Tempo, todo poderoso escrita por Talitha Bianca


Capítulo 5
Algo secreto


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo eu deixei um pouco do enfoque em dois que vão ser personagens de grande importância na trama, e que também vão ser aquele casal secundário que você torce tanto quanto para o principal, apesar de todas a dificuldades.



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Nunca dormi tão mal em toda a minha vida, me revirando na cama enquanto suava frio em meio a pesadelos de todos os tipos.

Mas agora, deitada na banheira com água escaldante até o pescoço, eu podia sentir meus músculos relaxarem e soltarem, como se nós estivessem sendo desatados por todo o meu corpo.

Depois de comer e arrumar minhas coisas no guarda roupa, ou pelo menos a maioria delas, já que meus livros ainda estavam jogados pelo chão do quarto, em cima dos pés da cama, e no fundo do malão aberto no canto perto da porta.

Ao que parecia, ao longo do tempo, minha mania de arrumação tinha ido direto pro buraco, junto com muito de mim, que também foi descartado em meio as merdas da vida, mas ei, talvez essa fosse uma coisa boa no final.

Isso mesmo Hermione, levante sua cabeça e continue em frente, como você sempre fez, não importa o que estivesse acontecendo.

Mas saber que eu teria de enfrentar o conjunto de olhos julgadores que me esperavam do lado de fora dessas paredes, não era lá a coisa mais reconfortante que eu podia pensar.

Não havia nada que eu desejasse mais do que estar no meu quarto, no bairro do subúrbio trouxa em que eu vivia em Londres, com os meus pais, assistindo as nuvens nubladas pela janela e bebendo uma grande xicara de chá fumegante.

Mas nem sempre podemos ter o que queremos não é?

Ao invés disso, eu tinha um mar de feras adolescentes para enfrentar, e sem direito a proteção de uma jaula.

~*~*~*~

Depois de me arrastar para fora da banheira, e para dentro do uniforme escolar, agora ornamentado com a serpente verde e prata, no lugar do leão vermelho e dourado, sinalizando aquela mudança que já era mais do que evidente a todos que me rodeavam, mas mesmo com vontade de dormir para sempre, eu peguei minha mochila e segui em frente.

O relógio de pêndulo, ancorado a parede bem acima da entrada do Salão comunal, sinalizava que ainda era muito cedo para o café da manhã; não passava da 6:30 da manhã, e poucos alunos já estavam de pé e arrumados, e também alguns ocasionais de pijama, vagando pela sala.

Blásio Zabini estava sentado em uma das poltronas perto da lareira, com um livro intitulado “Estudos avançados no preparo de poções” aberto em seu colo, e uma caneca com uma bebida fumegante nas mãos.

Bebida essa que tinha um aroma maravilhoso, que eu podia sentir mesmo estando a metros de distancia.

Tudo o que eu sabia sobre ele era que por volta de nosso quinto ano em Hogwarts, ele se tornara parte do grupo seleto de amigos de Malfoy, tão próximo quanto Crable ou Goyle, só que com mais cérebro e menos submissão.

Enquanto os dois brutamontes pareciam cães de guarda, prontos para obedecer a qualquer ordem que seu mestre proclamasse, ele parecia o fiel escudeiro de Draco, aquele á que o loiro pedia conselhos e procurava para ter uma conversa civilizada, de ser humano para ser humano.

Ah, claro que eu não podia esquecer sobre os boatos que circulavam em torno de sua mãe, uma bruxa de beleza estonteante, que adquirira uma grande fortuna, que provinha de casamentos com bruxos ricos, e então das heranças que suas mortes deixavam.

Digamos que isso não pegou muito bem para a imagem dela, mas não acho que isso devia incomodar muito, porque pelo que ouvi ultimamente, ela ficou noiva novamente alguns meses atrás, de um bruxo que ganhou montanhas de dinheiro com um tipo de poção milagrosa de rejuvenescimento.

Mas não havia nada de concreto que me desse uma ideia sobre a pessoa que Zabini era, eu apenas sabia que ele era discreto, provavelmente para não fazer alarde e dar motivos para comentários acerca de sua família.

Imagino se ele achou em Draco alguém com quem pudesse dividir os problemas, visando que o loiro também era cheio deles.

Quando estava prestes a me virar e voltar para o quarto, uma voz profunda chamou minha atenção;

— Café?

Blásio tinha levantado os olhos de seu livro, e agora me encarava, erguendo a caneca que soltava uma nuvem de fumaça para mim.

— Perdão?

— Estou perguntando se você gostaria de um pouco de café. Tenho bastante.

Ele apontou para uma frágil mesinha de três pernas que estava ao lado de sua poltrona, onde uma garrafa térmica estava pousada, ao lado de um jogo de canecas idênticas a que ele estava segurando.

Eu havia tomado café puro somente duas vezes na vida; uma quando minha mãe entrou em uma faze de descobrir nova comidas e bebidas, e acabou tentando introduzir a bebida nas nossas refeições quando eu era criança, mas ela nunca acertou o ponto, fazendo com que fosse pior a cada vez que ela tentava; e uma vez quando passeava pela vielas de Londres, logo antes de sair para caçar horcruxes com Harry e Rony, mas não tinha sido uma experiência marcante na minha vida.

— Não obrigada. O café e eu não temos uma boa história juntos. Sou uma amante do tradicional chá inglês.

A expressão curiosa dele ao escutar a minha resposta foi um tanto quanto divertida; ele parecia não acreditar não meus gostos acerca de bebidas.

— Não tem uma boa história? Não há como não ter uma boa história com uma bela xícara de café bem feito. É como não gostar de filhotinhos.

— Acho que ai está o meu problema. Nunca tomei uma bela xícara de café bem feito. E você não tem cara de quem gosta de filhotinhos.

Ele de repente fechou o livro em um baque surdo, e o jogou no sofá a sua frente, então apoiou sues cotovelos nos joelhos, e equilibrou a caneca diante de seus olhos, como se estivesse analisando algo.

— Você ficaria surpresa com as coisas que eu gosto ou não gosto Granger.

O olhar intenso que ele me lançou em meio a fumaça que a caneca de café soltava foi um tanto quanto estarrecedor.

Blásio Zabini era bonito, na verdade, muito bonito.

Eu já tinha reparado que ele era bonito antes, afinal, eu não era cega, fora que os rumores e suspiros das estudantes viajavam pelas paredes do castelo, a respeito de Draco e Blásio, e de como eram lindos, e em alguns casos, até mesmo de como beijavam bem.

Mas essa foi a primeira vez que eu realmente reparei em como ele tinha um rosto anguloso, o mesmo ar aristocrata de Draco, mas em vez de pele pálida e olhos azul-gelo, havia um tom de caramelo escuro e olhos verde folha estonteantes.

Mas como se não pudessem evitar, seus olhos se desviaram para um ponto atrás de mim, e eu me virei automaticamente para descobrir o que chamara a sua atenção.

Vindo pelo corredor que deveria levar ao dormitório feminino, estava Astória Greengras.

Com seus lindos cabelos loiros puxados para trás em um firme rabo de cavalo, e o rosto em forma de coração limpo de qualquer tipo de maquiagem, ele exibia um sorriso radiante, enquanto se dirigia diretamente para nós.

Eu também me lembrava de Astória nos últimos anos; ela era um ano mais nova do que eu, e eu a via andando pelos corredores as vezes completamente sozinha, acompanhada apenas de um livro ou sua mochila, as vezes até me lançava um sorriso furtivo quando eu também estava desacompanhada.

Uma vez o Prof. Snape, deixou escapar que ela era gentil demais para as pessoas que a cercavam, e internamente eu sabia que ele estava correto, mas longe de um dia termos sequer trocado algumas palavras.

Mas agora ela caminhava decidida em minha direção, parecendo mais feliz do que deveria em me ver.

— Blásio! Quase não pude cumprimenta-lo ontem a noite no jantar com toda aquela confusão, senti tanto sua falta!

Ah! Então não era eu quem ela estava feliz em ver afinal.

Que delírio Hermione, claro que não era você, mas talvez você precise de alguém que pareça assim tão feliz em vê-la no fim.

Passando por mim como um foguete, ela se atirou nos braços de Zabini; que já estava prontamente em pé para receber seu caloroso abraço.

Passando os braços firmemente em torno do tronco magro da garota, ele a ergueu do chão e a rodou, enquanto um riso borbulhante escapava dela, que estava ancorada ao pescoço dele.

Mas eu percebi que aquele era mais do que um encontro de amigos que não se viam a muito tempo, quando ele finalmente a baixou, mas não a largou, pelo contrario, a segurou mais firme ainda e colou seu rosto ao dela, seus lábios rentes ao seu ouvido direito, sussurrando palavras que eu não podia ouvir, mas que a fizeram subir nas pontas dos pés e agarrar com ainda mais força seu pescoço.

Eu me senti uma voyeur naquele instante, presenciando um momento intimo que não devia ser visto pelos olhos alheios, principalmente de uma desconhecida, mas não era como se nenhum dos dois ligasse muito para que estivesse assistindo seu caloroso reencontro.

Então eu troquei meu peso de um pé para o outro e pigarreei, tentado olhar para qualquer lugar que não fosse o casal ainda abraçado na minha frente.

Então, como se o encanto tivesse se desfeito, eles se soltaram de forma brusca e se viraram para me encarar, vermelho colorindo as faces dela e uma expressão dura estampada no rosto dele.

— Olá. Você é Hermione não é mesmo?

O tom baixo, suave e gentil da voz de Astória me fez pensar se ela era mesmo humana, ou algum tipo de fada que estava disfarçada de aluna.

Ah meus Deus, você bateu com a cabeça Granger?

— Sim, sou eu. Astória não é?

Seus grandes olhos, de um verde claro e translucido se arregalaram como se não pudesse acreditar no que tinha acabado de ouvir.

— Você me conhece?

— Assim como você me conhece.

— Mas bem, eu te conheço porque é famosa, uma heroína de guerra, já eu, nem tanto.

— Eu conheço você desde antes da guerra, então acho que acabei de ganhar no quesito “conhecer alguém desinteressante”.

Outra risadinha escapou dela, dessa vez tímida e divertida.

— Não é como se todo o castelo não conhecesse você antes da guerra. Fugas para a Floresta Proíbida, Trasgos, Basilíscos, Dementadores, um Balile de Inverno com Vitor Krum e outras inúmeras coisas carregaram o nome Hermione Granger por Hogwarts como o ventos carrega folhas secas.

Bem, agora eu estava surpresa, ao que parecia, mesmo entre os Sonserinos, o Trio de Ouro era famoso, apesar de que tinha certeza de que essa fama não era lá das melhores.

— Mas agora tenho que ir, antes do café tenho que passar na estufa 3, para perguntar a Prof, Sprout sobre o cultivo de Plantas Comedoras de Flora. Estou com duvidas sobre quais plantas devo dar para elas comerem no estagio inicial de crescimento.

Então com a mesma rapidez que surgiu, Astória se foi pelas portas de saída do Salão comunal da Sonserina.

Uma vez sozinhos de novo, eu retornei minha atenção para Zabini, que ainda olhava por onde Astória havia desaparecido nas portas de carvalho escuro, mas como se sentisse meus olhos em cima de si, ele se virou para mim, e disse apenas uma frase antes de também sair pelo mesmo caminho que ela havia feito.

— Não conte ao Draco.

~*~*~*~

O pedido de Zabini ainda rodava vertiginosamente na minha cabeça na hora do almoço, depois de dois tempos de Feitiços, um de Astronomia, e outro de Herbologia, esse último acompanhado da turma da Lufa-Lufa, e seus murmúrios constantes enquanto eu passava.

Eu me mantive o mais longe de Draco o possível, durante todos os momentos em que estivemos no mesmo ambiente, tentei me manter o mais indiferente que pude, mas era quase impossível de manter meus olhos longe dele, em olhares furtivos que fazia o máximo para manter discretos.

Minha adaptação como uma aluna da casa Sonserina estava me surpreendendo de uma forma bastante positiva.

Obviamente haviam os olhares de esguelha e os comentários de cunho maldoso, mas eram de uma parte um tanto quanto reduzida dos estudantes, era uma pena que eu não podia dizer o mesmo dos meus ex colegas de casa.

Os grifinórios me olhavam como se eu tivesse algum tipo de doença extremamente contagiosa e mortal que era transmitida pelo ar, e me evitavam a todo custo em qualquer lugar.

Mesmo aqueles que antes costumavam me bajular me viraram as costas, e mesmo aqueles que chamei de amigos um dia, desviavam seus olhos quando eu passava por eles.

Os Weasleys, mesmo Rony, sendo como era, e Harry ainda conversavam comigo, tentando fazer parecer como se nada tivesse mudado, mas eu sabia que estavam tão incomodados quanto o resto de seus colegas leoninos, o que me fez pensar em qual seria o jeito mais simples de evitar que tivéssemos que nos encontrar, e socializar por mais do que alguns minutos, pois esse parecia o máximo que qualquer um de nós poderia aguentar.

Então, no fim do almoço, sentada ao canto mais afastado da mesa da Sonserina que eu pude encontrar, eu ouvi algo que me esclareceu.

— Então Draco, pra quando vai ser a festa de noivado?

Eu bebi meu suco de abóbora, como se não ligasse ou quisesse saber nem um pouco sobre o assunto.

— Você deveria calar a boca Nott. Isso não é da sua conta.

Ali estava o tom frio de Draco Malfoy que eu conhecia.

— Eu achei que você já estavam com o pé no altar, pelo que minha mãe andou dizendo em casa, parece que já está tudo acertado, e só falta oficializar. A não ser que Astória tenha arrumado um partido melhor.

— Acho que sua mãe anda mal informada.

Não conte ao Draco.

Não conte ao Draco o que você viu aqui.

Não conte a ele porque está é a futura noiva dele, e eu seu melhor amigo, mas nos gostamos pelas costas dele.


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