A Cinderella Story escrita por Queen Of Darkness


Capítulo 6
Capítulo 6




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O dia do baile havia finalmente chegado. Juliet já havia feito de tudo naquele dia: fora fazer compras com a mãe, foi na manicure e no cabeleireiro, passou na casa de Elizabeth e, finalmente, se encontrado com Harry e Tom para lhes entregar suas roupas, aproveitando para matar as saudades e combinar o horário que iriam sair de casa para o baile. Agora já era noite. A menina já estava pronta; olhava para o espelho do banheiro, checando se estava tudo perfeito. Ouviu um murro na porta... pela décima vez nos últimos cinco minutos. 


– Vai logo, Juh! – Samantha gritava lá de fora, batendo o pé freneticamente – Só falta você, ô noiva! 
– Ih Samantha, relaxa – Juliet riu de dentro do banheiro, enquanto passava o lápis preto pelos olhos – O Tom e o Harry já chegaram? 
– Já, tá todo mundo lá embaixo te esperando! – A garota voltou a esmurrar a porta – O que você faz tanto aí? Fabricando sua roupa, fazendo plástica no rosto ou o que? 
– Já terminei, Samantha, já terminei... 
– Aleluia! – Ela levantou as mãos para o alto ao ouvir o trinco da porta girar – Posso até ouvir os porcos voando e cantando em couro, e... – Samantha parou subitamente de falar, ao que a imagem de sua amiga surgia à porta. Os olhos se arregalaram, soltando um assovio e rindo ao vê-la corar – Não era a toa que você queria fazer surpresa com a sua roupa! Você está... linda! 
– Sério? – Juliet perguntou, parecendo com medo. Olhou duvidosa para a própria imagem refletida no espelho do quarto – Não tá muito... anh, ‘sluty’? 
– Claro que não! – Samantha riu com o comentário da amiga – Digo, na verdade tá, né, mas... – Ela riu ainda mais quando levou um tapa da amiga, que fingiu estar exageradamente ofendida – Tô brincando, chuchu, você está super hot! Vai arrasar lá na festa! 


Juliet mordeu o lábio inferior, receosa, enquanto se olhava mais uma vez no espelho. Estava vestida como uma perfeita e verdadeira dançarina de cabaret dos anos 90: usava uma saia preta, curta e extremamente estufada e rodada – a ponto de que, se girasse no mesmo lugar, toda sua calcinha apareceria –, e numa tentativa falha de cobrir as pernas nuas, vestia por baixo da saia uma meia-calça típica daquelas dançarinas, que era presa pelas coxas e ia até a ponta dos pés, e o que acabava por não cobrir as pernas era por causa que a vestimenta parecia estar cheia de ‘buracos’, como se estivesse rasgada. Na parte de cima, vestia um espartilho branco meio amarelado, dando a aparência de estar sujo e também de ser realmente apertado, o que não era. Aquele espartilho, que sempre a lembrava de algo como a do filme ‘Piratas do Caribe’ – o seu favorito – tinha os fechos pretos, era bem decotado e um tanto pequeno, por isso aparentava ser apertado, ajudando também na amostra de sua tatuagem de escorpião que tinha desenhado desde a parte inferior do abdômen até sua virilha. Amava aquela tatuagem, mas nem queria imaginar se seu pai descobrisse que tinha uma... Apenas sua mãe sabia, e suas amigas, obviamente. Deu sorte que, naquela semana, seu pai estava viajando a negócios. 


– Dá pra parar de se admirar e se apressar, ô narcisa? – Samantha brincou, vendo que sua amiga ainda se olhava no espelho; o cenho franzido – Que foi, Juh?
– Sei lá, Sam... Eu acho que eu tô, anh – Ela parou, encarando a amiga enquanto corava involuntariamente – com vergonha de descer assim, perto dos meninos e tal. 
– Vergonha? – Samantha repetiu, sem entender – Juh, todos seus amigos estão lá embaixo, e apenas seus amigos... Você tem vergonha do que, tosquinha? 


Juliet riu baixinho, e deu de ombros. Também não sabia de certo o motivo da vergonha, mas tinha medo do que Tom poderia falar, após toda aquela conversa que tiveram no dia anterior. Tudo aquilo lhe fez perceber que realmente estava crescendo. Sentia falta de como as coisas eram antes... 


– Samantha, a Juh já tá pronta? Porque já são MEU DEUS! – Harry parou de falar assim que avistou as duas garotas, principalmente Juliet. Ou sua roupa. 
– O que já são meu deus, Judd? – Ela perguntou rindo do amigo. 
– Não, são nove horas – Samantha disse consultando o relógio de pulso, em seguida rindo dos dois ali, que já se encontravam extremamente corados – O ‘meu deus’ foi pra você, Juh.
– D-desde quando você cresc... – Harry parou de falar assim que foi cortado por Juliet.
– Por favor, Harry – Ela bufou, jogando-se na cama – Nem vem me perguntar a mesma coisa! – imitou uma voz grossa, fazendo os amigos rirem – ‘Desde quando você começou a crescer, Juh?’. 
O garoto apenas riu baixinho, colocando as mãos no bolso. 
– Acho que o Tom já deve perguntar isso bastante, e por todos nós, não é mesmo? 
– Como adivinhou? – A voz dela era de completa ironia. Sentiu-se culpada por falar daquele jeito. 
– Anh, Samantha, você se importa em deixar a gente à sós um pouquinho, por favor? – Harry perguntou educadamente, rindo da cara que a menina havia feito – Eu juro que é rápido! – riu, virando-se para Juliet assim que a outra já havia saído do quarto. Sentou-se ao lado dela, encarando-a – Juh, você sabe que o Tom só diz isso porque ele se preocupa com você. Muito. 
– Eu sei, Harry – Ela sentou-se na cama, assim como ele. Encarou os pés – É que... o jeito que ele falou comigo naquele dia, e o que ele falou... – ela falava em pausas; por mais que não quisesse, as palavras de Tom naquele dia em que brigaram ainda ecoavam na mente, e o pior de tudo era que se sentia culpada, como se tudo que ele dissera fosse verdade. ‘E se realmente for?’, pensou, observando seus próprios pés balançarem, sem coragem de olhar nos olhos de Harry. – Acredita que eu tô até com vergonha de descer vestida assim, preocupada com o que ele vai pensar ou... – pausou novamente, suspirando profundamente – Falar? 
– Juh, o Tom só disse aquilo porque ele tava guardando aquelas coisas por um tempo já, e quando ele finalmente resolveu falar... Bom, saiu tipo num desabafo, sabe? Ele não queria ficar bravo com você. 
– Como você pode ter tanta certeza? – Ela finalmente levantou a cabeça, encarando Harry, e ele pôde ver que os olhos dela já estavam marejados em lágrimas que ela parecia se segurar para não deixar cair. 
– Porque ele me contou, Jô – Ele riu baixinho ao ver Juliet abrir um pequeno sorriso no canto dos lábios com o que acabara de ouvir – Eu juro que xinguei ele e mandei ele comprar rosas pra você pra reforçar as desculpas, mas ele disse que já estava tudo bem. – Harry levantou as mãos, como quem dissesse que não era culpado – Ele te ama, Jojo... Aliás, nós te amamos. 


Juliet sentiu uma ou duas lágrimas escorrerem pelo rosto e abraçou Harry forte. Gostava quando as pessoas lhe falavam que se importavam com ela, ainda mais se aquelas pessoas fossem seus melhores amigos. De repente, se sentiu melhor. Não estava mais com vergonha, muito menos medo de descer as escadas e ouvir o que os outros poderiam falar dela. Sabia que tinha seus amigos ali. Sempre. 


– Anh, Juh? – Harry murmurou, tentando ser delicado – Eu não... não... consigo respirar! 
– Cacete Judd, eu aqui tentando ter um daqueles momentos entre amigos e você me atrapalha só porque não consegue respirar? – Ela riu ao ver o menino, já vermelho, a olhar como se quisesse a enforcar e fazê-la ficar sem respirar também – Agora vamos, você já enrolou demais. 
– Ah, eu que enrolei? – Harry riu, deixando a amiga o puxar pela mão, empurrando-o para fora do quarto. 
– Mas é lógico que foi você, Judd! – Juliet ia puxando o menino pelas escadas, rindo ao ver a cara dos amigos que não entediam o que acontecia – Olha só, o Harry que enrolou lá em cima. Quis experimentar um pouco do meu blush e tal... Por isso ele tá todo vermelho agora! – brincou, apontando para ele, que não conseguiu fingir-se de bravo e riu, gritando algo como ‘vai ter vingança’. 


Juliet, ao passar por Tom, que os esperava no jardim ao lado do carro, apenas o abraçou, deixando o rapaz com a boca aberta sem falar nada, já que o cortara com o abraço. Ele, que apesar de não entender, se calou e abraçou a amiga de volta. 


– Podemos ir então? 


Todos concordaram e entraram no carro, rumo ao tão esperado baile. Finalmente. 

– Aqui estamos... – Elizabeth disse, uma vez que todas as quatro meninas e os dois meninos já estavam no baile. Bom, não exatamente no baile, e sim na entrada do local enquanto encaravam tudo. 
– E nós vamos ficar aqui parados ou vamos entrar? – Samantha perguntou, puxando as amigas pelas mãos e deixando que os outros dois as seguissem. 
– Ah, mas antes... – Juliet parou os amigos e colocou sua própria máscara, falando para que os outros fizessem o mesmo também – Vai Judd, coloca logo! Isso... Pronto, agora vamos. 


Finalmente adentraram o salão; estava tudo lindo. As pessoas já estavam dançando, extremamente animadas e bem vestidas. Achou engraçado ver um lugar cheio de ‘donzelas’ e ‘cavaleiros’. 


– Olha, eu acho que aquela ali roubou o vestido da minha vó – Samantha riu, comentando baixinho com Suzana que soltava gritos histéricos com aquele comentário. 
– E aquela fez a roupa com as cortinas, por acaso? – Suzana emendou, apontando para uma menina que passava com um vestido de bolinhas vermelhas. 
– Anh, Juh... Posso falar com você? – Tom perguntou, já puxando Juliet para que ficassem distantes dos outros. Assim que viu Samantha parar de olhar, desviou o olhar que tinha sobre ela e se virou para a amiga em sua frente – Eu vou te contar isso e você é a única pessoa que vai saber, e se contar pra alguém eu... Bom, eu não vou te esmurrar porque você é uma menina, mas você entendeu. 
– Credo, Tom – Ela riu, assistindo a cena dramática que o rapaz fazia – Você sabe que eu não vou contar pra ninguém. Tanto por você ser meu melhor amigo como... anh, porque eu não quero apanhar. 
– Olha, eu não sei porque mas... Eu nem conheço ela direito, sabe? E... – Tom pausava constantemente, parecia que estava gago ou algo parecido.Juliet até tentou bater em suas costas para ver se cuspia as palavras de uma vez, mas a única coisa que conseguiu foi vários xingamentos – Eu acho que eu to afim de uma menina, pronto, falei. 
– AAAAAHH QUE LIINDO! – Ela apertou as bochechas do garoto, fazendo-o corar. Várias pessoas que passavam por ali riram da cena – Meu bebê tá crescendo, que bonitinho! 
– Hey, eu que tenho o papel de irmão mais velho e chato e digo que você tá crescendo! – Ele resmungou, rindo em seguida. Tirou as mãos da menina de sua bochecha antes que elas ficassem mais vermelhas do que já estavam, de vergonha – Mas bom, não é qualquer garota, Juh... 
– Como assim? MEU DEUS, ela não é bissexual, né? Tom, VOCÊ JÁ CHECOU PRA VER SE ELA TEM... anh, você sabe... debaixo das calças, entre as pernas? 
– AI, SUA MULA! – Tom bateu na sua própria testa, e depois que percebeu a cara da amiga como se não entendesse, bateu na dela também – Não esse tipo de ‘qualquer garota’. Cara, você tem andando muito com o Jones por acaso? 
– Ai, grosso – Ela estirou a língua, massageando o lugar que Tom havia batido – Ah, você não explica direito... Agora dá pra me contar logo quem é a sortuda, Tom?
– AmeninaéaSamantha – Falou tão rápido que Juliet ficou parada, encarando o garoto com a mesma cara estúpida com quem não havia entendido uma sequer letra da frase. E realmente não havia entendido. 
– Será que você poderia falar direito, ô analfabeto? 
– Analfabeto é quem não sabe escrever nem ler, ô cérebro – Tom rolou os olhos, rindo quando a menina apenas deu de ombros e mandou-o repetir, agora, lentamente – Tá bom, tá bom... Ai meu Deus. Se você zoar, eu... – parou ao ver a cara da amiga – Ai, cacete, eu gosto da Samantha, tá bom? Sim, da Samantha, a sua amiga metida... Essa Samantha mesmo, Juliet. 

Por mais que quisesse fazer ou falar algo, Juliet não teve reação. Sabia que Tom a achava bonita e desconfiava de uma certa paixonite, mas não fazia idéia de que era algo mais sério a ponto de fazê-lo ficar nervoso. Normalmente, ele sempre era muito confiante e se dava bem com as garotas.


– Se você quiser falar alguma coisa agora... – Tom falou, quebrando o silêncio, enquanto passava os dedos pelos cabelos arrepiados; corado. 
– Anh... – Ela nem sabia por onde começar; permanecia a expressão indecifrável na face – Eu brincava com você sobre isso, mas... Eu... eu não imaginava que era tão... verdade? 
– Pra ser sincero, nem eu. – Tom se silenciou, encarando os pés. Não tinha contado aquilo pra ninguém, e por mais que Juliet fosse sua melhor amiga, era difícil. As duas eram melhores amigas. 
– Você quer que eu fale com ela, Tom?
– O QUE? – Ele deixou de olhar para os pés e passou a encarar a menina naquele momento, assustado. Mais medo, pra falar a verdade – Mas... E se ela não gostar de mim, Juh?
– Tom, você não vai saber enquanto não fizer algo. 
– Não sei. – Ele tentava descobrir o que Juliet estava pensando, mas sua expressão não deixava escapar nada, como normalmente fazia. Era tão fácil adivinhar o que ela pensava antes... – Você não me parece muito feliz com isso, sabe? 
– Não é isso, Tom. – Ela suspirou, e o amigo finalmente conseguiu ver o que acontecia apenas pela mudança de humor e pelo jeito que falava – Eu tenho medo que você magoe ela, entende? E depois, como vai ficar pra mim? Vocês dois são meus melhores amigos e... Eu não posso tomar lados. 
– E o que a faz pensar que eu vou magoar ela?! – Ele arregalou os olhos. Tinha tanta ‘fama’ assim? 
– Ora Tom, não é como se você fosse o cara mais santo da escola, né? Você nunca namorou sério e... Bem, por mais que não pareça, a Samantha é muito sensível, sabia? 
– Todas vocês são... 
– Tom! – Ela estirou a língua, mas Tom não riu; apenas abaixou a cabeça e voltou a encarar os pés. Juliet levantou delicadamente seu rosto com a mão e olhou dentro de seus olhos. Sempre conseguia ver o que ele pensava apenas pelo olhar – Você realmente gosta dela, não é? – O menino apenas mexeu a cabeça vagarosamente, em afirmação. Ela não fez nada além de sorrir. Sorrir verdadeiramente. – Vai lá, fala com ela... – o menino fez menção de falar algo, provavelmente avisando que realmente não iria, mas ela foi mais rápida – Tom, o máximo que pode acontecer é ela falar que não gosta de você ou que não quer ficar com você, ou sei lá... E de qualquer jeito, você tem a mim pra convencê-la. 

Ele apenas sorriu. Juliet soltou seu rosto, olhando dele até Samantha, que ainda se encontrava um pouco mais a frente, esperando. Por mais complicado que poderia ser as coisas, estava gostando da idéia dos dois melhores amigos começarem a namorar ou ter algum tipo de relação... ‘Pelo menos alguma das minhas amigas vão se dar bem essa noite’, riu com o próprio pensamento. 


– Anh, antes faz um favor pra mim? – Tom pediu, rindo até antes de falar – Embebeda ela pra mim antes, aí quando ela tiver quase caindo, você me chama e eu dou uma de herói e salvo ela? 
Juliet riu, dando um tapa na cabeça dele e o empurrando para o lugar onde antes estavam, e onde os amigos ainda permaneciam enquanto os esperavam. 
– Ai, aleluia hein! – Samantha reclamou ao ver os dois se aproximando – Vamos logo, Juh, eu quero dançar! 
– Dançar? Agora? – Juliet olhou da amiga para Tom, sentiu as mãos dele suarem de tanto nervosismo – Anh, eu acho que é uma boa idéia. Tom, me procure quando estiver... anh, melhor. – disfarçou. 

O garoto apenas concordou com um aceno de cabeça e um sorriso forçado e sem graça, vendo as quatro meninas se distanciarem, rumo à pista de dança. Continuou olhando até seus corpos sumirem entre o aglomerado de pessoas, e ao que isso aconteceu, seu olhar permaneceu fixo ali. 


– Alô, terra para Fletcher – Harry chamou, batendo na cabeça de seu amigo, que reclamava. Ele apenas riu. – Vamos logo procurar o Danny e oDougie... Aquele retardado do Jones deve estar perdido já. 

– O que vocês conversaram tanto? – Samantha perguntou, andando com Juliet um pouco mais atrás, enquanto Elizabeth e Suzana iam na frente, guiando o caminho para o meio da pista. 
– Anh? – Ela se fingiu de desentendida. 
– Você e o... Tom – Samantha fez uma pausa, parando de encarar o chão por onde andava e passando a olhar a amiga – O que vocês tanto conversaram lá? 
– Ah, nada demais... – Juliet deu de ombros. Queria tanto contar para ela; era costume dividirem todos seus segredos. Mas aquele era o segredo deTom, o que a fazia sentir-se pior ainda, mas logo a amiga já estaria sabendo. ‘Espero’, pensou. – Ele só tava me contando de uma menina aí e tal... 
– Ah – Foi a única coisa que saiu da boca de Samantha. Um único murmúrio triste, desapontada. 
– Que foi? – Juliet havia percebido, não era idiota e, por mais que fosse um pouco lerda, conhecia muito bem a amiga. Aquele ‘ah’ não havia sido nada de desinteresse, e sim o contrário. 
– Nada – Mentiu, voltando a encarar o chão. 
– Samantha – Juliet riu amigavelmente, abraçando a menina – Você não me engana! 
– Já disse que não é nada – Samantha apenas se desvencilhou dos braços da amiga e continuou encarando os pés, e Juliet pôde ver, por mais que a outra estivesse usando máscara, que estava muito vermelha. 


As duas permaneceram em silêncio por um tempo. O caminho para a pista de dança agora parecia demorar uma eternidade. Porque Samantha havia ficado tão brava com isso? De repente, a ficha lhe caiu. 


– Sam, – Juliet começou, inocentemente – você... você gosta do Tom?
– O QUE? Faça-me o favor, Juliet. Eu sabia que você era lerda e tudo mais, mas não esperava que dissesse tamanha idiotice como essa, né... Pelo amor de Deus! Há, gostar do Fletcher... essa é ótima! 
– Você... você gosta dele! – Juliet apenas abriu um dos sorrisos mais largos que já abrira em sua vida. Uma das características que mais gostava emSamantha era aquela: ela não conseguia mentir. – Você gosta dele, cara! Você gosta dele, mas é orgulhosa demais pra admitir, só porque ele é um ‘loser’! 
– Juliet, pára com isso! Eu NÃO gosto dele, valeu? – Samantha sentiu suas bochechas queimarem como se estivessem em fogo. 
– Samantha, pára com essa mania de julgar os livros pela capa! Além do mais, você não consegue mentir pra mim! – Juliet falava tudo muito rápido; parecia não pensar mais no que saía de sua boca – Ele não é um loser, Sam. Pára de pensar e falar essas coisas e aproveita que ele tá afim de você também, cara! 
– ELE TÁ AFIM DE MIM?! – Samantha sentiu as palavras saírem mais alto do que imaginara, mas não ligou. Olhava para Juliet, que agora havia parado intacta no lugar com os olhos arregalados e as mãos na boca. – Juliet, pode me contar! Que história é essa que ele gosta de mim? 
– Ih, piro de vez, Samantha? Eu... Eu nem disse nada – Ela deu de ombros. Era óbvio que a amiga não iria cair naquela, já que a cagada já havia sido feita, mas o que custava tentar? 
– Juliet Deppalier! OU VOCÊ ME EXPLICA ISSO AGORA MESMO OU EU... – Samantha parou de falar para passar a olhar a amiga com um olhar vitorioso. Continuou, mas agora murmurando: – Ou eu conto pro Poynter que você AMA ele! 
– O QUE?! – Agora foi a vez de Juliet berrar – Da... da onde você tirou isso, Samantha? O Poynter é o maior loser, cara... Eu nem... nem gosto dele!
– Ué, o que aconteceu com ‘pare com essa idiotice de loser’, hein? – Samantha ria, principalmente da cara que a amiga fazia – Você também não consegue mentir pra mim, srta. Poynter! – provocou. 
– Ahá! Então você admite que gosta do Tom? – Juliet fez o máximo para tentar ignorar aquele comentário de Samantha, mas sentia as bochechas coradas. 
– Não mude de assunto, Juliet! – Samantha ficou ainda mais vermelha, e deu graças a deus que ninguém ali poderia ver por causa das máscaras – Eu sei que você gosta do Poynter!
– E eu sei que você gosta do Tom! – Juliet retrucou, e de repente, as duas entraram em silêncio. ‘Meu Deus, será que nós duas estamos certas?’.Ao pensar nisso, em Dougie e se realmente gostava dele, sentiu um frio percorrer seu estômago, por algum motivo que não sabia qual era – E eu sei também que você está vermelha por debaixo dessa máscara – riu, tentando aliviar a ‘tensão’ entre elas. 
– Você também está, eu sei – Ela riu – Por isso que agora estou realmente gostando dessa idéia de usar máscaras em festas – brincou, mas logo entrou em silêncio novamente. 
– Sam – Juliet chamou, após mais um intervalo caladas. Optou por tirar a máscara, pelo menos naquele momento, e Samantha fez o mesmo, levantando a cabeça em seguida e murmurando algo quase inaudível – Você acha que... anh, que tá muito na cara que eu gosto dele? 
– Na verdade, não. Você até que disfarça bem – Samantha riu, voltando a encarar os pés – E você acha que... tá muito na cara que eu gosto do Tom?
– Na verdade, não também – As duas riram juntas – Eu brincava com vocês, sabia que um achava o outro pelo menos muito... anh, atraentes – sorriu ao ver a amiga corar novamente, ao que um pequeno sorriso se abria ao canto de seus lábios – Apenas não sabia que era algo mais sério. 
– E é bom que continue assim – Samantha pareceu séria por um momento, mas logo a pose envergonhada voltou – Você realmente acha que... Bom, que ele também gosta de mim? 
– Não – Juliet respondeu rapidamente, sorrindo ao ver a decepção estampada claramente na face da amiga – Eu tenho certeza. 
– C-como? – Ela perguntou, gaguejando ao ver a amiga rir de seus olhos que brilhavam com intensidade – Como você tem certeza de que ele gosta de mim, Juh?
– Era sobre isso que a gente tava conversando, Sam! Você é a menina que ele tava me ‘contando’. E ele gosta de você... não entendo o porquê, mas sei que ele gosta – brincou, levando um tapa da amiga. 


Samantha apenas sorriu. Sorriu de verdade, como Juliet nunca vira. Não assim, feliz daquele jeito. Foi ali que teve certeza que, o que estava pra acontecer, iria mudar muita coisa. Mas pra melhor. Pegou-se sorrindo também ao ver a imagem de seus dois melhores amigos juntos, em sua cabeça. 


– E se você quiser saber, eu também acho que o Poynter gosta de você, tosquinha – Samantha brincou, rindo ao ver a amiga corar fortemente. 
– Tá bom, Samantha, já vi que muito amor faz mal pra sua cabeça. Agora vamos logo que aquelas duas retardadas da Eliza e da devem estar nos procurando! – Juliet riu, puxando a máscara de volta para o rosto como se fosse uma ‘Power Ranger’ prestes a ser descoberta. Samantha soltou uma gargalhada histérica, pondo sua máscara também e deixando-se ser empurrada pela amiga. 
– Onde vocês estavam?! – Ouviram a voz de Elizabeth de longe, e que por mais que o som estivesse alto demais, ela realmente tinha o poder de gritar – A gente tava andando e do nada... ‘tchum’, vocês somem! 
– ‘Tchum’? – Juliet riu junto com Samantha – Relaxa, babe. A gente só parou pra... 
– Uns gatinhos vieram conversar com a gente – Samantha mentiu, dando de ombros e piscando para as amigas. Elizabeth e Suzana fizeram barulhos com a boca, acreditando, e Juliet apenas riu. 
– Agora vem logo que eu to morrendo pra dançar essa música! – Suzana berrou, puxando as três meninas para a pista, ao que começava tocar Don’t Cha, das Pussycat Dolls. Segundo elas, aquela música era a música delas. Viviam dançando e cantando sempre que a ouviam. 

Depois de dançarem mais seis ou sete músicas, as quatro garotas já estavam cansadas. Resolveram ir para o bar pegar algo pra beber, já que não haviam bebido nada desde que chegaram. E festa sem bebidas? Bom, segundo elas, não era festa. 


– Vamos voltar a dançar depois de pegar as bebidas, gente! – Juliet reclamou. Estava tocando ‘Twist and Shout’, dos Beatles, música que adorava cantar, ouvir e dançar. Simplesmente amava os Beatles. 
– Ai Juh, que mania de gostar dessas bandas idosas! – Suzana retrucou, rindo ao ver a outra estirar a língua. 
– São os Beatles, Suzana! Os B-E-A-T-L-E-S. – Ela voltou a reclamar, dizendo o nome da banda pausadamente, como se a amiga fosse retardada ou algo do tipo. 
– Eu S-E-I – Suzana copiou, zombeteira – Eu também gosto dos B-E-A-T-L-E-S, Juliet – riu ao que a amiga estirava a língua novamente – Mas não serve tanto pra dançar quanto as Pussycat Dolls, muito obrigada. E eu estou cansada... 
– Mas é Twist and Shout e eu amo essa mús... – Juliet logo parou de falar, ao que a música parou de tocar também – E lá se vai minha chance de dançar Twist and Shout! 
– Relaxa, vai ter muita música pra gente dançar ainda – Elizabeth disse, passando no meio das duas e se apoiando no balcão do bar, chamando pelo bartender – Moço, me vê só um uísque, por favor? 
– Ah, SÓ um uísque? – Juliet riu, aproximando-se do balcão também – Já começando com o uísque, Elizabeth? Depois reclama quando acorda de ressaca... – riu quando a amiga lhe mostrou a língua – Eu vou querer... Anh, só uma vodka com coca e muito gelo, por favor. 
– Ah, ah, ah! – Suzana empurrou as duas amigas, balançando as mãos freneticamente para que o bartender lhe desse atenção – Eu quero um ‘Frozen’, moço! Eu quero um ‘Frozen’! 
– Calma Suzana, ele vai te dar o seu ‘Frozen’ – Elizabeth riu, assim como Juliet, que percebeu que o bartender ria de toda aquela situação. 
– Aqui está – O homem detrás do balcão avisou, colocando dois copos na mesa e empurrando-os para Elizabeth e Suzana. Juliet olhou para o bartender perdida, provavelmente se perguntando onde estava o seu drink – Calma, o seu está aqui – Ele entregou o copo à ela, lançando-lhe uma piscadela. 
– Meu deus, o que foi aquela piscadinha? – Elizabeth perguntou assim que se sentaram a uma mesa, rindo ao ver Juliet corar – O bartender deu maior mole pra você, sua besta, e porque você tá bebendo vodka com coca no canudinho? 
– Anh? – Juliet levantou a cabeça, falando o que conseguia, ainda com o canudo na boca – Ah, mania. Eu acho bonitinho – deu de ombros, ignorando as risadas das amigas. Tentando ser discreta, olhou pelo canto dos olhos o bartender. Sentiu seu coração parar na garganta quando o viu sorrindo para ela. O que era aquele sorriso? ‘Provavelmente não era pra você, sua idiota!’, falou para si mesma. 
– Juliet Deppalier, que secada meudeusdocéu! – Suzana falou rápido, rindo com Elizabeth e lançando olhares do bartender para a amiga – Porque isso nunca acontece comigo, cara? 
– Ele sorriria pra você se você não gritasse que nem uma histérica pedindo seu ‘Frozen’ – Juliet riu, vendo a amiga estirar a língua. Enfiou a boca no canudo e tomou um longo gole – Além do mais, ele nem estava olhando pra MIM. – Falou, com a boca cheia de vodka e coca, quase babando. 
– Pára de babar – Elizabeth riu, fazendo a amiga quase cuspir toda sua bebida da boca – E lógico que ele tava olhando pra você, Juliet, e pára de tomar vodka com esse canudinho, cacete! – falou rápido. 
– Gente, gente, ele tá olhando de novo – Suzana avisou, abaixando a cabeça como quem não quisesse ser vista. As outras duas apenas riram. 
– Ele não tá olhando, Suzana, e... – Ao que Juliet se virou, deu de cara com o bartender a encarando e sorrindo – Meu deus, ele tá mesmo olhando! – fez o mesmo que a amiga e abaixou a cabeça. 
– Parem de ser retardadas, ele vai pensar que a gente tem dez anos de idade, cara! – Elizabeth reclamou, sorrindo sem graça para o bartender, como se nada estivesse acontecendo. 
– Que pense! Eu não quero um cara de vinte e poucos anos sorrindo e piscando pra mim, cara! 
– Juh...
– Vou eu lá saber se o cara já não tem filhos e é separado? 
– Juh.
– Meu deus, imagina se ele ainda estiver casado e trai a mulher dele! 
– Juh?
– Eu vou ficar quietinha aqui no meu lugar e... 
– JUH!
– AI CACETE, QUER ME MATAR DE SUSTO? – Juliet berrou, colocando a mão sobre o peito, sentindo o coração bater acelerado – Pra que gritar desse jeito, sua exagerada?! 
– Porque você não tava ouvindo e não calava a boca, sua anta! – Elizabeth retrucou. 
– Anta não, hein Elizabeth! Não vamos rebaixar o nível e... 
Vendo que Juliet realmente não iria parar de falar, Elizabeth segurou a cabeça da amiga com as duas mãos e a virou para o outro lado. A menina tentou se desvencilhar, mas quando sua cabeça finalmente foi solta, já tinha congelado. O bartender gritava por seu nome e a chamava para ir até ele. 
– Como ele sabe meu nome? – Ela perguntou, olhando do homem até as amigas. 
– Quem se importa?! – Suzana berrou, com os olhos brilhando – Ele tá te chamando, sua lerda! Vai lá! 
– Eu não, nem conheço ele e... 
– Fica conhecendo, pronto! – Elizabeth se levantou e puxou o braço de Juliet, que se segurava à mesa para não se levantar – Juliet, pára de ser criança e vai! O que você tem a perder? NADA! E sabe por quê? Porque ele é o maior gato e tá dando em cima de você, e isso é uma festa, e festas servem pra isso. Agora VAI, porque se você não for, eu vou chamar o Poynter pra te agarrar aqui! 
– O QUE?! – Ela berrou. O que? Até Elizabeth sabia disso agora? ‘Não é possível, será que eu tô dando muito na cara mesmo?’, pensou, receosa. – Eu não... não gosto dele. 
– É claro que não – Elizabeth respondeu, irônica – Agora vai lá, nem que se for só pra conversar! 
– Tá, mas só vou pra te provar que eu não gosto do Poynter! E... e ainda vou voltar beijando ele, valeu? Porque eu NÃO gosto do Poynter! – Berrou, falando firmemente para si mesma, por mais que soubesse que não era verdade. Levantou-se da cadeira e foi andando até o bar. Passou por um menino loiro que segurava seu chapéu que lembrava uma cartola nas mãos; olhou bem em seus olhos e viu que eram azuis, já que só se era possível enxergar isso e de sua boca para baixo, por causa de sua máscara. Balançou a cabeça, espantando os pensamentos ao se ver olhando demais para o tal menino. Parou em frente ao balcão, encarando firmemente o bartender, apesar de estar tremendo. – Anh... Chamou? 
– Chamei – O homem respondeu rindo. Juliet não queria admitir, nem na verdade perceber, mas viu que seu sorriso era perfeito. – Eu acho que você esqueceu sua bolsa aqui. 
– Ah – Ela respondeu, confusa. Não podia negar que sentia-se até um pouco desapontada. Até que lembrou: – Mas hey, eu não trouxe bolsa! 
– Ah não? Erro meu, desculpe. Mas já que está aqui... – O bartender continuou, rapidamente, apoiando-se no balcão e ficando mais próximo deJuliet – Aceita uma bebida? Por conta da casa. 
– Mas eu nem pago as bebidas, ué – Ela riu, tentando não deixar o homem perceber que tremia. 
– Droga, acho que essa não deu certo. Vou tentar outra. Vejamos... – Falou, parecendo pensar em algo, fazendo-a rir – Ah, que tal essa: seu pai era ladrão? 
– Anh, não. – Ela respondeu, rindo, apesar de realmente não ter entendido. – Por quê?! 
– Porque eu acho que ele roubou as estrelas e colocou nos seus olhos – O bartender piscou, fingindo ser super sexy. Juliet não agüentou - riu até a barriga doer. Aquela provavelmente fora a pior cantada que já levara em sua vida. – Eu tô brincando, viu? Não pense que eu realmente uso essas coisas! 
– Ah sim, menos mal – Brincou, ainda rindo – Mas tá, eu vou continuar te chamando de ‘moço’, ‘bartender’ ou você prefere algo melhor, como ‘funcionário do lugar onde teve o baile da minha escola’? 
– Ouch – Ele brincou, rindo com ela. Estendeu a mão. – Pode me chamar de Pete mesmo – abriu mais um de seus sorrisos, e ao que Juliet lhe deu sua mão também, o homem a beijou. 
– Anh, posso te perguntar uma coisa? – Ela tirou a mão rapidamente, já extremamente corada. Viu Pete concordar com um aceno de cabeça e um mais um sorriso e continuou – Quantos anos você tem? 
– Quantos anos você acha que eu tenho? – brincou. 
– Ah não, eu sou péssima com essas coisas! Vou acabar falando que você tem 30 anos e... 
– Você acha que eu tenho 30 anos?! – Ele riu, vendo Juliet corar. Ela não queria realmente ter dito aquilo, mas parecia que naquela noite ela estava falando até demais. – Eu tenho 20 anos. 
– Sério? Quer dizer, você parece mais velho... 
– E isso seria uma coisa boa? 
– Diria que sim – Juliet deu de ombros, rindo. Sabia que não era verdade; não gostava de meninos com cara de adulto, preferia aqueles com carinhas de bebê. Como Dougie. ‘Como o Dougie?!’, brigou consigo mesma. 

Ela entrou em silêncio. Balançou a cabeça, afim de espantar os pensamentos. Olhou em volta, sem ligar mais para o bartender ali. Seus olhos pousaram na mesa onde antes estava e sorriu. Elizabeth e Suzana se encontravam lá, juntas de dois meninos muito bonitos. 
Peraí... Elizabeth e Suzana?!’, berrou dentro da própria mente. Voltou a olhar em volta, agora com certo desespero. ‘Meu deus, cadê a Samantha?!’; continuou brigando com seu consciente. 


– Licença – Juliet se virou de volta para o balcão do bar, cortando Pete, que comentava algo sobre seu belo Cadillac e que já fora para a Marinha. – Eu tenho que procurar minha amiga. 
Sem deixar que ele falasse mais alguma coisa, a garota levantou-se do banquinho e saiu dali. Passou por Elizabeth e Suzana, falando algo, que para elas, foi inaudível. Empurrou algumas pessoas para poder passar, e bastou olhar para o lado para finalmente ver Samantha. Mas aquela imagem não lhe agradou muito: ela estava com um menino, e não era Tom. Não queria atrapalhar, ela parecia estar se divertindo, já que ria constantemente enquanto o garoto em sua frente falava sem parar. 

– Ela tá com um cara – Tom murmurou, mais para si mesmo. Não esperava que ninguém ouvisse. 
– Quem? – Harry perguntou. Para sua felicidade, ele havia ouvido... – A Juh? – riu. 
– Anh? – Se fingiu de desentendido. Agradeceu por estar usando aquela máscara ridícula, que naquele momento não era tão ridícula, já que estava escondendo seu rosto completamente corado. – É, a Juh! – mentiu. 
– Cara, eu tô odiando esse chapéu ridículo e essa máscara – Ouviram Dougie reclamar, e Tom agradeceu novamente; viu que Harry já começava a suspeitar – Ninguém tá me reconhecendo, cacete! 
– Esse é o objetivo, meu querido Poynter – Danny abraçou o amigo por trás, arrancando gargalhas dos outros. Dougie apenas o empurrou e lhe deu um tapa na cabeça. – Eu estou amando. Posso fingir que sou o George Clooney e dar em cima das meninas fácil. – sorriu, fazendo uma dancinha ridícula. 

Os dois amigos começaram a rir, gritando algo como ‘montinho!’ enquanto Danny colocava as mãos sobre a cabeça para se proteger. Tom não riu e nem fez nada, apenas voltou a olhar para o lado. Para Samantha. Mas, agora, Juliet estava puxando-a para algum lugar, longe do menino que antes estava. O menino sorriu; a amiga estava sempre o ajudando. Mas se perguntou se sua ajuda serviria para alguma coisa quando chegasse a hora em que tivesse que falar com Samantha. Tinha medo, mas sabia que tinha que falar. ‘É, acho que ela vai gostar de mim... com a máscara.’, pensou, desanimado. ‘Já que não dá pra me reconhecer, né’. Abaixou a cabeça e continuou encarando os sapatos. 

– Quem era aquele? – Juliet perguntou, uma vez que ela e Samantha já estavam longe do menino que antes a amiga conversava – Você parecia estar se divertindo... 
– Ih, Juh – Samantha olhou para ela, sorrindo. Parecia estar muito feliz. – Ele tá na minha classe de Biologia... Não é nada demais. – deu de ombros – Só veio falar comigo; ele é divertido. 
Juliet apenas franziu o lábio, assistindo a felicidade de sua amiga. Continuaram andando, sem saber para onde iam. 
– Moço, me vê um ‘Sex on the beach’, por favor? – Samantha pediu, apoiando os cotovelos no balcão do bar. Riu ao ver sua amiga arregalar os olhos e se abaixar, sentada no chão – O que você tá fazendo? 
– Shiiiiiiiiu! – Exclamou em um murmúrio alto, colocando o dedo nos lábios. Samantha, que não entendeu, fez menção de abrir a boca para falar mais alguma coisa. Juliet lhe chutou a perna, enquanto fazia gestos, apontando para o bar. – O cara... ali, oh. 
– Anh, oi? – O bartender chamou Samantha, que não percebeu e continuou olhando pra baixo, se comunicando com a amiga através de gestos e leituras labiais. 
– O bartender?! – Samantha murmurou, mas daquele seu jeito bem sutil de ‘murmurar’. Apontou para frente, querendo indicar o homem do bar, sem perceber que ele estava ali. 
– Eu? – Ele riu, vendo o susto que a menina havia levado – Com quem você tá falando aí embaixo? 
– Anh? Eu não to falando com ninguém não! – Samantha se enfiou na frente do bartender quando o mesmo tentou se inclinar no balcão para ver se havia alguém ali – Não tem ninguém aqui! Pára de olhar! 
O bartender insistiu, e sendo mais alto que a menina em sua frente, desviou dela e conseguiu olhar para baixo. Apenas riu ao ver Juliet sorrir amarelo, enquanto corava fortemente. 
– Oi Pete – Ela acenou com as mãos, completamente sem graça – E aí, que manda? 
– Anh, nada demais – Ele riu novamente – E você? 
– Ah, o mesmo de sempre... – Juliet balançou a mão, como se realmente não tivesse nada para contar. Ele riu ainda mais com o modo calmo que agia. – Você sabe... – deu de ombros. 
– Aham, claro que sei – Pete abriu mais um daqueles sorrisos, fazendo até Samantha engasgar com a bebida – Você se importaria em responder uma coisinha pra mim, Juliet?
– Claro – Respondeu, dando de ombros e sorrindo. Agia normalmente, como se aquilo fosse algo que fizesse sempre. ‘Claro, conversar com bartenders sentada no chão’, pensou. ‘Virou até mania, sabe’. 
– Porque você tá sentada no chão? – Ele riu novamente – Se escondendo de mim? 
– O-o que? – Gaguejou, corando ainda mais. Beliscou a perna de Samantha quando a viu sentada, tomando seu drink enquanto assistia e ria daquela cena. – Mas é claro que não, Pete! O que o faz pensar isso? – forçou uma risada. 
– Nada não – Pete sorriu mais uma vez e deu de ombros – E... você não vai levantar, não? 
Juliet realmente nem havia mais notado que estava sentada no chão. Sorriu sem graça novamente e se levantou, arrumando a saia amassada e o espartilho, que insistia em cair. 
– Bom, é melhor a gente ir – Abriu o maior sorriso que pôde, puxando o braço de Samantha – Mas anh, legal te conhecer e... sucesso, cara! 
‘Sucesso, cara?’, pensou consigo. Se xingou mentalmente e acenou para Pete. 
– Espera aí – Ouviu ele berrar. Juliet parou, fechou os olhos e suspirou profundamente, ainda de costas. Se virou e o viu escrever algo em um papel. – Caso você esteja livre e... solteira. – riu. 

Pete apenas lhe entregou o bilhete. Sem esperar para que ela falasse nada, lhe deu um beijo na bochecha - que havia sido muito, mas muito próximo do canto de sua boca -, e Juliet sentiu o mesmo frio percorrer seu corpo. Intacta e sem saber exatamente o que falar, ela deixou-se ser puxada ‘delicadamente’ pela amiga. 

– Ok, já podemos entregar o cara por assédio sexual – Samantha riu, enquanto procurava suas amigas no grande aglomerado de pessoas – Mas como ele é bonito... 
– Achei elas! – Juliet berrou, tentando ao máximo ignorar o comentário da amiga. Puxou-a pelo braço e caminharam até Elizabeth e Suzana, que pela surpresa delas, estavam conversando com Tom e Harry. ‘Essa festa tá estranha demais, obrigada por perguntar’, falou para si mesma. 
– O que será que as duas tão fazendo lá com eles? – Samantha perguntou, arqueando a sobrancelha. 
– Porque, tá com ciúmes, é? – Brincou, apertando as bochechas da amiga que havia corado fortemente, ganhando em conseqüência um forte tapa. – Tá bom, tá bom. Vamos logo! 
As duas seguiram em direção aos amigos, rindo e conversando o tempo inteiro. Samantha não parava de perguntar se seu cabelo estava arrumado e bonito, e Juliet apenas ria com a cena. 
– Aleluia, irmão – Suzana levantou os braços para o alto quando viram ambas garotas se aproximando – Onde vocês foram parar? Mania de se perderem de nós... 
– Mas eu passei por vocês e falei que ia achar a Sam – Juliet arregalou levemente os olhos, como se quisesse dizer que sua amiga estava provavelmente com amnésia. 
– E o Danny e o Dougie não estavam com vocês? – Harry perguntou, empurrando o corpo de Juliet delicadamente para o lado, procurando pelos amigos, como se eles estivessem escondidos ali. 
– Eles não estão aqui? – Juliet corou fortemente ao ver que Samantha percebera a decepção em sua voz. 
– Não! – Tom respondeu, bufando – Qual o problema daqueles dois? 
– Problema nada – Elizabeth riu – Eles é que são espertos e foram curtir o baile! 
– Não acredito que você chamou o Jones e o Poynter de ESPERTOS! – Harry riu alto, mas logo parou quando Elizabeth, de brincadeira, lhe deu um leve tapa e riu junto. Os dois se entreolharam e coraram sob os olhares e comentários provocativos dos amigos. 
– Eu acho que a gente deveria dançar – Suzana retrucou, já puxando os braços das meninas. 
– Ah gente, eu não to afim, não – Juliet sentiu todos os olhares se virarem para ela. Encarou os pés e puxou seu braço das mãos de Suzana. – Vão vocês, depois a gente se encontra. 
– Ah não! – Elizabeth reclamou – Pra gente se perder de novo? – Ela apanhou o braço da amiga e voltou a puxá-la – Vamos lá, Juh!
– Ah Eliza, eu to com frio e... cansada! – mentiu. – Leva o Harry, ele tá super afim de dançar! 
– Estou, é? – O garoto perguntou, arqueando a sobrancelha. 
– É lógico que está – Juliet riu, pisando ‘discretamente’ no pé do amigo – Mas acho que a Sam não está muito, não... E o Tom... ah, o Tom! Ele odeia dançar, sabe. – balançou a cabeça em negação. 
– Juliet – Samantha murmurou em um tom mortal, lançando o olhar que a menina tanto conhecia. ‘Ela vai me matar agora e me agradecer depois’,Juliet pensou consigo mesma, rindo e piscando para Samantha. 
– Ok, vamos logo – Elizabeth falou e puxou os braços de Suzana e Harry rapidamente – Encontramos vocês mais tarde, pessoas. 
Com isso, os três saíram dali. Juliet apenas sorriu sem graça e berrou o nome de alguém que havia acabado de inventar, fingindo ter encontrado com tal pessoa. 
– Anh... oi. – Tom finalmente falou assim que todos seus amigos já haviam ido embora. Passava os dedos entre os cabelos constantemente, ato que demonstrava estar mais nervoso do que antes. 
– Oi – Samantha respondeu, sem saber onde enfiar a cara. Estava tão envergonhada e sem graça quanto Tom, mas o tom de cor da sua pele não superava a dele: estava mais vermelha do que jamais ficara. 

Juliet sentou-se em uma mesa, mas dessa vez, longe do bar. Olhou para o pedaço de papel ainda em sua mão que Pete havia lhe dado. Suspirou profundamente, olhando as pessoas dançando. Sentiu os pêlos da nuca e dos braços de arrepiarem com o frio; estava gelada. Ficou ali, observando os outros se divertindo, enquanto esfregava os braços com freneticamente, na tentativa falha de se esquentar. 

– Anh, oi – Ouviu ao seu lado. Levantou e viu o mesmo com quem Samantha antes conversava. 
– Oi – Sorriu amigavelmente – Você é amigo da Sam, não é? 
– Sou sim – Ele riu baixinho, estendendo a mão – Eu sou Dave; e você deve ser Juliet – falou rapidamente, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa e a fazendo corar levemente. 
– A gente já se conhece? 
– Não – Dave deu de ombros, sorrindo – Mas todo mundo na escola sabe quem você é... você e suas amigas. 
– Ah sim – Juliet sorriu forçado. Odiava essa popularidade superficial que tinha. ‘Todo mundo na escola conhece minha imagem, não eu’, pensou irritada. – Desculpe atrapalhar sua conversa com a Sam antes e tirá-la de lá, mas... – deu de ombros, rindo – você sabe, coisas de meninas. 
– Tudo bem – Ele riu, aproximando-se mais da garota – Nem estava tão interessante assim... 
– Como assim? – Sentiu o cenho franzir quase que involuntariamente. 
– Ah, não que ela não seja legal, ela é... – Dave deu de ombros novamente, olhando Juliet de baixo a cima. Ela não estava gostando nada daquilo. – Mas não tão interessante quanto você. 
– O que você quer dizer com isso?! – Ela se afastou do garoto, indignada com o que ouvia. 
– Ah, qual é – Ele, se aproximando agora até demais, enlaçou a cintura de Juliet com seus braços, deixando seus rostos extremamente próximos. – Essa pose de ‘garota boazinha que odeia ser popular’ não funciona comigo. 

Juliet sentiu aquele cheiro forte de álcool da boca dele entrar em suas narinas. Tentou se desvencilhar, empurrando-o ou batendo em seu braço, mas Dave era mais forte. Mexia constantemente a cabeça para os lados e para baixo, se livrando das tentativas do menino em beijá-la. 

– Me larga! – Berrou, já extremamente irritada. Tentava puxar seu braço que estava sendo apertado brutalmente e já devia estar vermelho; sentia-o latejar. – Você tá me machucando! ME LARGA! 
Dave fez cada vez mais força; sua mão apertando cada vez mais o braço gelado da menina, e o outro braço puxava o corpo dela contra o seu, agarrado à sua cintura. Juliet fazia de tudo para de soltar; seus olhos já marejados em lágrimas de dor por causa do braço que latejava cada vez mais forte. Um certo desespero começava a tomar conta dela. 
– Ela disse pra você soltar – Ouviram uma voz mais adiante. Ambos levantaram a cabeça e viram um menino bem vestido, mas completamente irreconhecível na fantasia. O chapéu na cabeça não permitia ver seu cabelo, e a máscara lhe escondia o rosto. As únicas coisas visíveis eram seus bels olhos azuis e sua boca, nada mais. Juliet logo lembrou de ter o visto perto do bar quando fora falar com Pete. 
– Quem é isso, seu ‘Zorro’ particular? – Dave perguntou no tom de voz mais irônico possível, encarando do garoto de olhos azuis até a menina em sua frente. 
– Larga ela – Ele voltou a falar, agora mais alto e irritado; seu punho já fechado. 

Dave apenas apertou ainda mais forte o braço de Juliet, ouvindo-a gemer de dor, enquanto a fuzilava com o olhar. O menino desconhecido por eles, ao ver a cena, deu um passo para frente, fazendo menção de partir pra cima do outro. Finalmente ela sentiu seu braço se soltar, livre das mãos de Dave. Voltou a gemer, mas agora, de alívio. 

– Você está bem? – Ele perguntou, assim que assistiram Dave se afastar. Tocou delicadamente no braço de Juliet, agora já quase roxo. – Nossa, seu braço tá gelado! – O garoto agora levou as mãos ao rosto dela – Meu deus, você tá congelando! 
– Eu estou bem, obrigada – Ela se sentiu quente por alguns segundos com o toque do rapaz, mas logo se desvencilhou dele, envergonhada. Massageou o local machucado, sem saber exatamente se olhava para ele ou para baixo. Optou então continuar encarando os pés. – Eu só estou com um pouco de frio... 

Ele pareceu não precisar ouvir mais nada: retirou seu paletó e estendeu para Juliet; o sorriso mais doce que já vira. Por um momento, ela pareceu lembrar da voz, daquele sorriso e os olhos, que lhe pareciam extremamente familiares. Seria mesmo ele...? 

– Pode pegar – Ele voltou a falar entre aquele imenso e perfeito sorriso ao ver a menina em sua frente parecer acordar de um transe. 
Juliet pensou em recusar, mas estava realmente com muito frio. Apanhou o paletó e o colocou, rindo ao se olhar. Por mais que parecesse uma enorme camisola de pijama, estava até que bonitinho... 

Ela estava linda. Era a única coisa que Dougie conseguia pensar. Sorriu intensamente ao vê-la rir de si mesma com seu paletó. Aquele sorriso, aqueles olhos, seu rosto... tudo nela era simplesmente e incrivelmente tão perfeito. 

– Obrigada – Ouviu Juliet falar baixinho, sorrindo envergonhada. 

Ele apenas sorriu de volta, sentindo um forte aperto no coração. Queria tanto poder apenas agarrá-la e beijá-la ali mesmo, dizer quem realmente era. Mas não podia. Sabia muito bem o que ela sentia por ele; ouvira ela falar para as amigas quando estavam perto do bar. Por mais que doesse, era a verdade. ‘Eu NÃO gosto do Poynter!’; ouvia aquelas palavras ecoarem em sua cabeça constantemente. Gostava de Juliet desde a primeira que a vira, até antes de Tom os apresentarem. Desde então, seu sentimento só havia crescido, assim como ela mesma. Se conheciam há três anos já, e só trocavam olhares e algumas palavras, obviamente dependendo da situação. Ela era popular, tinha provavelmente todos os meninos que quisesse. Porque então iria querer Dougie? Preferia deixar as coisas daquele jeito; pelo menos estava falando com ela agora. ‘É melhor, assim ela não me reconhece’, pensou, sentindo o coração apertar e bater mais rápido. ‘É só por isso que ela está falando comigo agora’

– Ai, eu amo essa música! – Ela falou de repente, cortando o silêncio que pairava sobre eles. Não olhava para Dougie, e sim para todos os casais que se direcionavam para a pista de dança. 

 

‘Ela gosta de Beatles?’, perguntou a si mesmo, sem perceber o imenso sorriso que havia aberto. ‘Acho que ela não poderia ser mais perfeita’

– Eu também – Dougie respondeu sem graça, encarando os pés ao vê-la olhar para ele. Então, levantou a cabeça, como se tivesse acabado de ter uma idéia. E realmente teve. Mas será que devia perguntar? E se ela recusasse? Balançou a cabeça, querendo espantar aqueles pensamentos. – Você... – parou, receoso. Ela o olhava sem entender, e ele obviamente não poderia começar a frase sem terminar. Então, tomou fôlego, estufou o peito e continuou, agora firme. Ou tentando parecer estar. – você quer dançar? 
– Com você? – Juliet perguntou rapidamente, corando e parecendo surpresa com a pergunta. 
– Bom, era isso que eu tinha em mente – Ele riu, parecendo confiante, enquanto na verdade estava fazendo de tudo para não sair correndo dali, chorando e berrando pela sua mãe. Dougie até poderia ser o tipo de garoto que aparenta se dar bem com as meninas, mas na realidade, morria de medo de se aproximar demais delas. Nunca namorara sério. – Mas se você não quiser, tudo b... 
– Não, não é isso – Ela o cortou rapidamente, corando e mordendo o lábio inferior na tentativa de esconder o sorriso – Eu quero sim. 

Dougie sentiu uma festa com direito a fogos de artifício comemorar dentro dele. A princípio, não se preocupou em esconder a felicidade: sorriu tanto que mostrou todos os dentes que tinha na boca. Mas ao vê-la rindo baixinho de tanta felicidade que ele demonstrava, se conteu. Retirou o chapéu da cabeça e o atacou para longe, como uma espécie de bumerangue, fazendo rir mais alto. Então, fez uma pequena reverência e estendeu sua mão, sentindo as famosas ‘borboletas’ em sua barriga ao sentir a mão dela encostar-se à sua. Apertou-a delicadamente, e assim guiou a garota para a pista de dança. 


– É minha música favorita dos Beatles – Juliet falou em seu ouvido para que pudesse ouvir, já que o som estava alto. Dougie sentiu um frio lhe percorrer toda a espinha. 
– A minha também – Respondeu, piscando para ela e berrando algo como: ‘oh my god, somos alma gêmeas!’, fazendo-a rir ainda mais. 

 

Dougie poderia passar a noite inteira ali com ela, vendo-a rir daquele jeito que só ela conseguia, e para melhorar todo aquele momento, se fosse mais possível, ao som de suas música favorita: All My Loving, dos Beatles. Assim que chegaram ao meio da pista, ambos pareceram congelar. Se encararam, sem graça e envergonhados. ‘Larga de ser gay e dança logo com ela, Poynter!’, xingou-se mentalmente. Prendendo a respiração e sentindo o coração disparar, Dougie se aproximou de Juliet e enlaçou seus braços delicadamente em volta de sua cintura. E, quando fora a vez dela em entrelaçar os dedos ao redor de sua nuca, ele chegou até a fechar os olhos. Seria aquilo tudo um sonho? ‘Se for, por favor, NÃO ME ACORDEM!’, ouviu a vozinha em sua cabeça berrar quase desesperadamente. Abriu os olhos finalmente, vendo Juliet guardar um pedaço de papel no bolso de seu paletó. Apenas sorriu à ela e a viu retribuir. Então, sentiu a cabeça da menina deitar delicadamente em seu ombro. Dougie jurou que seu coração havia ido parar em sua garganta. Sentiu o cheiro do perfume dela, o cheiro de seu cabelo. Dançavam lentamente, muito próximos. 

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
 

Juliet sentiu o coração bater rápido. Não sabia exatamente o que sentia, mas o que tinha certeza era que, para seu azar, parecia estar fortemente atraída por aquele garoto. Tinha medo, não sabia como aquilo havia acontecido. Nem sabia quem ele era. Seria que era só porque ele havia a ‘salvado’ de Dave, por ter o sorriso e os olhos mais lindos que já vira e parecer ser extramente bonito? ‘Não esqueça do extremamente legal e simpático também e o ótimo bom gosto musical’, pensou consigo mesma, rindo baixinho. Ainda nem havia acreditado que estava com sua cabeça ali, no ombro do garoto. Tão próximo. 

And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you
 

– Qual seu nome? – Dougie acordou de um transe ao ouvir ela sussurrar em seu ouvido, sentindo o coração bater cada vez mais forte e o estômago afundar cada vez mais. 
– É... – Parou rapidamente. Não poderia dizer quem era. Se ela soubesse... Não, não poderia dizer que era Dougie Poynter. – Don – mentiu, tentando esconder a voz chorosa. – Meu nome é Don. 

I'll pretend that I'm kissing 
the lips I am missing
And hope that my dreams will come true
 

Don? Juliet tinha quase certeza de que não conhecia ninguém de nome ‘Don’ na escola. Mas, mesmo assim, parecia que todos a conheciam e ela não. Resolveu esquecer. 
– Don, tipo Don Juan? – Brincou, ficando vermelha involuntariamente ao perceber que ele riu alto daquele comentário completamente idiota. Porque não ficara quieta? Tentou mudar de assunto. Rápido. – Não vai perguntar o meu nome, não? – Ela riu, olhando dentro daqueles olhos azuis penetrantes. 

And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you
 

Dougie adorou aquele comentário. ‘Sim, exatamente como Don Juan’, pensou consigo mesmo, rindo. Mas logo parou ao vê-la encarar os olhos dele profundamente. Sentiu seu estômago afundar pela milionésima vez só naquela noite. ‘Responda ela! Responda ela, seu idiota!’, brigou consigo mesmo. 
– Eu não acho que eu preciso – Ele finalmente respondeu, rindo baixinho ao que havia abaixado a cabeça para tentar esconder a vermelhidão no rosto. – Eu sei quem você é... Aliás, todos sabem, né. 

All my loving I will send to you
All my loving, darling I'll be true
 

Porque sempre tinha que ouvir a mesma coisa? Odiava aquilo. Irritada, virou o rosto rapidamente e deixou o garoto um tanto desnorteado. Percebeu que ela estava brava, só não sabia o porque. 
– Não, você realmente não sabe quem eu sou. – As palavras pareceram sair por conta própria de sua boca. Fingiu não ver que ele insistia em olhar para ela, procurando algo em resposta. 

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
 

– Eu sei que eu não sei realmente quem você é – Dougie de repente pareceu entender. Lembrou de Tom ter comentado que Juliet odiava a popularidade que tinha, o que o surpreendia, vendo que as amigas pareciam não ser assim. Era isso que a deixava cada vez mais perfeita, em sua visão. 
Riu baixinho ao ver a garota levantar a cabeça vagarosamente, encarando-o sem entender o que ele quisera dizer. Mas não parecia brava; parecia, na verdade, aliviada ou até feliz. 
– Eu quis dizer que te conheço porque sei seu nome, porque se eu realmente te conhecesse, não iria pedir pra dançar com você. – Riu ao vê-la franzir o cenho – Não por causa disso, mas sim porque eu queria... te conhecer melhor. – Abriu um pequeno sorriso no canto dos lábios – Te conhecer de verdade. 

And then while I'm away
I'll write home every day
And I'll send all my loving to you
 

Juliet ficou simplesmente imóvel. Agora entendia o porquê parecia gostar dele: ele era simplesmente diferente de todos os outros garotos que existiam. 
Corou ao se ver perdida no olhar dele, logo reencostando a cabeça em seu ombro. Sentiu o coração acelerar quando sentiu-o abraçar mais forte, mas ainda assim muito delicado. Mas fora outra coisa que a fez simplesmente perder todos os sentidos: ele cantava uma parte da música em seu ouvido, num sussurro gostoso. Sem perceber, já estavam mais uma vez com os rostos colados; os olhares perdidos um no outro. Juliet apenas ficou na ponta dos pés, fechando os olhos lentamente. 

All my loving I will send to you
All my loving, darling I'll be true
 

Por mais que não ouvisse mais a música, e sim apenas o barulho de seu coração acelerado que parecia ecoar em sua cabeça, Dougie lutou com todos seus sentidos que insistiam em congelar. Segurou delicadamente o rosto da menina com suas mãos e aproximou seu rosto cada vez mais, já sentindo a respiração ofegante tanto dela quanto sua. Os lábios finalmente se encontraram em um selinho delicado. Ao sentir Juliet passar suas mãos de sua nuca para seus cabelos, puxou-a para ainda mais perto, se fosse possível, com os corpos grudados, quase formando um só. Tudo que sempre quis, com a garota que sempre quis, que sempre sonhou; estava agora ali, acontecendo. 
Viu que ela deu autorização para o beijo se intensificar, abrindo mais a boca. As línguas finalmente se encontraram, e Dougie procurou conhecer tudo ali que sempre quis conhecer. Sentiu os pêlos da nuca arrepiarem ao que ela bagunçava seu cabelo com uma de suas mãos, enquanto a outra mão segurava o cós de sua calça. Pensou que seu estômago havia simplesmente sumido de tanto afundar quando a garota mordeu levemente e gostosamente o lábio inferior dele. Agora já não sentia nada de seu corpo. 

All my loving, all my loving
All my loving
I will send to you.
 

Juliet sentiu os pés tocarem o chão vagarosamente. Sentia borboletas na barriga, o coração bater mais rápido e forte do que nunca, um frio lhe percorrer a espinha, o estômago virar de ponta cabeça, perder todos os sentidos do corpo; tudo de uma vez só. Mas em uma sensação extremamente boa. Cessou o beijo em um selinho. Os olhos ainda fechados e o sorriso estampado nos rostos de ambos. Apenas voltaram a abrir os olhos quando ouviram uma salda de palmas do salão inteiro, mas ainda assim não tirou o olhar de cima do garoto. Podia ficar assim pela noite inteira... 


– JUH! – Ouviram um berro. ‘Ah, claro! Essas coisas só acontecem comigo mesmo!’, pensou, deixando a cabeça cair delicadamente no peitoral do garoto. – JUH!
Ao se virar, viu Suzana correr até ela. Viu o desespero na cara da amiga e começou a se preocupar. 
– Suh, aqui! – Ela berrou, abanando as mãos para cima para que a garota a visse. Viu-a correr até os dois, mas sem perceber que existia a presença de um garoto entre elas. – O que aconteceu? 
– Juh, você tem vir rápido! – Suzana falava ofegante, atropelando as palavras – A Sam... A Sam...
– O que tem a Sam? – Sentiu o desespero também lhe tomar conta, mas a amiga ainda parecia ter dificuldade em deixar as palavras saírem – Desembucha Suzana! O que aconteceu com a Sam?! – Ela bateu nas costas da garota como se estivesse engasgada, mas só ganhou xingamentos. 
– Cacete, a Samantha tá chorando! – Suzana berrou, já puxando o braço da outra para que a seguisse – Vem logo! 
– Espera Suh, eu... – Juliet não teve tempo de se despedir de Don. Fez menção de tirar o paletó, mas o garoto apenas disse para ela ficar. – Mas eu não sei se a gente vai se ver e... 
– A gente vai se ver de novo – Ele apenas lançou uma piscadela e sorriu ao vê-la sorrir intensamente e sumir pela multidão com a amiga. Suspirou profundamente, assim tirando a máscara. – De volta a ser Dougie Poynter – ele deixou a máscara cair no chão e saiu do salão, procurando pelos amigos. 

– Samantha! – Juliet correu até a amiga, que chorava em um canto – Tom! – Olhou para o lado e viu o amigo com o nariz sangrando. ‘Meu deus, o que tá acontecendo com esse baile?’ – Alguém pode me explicar o que tá acontecendo aqui? 
– Eu vou quebrar a cara daquele filho da p... 
– Ow, ow, ow – Juliet cortou Tom, que parecia nem ligar para o nariz machucado e perguntava constantemente se Samantha estava bem – Alguém me explica, pelo amor de deus, caralho! 
– O Fletcher apanhou – Danny falou rapidamente, apoiando a mão no ombro do amigo que pareceu ficar irritado com o comentário. 
– Ele e o um garoto aí brigaram – Elizabeth surgiu atrás deles junto de Harry, trazendo um pequeno pedaço de pano molhado e obrigando Tom a colocar em seu nariz. 
– Que garoto? 
– O Dave – Samantha soluçou. 
– Dave? – Juliet repetiu, sentindo o sangue subir fervendo – Aquele idiota que você tava conversando? 
– E como você sabe que ele é idiota? – Harry riu. 
– Ele tentou me agarrar à força! 
– VOCÊ TAMBÉM?! – Tom berrou, se levantando, já com o punho fechado. 
– Como assim, eu também? 
– Ele tentou agarrar a Sam também – Suzana falou quase em um sussurro, enquanto passava as mãos pelos cabelos de Samantha, tentando acalmá-la. Juliet não fez nada, apenas sentiu a boca escancarada, sem falar nenhuma palavra. 
– Eu juro que da próxima vez que eu ver esse idiota, eu vou arrebentar a cara dele mais do que já arrebentei – Tom falou entre os dentes. 
– Deixa, Tom – Ouviram Samantha sussurrar, enxugando as lágrimas – É muita coisa pra uma noite só – Juliet apenas concordou mentalmente. Realmente era até demais. – Eu só quero voltar pra casa. 
– Eu também – Elizabeth disse entre um bocejo. 
– Tudo bem, eu levo vocês – Tom falou, olhando preocupado para Samantha; seu nariz já não sangrava mais tanto. Juliet apenas observou a cena e sorriu. – Você vem também, Juh?
– Anh – Ela olhou para as escadas que havia acabado de descer. Provavelmente não iria encontrar Don novamente, e sentia suas pálpebras pesarem. – Vou sim. 

A viagem inteira, todos permaneceram em completo silêncio. Deixaram primeiro Elizabeth em sua casa e depois Samantha. Ao chegarem à casa deJuliet, Harry desceu do carro para abrir a porta para ela. Aproveitou o momento para falar com Tom.
– Você vai ficar bem? 
– E porque não ficaria? – Ele riu baixinho, mas a menina viu que havia sido completamente forçado. Olhou preocupada à ele. – É sério, Juh, eu estou bem. Amanhã eu te ligo, tá? 
– Promete? 
– Prometo. 
E com isso, Tom apenas beijou a testa de Juliet, observando-a sair do carro. Se despediu de Harry e entrou em sua casa. Subiu as escadas para seu quarto e se trocou vagarosamente, sentindo o cansaço. Assim que se deitou na cama e se cobriu, olhou para o lado, e involuntariamente um sorriso se abriu no canto dos lábios. Ali, sobre a cadeira, estendia-se o paletó de Don. Ela se virou, lembrando de tudo que havia acontecido. Não conseguia parar de sorrir toda vez que a imagem do garoto lhe vinha na cabeça, a cena deles se beijando. O perfume dele, aquele sorriso e olhos tão familiares. Juliet parecia saber quem ele era, mas ao mesmo tempo, não fazia a menor idéia. Queria falar, se encontrar com ele novamente. Mas tinha quase certeza de que não havia nenhum ‘Don’ em sua escola. Como iria achá-lo? Balançou levemente a cabeça, tentando espantar os pensamentos. Pelo menos por enquanto. A única coisa que queria mesmo deixar em sua mente era no momento que passara com ele. Virou-se na cama de novo, voltando a olhar para o paletó sobre a cadeira. Sorriu e fixou seu olhar ali por um bom tempo. Até que se esticou, alcançando a cadeira. Puxou o paletó para si, colocando-o na cama e abraçando-o como se fosse um urso de pelúcia. Conseguia sentir o cheiro dele ali ainda. Ficou ali, apenas pensando e sonhando. Tudo havia sido tão perfeito, mas tão estranho... Parecia até uma história da Cinderela. Os olhos foram se fechando vagarosamente. Sem perceber, dormiu; o sorriso ainda estampado no rosto. 

 


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Notas finais do capítulo

Bem... Perdão a demora mas acreditem ou não eu fiz esse capitulo todo essa madrugada. x.x
Digitei ele hoje de manhã e encerrei também.
Então eu creio que o próximo va demorar um pouquinho!
Até até!



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