A Lenda dos Céus escrita por Mauschen


Capítulo 1
O deserto Gerudo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/728378/chapter/1

O sol queimava sem piedade as costas de Valim, formando bolhas. Ele estava a ponto de desmaiar, mas a gerudo gritava no seu ouvido o tempo inteiro através do radio. O Garoto seguia as instruções dela com cuidado. Ele observou as casas, deveriam ter sido lindas quando construídas, mas o tempo e a areia não foi gentil com elas, a cidade estava completamente desabitada. A fonte no centro da praça estava seca, as palmeiras estavam mortas, tudo o que se podia ouvir era o vento que assobiava pelas ruinas e os passos cansados de Epona. Valim odiava ter de fazê-la percorrer o deserto. Toda a cidade foi construída ao redor de uma montanha, esculpida na pedra havia um enorme templo.

―Encontrei ― Ele disse com a voz fraca.

―Tem certeza que não é uma miragem? ― A gerudo perguntou com receio, afinal era a terceira vez que ele diz ter encontrado.

―Tenho ― O garoto andou o mais rápido, até alcançar a construção. Era enorme, era como um bolo de andares, um bloco grande sustentando outro menor que sustentava outro menor, todo decorado de símbolos que contavam historias esquecidas, estatuas e jardins secos, as construções possuíam uma arquitetura arcaica, mas forte, imponente, resistindo ao dano do tempo com orgulho. Ele desceu de Epona dando-lhe uma ordem para não sair dali. Ele tocou a porta, a pedra estava quente. ― Como abre?

―Me deixa ver... Pera ai ― Ele ouviu o barulho de um livro sendo derrubado no chão ― Achei! Você tem de girar uma espécie de besouro desenhado na parede para a esquerda. ― O garoto olhou para a parede, havia o desenho de duas mulheres segurando um besouro verde. O garoto colocou o dedo em cima do inseto e girou. Houve um ruído como de engrenagens se movendo de dentro da parede, a porta abriu rangendo, não abriu por completa, mas o suficiente pra ele passar.

A parte de dentro era maravilhosa, havia varias colunas vermelhas segurando o teto, tochas com fogo magico iluminavam o caminho, o garoto andou pelo enorme salão com cuidado. Ele chegou até uma estatua vermelha, a mulher esculpida trazia nas mãos uma placa escrita na tipografia gerudo e jorrava água pela boca. Ele se sentiu tentado a beber um pouco da água, mas ao chegar mais perto da estatua, leu o seguinte na placa:

‘’Não haverá perdão a quem beber desta água’’

Ele ficou curioso, mas lembrou-se que as bruxas gerudo não costumam brincar nas maldições, engoliu em seco e continuou andando pelo salão. No outro extremo havia mais uma porta, de aparência bem simples, quase invisível comparada ao resto do salão. Ele decidiu entrar. Havia um wallmaster no teto, qual Valim destruiu sem esforço. Seus olhos demoraram a se acostumar à escuridão da sala, a porta se fechou atrás dele. Ele tentou abri-la novamente, mas apenas achou uma parede completamente lisa.

―Kasad ― Ele disse colocando o radinho perto da boca ―, estou preso numa sala. Não estou vendo nada. Kasad?

―Valim... Nhéc... A pedra... Nhéc...  Valim fuja!... Nhéc ― A voz dela saia assustadora em meio à estática. O quadrado metálico deu seu ultimo ‘nhéc’ e morreu. Valim estava completamente sozinho agora. Num lugar em que não podia enxergar nem um palmo a sua frente. Ótimo, ele pensou, segurando as espadas com força, pronto para atacar e fatiar qualquer coisa que fizesse barulho.

Lembrou-se dos treinos que teve com Kasad quando era criança. Lembrou-se das cobras venenosas, do filhote de leorance, espécie de felino grande que vive no deserto Gerudo, que teve de matar uma vez para não morrer de fome. Lembrou-se de como ela o ensinou a manusear espadas e a se defender. Precisava manter a calma.

Ele esperou uns vinte minutos, mas não saberia dizer se foi mais ou menos, até seus olhos de acostumarem com a falta de luz. Com cuidado deu um passo a frente, nada. Deu outro, nada novamente. Ele contou cerca de cem passos até chegar numa escada de degraus largos, ele subiu. No final havia uma coluna que chegava à altura da cintura de Valim, ele tateou o corpo da coluna até seus dedos chegarem ao topo da pequena coluna.

Em cima havia uma pedra do tamanho do seu polegar, que parecia brilhar numa fraca luz azul. Valim pegou-a, Kasad mencionou algo relacionado a uma pedra. Ele a colocou no bolso, talvez fosse algo importante. A base em que a pedra estava apoiada também emitia um brilho sutil azulado, ao colocar a mão no topo sentiu a coluna esquentando aos poucos, cada vez mais quente, até ficar insuportável. Mesmo que ele tentasse tirar, a mão dele parecia grudada na pedra, que queimava sua pele. A coluna explodiu. Ele foi lançando até o final da escada. E caiu inconsciente no chão.

Acordou com a cabeça doendo terrivelmente, com muito esforço se levantou o suficiente para olhar a sala, havia vários buracos no teto, que iluminavam precariamente o local, era bem maior do que ele avia imaginado, parecia ter sido construída numa forma circular e um tanto irregular com um diâmetro que passava facilmente dos cem metros. O espaço entre o chão e o teto era de pelo menos o triplo do salão em que estava antes. A escada era na verdade um pedestal, os degraus em forma de circulo bem no meio do salão, em cima deste vários pedregulhos resultantes da explosão de outrora e que haviam caído do teto.

Valim se sentou ignorando a dor de cabeça. Havia ganhado uns cortes por causa da explosão, a palma da mão direita estava avermelhada, e doía muito, fora isso e as queimaduras do sol ele estava bem. Levantou-se com dificuldade e mancou até a parede, agora a linha da porta era visível, acima dela estava escrito, na mais impecável letra gerudo, um poema:

Se você olhar o horizonte,

Só vai var a escuridão;

Se você olhar para o futuro,

Você verá dor;

Então em vez de olhar o presente

Veja este grupo de irmãos e irmãs;

Quem ficou conosco e não vai voltar,

Este tempo deve ser conhecido como destino

Não nos esconderemos, nem podemos.

O tempo está acelerando

Em avanço rápido

Vindo em nós como um corvo,

Mas não vamos falhar

Eva caiu sobre nós

Mas vamos lutar para amanhecer e subir novamente!

Já do lado de fora, quase desmaiando de sede e de cansaço, Valim chamou por Epona, que estava tentando se esconder do sol na sombra de algumas palmeiras. A égua trotou até ele, ela também perecia cansada. Com ajuda dela, ele mancou até a sombra, ele e Epona deitaram no chão, ele procurou na bolsa do lado de Epona e achou um pequeno cantil d’água. Ele esvaziou todo o conteúdo.

―Parabéns garota, merece um premio ― Ele disse enquanto tirava uma cenoura da bolsa, a égua relinchou e devorou a cenoura. Valim deu uma risada e tirou a camisa, rasgou uma tira e envolveu a mão machucada, com outro pedaço limpou os cortes que os pedregulhos haviam feito, apesar daquela coisa ter explodido bem na sua frente ele não parecia estar tão machucado quanto deveria, apenas uns cortes e a queimadura não pareciam fazer sentido, mas ele estava cansado demais para pensar nisso. Pegou o radio e tentou liga-lo, a caixinha de metal chiava conforme ele tentava acertar a estação. Ele ouviu umas vozes vindas da caixa.

―Kasad! Kasad está me ouvindo? ― Ele disse com a voz fraca ― Tem alguém me ouvindo?

A resposta veio como um trovão ― Valim! Pelo amor de Deus ― Havia uma mistura engraçada de raiva e preocupação na voz dela, Valim desejou poder ver o rosto dela agora ― Eu achei que você tivesse morrido!

―Ficou preocupada comigo Kasadinha?

―Claro, se você morrer eu fico sem meu escravo pessoal ― Vou aceitar isso como um sim, ele pensou, mas podia ouvir a preocupação atrás do sarcasmo ― Posso saber onde você se meteu?

―Tudo bem. Eu apaguei por alguns minutos. Aconteceu uma explosão e eu queimei minha mão, só isso.

―Alguns minutos? ― ela falou seria ― Valim, você desapareceu faz dois dias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o proximo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Lenda dos Céus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.