Entrevista com um garoto escrita por fckfic


Capítulo 5
5-9


Notas iniciais do capítulo

Tem um aviso nas notas finais. Boa leitura!



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Bati na porta três vezes seguidas. Tinha pegado um ônibus que deu uma volta por praticamente toda a cidade até chegar aqui perto. Eu me lembrava perfeitamente de como era a aparência da casa dele. Desde aquele domingo planejei vir até aqui, já que ele não atende minhas ligações e me bloqueou no Whatsapp, mas não sabia ao certo quando ele chegaria de viagem, então esperei até hoje.

— Ótimo! Você está em casa. – falei logo que o motoqueiro abriu a porta. – Há pouco mais de uma semana você me ligou, terminou comigo sem a mínima explicação e sumiu. Esperei um tempão pra vir até aqui, porque pareceu que os dias haviam parado, mas agora estamos frente a frente e se bater a porta na minha cara, vou fazer um escândalo. – ele cedeu espaço indicando que eu entrasse.

— Não entendo. Foi você que quis terminar. Esperava o quê? Que eu corresse atrás como o seu cachorrinho.

— E quando eu disse te disse que queria terminar caralho?

— Você me ligou no sábado, parecia estar se divertindo muito na festa. Disse que tava cansando, que não era assim que você planejava ter um relacionamento. Gritou alguns xingamentos e terminou tudo enquanto eu estava na estrada, com meus amigos ouvindo a conversa e me ridicularizando.

— Eu estava bêbado. Como pôde levar a sério uma pessoa que não tinha ideia do que tava fazendo? Eu nem me lembro dessa ligação.

— Mas eu lembro muito bem. Beto, chega disso tudo! Já tá na hora de você aceitar que nós dois não damos certos. Pra que prolongar isso se a gente já sabe onde vai terminar?

— Você quer se livrar de mim. Você não me quer mais e tá usando essa desculpa pra terminar tudo.

— Eu não sei o que eu vi em você. Age como uma criança, pensa que tem controle da vida, mas está apenas fazendo o que os outros querem. Cadê sua vontade própria garoto?

— Então sou eu que estou agindo como criança? Por favor, Gustavo. Olhe pra mim e depois olhe pra você e depois reconsidere o que disse.

— Finalmente está sendo sincero comigo. Porque eu sei que sempre pensou que eu era pouco demais pra você. O único motivo que faz você vir aqui é o desejo. É a carne que tá gritando em você por mim. Sabe como eu sei disso? Porque acontece exatamente o mesmo comigo. Eu só quero entender porque você me provoca tanto anseio. Como eu faço pra me livrar disso, hein?

— Cala a boca. – me aproximei dele como instinto.

— O que é isso que eu sinto? Eu tô ficando louco garoto e se pensa que vou deixar você brincar comigo...

— Cala a boca. – parei bem em frente a Gustavo. Olhando bem no fundo dos seus olhos e sentindo a faísca que ele exalava.

E entre nossos beijos e a urgência por um toque mais profundo, eu percebi que era algo forte demais pra eu resistir. Percebi que viver isso era única maneira de realmente acabar com essa história. Ele tem razão, esse desejo está consumindo cada célula do meu corpo, apropriando-se delas e assassinando com calor.

— Eu sou o único na sua vida, não sou? – o motoqueiro perguntou entre beijos.

— Sim. O único e o melhor.

— Venha comigo. Largue tudo e fique comigo por um tempo. Eu preciso de você a todo instante. Preciso saber que vai continuará sendo meu.

— Está falando bobagens. Eu sou seu, apenas seu.

 

...

 

Acabei dormindo após o sexo e já acordei louco, achando que era tarde. Felizmente, ainda não era. Remexi um pouco na cama e fiquei vendo Gustavo dormir. Que bagunça emocional nós somos.

— Já tá na hora de ir pra casa? – ele perguntou sem abrir os olhos.

— Ainda temos um tempinho. – fiquei calado por uns segundos até lembrar algo que ele disse. – O que você quis dizer quando me pediu pra largar tudo?

— Esqueça isso.

— Não posso, sou muito curioso. – o motoqueiro então abriu os olhos e sentou na cama.

— Nada demais. Só quero que saiba que se você sentir que o mundo tá caindo nas suas costas e não vai aguentar, a gente dá um tempo disso. Te levarei pra algum lugar um pouco longe e te farei esquecer dos problemas por um tempo. Você é inteligente e pode tentar no próximo ano, mas sei que não vai largar tudo.

— Uau. – abri um sorriso bobo. – Isso foi... legal. Mas tem razão, totalmente fora de cogitação eu largar tudo.

— Quem era o garoto da festa da sua amiga?

— Ninguém importante. Ele me queria, porém não estou disponível.

— Pro bem dele, é melhor ficar bem longe de ti.

— Que ciumento! Pode deixar que eu não dei corda, provavelmente ele me odeia agora.

— Ótimo.

 

...

Espero que a partir de agora, Gustavo e eu tenhamos muitos dias sem novos dramas. Não sei se é normal em começo de namoro surgirem tantos problemas, afinal nunca tive essa experiência antes, mas sempre achei que ocorresse nos casamentos.

Cansei de repetir pra mim mesmo o quanto isso estava fora dos planos, porém a graça da vida deve ser saber lidar com o que te pega de surpresa e encaixar aquilo da melhor maneira. Sempre me considerei muito maduro pra minha idade, mas com o motoqueiro eu percebo que ainda tenho muito que aprender.

As coisas ainda estavam um pouco estranhas com minha mãe. Eu entendo a preocupação dela e sei que as expectativas que colocou em mim são altas, por isso ela tem tanto medo que eu fracasse. Nunca soube ao certo o que aconteceu com meu pai, mas ao que parece, ela era uma jovem sonhadora que engravidou e teve abrir mão desses sonhos pra criar o filho. E mesmo que tenha tentado construir uma família com o meu pai, acabou não dando certo e eles seguiram por caminhos diferentes.

Meu pai é do tipo que liga algumas vezes, pergunta o que anda acontecendo, aparece de última hora ou marca feriados pra gente passar juntos. Na maioria das vezes, ele me leva pra algum lugar onde não tenhamos que conversar muito, como no cinema. Não sei muita coisa dele e pra dizer a verdade, não me interessa.

Desde pequeno eu aprendi que não podia contar com ele quando precisava, então sempre criei um sentimento de independência dentro de mim. E mesmo que machucasse algumas vezes, eu pensava em como minha mãe era forte e guerreira por me criar sozinho.

Então lá pela quarta série, eu comecei a me interessar pelos jornais e pelo que acontecia no mundo. Minha mãe, Cláudia, não gostava muito que eu ficasse vendo jornal. Ela dizia que tinha muita tragédia e que eu ainda era criança. Mas eu adorava aquilo e no dia seguinte, repetia o máximo de notícias que tinha decorado pros meus colegas. Acho que isso contribuiu pro fato de eu nunca ter tido muitos amigos.

Ser gay também não ajudava, então cresci ouvindo piadinhas e lidando com situações chatas. Quando eu aceitei que era gay, tinha doze anos e meu mundo caiu. Foi um dos poucos momentos em que eu não estava agindo como adulto, e eu chorei muito na verdade. Assumi a minha adolescência e fiquei deprimido por alguns dias, me trancando no quarto quando chegava da escola e ouvindo músicas tristes.

Minha memória é muito boa, portanto, alguns detalhes ainda estão bem claros na mente. A professora que eu mais amava veio me perguntar um dia porque eu andava tão calado. Não aguentei e contei tudo a ela, chorando feito bebê. Ela me aconselhou a falar com meus pais, disse que se eu precisasse de ajuda, poderia pedir a qualquer momento.

Cheguei em casa naquele dia, me tranquei no quarto e chorei mais um pouco. Quando minha mãe chegou, alertei que precisávamos ter uma conversa séria e não enrolei nenhum pouco. Contei de forma bem direta e ela ficou calada. Eu vi quando seus olhos encheram-se de lágrimas e, consequentemente, os meus também. Mas então ela me abraçou forte e disse que me amava.

Foi a coisa mais bonita que me aconteceu. E então eu não tinha mais esse peso nas minhas costas. A única coisa que eu pensava era em jornais novamente. Jornalismo e minha mãe foram e são minhas grandes paixões. E não me vejo longe delas, seria um desastre.

— Beto.

— O quê mãe?

— O jantar tá pronto. Vem logo se não vai esfriar.

Porém eu admito que não tenha sentido continuar com esse clima chato. Vou abrir mão de meu orgulho e fazer as pazes. Portanto, sai do meu quarto e fui para a cozinha. Servi meu jantar e sentei-me à mesa disposto a acabar com aquilo.

— Eu tô namorando o menino que você viu sair daqui de casa outro dia. Não sei por que menti, mas não quero guardar segredos de você.

— Você achou mesmo que poderia me enganar? Tinha certeza de que havia algo mais, sou mãe e sei dessas coisas.

— Pois é. Imaginei que não tinha acreditado na minha desculpa.

— Qual o nome dele mesmo?

— Gustavo.

— Por que não o convida pra jantar um dia desses? Vai ser uma ótima oportunidade pra eu conhece-lo.

— Claro. Vou falar com ele e depois marcamos um dia.

— Seu pai me ligou hoje Beto. Quer que você vá visita-lo no feriado da próxima semana.

— Então o papai está vivo. Faz tanto tempo da última vez que o vi... Não sei se quero passar o feriado com ele.

— Apesar de tudo, o Chris ainda é o seu pai. Você vai e não questione porque achei que estávamos nos acertando.

— Tudo bem. Irei visitar o papai na próxima semana.


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Notas finais do capítulo

Então, até agora a fanfic não possui nenhum comentário. Isso me entristece um pouco, afinal ter o seu conteúdo reconhecido é ótimo né? E tem 5 pessoas acompanhando. Se as 5 pessoas tivessem comentado todos os capítulos até aqui, imagina a diferença né? Até mesmo dá mais vontade de continuar escrevendo. Esse capítulo foi a metade da primeira parte e caso continue sem um retorno satisfatório, a fanfic terminará com 10 capítulos mesmo (apesar de eu ter planejado outras partes). Enfim, próximo capítulo sai na sexta, até lá!



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