tempo, todo poderoso escrita por Talitha Bianca


Capítulo 6
Algo preocupante


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tem uma parte especial que eu particularmente gostei bastante de escrever, pois deu um quê diferente ao capítulo, e o tirou um pouco da rotina da fic.
Espero que gostem.



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O ser humano é uma coisa estranha, e também com tendências naturais ao sofrimento e á burrice, pois quanto mais sabe que deve manter distância de algo, mais ele quer se envolver no assunto.

Quando eu descobri o porque de Blásio não querer que Draco soubesse de seu reencontro cheio de emoções com Astória, um sinal vermelho se acendeu na minha mente, piscando e sinalizando o perigo que aquela situação representava, e principalmente, que ela não era da minha conta.

Não era uma surpresa na verdade, que Draco e Astória estivessem envolvidos em algum tipo de trama matrimonial.

Era de conhecimento de todos, que as famílias tradicionais sangue puro, casavam seus filhos entre si, ou até mesmo com membros mais distantes de suas próprias famílias, afim de evitar impurezas não desejadas em seus lares, e geralmente arranjos assim eram feitos assim que seus filhos terminavam a educação, em Hogwarts ou qualquer outra instituição.

Mas mesmo que eu conhecesse a normalidade dessa situação, ver acontecer desse jeito, em primeira mão, era algo incomum para mim.

E por isso, eu não podia ignorar esta situação como eu gostaria de fazer.

No fim das aulas naquele dia, eu encurralei Blásio em uma sala vazia, e perguntei o que realmente estava acontecendo.

— Não é da sua conta. Não se meta.

— Saiba, Zabini, que no momento que me pediu para não contar ao Draco sobre seu encontro apaixonado com a futura noiva dele, passou a ser da minha conta.

— Qual é o seu problema? Sua moral e senso de ética são tão grandes que não pode ignorar uma afronta aos valores impostos pela humanidade? Você nem mesmo gosta dele! Esqueça!

— Eu não gosto dele tanto quanto não gosto de você, mas mesmo assim vim até aqui pra perguntar o que está havendo. Além do mais, devo uma a ele, e não gosto disso.

— Não há nada entre Draco e Astória. Ninguém fez nada errado. Feliz?

Não há nada entre Draco e Astória.

— Mas há alguma coisa entre você e ela.

— Sempre houve, não que seja da sua conta.

— Escute Blásio, posso te chamar assim? Bem, que seja. Astória não parece o tipo de garota que sai por ai quando tem um noivo na jogada, não que eu conheça ela.

— Ela não é.

— Enfim, as pessoas estão comentando sobre como ela e Malfoy estão as vésperas do casamento, e que já está tudo arranjado para que isso seja oficializado.

— Quem está comentando? Achei que tivesse dado um jeito de vez nesses fofoqueiros filhos da puta.

Eu parei, mas fingi não notar o tom assassino na sua voz.

— Não importa, mas também quero que saiba que Malfoy não está dando corda para esse tipo de comentário a respeito dos dois. Não faço ideia se Astória sabe algo sobre isso, então nem mesmo me pergunte.

— Eu vou perguntar a ela, mas porque está defendendo Draco? Que eu saiba, vocês não são velhos amigos.

— Eu não estou defendendo Malfoy, estou defendendo a amizade de vocês, que parece ser uma das poucas coisas decentes que ele tem na vida, e também, porque eu sei o quanto um amigo faz falta quando precisamos.

— Abandonaram você, não foi?

A nota sutil de pena em sua voz não foi perdida pelos meus ouvidos treinados, por mais disfarçada que pudesse estar.

— Eu não sei do que você está falando. Preciso ir agora, se me dá licença.

Quando fiz menção de passar por ele, uma mão forte segurou meu braço, bem acima do meu cotovelo, e me manteve na lugar.

— Você pode não ter prestado atenção a sua volta desde que voltou a Hogwarts Granger, mas eu nunca perco um detalhe. Tem estado mais sozinha do que me lembro de você estar, e sei que não é lá por escolha própria.

Eu o encarei, firme e concisa, pronta para rebater, mas no momento em que abri a minha boca, nada saiu, só o silencio.

— As pessoas comentam sobre você, eu sei, eu as ouço, e sei que você também ouve, mas finge que não sabe de coisa alguma.

Por favor, apenas me deixe ir embora.

Por favor!

— Seus tão leais amigos mal suportam ficar perto de você agora, enjoados ela ideia de que agora você é parte da massa que eles sempre consideraram inimiga.

Só pare de falar e me solte.

— E no fim de tudo, eu sei que você ainda tem o mesmo bom coração que sempre teve, o mesmo coração grifinório, mas agora, endurecido pelos horrores que viu ao longo da guerra, e guiado por suas prioridades, como um sonserino seria.

Ok, termine logo, diga o que tem que dizer e nunca mais vamos ter outro encontro assim, eu garanto.

— Sinto muito por você Hermione, e por tudo o que passou e ainda tem passado, por isso quero que saiba que devia se focar mais em si mesma, e parar de tentar manter vivas as amizades alheias, quando não conseguiu manter as suas.

Eu de fato, não sabia se ele estava sendo rude, ou se estava tentando me confortar. Talvez fossem as duas coisas, mas seus olhos estavam tão gentis quanto eu achei que fossem capazes de ficar.

— Sei que nunca fomos próximos, mas por se preocupar com as minhas amizades, e com o bem estar de Astória, eu vou lhe oferecer algo de que acho que sente falta.

— E o que você poderia me oferecer que me faz tanta falta assim?

Óh graças a Deus eu tinha achado a minha voz outra vez, e mais graças ainda por não estar tão débil quanto eu achei que estaria nesse momento.

— Estou te oferecendo alguém que não vai desviar os olhos quando você passa ou fingir que ainda está contente por te ver. Alguém para conversar quando precisar.

— Por acaso está se oferecendo para ser meu amigo?

O tom surpreso na minha voz estava com certeza estampado no meu rosto, pela expressão divertida que se lançou sobre a face de Blásio, e um lampejo de dentes brancos surgiu contra seus lábios escuros.

— Não vá tão longe, Granger. Estou apenas me oferecendo para aliviar sua solidão porque estou seriamente comovido com ela.

Ele acabou de fazer uma piada as minhas custas?

— Desde quando vocês, sonserinos, tem um senso de gentileza tão aguçado? Fora o humor não baseado em mortes e depreciação seriamente qualificada de outros indivíduos, claro.

— Deveria para de falar dos sonserinos na terceira pessoa, afinal, você agora é uma de nós também, espero que não se esqueça disso.

— Obrigada pelo lembrete Zabini, quase não tive tempo de perceber isso, com todos apontando pra mim e sussurrando a mesma coisa.

— Você devia parar de encarrar isso como uma coisa ruim. Pode se surpreender com seus novos colegas de casa.

— Bem, me desculpe se tudo o que eu sei sobre eles é que odeiam grifinórios e nascidos trouxas, duas coisas que meio que me acompanham, bom, pelo menos um delas ainda me acompanha.

— Devia deixar essas conclusões para trás, e se focar em ver as coisas de uma maneira diferente, isso pode ajuda-la a seguir em frente em meio a essas reviravoltas que estão acontecendo na sua vida.

Não era que Blásio Zabini sabia dar conselhos de auto ajuda muito bons?

— Bom, acho que não me custa tentar ver as coisas com um pouco mais de positividade, mas em todo caso, tome cuidado para não sair prejudicado dessa história com Malfoy. E mande um “oi” para Astória por mim. Até depois.

Soltando meu braço do seu aperto, eu fugi o mais rápido possível para fora da sala, me embrenhando no meio do corredor apinhado de alunos, que iam apressados para o Grande Salão, afim de não perder nada do jantar.

Eu não olhei para trás para ver se Zabini me seguia.

~*~*~*~

POV DRACO MALFOY:

Desde a noite da nova seleção das casas, Hermione Granger fugiu de mim como se eu fosse uma praga, e nos momentos em que fomos obrigados a dividir o mesmo espaço, ela agiu como se eu não estivesse por perto.

Durante os seis anos que convivemos de lados opostos do castelo, eu pude perceber algumas coisas apenas olhando de longe, vendo a garota que se enterrava em livros, conclusões e explicações lógicas, e que tinha um grande coração que oferecia de bom grado as pessoas que amava.

Hermione Granger nunca passou por cima de alguém que considerou mais fraco do que ela, sua honra impedia que tirasse vantagem de alguém que não fosse tão capacitado quanto si mesma.

Eu me lembro de despejar insultos cada vez que nos encontrávamos, temendo que se ela se aproximasse, eu pudesse querer ser parte daqueles que usufruíam dos seus encantos.

Não que ela fosse se aproximar para oferecer sua amizade á aquele que era o maior inimigo no castelo de Hogwarts, daquele que ela considerava como seu irmão, mas mesmo assim eu achei melhor garantir, e me trancar atrás de uma porta bem grossa de arrogância e prepotência, mas eu não pude ignorar o que aconteceu duas noites atrás.

Confesso que achei uma ideia um tanto quanto ridícula uma nova seleção de casas para aqueles que já tinham uma vida escolar feita em Hogwarts, apenas serviria para bagunçar ainda mais as coisas já deterioradas pela guerra, e confundir ainda mais os alunos.

No entanto, nunca imaginei que isso fosse resultar no cérebro do “Trio de Ouro”, uma grifinória convicta, fosse acabar mudando de casa, ainda mais diretamente para a Sonserina.

Isso com toda a certeza foi algo inesperado.

Inesperado e chocante, devo dizer.

O inferno se instalou por todo o Grande Salão, quando alunos de todos os cantos, e até mesmo um ou dois professores, se levantaram e começaram a gritar em como aquilo tinha que ser um erro.

Mas ela só estava lá, parada, como se estivesse petrificada, ou tivesse perdido os movimentos das pernas, o rosto era uma máscara perturbada e incrédula, e eu soube naquele momento que ela estava em negação, e seria um alvo fácil no meio do pandemônio de pessoas que opinavam sobre algo que não era da conta deles.

Então, quando dei por mim, já estava a caminho do seu corpo imóvel, ainda sentado no frágil banquinho de três pernas, bem no meio do salão, o Chapéu Seletor largado sobre seus cachos.

O olhar perturbado da Prof. MCgnagall me encontrou quando eu cheguei até uma alienada Hermione, me encarando como se eu fosse uma ameaça para a menina que eu sabia, ela via como uma filha.

Mas eu não parei, mesmo sob sua avaliação fulminante, eu apenas passei um braço sobre os ombros rígidos de Hermione, e com a minha mão livre, descartei o Chapéu Seletor em cima do banquinho assim que ela ficou de pé, então a arrastei para fora do salão, sobre os olhares curiosos e escandalizados do resto dos ocupantes.

Durante todo o percurso até as masmorras, ela não disse uma palavra, apenas foi um corpo inerte que se deixou ser guiado por mim, sem nenhuma resistência.

Acho que alguém ficou mais chocado que todo mundo, no fim.

Apenas quando chegamos as portas das masmorras, ela disse algo.

— Nós não podemos entrar, não temos a senha.

O som esganiçado e tremente na sua voz me fez algo estranho, com um aperto no fundo do estomago.

— Não precisamos dela, ainda não foi atribuída nenhuma, então podemos apenas entrar.

Os acontecimentos que se seguiram aquela sala vazia depois disso jamais vão sair da minha mente, isso eu posso garantir, e eles me marcaram mais do que até mesmo alguns dos horrores da guerra que eu tinha presenciado.

Eu nunca imaginaria que aquela menina que enfrentou o mundo com os amigos, para salvar milhões de pessoas, ficaria tão abalada com algo que aparentemente era simples, e muito menos que isso fosse acabar desencadeando um ataque de pânico que a levaria a me pedir um abraço.

Sim, aquilo me assustou mais do que qualquer coisa desde que Voldemort ameaçou constantemente a minha família, alguns meses atrás.

Vê-la assim tão fragilizada parecia uma coisa de outro mundo, algo indescritível e impossível, mas aqui estávamos nós, dois dos maiores inimigos escolares que esse castelo já viu, abraçados num sofá da Sala comunal da Sonserina.

Ninguém nunca acreditaria em algo assim, a não ser que visse com seus próprios olhos, porque nem mesmo eu, que estava vivendo isso, mal podia crer.

E mesmo quando eu acordei com uma travessa de comida ao lado da minha cama no meio da noite, eu ainda achei que estava tendo algum tipo de alucinação maluca.

E então, quando ela falava com Blásio no dia seguinte, acompanhando seu reencontro com Astória, tentando disfarçar seu constrangimento com a cena de teor apaixonado, ainda não podia acreditar nos meus olhos, e muito menos quando ela o arrastou para dentro de uma sala vazia depois das aulas, e saiu de lá como se estivesse fugindo do demônio em pessoa alguns minutos depois.

E agora aqui estava eu, encarando meu amigo, depois que ele saiu da sala um minuto depois, rindo sozinho de algo que eu adoraria saber o que era.

Seu sorriso morreu assim que ele me viu.

— Draco. Como tem andado? Não vi você direito desde que chegamos ao castelo, apenas nas aulas.

— O que a Granger queria com você Blásio? Não sabia que agora eram tão íntimos que ficavam conversando em salas vazias depois do horário das aulas. Não acho que Astória vai gostar de saber de algo assim.

Ao som do nome de Astória, sua expressão se nublou com puro descontentamento, o sorriso fácil de antes esquecido como se nunca tivesse estado lá.

— O que Astória tem a ver com essa história Draco? A menos que tenha provas de que estávamos falando sobre ela, isso não lhe diz respeito em nada.

— Por favor Blásio, somos amigos a anos. Acha mesmo que eu não sei o que você sente por ela? Ou o que ela sente por você?

Ele empalideceu sobre o bronzeado natural de sua pele morena, como se Dementadores tivessem acabado de lhe fazer uma visita.

— O que você quer dizer com isso Malfoy?

 Ouvi-lo usar meu sobrenome era algo incomum, mas a fúria em sua voz, dirigida a mim, era algo ainda mais impressionante.

— Eu não sou cego, Zabini. Mesmo que vocês tentem ser o mais discretos possíveis, eu vejo os sinais sutis que ambos liberam quando estão próximos, fora que mal conseguem parar de se olhar quando pensam que ninguém está prestando atenção.

O tom casual da minha voz pareceu relaxar um pouco da tensão que estava emanando do seu corpo, e seu rosto voltou a mesma máscara fria de indiferença que ele exibia para o mundo.

— E você está me dizendo isso agora exatamente por que?

— Estou apenas esclarecendo para você que eu sei, e que não me importo nem um pouco com isso. Ambos são amigos importantes para mim, parte dos poucos com que realmente me importo, e quero que fiquem juntos e felizes.

— E quanto ao fato de um casamento entre vocês estar praticamente com data marcada?

— Isso é apenas um rumor sem fundamento. Minha mãe tentou me persuadir a tal casamento, admito, mas eu deixei bem claro que estava fora de cogitação, e ela já desistiu a muito tempo. Fofocas só demoram a morre, só isso.

Finalmente o tom defensivo estava fora de sua voz, quando ele voltou a falar.

— As pessoas andam comentando sobre isso, foi o que Granger veio me falar, aparentemente, ela liga para a nossa boa amizade, e não quer que ela tenha um fim por causa de algo trivial como um casamento arranjado. Ela nos viu ontem, quando eu e Astória nos encontramos, acho que deixamos a saudade aflorar e ficou um pouco óbvio que éramos mais do que apenas amigos.

— Eu sei, eu também os vi. E uma atitude assim vinda dela não me surpreende nem um pouco, afinal, ela está sempre se metendo onde não é chamada.

— Você acabou de fazer exatamente a mesma coisa, Draco. É como o sujo falando do mal lavado.

A nota de humor estava bastante implícita na voz dele quando me lançou essa crítica, que no fim não deixava de ser verdade.

Eu não era acostumado a me meter em assuntos alheios, principalmente aqueles que eram tratados longe de mim, e que não interferiam de forma alguma no meu dia a dia, mas algo me impulsionou direto para o meio desta situação.

— Não sei o que deu em mim, não é como se a vida de vocês fosse da minha conta.

— Acho que você só está em negação Draco, mas daqui a um tempo você vai saber exatamente o que te deu hoje.

— Você sabe que eu odeio essas suas charadas idiotas Blásio, mas que merda, porque você não pode falar diretamente como uma pessoa normal ao invés de dizer coisas que ninguém entende?

— Apenas espere, e você vai saber do que eu estou falando, mas agora que tal irmos jantar? Estou morrendo de fome.

Então ele saiu sem dizer mais nenhuma palavra, rumo ao Grande salão, me obrigando a segui-lo, para não ficar para trás sozinho.

Eu tinha a ligeira impressão de que esse ano ainda reservaria muitas surpresas para cada um de nós, mesmo com a calmaria pós guerra, tudo parecia ainda mais perigoso, imprevisível e incerto.


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Notas finais do capítulo

Então pessoal, o que acharam?
Estou aceitando todo tipo de sugestões ok?
Espero que estejam gostando e aproveitando pessoal.



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