Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 16
Eu dobro a minha dor e te entrego amor sincero




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I was disappearing in plain sight...
Heaven help me,
I need to make it right!


Arrumei os óculos quadrados na cara num gesto de ansiedade e ligeiro nervosismo. Era uma armação nova, preta, simples, entretanto muito maior que meu rosto, não era feia como a redonda que eu havia quebrado na noite anterior, mas também não tinha nada demais, era simplesmente inexpressiva. Eu havia pego no caminho até a L-Corp depois de ter ido em casa trocar de roupa. Eu tinha percebido, já perto da empresa, que eu não conseguiria achar Lena naquele calabouço high-tech em que estava trabalhando, voltei para casa o mais rápido possível e troquei de roupa, no caminho entrei como uma brisa nessa tal ótica pegando a primeira armação que vi, deixando um dinheiro qualquer no balcão da atendente. Normalmente eu não arriscaria ficar voando de um canto pra outro em plena luz do dia com minhas roupas pessoais, mesmo rápido como eu estava fazendo, mas não havia nada de normal naquela situação.

Apesar do pânico me cegar de preocupação, ele também me ajudou a fazer um panorama mais racional da situação – um panorama mais cauteloso, digamos. Se alguma coisa tivesse acontecido com Lena nós já saberíamos – eu queria acreditar que sim.  E havia um fator muito importante que eu não poderia descartar: Mulher-gato poderia estar em qualquer canto e poderia atacar a qualquer momento, ela podia parecer como o Batman que se espreita nas sombras, mas ao contrário dele, ela não tem medo da luz do dia, ela poderia me atacar a qualquer momento colocando Lena e várias outras pessoas em perigo, então eu simplesmente não poderia causar uma comoção.

—A senhoria Luthor não veio trabalhar hoje, se sentiu indisposta pela manhã, mas mesmo que ela estivesse aqui, temo que não poderia vê-la, seu acesso foi revogado na mesma ligação. – A secretária da entrada me informou seca. Ela falou me olhando sobre as suas próprias armações caídas na ponta do nariz e devo dizer que havia um certo desprezo em seu tom.

—Ela fez o que? - Meus olhos estreitaram perigosamente rápido, meu queixo caiu na mesma velocidade.

Saí de lá em passos rápidos e quando cheguei na calçada desapareci voando até seu prédio. Procurei em cada uma das janelas subindo em espiral pelo prédio até achar o seu apartamento – por algum motivo eu havia esquecido que ela morava justamente na cobertura. No esvoaçar das cortinas a avistei adormecida em sua cama, com uma camisola preta de seda e os lençóis brancos amassados a sua volta. Foi a primeira vez naquele dia que meu coração bateu aliviado. Eu quase fiquei tonta com a hiperventilação nos meus pulmões quando respirei profundamente libertando parcialmente a culpa que meu peito carregava.

Entrei espremida pela brecha retangular, quase sem conseguir me segurar sobre meus próprios pés, nunca tinha sentido tamanha fraqueja nos joelhos, a sensação de alívio era arrebatadora. Mas não fiquei despreocupada por muito tempo, eu comecei a escutar as passadas ao redor da casa e com minha visão avistei os contornos de Consuelo espanando a sala, balançando a cabeça me desfiz da roupa de Kara e fiquei com o uniforme de Supergirl. Se Lena teve condições de ligar pra L-Corp mais cedo e mandar barrarem minha entrada por lá, nem sequer conseguia imaginar o que ela teria dito sobre mim em casa.

Me aproximei de sua cama, com os braços cruzados e minhas feições sérias, todo o meu corpo estava tencionado, minha respiração também estava pesada. Um contraste perfeito com seu rosto adormecido, pacífico, quase angelical. O cabelo desgrenhado caía sobre sua face, preso no canto de sua boca, foi com uma delicadeza milimétrica que a ponta do meu dedo o afastou de lá, alisando sutilmente os contornos de sua face. Sua respiração quente banhou minha mão e eu quase podia chorar com a preciosidade que era aquele toque quente.

Me afastei dela em um sobressalto quando a porta abriu, virei imediatamente com os olhos já brilhando prontos para disparar os raios de calor. Eu tive que ser realmente super rápida para segurar o espanador em sua corrida estrondosa de encontro ao chão e com a outra mão fechar a boca de Consuelo para que ela não gritasse. Chiei pedindo silêncio antes de soltar sua boca.

—Supergirl?! – Ela disse exasperando um sussurro exaltado. Tentei sorri sem jeito, levando-a para fora do quarto.

— Eu sei que ela chegou tarde ontem, ela não precisa acordar agora, eu só queria ver como ela está.

Ela concordou com a cabeça

Freddys disse que algo aconteceu ontem. – Eu me vi sorrindo com o som do nome de Freddy no sotaque carregado da governanta, ela sorriu de volta para mim e abaixou o espanador. –Ele não soube explicar e a senhorita Lena não me contou nada.

Eu balancei a cabeça.

—Não foi nada que precise se preocupar. – Menti. – Tudo vai ficar bem agora.

Bom, ou pelo menos eu faria de tudo para que as coisas ficassem bem.

—Consuelo, vem cá, por favor! – O grito ecoou de dentro da porta, era uma voz manhosa e ainda embriagada de sono.

A governanta me olhou temerosa, sem saber o que fazer. Eu lhe sorri apaziguadora, esperando conseguir manter aquela fachada de calma por mais tempo.

—Vá até ela, - disse concisa - não precisa dizer que estou aqui agora.

O impaciência custodiou minha esperava do tempo que Consuelo entrou no quarto até sua  volta, eu estava naquele indício de ansiedade atordoante que me tirava o pensar racional, nem tive condições de escutar o que conversaram dentro do quarto. Consuelo não demorou por lá, saiu calmamente fechando a porta atrás de si.

—Ela só quer comer alguma coisa. - Disse por fim. Senti que em algum momento ela detectou a aflição latente em meus olhos.

—Entendi, eu vou com você, vamos deixar ela acordar direito. - Falei engolindo a seco.

Seguimos até a cozinha e Consuelo parecia se mover como uma máquina habilidosa, abrindo a geladeira enquanto alcançava as tigelas nos armários, pegando sacolas em baixo do balcão com uma mão e com a outra ligando um espremedor de suco de laranja, várias coisas ao mesmo tempo.

—Você está preparando o que pra Lena? – Perguntei sabendo que eu não conseguiria ajudar em absolutamente nada.

—O que ela sempre come pela amanhã, suco de laranja com frutas e aveia.

Senti minha cara enrugar como uma ameixa imaginando o gosto disso. Como sempre, Lena e seu gosto estranho para comida.

—Por que ela come essas coisa, hein? Aveia tem gosto de poeira.

Espremi de Consuelo o que pareceu ser um sorriso de conivência.

—O que a senhorita come pela manhã?

—O que todo mundo deveria comer, ovos com bacon, café, donuts, às vezes panquecas, eu também gosto de waffles, mas não sei cozinhar direito. – Meus olhos se perderam lembrando da comida, eu não comia desde a noite anterior e no meio de tantas atribulações, acho que continuaria sem comer.

Os flashes da noite passada vieram em ondas irregulares, eu me lembrava involuntariamente e ao mesmo tempo de maneira nítida como me senti mal com nossa briga. Tentei afastar aqueles pensamentos percebendo que eu precisava falar com ela de uma vez por todas. Pisquei saindo do transe e dei de cara com o olhar de Consuelo me analisando de cima a baixo.

—Como se mantém nesse corpo?

Eu ri sem graça, me lembrando da reação que Lena sempre tinha quando me via comer.

—Metabolismo. – Desconversei vendo que ela já tinha terminado de aprontar a bandeja para levar até Lena. -Pode deixar que eu levo. – Eu disse tomando a bandeja de sua mão. Quando estava saindo parei subitamente e virei o rosto para Consuelo. – Então, quando eu entrar no quarto é muito provável que ela grite, queira chamar os seguranças, talvez jogue essa bandeja na minha cara. – Na medida que eu falava os olhos de Consuelo me encaravam arregalados, brilhando assustados – Mas! – disse rápido com um sorriso largo nos lábios – Mas não se preocupe nem faça nada que ela diga, certo? – Eu não acreditava que Lena fosse realmente fazer tudo aquilo, mas por via das dúvidas eram bom não arriscar.

Consuelo concordou com a cabeça, sem nenhuma convicção.


No light, no light in your bright blue eyes
I never knew daylight could be so violent,
a revelation in the light of day...
You can choose what stays and what fades away,
and I'd do anything to make you stay
No light, no light. no light
Tell me what you want me to say!

Fui caminhando lentamente até o quarto. Entrei silenciosamente, esperando que ela ainda estivesse na cama.  A porta do banheiro estava entreaberta e sua cama vazia, os lençóis estavam amassados sobre o colchão desforrado. Ela saiu casualmente do banheiro, com os cabelos negros presos e o rosto ainda úmido sem maquiagem, seu rosto tinha aquela aura angelical quando nu de qualquer pigmentação, ligeiramente avermelhado e seus olhos, sem aqueles cílios marcantes, curiosamente pareciam mais amigáveis – expressão que não durou muito tempo em sua face quando encontrou minha imagem segurando sua comida. Ela não estava mais de camisola, trajava apenas um conjunto de lingerie preto, tão simples quanto sexy.

—O que você está fazendo aqui? Eu proibi sua entrada. – Disse ríspida e rápida como uma facada.

—Você proibiu a entrada de Kara Denvers. –Retruquei amena. Seu olhar estreitou ao me encarar, senti o ódio naquele fitar pesado.

—O que você quer?

— Bom dia pra você também, vamos fazer assim? Primeiro você come e depois eu quero conversar?

Ela não me deu muita atenção, sentou-se despreocupada na cama enquanto eu me aproximava. A energia em torno dela era arisca. Eu tentei manter meu olhar em seus olhos desdenhosos, mas sentia minha visão me trair constantemente, explorando desavergonhadamente seu corpo, a fartura dos seios, a depressão na curva da cintura, o torneado das pernas... Quando meu olhar voltou para sua face, a expressão que encontrei era sugestiva, minhas bochechas coraram ao perceber que ela sentiu minhas olhadas de soslaio, me sentia pega no flagra, como se eu estivesse fazendo algo por demasiado errado – e nem posso dizer que não era.

—Então...? - Ela falou com os lábios numa curva singular. – Posso comer?

Estendi a bandeja sem jeito, meio desconcertada. Ela segurou a bandeja no colo, tomou posse da colher e mexeu a aveia em cima das frutas, misturando em uma salada colorida. Ela continuava a me encarar enquanto levava a colher aos lábios, mastigando a primeira porção vagarosamente, meus olhos me traíram novamente caindo para seus lábios volumosos, vendo seu movimento ligeiramente sensual, ela ainda mantinha aquela curva sugestiva que maldosamente me provocava pensamentos libidinosos. Pisquei os olhos furtivamente tentando escapar do transe.

—Então... – Comecei – Nós precisamos falar sobre algumas coisas. – Voltei a lhe olhar e dei de cara com a sobrancelha arqueada.

—Imagino que sim. – Ela disse com a mão sobre a boca enquanto mastigava.

—Os drones ontem, eles não foram um acontecimento aleatório, e ao contrário do que você disse não foram minha culpa. – Ela me encarava numa altivez oblíqua, apesar de no geral ostentar uma expressão desdenhosa. – Roubaram da L-Corp, dentre outras coisas, plantas incompletas, - foi a primeira vez que seus olhos cederam, me dando a devida atenção – achamos que querem que você termine o projeto. – Joguei sem o menor tato. As palavras simplesmente fugiram da minha boca.

Seus olhos estavam perigosamente atentos.

—Como você sabe disse? Quem é esse “achamos”? – Seu corpo tencionou defensivamente.

Eu perdi todo o meu traquejo, entreabri os lábios sem conseguir inventar uma história.

—Um colega da minha irmã que fez essa análise a partir do relatório de perdas e danos da sua empresa. Nós ainda estamos juntando as peças.

—Um colega da sua irmã que trabalha para o FBI?

Eu exasperei.

—Minha irmã, que trabalha para o DEO.

—DEO? O que é isso?

—É uma organização secreta do governo americano que lida com a questão alienígena. Eu trabalho com eles. – Esse conceito não ficava mais palatável com o tempo ou mesmo depois de tantas vezes que eu o repetia.

Não bastava a sobrancelha alta, sua testa franziu do mesmo jeito que a de Alex, cheia de especulações e insinuações, a sua boca também estava curvada em algo muito prematuro para ser identificado.

—Você sempre conta assim tão fácil o segredo dos outros? – Ela soltou ácida.

Meus olhos reviraram nas órbitas.

—Você não se engasga com tanto veneno pela manhã?

—Minhas frutas são orgânicas. - Seu  sorriso cínico ganhou aquele round. Mas o embate em nossa troca de olhares continuava a luta, era algo digno de um conflito homérico. A tensão, a animosidade, nossa singular energia.

—Eu não gostei de te deixar sozinha ontem. A Alex, ela... Bom, ela me disse algumas duras verdades e fez com que eu parasse e visse direito o que tinha acontecido ontem. Eu fiz o que eu sempre faço, coloco expectativas demais sem nunca dizer exatamente o que eu quero, acho que porque bem no fundo eu não sabia... - Meu olhos voltaram a revirar. - Na verdade, eu ainda não sei exatamente o que eu quero... A única coisa que eu sei de certeza é que eu não quero perder você.

Ela parou por um instante e dessa vez me encarou de verdade, olhando nos meus olhos.

—Kara, qual o propósito disso tudo? De me dizer isso agora?

Eu dei de ombros.

—Não é a primeira vez que eu digo isso.

—As coisas mudaram, Kara, nada é como antes... Eu não confio mais em você.

—Realmente, tudo mudou, sua vida agora está em perigo constante, não fazemos ideia das pessoas que estão atrás de você e eu sou egoísta demais pra deixar que qualquer outra pessoa tome conta de você.

Ela sacudiu a cabeça e o sorriso amargo em seus lábios me disse que não estávamos chegando a lugar algum.

—Cuidar de mim até a próxima briga, não é? Até me largar sozinha, até ter que mentir pra mim de novo... – Sua voz minguou para um silêncio rude. Eu exalei pesado voltando a revirar os olhos.

—A gente não vai fazer isso, esse bate boca sem sentido. Eu sei que não deveria ter ido embora, apesar de você ter mandado.

Ela sacudiu a cabeça, incrédula.

 -Você não fez nenhuma questão de ficar.

—Você não sabe como eu me senti horrível quando eu me afastei, como aquilo me matou por dentro. E quando eu soube que poderiam estar atrás de você eu fui correndo para a L-Corp, depois eu vim pra cá... Você não faz ideia de como eu fiquei desesperada.

O que ela disse em seguida veio num tom tão indiferente que poderia congelar todo o quarto por sua frieza.

—Não acha que seria um pouco tarde demais pra se preocupar? – Ela piscou pra mim terminando de tomar seu suco. Lena estava determinada a me tirar do sério, a se demonstrar impassível. Levantou da cama segurando a bandeja e foi até a bancada do notebook, perto da porta. Pegou por lá seu celular, deu uma quebradinha ao se colocar em pé e começou a responder mensagens com os dedos tamborilando pela tela.

Observei o contorno de suas costas torneadas, o jeito que seus músculos tencionavam-se ao manter a postura ereta. Na pele pálida, a luz a manhã que escorria pela janela lambeu seu dorso, espalhando-se pela nuca proeminente. Imaginei o sal de sua pele, o suor na textura do toque macio, o calor de sua respiração exaltada num arfar complacente. Não percebi quando ela se virou em minha direção e passou a me encarar, na verdade, demorou alguns instantes para que eu conseguisse sair daquele transe que era lhe mirar.

—Gosta do que vê? – Seu tom seco e sua sobrancelha arqueada me constrangeram. Ela fez a pergunta sabendo como aquilo me afetava, sua cabeça inclusive estava inclinada apreciando o desespero na minha resposta.

Tentei gaguejar uma frase sem convicção, mas num gesto com a mão ela pediu para que eu me calasse, fazendo pouco caso de qualquer coisa que eu fosse dizer.

—Poupe-se Kara, apesar de ser bom, eu não estou com saco para te torturar, e do jeito que você está me olhando é muito provável que eu desidrate no processo. - Ela disse se encaminhando para o banheiro.

Aquilo tinha me atingido como um golpe baixo, e foi algo tão preciso que extraiu de mim um profunda indignação.

—Pare de me tratar assim! – Falei um pouco mais alto do que eu queria, me colocando em pé. -Você age como se não tivesse sentindo nada, como se eu não sentisse nada, fazendo pouco caso de tudo que a gente passou!

Ela parou no meio do trajeto e seu olhar assassino voltou a me fulminar.

—Não Kara, eu não estou agindo assim, eu estou te tratando e dando tanta atenção aos seus sentimentos  do mesmo jeito que fez comigo.

—Por que você está com tanta raiva? Você realmente não pode achar que eu estava fingindo que sou sua amiga, eu preciso acreditar que aquilo era o álcool falando e não você. Você é inteligente demais pra reconhecer o que é uma farsa, é impossível fingir o que eu sinto quando estou com você. – Eu não percebi quando me aproximei dela, mas observei de perto que a raiva em seu rosto não cedeu.

—Por que você não me contou?! – Ela gritou. Foi um grito agoniado, um voz chorosa, frágil, mas irada, condensada em angústia. – Eu só preciso saber disso! Por que você não confiou em mim?!


But would you leave me if I told you what I've done?
'Cause it's so easy to sing it to a crowd,
But it's so hard, my love to say it to you, all alone.

Eu parei atônita, sentindo o ar fugir dos meus pulmões.

—Não tem nada a ver com confiar ou não em você, nunca foi sobre confiar em você. Eu não podia pedir pra você carregar esse segredo, eu não podia punir você com esse peso.

Ela revirou os olhos.

—O jeito que você diz, na verdade, tudo o que você diz, agora, pra mim, soa como uma desculpa esfarrapa, daquelas inventadas de uma hora pra outra. – Seu tom tinha mudado de alguma forma, a raiva ainda estava ali junto com a mágoa, junto com um punhado de outros sentimentos negativos, entretanto havia um “algo mais”, uma coisa pacificada dentro dela, condensando aquele tom.

—Você não está sendo justa comigo. – Argumentei baixo.

—Sim, porque você pode realmente falar em justiça comigo, porque você foi muito justa comigo escondendo quem você era e me enganando repetidas vezes. Céus Kara, eu cheguei a comentar a semelhança física entre vocês, e você não disse nada.

—O que você esperava que eu disse? “Lena olha direito, olha bem pra minha cara, é a mesma KARA!”

—Sim! Exatamente! Você dissesse algo, você me alertasse disso! – Ela falou apontando para minha roupa. Seu tom voltou a exaltar-se, nele havia indignação também. – Uma Luthor e uma Super trabalhando juntas, contanto que a Luthor fique sob controle, contanto que a Luthor seja inofensiva e não sabia de nada que pode ser usado contra você num futuro próximo.

—Se eu contasse a você, o que teria acontecido com a gente? Você teria aceitado? Porque você não está lidando nenhum pouco bem com isso e nem está se esforçando para que possamos acertar isso. Então, eu realmente não sei se eu poderia ter evitado essa situação.

—Aí é que está Kara, eu também não sei, eu não posso te responder porque você não me deu essa oportunidade. Você não me contou, você deixou que eu descobrisse numa das piores maneiras possível, com minha vida em risco, com você nos meus braços. Você fala em suas expectativas, mas eu também tinha expectativas, eu tinha feito uma coisa que eu não fazia em anos, eu tinha uma coisa que eu nunca tive... Eu amei você, não só isso, eu confiei em você, eu me entreguei a você... E você deixou, você me deu esperança, Kara... Se você quer que eu seja bem sincera, não consigo imaginar um cenário pior do que esse: um cenário em que eu só não perco você, mas também perco tudo o que poderíamos ter sido porque eu não confio mais em você e sempre vou me perguntar se você está dizendo a verdade...- Ela engoliu a seco e seus olhos fugiram dos meus. -Então, sim Kara, eu não quero conversar sobre isso, eu não quero me lembrar disso.

Lena tinha a postura montada, mas seus dedos trepidavam. Encarei toda aquela forte comoção e fiquei perigosamente próxima a ela, levei minha mão até uma mecha solta de seu cabelo e a coloquei atrás da orelha, as costas da minha mão alisaram seu rosto e respiramos juntas, seu coração batida dolorosamente rápido. Nossas testas se encontraram enquanto minha mão se firmava em seu rosto, ela tinha os olhos fechados e eu podia observar naquela proximidade os vincos do choro em sua testa.

—Eu entendi agora Lena, problema não é Supergirl, nunca foi Supergirl, o problema é você perder a Kara, não é mesmo? A Kara sim poderia ser sua... A repórter meio indefesa, sonhadora, muito leal... Você poderia protegê-la, não é? Cuidar dela. Fazer por ela o que ninguém fez por você... Mas Supergirl não pode ser sua, não é mesmo? Como você vai proteger a pessoa que protege o mundo? Como você vai cuidar de alguém que cuida de tantas pessoas? Se você soubesse disso antes tentaria não sentir o que sente agora, não é mesmo? Eu te roubei o poder da escolha, eu não te adverti das consequências... Eu entendo sua raiva. – O seu soluço ecoou, agora eu tinha as duas mãos em seu rosto, nossas testas coladas, meus polegares fazendo círculos em sua bochecha interrompendo o livre fluxo das lágrimas sobre seu rosto. –Você não quer que tudo seja uma mentira, mas você precisa que isso não seja verdade, afinal, como você vai cuidar do coração que cuida de tantos outros? – Eu parei por um instante tentando voltar a respirar, beijando sua testa. -Me perdoa, de verdade, por ter te colocado nessa posição, por ter te dado essa responsabilidade. - Engoli a seco. -Me perdoa, mas eu também te amo, e eu não me arrependo disso, nem seria justo pedir desculpas por sentir isso.

Ela fungando respirando fundo, ergueu seu rosto e eu a vi balançar negativamente sua cabeça, ela se afastou vagarosamente de mim, abandonando meu toque.

—Kara, eu te amo mais do que eu gostaria... Mais do que eu deveria... Muito, muito mais do que eu poderia... – Novamente sua cabeça sacudiu - Mas não quero te amar, eu quero ser feliz.


You are the revelation
You want to get it right
But, it's a conversation
I just can't have tonight
You are the revelation
Some kind of resolution
Tell me what you want me to say


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