Certo dia, Andrés a encontra com olhos vermelhos. Ele está mais triste do que Bárbara jamais havia visto. Ela pergunta o que aconteceu, preocupada.

Andrés segura sua mão e conta a história de uma menina que trabalhava na vendinha de sua antiga cidade, a menina por quem ele se apaixonara e prometera casamento quando terminasse os estudos. Ele conta a história de uma mulher casada com um homem abusivo, uma mulher que ele tentou salvar, a quem ele prometeu uma vida inteira de felicidade. Ele fala sobre uma mulher que ele amou a vida inteira. Alma.

Ele conta sobre a menina por quem Sebastian se apaixonou, Daniela, e as coisas que ele havia descoberto recentemente. Alma está morta.

Andrés chora enquanto fala e Bárbara vê Alejandro e sua Paula nele, porque Andrés não vê essa Alma há mais de vinte anos, mas chora como um menino agora que sabe que ela está morta. E ela entende, porque Andrés ama com muita intensidade, com seu coração aberto e sua alma exposta, de uma maneira que ela não é capaz. Ela tenta não sentir ciúmes; é uma mulher morta, afinal de contas. Mas ela sente.

Não ciúmes, exatamente, mas um desejo dilacerante para ter alguém que a ame da maneira que Andrés ama Alma. E é no presente, não importa que ela esteja morta.

Ela passa meses sem voltar a cidade de Andrés, talvez o estivesse evitando propositalmente.

Quando Bárbara volta, ela encontra Andrés com uma mulher loira e ele olha para ela como se ela fosse o próprio sol. Seus olhos azuis estão cheios de amor e Bárbara não sabe como é possível, mas sabe que aquela mulher, de alguma maneira, é Alma.

Eles cruzam o olhar e Bárbara vai embora antes que Andrés possa dizer qualquer coisa. Ela espera por ele em seu barco e, eventualmente, ele a segue.

— Ela é Alma. – Ele diz. – Ela está viva, tudo o que me contaram, eram tudo mentiras.

Ele conta sobre o reencontro e que Daniela é sua filha e que, na verdade, Sebastian e Daniela são irmãos. Ele conta sobre o sofrimento dos filhos. Ele sofre por eles e seu sofrimento se mistura com sua alegria por ter Alma de volta.

Bárbara não sabe o que dizer. Ela não tem lágrimas ou brincadeiras, não tem perguntas nem últimas palavras divertidas para dizer. De repente, ela percebe que amava mais ele que todos os outros. De repente, ela percebe que teria escolhido ele. Seu coração está dilacerado.

Andrés beija suas mãos e as segura contra seu coração. Ele busca os olhos de Bárbara com os seus marejados, vermelhos.

— Eu não quero que você pense que eu alguma vez menti para você. – Ele diz. – Eu não te enganei. O que eu senti por você, o que eu sinto, é real. Foi tudo de verdade. Eu nunca menti sobre o que sinto por você.
Bárbara sorri e ela sabe que é um sorriso triste e melancólico.

— Eu também nunca menti para você.

Ele sorri.

— Me desculpe. Não é que eu não te ame, mas Alma...

Bárbara segura o rosto de Andrés entre as suas mãos.

— Eu sei. Você a amou por mais tempo, e com mais intensidade e... mais.

Ele não a corrige e seu coração quebra mais um pouco. Ele deixa seu barco algumas horas depois, quando eles já não têm mais nada para dizer um ao outro. Ele beija sua testa e pede que ela se cuide, para vir visita-lo quando quiser. Bárbara deseja o que há de melhor no mundo para ele. Ela quer que ele seja muito feliz. Ninguém merece mais que Andrés.

Ela segue seu caminho para longe dele, com o coração em frangalhos, mas com a certeza de que ele está feliz, que vai ser muito feliz, e aquilo torna tudo um pouco melhor. E apesar do coração partido, ela não sente raiva ou mágoa ou desejo de vingança. O amor que ela tem por ele não é possessivo e individualista.

No fim das contas, Andrés foi aquele que a ensinou a amar.