O jogo do amor. escrita por lilahallspreto


Capítulo 1
O ver.




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Vou ter que ir para a escola de cabelo molhado.

Essa noite foi muito complicada para mim, eu não costumo dormir com o aquecedor de ar ligado, mas a neve esta cada dia mais alta e tive que aquecer meu quarto. Ocorre que, acordei toda suada e atrasada.

Não me importo de usar meu cabelo natural, mas quando o deixo molhado por ai é meio estranho, e quando ele seca vira um “sarará” como dizem meus amigos de Outsin, cidade próxima a minha.

Peguei meu sobretudo e coloquei sob meus cachos molhados, trancando a porta atrás de mim.

Andei até o flutuador tentando não pensar no que me esperava para o primeiro dia de aula do ensino médio. A oitava série foi ótima, mas parece que as férias de inverno haviam me desanimado um pouco, em vez de aproveitar os clubes, passei as férias todas em casa, trabalhando no meu projeto de final de curso. Eu acho que sou um pouco nerd.

O flutuador já estava pré-aquecido quando me sentei no banco da frente, e quando girei a chave na ignição, um jato de ar quente lufou em meu rosto. Meu pai deveria ter usado ele ontem e eu nem percebi.

O transito estava uma bagunça, com o gelo nas ruas, toda a população decidiu sair de casa usando flutuadores, então acabei me atrasando mais ainda para o primeiro dia.

Colégio Jin Huge, é o nome do lugar que eu passarei a estudar a partir de hoje, muitos amigos do ensino fundamental escolheram o mesmo lugar, então acredito que não será nada muito novo para mim, exceto pela localização mesmo.

Encontrei uma vaga horrível para o meu flutuador e tive que descer 6 lances de escadas para o pátio do colégio, onde já não havia quase ninguém.

Passei pela porta e já senti o ar quente do prédio em meu rosto, uma vantagem de se viver em uma cidade tão desenvolvida era a de nunca passar muito frio ou nunca passar tanto calor.

No inverno, praticamente todos os estabelecimentos possuía aquecedor, e no verão, este mesmo aquecedor tinha a função de ar condicionado, deixando quem quisesse sentir as temperaturas naturais nas ruas, o que era muito raro.

Olhei novamente meu horário na agenda do celular, sala 101, seria a minha primeira aula de microbiologia, nunca havia estudado isso antes, mas as agendas eram preparadas de acordo com o que cada aluno escolhera, como escolhi relações a medicina, essa aula estava inclusa.

Meu maior sonho não é ser médica, se é isso que você está pensando, mas é muito complicado, explicarei mais tarde.

Me sentei na última cadeira da última fileira, pois cheguei atrasada e não havia outra cadeira mais próxima ao professor.

Quando entrei na sala, me deparei com alguns rostos conhecidos, três pessoas pelo menos, me senti menos ansiosa, com certeza se eu não visse mais alguém, tentaria me aproximar de algum deles para não ficar sozinha no intervalo.

Quando estava na metade da aula, recebi uma mensagem de Jhyna.

Jhyna: Tem um Trysane aqui.

Eu: O que?

Jhyna: Ah esqueci de dizer, estou estudando na Huge

Eu: Você nem me avisou.

 Jhyna era uma amiga muito próxima, não era a minha melhor amiga, pois eu tinha tantas amigas no ensino fundamental que não conseguia dizer qual delas era a melhor, mas não sei o que me aguarda para o ensino médio.

Jhyna: Desculpaaaaaa

Eu: Como assim Trysane? Esse povo não aguenta o frio.

Jhyna: Não sei, está todo mundo comentando.

Eu: Como ele é?

Jhyna: Não recebi fotos, mas dizem que é branco como papel.

Eu: Que estranho, será que está doente?

Jhyna: Eles são assim! Pesquisa na internet, se ver algum me avisa.

Eu já havia pesquisado sobre os povos do meu país, mas os Trysane eram uma população totalmente contrária a realidade de Trury, minha cidade. Aqui as pessoas eram acostumadas com a mudança das estações durante o ano, as vezes o inverno era quase violento e o verão impossível de sair de casa. A população de Trysane não passava por temperaturas extremas, a variação era bem menor e eles não tinham um avanço tecnológico como nós tínhamos, de fato, eles não precisavam de ar condicionado ou aquecedores.

Tirei o pensamento de minha cabeça e busquei me concentrar na aula, eu não sabia se os professores desse colégio faziam algo com alunos mexendo no celular, então achei melhor não pesquisar mais nada na internet.

A segunda aula passou tão devagar como a primeira, a professora de escudos psicológicos era muito atenciosa, mas falava tão devagar que me deu sono.

No intervalo, mandei uma mensagem a Jhyna.

Eu: Onde você vai passar o intervalo?

Jhyna: Vou comer um lanche na praça, vamos?

Eu: Estacionei meu flutuador muito longe, você veio de que?

Jhyna: De carona com o Kyno

Eu: Vou ter que comer sozinha então

Jhyna:

Eu não gostava muito da comida servida na escola, mas não fazia ideia de como seria o alimento desse colégio.

Não havia um refeitório, no pátio central tinha várias barracas de lanches com assentos nos balcões. Respirei fundo e fui enfrentar uma fila.

Enquanto mastigava meu molho doce, lembrei do que Jhyna havia dito, vasculhei o pátio mas não vi nada de diferente, nenhum burburinho ou uma pessoa de aparência diferente.

Aparência.

Peguei meu celular para pesquisar como era a aparência de um Trysane, mas o sinal tocou e terminei de comer rapidamente. Se um Trysane fosse branco como papel, eu com certeza notaria alguém diferente no pátio, nós, de Trury, tínhamos um tom bronzeado, mesmo sem tomar sol, nossa genética sempre apontou por esse lado.

A próxima aula era a de medicina legal, fui uma das primeiras a chegar, mas só consegui me sentar na segunda fileira mesmo assim, pelo menos não me sentaria no fundo da sala de novo.

 Peguei meu tablet da bolsa, mas levei um susto quando olhei novamente para cima.

Um rapaz estava passando pela porta. Ele era branco. Tinha a pele branca. Tinha cabelos brancos. Com certeza era o Trysane que a Jhyna comentou.

Ele se sentou uma fileira atrás da minha, percebi que muita gente estava reparando nele, e não me senti nem um pouco envergonhada em olhar para ele também, afinal, todo mundo estava olhando.

Seu cabelo era liso e caia em sua cabeça como um véu, era um pouco cumprido, quase até os ombros, percebi que suas sobrancelhas eram brancas, da mesma cor do cabelo, mas só por um momento, até ele abaixar a cabeça, não consegui reparar muito de seu rosto, pois ele se posicionou de uma forma defensiva, acho que estava desconfortável.

Passei a aula toda dando uma espiadinho no Trysence, ele prestava atenção na aula, mas não olhava para cima, usava seu tablet o tempo todo, anotando.

Peguei o celular.

Eu: O trysence esta na minha aula de medicina legal.

Jhyna: COMO ELE É?

Eu: Branco como a neve lá fora.

Jhyna: Tira uma foto.

Eu: Ta brincando ne? Claro que não.

Jhyna: Por favor!

Não tirei a foto, guardei o celular e ignorei as mensagens que estavam chegando, eu não tiraria uma foto de um rapaz todo desconfortável sentado em uma cadeira.

Quando espiei novamente, acho que fiquei sem ar.

O trysence estava me olhando, de rabo de olho, mas estava me olhando, perdi totalmente o ar quando vi seus olhos, pois eu nunca havia visto olhos de cor purpura na minha vida.

Ele sustentou o olhar comigo e senti que estava flutuando naquela cadeira, eu via ele, mas não o via ao mesmo tempo, acho que uma pequena corrente elétrica passou por mim quando o sinal tocou e ele se virou para guardar suas coisas.

Fui mais rápida, morrendo de vergonha, com certeza ele estava me encarando pois fiquei olhando para ele sem parar, bisbilhotando toda a hora.

Mas não consegui evitar, quando cheguei na porta, me virei, ele estava se levantando, e de repente me olhou de novo, sob os cílios claros, me senti sem ar de novo.


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Notas finais do capítulo

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