Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 2
Alguns detalhes




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Alex não perdia nem as chaves de casa. Ela, inclusive, vivia reclamando como eu era bagunçada. Eu não achava ruim. Alex conseguia a proeza de ser organizada por mim e por ela. Então imagine minha surpresa quando ela avisa sobre a perda de uma de suas armas lasers.

—Eu e Maggie rodamos esses lugar. – Ela disse agoniada – Você pode usar uma das suas visões para ver se deixamos passar algo?

—Eu posso tentar – Falei tendo convicção que eu não seria de ajuda alguma. – Quando você sentiu falta dela?

—Ontem de noite, a gente voltou do bar e eu não a encontrei. – Maggie a tinha em seus braços, retirando de sua face as mexas rebeldes de seu cabelo curto. Alex transpirava preocupação.

Estreitei os olhos procurando alguma coisa, foquei em baixo da mobília, por trás dos móveis, avancei pela sala até o quarto, nem sequer poeira eu estava encontrando.

—Mais alguma coisa desapareceu? – Perguntei relutante em dizer que não estava vendo nada.

—Não, só a arma.

—Tem certeza que você não esqueceu no bar?

—Kara! – Ela me repreendeu, e eu exalei vencida.

—Desculpa, só estou checando. - Ela me olhou aflita. -Talvez você não tenha perdido aqui, porque a gente não volta no bar e procura por lá?

Ela balançou a cabeça.

—Kara, é uma arma nível 5, a maior bazuca na terra não tem o poder de destruição daquela arma, ela desintegra matéria à partículas atômicas. Se eu perdi aquela arma por lá e alguém achou duvido muito que saiba como usar e, se sabe, não pretende fazer algo bom.

—Me diz de novo, como o DEO tem 5 sistemas de segurança mas não tem rastreadores nas armas?

Ela exasperou, com vincos em sua testa.  Eu tentei dizer algo que a animasse, mas não consegui. Voltamos ao bar e passamos a tarde tentando conseguir as filmagens da noite anterior para ver aonde Alex estava, quem tinha sentado perto dela. Mandamos tudo para o Winn e ainda passamos a tarde inteira procurando os clientes que ela se lembrava de ter visto na noite anterior. Não conseguimos realmente nada de relevante e quando dei por mim estava uma hora atrasada pro meu jantar com a Lena.

—Vocês vão sair de novo? – Alex perguntou quando avisei que precisava ir.

—Nós não saímos, ela leva comida pra minha casa e nós assistimos algum filme.

—Ela não tem vários jantares de negócios nem turnos noturnos na empresa?

—Eu não sei, nós não falamos sobre isso.

—Vocês falam sobre o que?

Eu não sabia bem responder aquilo, olhei para Alex sem entender aonde ela queria chegar. Sua cabeça pendeu para o lado e seus olhos estreitara

—Faz diferença? – Perguntei evasiva, seu olhar queria dizer algo que ela ainda não sabia bem como elaborar em palavras

—Se não faz pra você, não faz pra mim. – Respondeu por fim.

Eu subi para o meu apartamento ainda prendendo o cabelo, Lena estava na porta segurando aquelas inúmeras sacolas de papel, como sempre. Suas feições entediadas deram lugar a um sorriso caloroso, seus olhos encontraram os meus e a fraca luz do corredor parecia destacar a intensidade do azul leitoso que ganhava alguns tons de profundidade quando ela parecia animada.

—Você me odeia? – Perguntei me sentindo extremamente culpada. Ela tinha passado pelo menos uma hora e meia me esperando. Pelas roupas ela devia ter acabado de trabalhar e ido direito para minha casa. Os saltos, a saia envelope e maquiagem, tudo totalmente impecável. Aquela perfeição tinha que ser incômoda, seria inaceitável alguém se parecer com aquilo sem esforço. O sorriso em seus lábios aumentou e ela sacudiu a cabeça balançando seu coque perfeito.

—Ela perguntou para a Luthor e as duas riram observando a ironia. – Sua voz saiu mecânica, como uma piada implícita mas compreendida, daquelas discretas que tem o efeito coletivo de todo mundo sentir vontade de pelo menos sorri.

—Desculpa, deixa eu te ajudar e abrir a porta. – Segurei meio sem jeito uma das sacolas em um dos braços, com a mão livre vasculhei o bolso da calça cáqui em busca do chaveiro que tinha ganhado da Cat no ano passado.

Abri a porta para que Lena entrasse primeiro, ela não fez muita cerimônia, simplesmente cruzou a entrada e deixou as coisas em cima da ilha da cozinha. Eu a segui esperando que ela se desfizesse da bolsa quadrada enorme e tirasse os saltos, era engraçado ver como ela se sentia à vontade por ali.

—Por que você não pediu ao Freddy pra esperar aqui contigo?

—Não achei que você fosse demorar muito.

—Desculpa mesmo, a Alex perdeu uma coisa importante essa manhã.

—O que ela perdeu?

Como eu diria que a Alex tinha perdido um arma laser letal?

—Ela perdeu uma pasta com evidências.

—Você só pode estar brincando.

—Eu gostaria, mas ela não faz ideia de onde deixou, saímos procurando por todos os lugares e nada.

—Imagino o desespero. -Eu abri seu vinho e peguei para mim um copo de água tônica. As sacolas irradiavam um cheiro apetitoso que me fazia salivar.  –Você passou a tarde fazendo isso, não foi para o trabalho?

Eu contava sobre meu dia e ela oferecia uma nova perspectiva do que tinha acontecido. Eu lhe perguntava sobre seu dia e ela desconversa. Lena gostava de dizer que eu tinha uma vida interessante, apesar dela se sentar com embaixadores, atrizes e grande empresários todos os dias. Lena estendia para mim uma simplicidade que não lhe cabia, e eu de bom grado aceitava por gostar de alguma forma aquilo me cativava. Quando o assunto sobre nossos dias esgotava, ela começava a fazer comentários aleatórios, ela gostava de me falar sobre as coisas que ainda queria fazer e sempre perguntava se algum dia, quando nós duas tivéssemos tempo, faríamos algo daquilo que conversamos, como pular de paraquedas ou fazer turismo gastronômico pela Itália, ela adoraria me apresentar a loja que faz aquele sorvete. Eu pensava seriamente naquilo, mas, francamente, quando a Supergirl tiraria férias?

Eu a encarei por alguns instantes e sua mão avançou sobre meu rosto com um guardanapo, e passou no canto dos meus lábios.

—Já disse que você parece uma criança?

—Mais vezes do que eu pude contar.

Lena nunca dormia lá, mas cochilava no sofá no meio dos filmes que eu escolhia. Ela não dizia, mas os achava horríveis e tediosos, ela acordava perto do fim, piscando os olhos assustados. Eu não lhe torturava com perguntas nem com comentário demasiados, mas ela sempre sabia quem terminava com quem no final, era um poder especial de acordar exatamente na hora que o mocinho ficava com a mocinha.

—Como ontem a gente acabou não assistindo o filme que você trouxe, na próxima vez você escolhe.

—Tem certeza?

—Sim.

Seus olhos reviraram.

—Nós podemos fazer outra coisa? – Seu tom mudou um pouco, eu fiquei curiosa.

—O que você tem em mente?

Tinha algo no sorriso de Lena que eu não conseguia decifrar porque me acolhia tanto, era algo nas covinhas que me seduzia a retribuir aquele olhar expressivo e aquele sorriso charmoso.

—Você não quer que seja uma surpresa? – Dessa vez seu tom foi forçado, ascendeu a um suspense exagerado só para fazer drama, eu só consegui ri debochado de seu ar falsamente misterioso.

—Está certo, faremos do seu jeito

—Ok, até amanhã então.

Pisquei sem entender.

—Como assim? Você já vai?

—Já viu que horas são? – Corri os olhos pelo apartamento até o relógio de parede, ia dar meia noite.

—Eu não gosto da ideia de você ficar saindo tão tarde daqui de casa, você sabe que pode dormir aqui, né?

—Você nunca tinha oferecido. – Ela falou se levantando e pegando o celular dentro da bolsa.

—Não? Estou oferecendo agora. Eu sei que não é confortável como sua cama de cinco metros, e não tem seus lençóis de 2 mil fios árabes, hindus, romano sei-lá... E se não quiser dormir na cama comigo, mesmo eu jurando que não me mexo de noite pela cama, sério, pode perguntar a Alex; esse sofá é muito confortável.

—Na verdade minha cama tem 10 metros e não só são 2 mil fios, são 5. São fios egípcios, a propósito. – Ela deu uma piscadinha meio cínica meio dissimulada. Ajeitei os óculos meio sem jeito. Era seu tom brincalhão que me desconcertava e eu percebia como gostava disso nela, essa condição de sempre me fazer perder as palavras e os gestos porque em determinado momento ela fazia ou dizia algo que eu jamais imaginaria. Esse dom de me surpreender era um deleite.

Ela terminou de bater os dedos na tela do telefone e suspirou. Me encarou esperando que eu me levantasse e lhe desse um abraço, coisa que não demorei a fazer. Seus braços me envolveram com força e naquele momento eu gostaria de poder responder na mesma intensidade.

—Obrigada pela preocupação, Kara, de verdade. – Nos afastamos, mas ela ainda tinha seus braços envolvidos no meu pescoço. -Numa próxima vez você deveria ir pra minha casa, eu juro que escondo as gaiolas e as correntes.

—Eu nunca fui lá não é mesmo? Vamos para lá amanhã? – Ela sacudiu a cabeça.

—Amanhã não. – Seu celular tocou e ela me soltou, nós duas sentíamos o romper daquele toque. –Freddys chegou. – Ela falou recolhendo seu casaco e sua bolsa. –Nos vemos amanhã.


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