Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 1
O sabor que você gosta e aquele que te oferecem




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/728266/chapter/1

Lena gosta de sorvete de chocolate, mas não é qualquer um, tem que ser um especial que ela encomenda diretamente da Itália e chega em um dos jatos de sua empresa. Ela não é de muitos luxos, mas se permite a certas regalias com relação ao seu paladar. Eu não gosto de sorvete de chocolate, na primeira vez que ela me ofereceu e eu recusei ela se prontificou a pedir outro, um de morango com iogurte e pedaços de frutas dentro. O sabor era extraordinário. Desde então, toda vez que jantamos Lena me traz um pote de sorvete de morango, e ele misteriosamente termina naquela mesma noite.

Nossos jantares sempre acontecem na minha casa, é mais prático por algum motivo que nunca realmente chegamos a comentar. Nos últimos meses virou um ritual frequente, raros eram os dias que ela não chegava em minha casa cheia de sacolas. Lena sempre me perguntava o que eu queria comer e magicamente ele trazia uma refeição 100 vezes melhor do que a que eu esperava. Ela tomava seu vinho escandalosamente caro e sempre insistia para que eu aceitasse pelo menos uma taça, coisa que nunca acontecia. Ela entendia.

Depois voltávamos para a coisa principal da noite, seu sorvete italiano artesanal. Ela lapidava cuidadosamente duas lasquinhas do cremoso sorvete de chocolate e tomava vagarosamente, ao contrário da minha posição gulosa, que comia diretamente no pote do de morango.

—Não acredito que você só vai comer isso.

Observei ela repetir aquelas magras e desgostosas colheradas, tão poucas que pareciam que o pote estava no final quando na verdade ele estava quase intocado, se não fosse a última visita de Alex no dia anterior ele estaria completamente cheio.

—Nem todo mundo é como você, que come como uma criança de 8 anos e continua com esse corpo.

—Eu tenho metabolismo rápido. – Voltei meu olhar para suas colheradas. –Você come pouco porque isso é ruim. – Furtivamente surrupiei um colherada de seu sorvete e assim que minha língua tocou no gelo minha cara simplesmente contraiu como uma ameixa seca.

—É amargo! Isso é um crime contra os sorvetes, porque fazem um sorvete que não é doce?

Lena sorriu da minha crise, e relevando meus protestos estendeu o filme que tinha escolhido pra gente assistir.

—Morangos silvestres? – Disse sem conseguir esconder minha decepção. Ela continuou rindo, me desafiando a acabar com o suplício sem nem mesmo começar.

—Bergman! – Começou mostrando a contracapa. -É um filme muito intenso que nos permite refletir sobre a vida, o tempo e escolhas.

—Nerd. – Falei jocosa.

—Nós não precisamos assistir se não quiser.

—Vamos, você nunca escolhe o filme. – Ela parei de falar e meus ombros contraíram tensos, um grito muito longínquo de socorro. – Me esqueci de colocar comida para o gato da vizinha.

—Desde quando você tem uma vizinha com gato?

—Eu não sei mais se ela ainda tem um gato, eu não coloco comida pra ele desde de ontem. Me espere aqui que eu já volto.

—Como você se lembrou do gato? Não escutei nada.

—Justamente, ele não mia há horas. – Saí correndo pela porta de pijama e descalça, segundos depois invadi o apartamento pela janela me trocando de roupa em uma fração de segundos. Ela sentiu como uma rajada fria adentrando o apartamento, ela se levantou desconfiada indo fechar os vidros batentes, mas antes, claro, guardou o filme com aquela cara de: “Eu sei que ela não vai querer assistir isso”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!