A rotina de Hitome se tornou bem cansativa: aulas diárias de interpretação, mais os trabalhos que apareciam diariamente, a deixavam esgotada.

Touya sempre se mostrava paciente, ajudando do jeito que conseguia, com dicas, demonstrações e vídeos... Surpreendendo-se com o fato de uma novata, se sair tão bem.

― Acho que podemos parar por aqui. — Touya sentou no sofá, esticando as pernas e alongando-se. — Daqui a pouco vamos sair, possivelmente, hoje você tenha seu primeiro trabalho como modelo para a marca Shiseido.

            Os olhos de Hitome se arregalaram com espanto e receio, afinal, era uma marca famosa e conceituada. O medo em falhar tomou conta de seu ser.

            Irritada consigo, balançou a cabeça em negativa, tinha que parar de ser tão insegura, não tinha outra escolha, tinha que conseguir. Então, sorriu e disse:

― Certo! Vamos fazer esse trabalho!

― Assim que se fala!

Touya esperava que ela se mantivesse confiante, isso aceleraria o processo de aprendizagem, e a garota estava se saindo bem. Graças a isso, aquela sensação horrível, de que todos pudessem descobrir a verdade sobre a troca, aos poucos ia se esvaindo. Dando lugar a segurança e a esperança de conseguirem ir até o fim com aquela loucura.

Hitome preparou algo rápido para almoçarem e por fim, comeram a torta de maçã como sobremesa.

― O que eu tenho que fazer na reunião? — Hitome perguntou, a fim de saber como devia se portar, e o que falar.

― O diretor de Marketing quer ver você pessoalmente. Ele ainda está na dúvida sobre quem escolherá para campanha. Você não precisa fazer nada em específico, se você se mantiver do jeito que está... Já está ótimo.

Touya sabia que era difícil, era como se Hitome tivesse que atuar em tempo integral, já que tinha que fingir ser outra pessoa.

― Tá. — se contentou com a resposta e se concentrou em terminar de comer.

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Aya lembrou-se da longa conversa com Akira, falaram bastante, e ainda faltou tempo para terminar de dizer tudo o que tinha em mente. A única coisa com a qual se sentiu mal, foi que, acabou revelando que Akemi havia traído Makoto e fugido com todo o dinheiro.

― Desculpa pessoal. — Aya desculpou-se mentalmente com Hiyom e Touya, já que havia prometido que não contaria sobre aquilo para ninguém, ao menos até conseguirem achar uma solução.

Sem ter como remediar, restou-lhe apenas o lamento.

—/-/-

Akira saiu de lá introspectivo. Makoto não havia dito uma palavra sobre aquele assunto, qualquer um que o conhecesse minimamente, sabia que ele não iria pedir ajuda a ninguém, iria tentar resolver tudo sozinho. Além disso, tinha o constrangimento daquela história.

A solução parecia ser simples, daria o dinheiro para Makoto naquele momento, afinal, dinheiro não era um problema para ele. E sentia que de alguma forma devia retribuir aqueles bons momentos da infância. Afinal, Makoto foi como um pai para ele.

Apesar de jurar para si que não ia ficar se metendo no problema alheio, não conseguia ser tão frio. Pensaria em uma forma de conversar com Makoto. Porque sabia que não ia ser fácil fazer aquele simpático senhor, porém teimoso, aceitar ajuda.

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Aya estava sentada na cama. Desde que chegou, não tinha uma rotina muito dinâmica, precisava se contentar em ficar no quarto e de vez em quando arrumar alguma coisa. Por sempre ter sido uma garota agitada, queria poder sair e fazer outras coisas. Sentia-se uma inútil, pois não conseguia ajudar Makoto com nada.

Apesar do remorso por ter contado mais do que devia ao Akira, achou que poderia ser uma chance de conseguir mais alguém que pudesse ajudar. E pelo olhar do amigo, sabia que ele faria alguma coisa. Ela torcia do fundo do coração, para que as coisas se resolvessem logo e que Makoto pudesse ser feliz.

Hitome não era a única a sentir-se mal com a troca, Aya se sentia uma impostora, Makoto achava que ela era sua filha e não era verdade. Ela não mostrava fraqueza na frente das pessoas, entretanto, era comum chorar sozinha. Principalmente quando se mudou para Tokyo para tentar a sorte e não teve apoio de ninguém.

Ficar sozinha no quarto, só ajudava a alimentar besteiras. Aya sabia disso, precisava ocupar a mente e resolveu pegar uma revista para folhear. Enquanto os olhos passeavam pelas páginas sem parecer ter nada de interessante, sua atenção foi tomada por uma matéria que parecia ter sido escrita pelos anjos, a fim de ajudar a moça a encontrar uma solução para pelo menos um dos problemas atuais.

― Acho que Makoto vai gostar! — exclamou animada.

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Hitome a Touya estavam na sala de espera, foram avisados que o gerente estava em reunião, mas que logo seriam atendidos. O manager já estava acostumado a lidar com isso, gente chata, e tudo que envolvia o showbiz. Por outro lado, era a primeira vez que a garota pisava em uma grande empresa, quanto mais participar de uma reunião. O mais próximo daquela situação, foi acompanhar seu pai em um evento de pequenos comerciantes, que mais pareceu um festival de esquina.

― Os senhores já podem entrar. — a secretária dirigiu-se a eles e os acompanhou até a sala indicada.

Hitome tentou ocultar sua admiração... Aquela sala era simplesmente imensa, a tal sala-de-reunião era maior que sua casa. Afinal, o que se podia esperar? Shiseido era uma marca forte e antiga, também era conhecida por patrocinar vários doramas e filmes.

Assim que conseguiu recompor-se, Hitome olhou para o senhor que entrou na sala. Um senhor baixinho, magrinho, com uma feição sisuda.

― Queiram se sentar. — apontou o senhor para as cadeiras próximas. — Você deve ser a senhorita, Natsume, correto?

― Sim senhor. Eu mesma. — Apesar de intimidada, sorriu. Precisava manter a postura, e conseguir o trabalho dependeria dela. Logo esticou a mão direita para um cumprimento formal.

O senhor esticou a mão, apertando firme a mão de Hitome, retribuindo o sorriso, o que o fez parecer menos assustador. Até poderia julgá-lo de simpático.

― Não sei se o senhor Kirisame falou de mim, me chamo Yuji Asakura.

Hitome sentiu-se brevemente analisada, em seguida vieram várias perguntas. A maioria delas, irrelevantes, porém, nada era despercebido por Yuji.

O foco daquele senhor eram seus gestos, o quão ela podia ser natural era o mais importante. A linha nova da Shiseido tinha como tema a ingenuidade, cores leves, fragrâncias suaves. E parecia que Hitome se encaixava bem naquelas características.

Touya já conhecia o método de trabalhar de Yuji. Ele não se interessava por currículos, sempre escolhendo por afinidade.

A reunião durou cerca de uma hora, em algum momento, aquilo havia virado um bate papo e ninguém estava falando sobre trabalho. O que era um ótimo sinal, afinal, no mundo dos negócios você não fica conversando com quem não pretende trabalhar. E a intuição de Touya estava correta, Hitome havia passado. Atuaria como Aya na próxima campanha da Shiseido. Para não deixa-la ainda mais nervosa, não tinha mencionado que sua concorrente seria a Yukimura, que apesar de parecer doida nos bastidores, era uma talentosa artista e sempre conseguia trabalhos incríveis.

Depois da reunião, eles partiram para o compromisso seguinte, era normal ter que mexer na agenda de artista, já que apareciam trabalhos de repente, ou ter de cancelar alguma coisa.

Conseguiram o negócio com a Shiseido e o próximo passo era ver a proposta para modelar em um MV.

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Akira se ajeitou no carro, tinha acabado seu trabalho e precisava partir para o outro, satisfeito em adiantar as coisas, já que a filmagem do dorama se aproximava, e ele gostaria de poder se dedicar a isso. Tentou não pensar na burrada que Hitome fez ao aceitar substituir Aya.

Era muita coisa em jogo e ambas poderiam ir para cadeia, não apenas as duas, como todas as pessoas que estavam no meio daquele problema, sendo cúmplices, e isso o incluíam.

― É uma cabeça de vento mesmo… — falou sozinho.

Akira não admitiu nem mesmo para si, mas ficou feliz em ver Hitome depois de tanto tempo, fora praticamente sua primeira amiga e podia ser ele mesmo perto dela. E exatamente por ser importar com ela e com os demais que não queria que aquele plano fosse adiante. Entendia o medo de Aya sobre arruinar a carreira, mas estava em jogo a própria liberdade. Apesar de criticá-las, acreditava talvez fizesse o mesmo se estivesse no lugar delas.

Assim que estacionou o carro, focou-se no que tinha para fazer. Seria uma sessão de fotos gigantesca, havia tirado praticamente o dia para aquele trabalho. Chegou a seu camarim para a primeira troca de roupa, sendo esperado atendido de imediato pela maquiadora.

― Você tem o rosto perfeito, não precisa de muita coisa. — a mulher fez a base, valorizando o rosto de Akira.

Akira não respondeu, já acostumado com todo tipo de comentário, recebia inúmeras cantadas, fosse de homem ou mulher. Quando começou a investir na carreira de artista se perguntou várias vezes se não devia ter seguido por outro caminho. Optou pelo meio artístico porque já havia começado nele quando era adolescente, parecia ser o mais fácil, porém, foi totalmente o inverso.

Primeiro porque ele podia ser bonito e ter alguns trabalhos, mas quando se entra no mercado, você percebe que sempre tem gente mais talentosa, mais bonita e mais influente. Isso quando não tentam puxar seu tapete.

Quando Akira se mudou para Tokyo, sofreu bastante, conseguir trabalho era árduo e pagavam mal. Várias vezes atrasou o aluguel e passou a noite lavando pratos em restaurantes. Parecia ser um passado não tão distante. Por isso queria se concentrar em sua carreira, qualquer erro pode leva-lo a ruína.

A sessão de fotos foi tranquila, apesar de extremamente cansativa, já era quase de noite quando acabou. Precisava ir pra casa, tomar um banho e dormir. No dia seguinte teria outras coisas para fazer.

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Hitome chegou a casa depois de um dia longo de treino, testes e tarefas. Podia dizer que foi o dia mais cansativo que teve na vida, a única coisa em que pensava naquele momento era de tomar banho e jantar. Touya iria aparecer logo de manhã com outro itinerário desgastante.

Assim que chegou ao quarto, se despiu e entrou correndo debaixo do chuveiro, ao sentir a água quente envolvendo o corpo, conseguiu relaxar. E naquele momento onde estava só, voltou a pensar nos problemas que seu pai estava enfrentando, e que devia achar a mãe, para fazê-la pagar pelo que fez.

Demorou um pouco mais que o normal no banho, passou boa parte do tempo refletindo nas coisas que devia fazer e tentou relembrar a agenda do dia seguinte. Com horário que devia levantar em mente, deu por encerrado o banho, ainda tinha que jantar e acordaria bem cedo, pois tinha que correr, afinal tinha que entrar em forma.

Ainda enrolada na toalha, ouviu o interfone. Estranhou, já estava ficando tarde demais. Seria o porteiro?

― Boa noite, é o Kevin! — já estava acostumando a lidar com o rapaz, que sempre aparecia sem prévio aviso e praticamente a qualquer hora.

― Boa noite, aconteceu alguma coisa? — a garota respondeu, esperando que ele não quisesse jogar vídeo game.

― Não, na verdade eu acabei de chegar a casa, queria saber se você não tá a fim de jantar comigo... Estou verde de fome, mas queria conversar um pouco.

― Ah... Até queria, mas eu estou cansada para ir até a praça de alimentação hoje...

― Na verdade eu comprei uma pizza, quer dividir?

Hitome ponderou por alguns segundos, estava faminta também e sem pique de cozinhar, muito menos de sair para comprar alguma coisa, talvez não fosse uma má ideia aceitar o convite.

― Pode ser... Você me fará correr o dobro amanhã. — imaginou que teria que correr o dobro para queimar as calorias da pizza.

― Amanhã eu corro com você pra compensar, até porque, estou começando a ficar roliço... Me espera que estou chegando! — sem esperar resposta, Kevin desligou o interfone e foi até o apartamento de Aya.

Continua...