Entremeios escrita por DrixySB


Capítulo 8
Recomeços


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo da vida se encerra e outro se inicia. Despedidas e recomeços.



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Naquela manhã, Will levantara determinado a conversar com Coulson. Ele entendia que o diretor da SHIELD era muito ocupado, mas ele havia prometido rastrear sua família e conversar com eles a respeito de sua incomum jornada a outro planeta, garantindo a seus pais, irmã e sobrinho que ele estava vivo.

Por noites, Will se contorcera na cama pensando em como eles iriam receber aquela notícia. Era certo que já o davam como morto depois de 14 anos de ausência e nenhuma pista de seu paradeiro.

O problema é que aquele corredor estava apinhado de agentes extremamente centrados em seu trabalho, correndo de uma sala para outra com relatórios em mãos, sem tempo para informar Will de onde Coulson estava. No meio daquela correria, avistou o único agente que conhecia e com o qual realmente não queria falar. Mas ele era o único que parecia relaxado – como sempre – despreocupado e visivelmente ocioso.

— Hey, Hunter... Será que você viu...

— Jemma? – Hunter o cortou com um sorriso jocoso estampando seu rosto – Sim, como não? A última vez que a vi foi na noite passada, entrando no quarto do Fitz. E ela não saiu de lá até agora – completou, dando um tapa falsamente amigável no ombro do astronauta e se distanciando, por fim.

Will cerrou os olhos, respirando fundo e sacudindo a cabeça de um lado para o outro. Já estava mais do que na hora de partir. Era óbvio que ele estava sobrando por ali.

*

— Não vou dizer que foi fácil para eles receberem a notícia. Convenhamos que é, de fato, algo complicado de se assimilar. Eles não pareceram muito convencidos no início, mas, conforme Fitz sugeriu, eu levei as fotos que Jemma tirou no outro planeta, contei a respeito do real objetivo de sua missão, de que você fora enganado... Eles não conseguiram compreender inteiramente, mas ficaram genuinamente felizes de saber que está vivo e bem – Coulson explicou.

Um sorriso enviesado surgiu no rosto de Will. Por sorte, ele encontrara Mack no laboratório e ele o levou até Coulson. Os três se dirigiram à sala do diretor para relatar como havia sido seu encontro com a família do astronauta.

— No entanto, eu também não tenho notícias muito boas – o rosto de Coulson se transformou bruscamente. O semblante compreensivo e sutil cedendo espaço a uma expressão grave e receosa – Não há uma forma fácil de se dizer isso, mas seu pai... Infelizmente, faleceu há quatro anos.

De súbito, Will sentiu um peso desconfortável no peito. Mas assentiu com a cabeça, conformado, desviando o olhar, procurando não demonstrar sua dor. Isso também lhe fora roubado; viver o luto pela perda do pai.

— Lamento - tornou Coulson, solidário, e então suspirou longamente, tomando coragem para prosseguir - E, bem... Como você partiu há muito tempo e não regressou, eles acreditaram que estava morto...

— Portanto fizeram uma lápide simbólica para você no cemitério local – Mack completou, achando que era responsabilidade demais para Coulson transmitir a ele todas as más notícias.

Will inalou profundamente, abrindo bem os olhos como se despertasse de um sono profundo.

— Eu acho que posso lidar com isso... É compreensível, afinal – afirmou, cruzando os braços.

Coulson o fitou, complacente.

— E seu sobrinho está louco para te conhecer. Ouviu muitas histórias sobre você.

Ao ouvir aquilo, seus olhos pareceram faiscar.

— Meu Deus! Ele está com 14 anos agora...

— Sua irmã nos contou que estava grávida quando você partiu.

Will contorceu os lábios, procurando conter as lágrimas que ameaçavam deslizar por sua face.

— Eu perdi todo o crescimento dele... Isso é uma coisa que eu nunca poderei reaver.

O diretor da SHIELD se aproximou para tocar seu ombro.

— Não pense no passado. Concentre-se no futuro. Ele terá muito a aprender com você.

O astronauta meneou a cabeça, concordando.

— No geral, eles estão bem. Achamos que seria melhor assim... Conversarmos com eles primeiramente, antes de você ir. Afinal, isso poderia...

— Lhes dar um baita susto, eu sei – ele riu.

— Bem, assim que estiver preparado, podemos ir – disse Mack – eu te levo até lá.

— Tem certeza de que quer partir? – Coulson indagou – Você pode ser útil. Especialmente dadas as suas habilidades como piloto.

— Agradeço a oferta, mas... Não quero criar um impasse com Melinda May.

O diretor não conseguiu evitar uma risada.

— Eu vou arrumar minhas coisas e estarei pronto em meia hora – disse o astronauta, dirigindo-se a Mack.

— Ok! Eu vou preparar o quinjet. O senhor vem conosco?

— Não, eu não – respondeu Coulson – tenho uma missão com FitzSimmons... – o diretor interrompeu a si mesmo ao se dar conta do que havia acabado de dizer, virando a cabeça de imediato na direção de Will e o encarando um tanto sem jeito. O astronauta desviou o olhar, dando um sorriso encabulado. Coulson pigarreou antes de prosseguir – Me desculpe, é a força do hábito. Nos acostumamos a nos referir assim a eles...

— Tudo bem! – tornou Will, dando de ombros – eu sei. A Jemma me contou. Inseparáveis, não é mesmo?

— Você vai se despedir dela, certo?

— Sim. Não poderia partir sem isso...

— E quanto aos outros? – foi a vez de Mack perguntar.

— Eu já me despedi de Fitz de certa forma. E os outros não parecem se importar muito... Hunter, provavelmente, vai comemorar minha partida – disse em um tom monótono de voz.

— Não dê atenção a ele – rebateu Coulson – Hunter consegue ser bem imaturo quando quer.

— Eu já relevei. Bem, eu agradeço pelo que fez por mim, senhor.

O astronauta e o diretor da SHIELD trocaram um aperto de mão firme.

— Hora de rever minha família! – declarou, ansioso por aquele encontro.

*

Ele levou a mochila com alguns poucos pertences às costas, preparando-se para entrar no quinjet quando ouviu a voz dela.

— Hey, você! – Jemma caminhou em sua direção com um largo sorriso em seu rosto.

O astronauta não deixou de reparar que ela estava com um traje próprio para uma missão e o cabelo novamente preso em um rabo de cavalo no alto da cabeça. Ele retribuiu seu sorriso afável.

— Vai embora sem se despedir de mim? – ela não soou contrariada ou abatida. Estava apenas gracejando.

— Me perdoe. Não era minha intenção partir sem falar com você uma última vez. Mas eu te procurei no laboratório e no seu quarto e não te encontrei...

O sorriso em seu rosto se desfez. Agora, ela parecia agitada e até mesmo um tanto sem jeito.

— Eu... Bem, eu estava... – ela procurou escolher as palavras com cuidado, levando uma mão à nuca e desviando o olhar. Sua inquietude e desconforto eram visíveis.

— Estava com Fitz, eu sei – ele disse tranquilamente, sem delongas.

Jemma tornou a olhar para ele e estacou, sem saber o que dizer e como reagir.

— Como você...?

— Hunter me contou.

— E como Hunter soube? – ela indagou confusa.

— Aparentemente ele te viu entrando no quarto de Fitz na noite anterior – ele prosseguiu, mantendo a serenidade em seu tom de voz.

— Oh! – ela exclamou. Então sacudiu a cabeça, contrariada de repente.

— Não fique brava. E não tem motivos para esconder isso de mim. Você não me deve nada, afinal...

Jemma o fitou com um semblante inexpressivo.

— Eu achava mais digno te contar antes... Mas eu vi uma oportunidade de falar com Fitz e... Bem, eu acho que nós nunca de fato terminamos o que começamos naquele lugar... Então, eu deveria ter te falado...

Will ergueu uma mão, indicando que ela parasse de falar.

— Está tudo bem, Jemma! Eu já disse que entendo que as circunstâncias são diferentes aqui. E eu quero que seja feliz.

Jemma assentiu, grata por ele ser tão compreensivo. Timidamente, seus lábios se curvaram para cima.

— Também espero que seja feliz, Will. E fico contente que vá reencontrar sua família depois de tantos anos.

— Nunca pensei que esse momento fosse acontecer. Jurava que nunca mais iria vê-los... Nem acredito que ganhei essa nova chance.

Havia um novo brilho em seu olhar enquanto ele proferia aquelas palavras.

— Eu sei que deve ser difícil reconstruir sua vida depois de tudo o que passou... Que nunca imaginava que teria essa oportunidade e agora não sabe direito que rumo dar à sua vida, mas... Aproveite essa chance.

— Eu vou aproveitar – ele meneou a cabeça, concordando, e aproximando-se mais dela, a fim de tocar seu rosto. O toque de seus dedos era leve feito uma pluma e lhe trouxe uma sensação de regozijo – espero que você aproveite também.

— Pode deixar – Jemma respondeu em um sussurro.

Ele parou de tocá-la e a analisou por um momento antes de tornar a falar.

— Sabe, é estranho te ver assim... Acho que é a falta de costume.

A bioquímica o encarou, ligeiramente confusa.

— Ora como a doutora, socorrendo agentes e inumanos feridos; ora como a cientista expert no laboratório; ora como agente de campo...

Ela deu uma risada discreta.

— Tem muito sobre mim que não conhece.

— Você tem razão, Jemma. Eu não te conheço. Conheço um lado seu, mas há muitas outras coisas que não sei a seu respeito – Jemma surpreendeu-se com seu tom de voz grave e carregado de seriedade – mas, pelos vislumbres que tive, enquanto vivemos juntos no outro planeta, pelo que vi de você aqui na Terra... Você é única. Uma pessoa incrível. Maravilhosa demais para viver triste.

Simmons se limitou a ouvir o que ele dizia, no mais completo silêncio.

— Você estava o tempo todo certa. Sempre há esperança. Do contrário eu não estaria aqui. Eu vou sempre lembrar do que fez por mim. Você e o Fitz. E desejo que sejam felizes.

Um novo e pleno sorriso surgiu nos lábios de Jemma.

— Adeus, Jemma.

Ela aproximou-se para abraçá-lo.

— Adeus, Will.

O astronauta aproveitou aquela proximidade para sussurrar algo em seu ouvido.

Quando se afastaram, Jemma o encarou de modo penetrante, sentindo-se um tanto desnorteada com aquela informação.

— Você vai entender! – ele disse, simplesmente, então deu meia volta e caminhou rumo à entrada do quinjet.

Ela observou o avião decolar. Will havia partido. Encerrando aquele capítulo de sua vida.

*

Fitz ainda separava os equipamentos necessários para a missão quando avistou Jemma. Ela portava um semblante reflexivo, parecendo caminhar por instinto, perdida demais em seu próprio universo particular de divagações para se concentrar na realidade ao seu redor.

— Jemma...? – Fitz chamou, fazendo com que despertasse de seu transe. Ela tornou o rosto em sua direção, lançando um sorriso retraído a ele – Está tudo bem?

— Sim...

Fitz desviou o olhar, coçando a nuca por um momento, lembrando-se que ela acabara de se despedir de Will. Um tanto incerto, aproximou-se dela.

— Ele já foi?

— Já sim – ela respondeu com simplicidade.

Fitz suspirou.

— Deve estar triste... Por ele ter partido.

Jemma, que encarava um ponto qualquer no chão, fixou seu olhar em Fitz.

— Pelo contrário, eu estou feliz. Afinal, ele está indo reencontrar sua família.

— Então o que há? – indagou, curioso.

— Eu estava pensando... No fato de que ele passou tanto tempo do outro lado. Ele perdeu tanta coisa... Um tempo que jamais conseguirá recuperar. Eu nem consigo imaginar como deve ser para ele reconstruir sua vida depois de todos esses anos. Ele já não tinha mais sonhos, nem uma perspectiva de futuro... Se eu passei apenas seis meses lá e já acho que perdi tanto...  – ela parecia falar mais para si mesma do que para ele – e isso também me fez lembrar que faz muito tempo que não falo com meus pais.

Fitz sacudiu a cabeça, indicando que havia compreendido seu ponto. Então recordou-se de algo que havia colocado no bolso do casaco naquela manhã.

— Você falou sobre o que perdeu e eu me lembrei que ainda não te devolvi isso – disse, tirando o colar de dentro do bolso e o entregando à Jemma.

Ela encarou o adereço, o tomando prontamente em suas mãos. Espanto e admiração tomando conta de sua face.

— Meu colar... Eu achei que houvesse perdido para sempre. Onde o encontrou? - ela inquiriu.

— Quando fui buscar Will em Maveth. O encontrei enquanto caminhávamos para o portal. Ele me disse que você havia perdido na tempestade de areia. Eu o peguei e entreguei a ele… Para que te devolvesse.

— Oh! – ela exclamou, surpresa – Alguns dias atrás, Will disse que não sabia aonde estava o meu colar... Por quê?

— Bem... Ele queria que eu o devolvesse. Como era eu quem havia encontrado...

Jemma sentiu-se tocada por aquele gesto do astronauta. Enfim compreendera o motivo pelo qual ele havia entregado o colar novamente a Fitz e sussurrado aquilo em seu ouvido antes de partir.

— Claro que ele queria... Tudo faz sentido agora – outra vez, ela pareceu falar mais consigo mesma do que com Fitz.

O engenheiro pareceu confuso com as palavras dela, mas resolveu não lhe questionar a respeito. Assumiu um semblante reflexivo antes de tornar a falar.

— Hey, eu estava pensando que já que você disse que faz tempo que não fala com seus pais... Talvez, depois de concluirmos essa missão, você poderia ir para a Inglaterra vê-los...

Jemma o fitou com um súbito interesse no olhar.

— E, de repente – ele ergueu os ombros, de maneira modesta – se você quiser companhia.

Gradativamente, um sorriso foi se formando no rosto da bioquímica.

— Está sugerindo ir para a Inglaterra junto comigo? Para ver meus pais?

— É... Bem, se você concordar... Assim poderíamos oficializar - tornou Fitz, tímido e reticente; o receio alojando-se  no peito ante a expectativa pela resposta de Jemma.

O sorriso dela se alargou ainda mais e, de repente, havia um novo brilho em seu olhar.

— Oh, você está pensando em me pedir em namoro para os meus pais?

Fitz contorceu os lábios, certo de que um módico rubor tomara conta de suas faces. Jemma o achou ainda mais adorável naquele momento e, sem demora, levou os braços ao redor de seu pescoço.

— Eles vão adorar te ver. E adorar a notícia também.

As mãos do engenheiro foram parar na cintura dela, a trazendo mais para si. Jemma, por sua vez, ficou nas pontas dos pés, para beijá-lo. E enquanto o beijava, ela pensou novamente nas palavras de Will antes de partir: “Ele vai devolver algo que você perdeu”. Lembrou-se também do que Daisy havia dito, acerca de seu horóscopo. Por mais relutante que ela estivesse em admitir, a previsão dos astros estava certa. Sim, Fitz havia lhe devolvido o que ela perdeu. Mas não se tratava do colar. Se tratava de seu sorriso, de sua felicidade, de sua esperança de ter um futuro ao lado dele.

F I M


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Notas finais do capítulo

Mais uma que acaba... E sempre me bate uma mescla de tristeza com realização.

Espero que tenham gostado desta história assim como eu amei escrevê-la.

Logo, eu volto com um novo desafio que trata de um assunto bem delicado...

Aguardem ;)