“O pensamento é o ensaio da ação.” -Sigmund Freud

Pensar, naquele momento, era única ação que Mel fazia de maneira consciente. Enquanto suas lágrimas caiam em direção ao além de seus olhos, sua mente fazia flashes de um dos piores momentos de sua vida.

Em sua cabeça tudo se passava. Seu amor por Alice, o início daquele dia terrível, a reação de seu pai, seus irmãos e a mulher que lhe deu a vida? Como uma pessoa poderia ser como ela? Mais um flash. Neste, Mel revivia as palavras de sua mãe que a tirava de debaixo do seu teto, do calor de seu pai, para longe. Sua própria mãe a decepou de sua vida. De suas vidas.

Longe dali CM tomava de maneira calma uma taça de vinho seco que cintilava vitória.

—Mel foi o primeiro passo para minha vitória. Agora que ela está longe posso ter mais sucesso e visibilidade, aliás, quem não gosta de drama?!

O telefone toca. É o médico da família noticiando a alta de Antônio Inácio, pois o patriarca da família teve um ataque do coração ao saber que sua filha caçula foi extraviada pela própria mãe. E ele como pai, só aceitou. A partir dali sua vida entrara em decomposição, não ter sua filha mais amada era como viver sem um dos braços, parte do coração, parte de si.

Paola nada vê, nada sente, nada nela é mais que a culpa de não proteger a irmã. Sua irmã! Porém, o poder de poder de sua mãe era maior que qualquer culpa. Passou, tudo passará.

Douglas estava feliz. Naquela noite ele estava com seu novo amante e sua animação estava no ápice. Ele pulava, se fingia de cowboy, de acrobata, gritos o anunciavam como cantor, aquele sexo merecia um brinde. Leite? Leite.

E Mel seguia sua viagem a sua nova vida. Nova infeliz vida que sua dona, Cris Mary, proporcionou. Um novo lugar pra terminar seus estudos, uma nova casa para viver sozinha entre tantos arrependimentos, como o de não ter se despedido de Alice com um abraço, um até mais, um “eu sou sua”... As lágrimas continuam, feito chuva forte elas caem, secam os olhos e adubam a dor...

8.1- Câmera Lenta

O programa de Cris Mary é um sucesso! Muito drama com a saída da filha mais nova de casa, o marido que retornou ao hospital por conta disso, o filho que se assumiu gay pra todo o país, e Paola. Tudo ia de vento e polpa para a matriarca dos Albuquerques que vivia seus tempos de glória com tantas entrevistas, participações em programas e outras regalias.

Longe de casa estava Alice, que todos os dias escrevia algumas palavras para Mel num diário, pois as duas perderam o contato por ambas pensarem que estavam a relação de amigas havia acabado. Acabou e como Fênix nasceu um amor que arde e nenhuma vê.

Mel tentava se adaptar ao novo lugar. Decidiu esquecer sua família, tanto que não sabia que seu pai estava muito doente. Nesse novo mundo começou a estudar e já nos primeiros dias conheceu a Loira mais linda que já viu: Samantha.

Assim que conheceu Samantha decidiu por sua orientação sexual à prova. Levou-a para casa e descobriu o mundo, seu mundo que tudo tocava com as mãos, com a boca e com o corpo. Samantha era a fruta proibida que Mel sempre sonhou e idealizou, Samantha era a fórmula de esquecimento de Mel que foi deportada pela própria mãe! Pelo próprio pai! Os próprios irmãos! Mas ela agradecia, entrou no paraíso.

Paola continuou sendo ela.

Douglas por sua vez provava a liberdade. Seu novo homem era o próprio juiz que lhe dava a liberdade para fazer o que quiser com seu corpo e Douglas aproveitava centímetro por centímetro, ele era a régua, ele era a entrada, ele era a sua liberdade.

E devagar a Terra completava sua rotação. Mais devagar ainda a sua translação. Segundos, minutos, horas, meses, tudo em câmera lenta