Lucca escrita por littlefatpanda


Capítulo 8
VII. Amoran


Notas iniciais do capítulo

Minha boa gente, oilá mais uma vez! :*

Gente, desculpa a demora. Eu tive que fazer umas mudanças na história de Lucca, basicamente porque tinha alguns furos e eu sou perfeccionista demais pra deixar passar assim tão fácil ahahha
Tô muito empolgada com "Lucca", omg.

LEIAM AS NOTAS FINAIS!

Boa leitura! *-*



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Um mês depois
    Junho

— Levando em consideração que não há qualquer indício da existência de Lucca e que ninguém veio procurar por ele, mesmo com seu retrato passando nas televisões de todo o mundo — ingadou Gerard, o semblante pensativo e os olhos desfocados —, eu diria que das duas, uma: Ou ele esteve sequestrado este tempo todo, talvez o que causou sérios distúrbios psicológicos nele, ou ele estava vivendo em alguma parte da floresta. — Apontou em direção às árvores um pouco mais adiante da cidade.  

Gerard estava sentado no quintal da própria casa, desgastada pelo tempo, em um círculo de amigos. O céu estrelado, evidenciando que a noite houvera caído alguns minutos antes, estava quase completamente negro. A fogueira que havia acendido em seu jardim, ao lado da churrasqueira elétrica, queimava com intensidade os pedaços de madeira ali postos.  

Era seu primeiro dia de folga depois de todo o furacão chamado Lucca, juntamente com mais alguns colegas de trabalho. Resolveu então fazer uma janta em sua casa, convidando alguns vizinhos também. Beberam, comeram e se divertiram à beça antes do quintal começar a esvaziar aos poucos. 

A música havia cessado, talvez por algum problema no aparelho, mas ninguém se deu ao trabalho de perceber. Restaram Gerard e mais três companheiros, sentados um ao lado do outro, copos de cerveja na mão.  

— Sozinho? — perguntou Bea, uma das policiais mais nova de seu time, estalando a língua com descaso. — Duvido muito.  

— Sozinho, ou talvez não — continuou Gerard, tomando mais um gole da cerveja. — Talvez houvesse ou haja alguém. Talvez quem devia procurar por ele também vive recluso da sociedade, por isso não sabe de seu paradeiro. — Ergueu os ombros, piscando devagar.  

— Não é possível — respondeu Tony, descrente. Em seguida, remendou, embaraçado: — Senhor. — Pigarreou, remexendo-se na cadeira. — As florestas já foram inspecionadas, senhor. Sem falar que, se um garoto esteve vivendo na floresta durante este tempo, alguém teria descoberto. E depois que ele apareceu e as florestas foram inspecionadas, se houvesse mais alguém por lá, teria sido descoberto também. Há guardas florestais, há famílias na cidade que ainda tem uma certa paixão por explorar as florestas, assim como por acampar.  

— Também acho — concordou Bea, dando de ombros. — Para mim, o garoto esteve sequestrado este tempo todo. E se foi assim, eles não irão descobrir nada em Doubleville. Se ele foi sequestrado e mantido em cativeiro aqui, então o criminoso mora aqui. Levá-lo para o outro lado do Estado só porque não somos uma grande unidade policial não servirá de nada — completou, com certa amargura na voz.  

— Não acho que seja tão simples — pronunciou-se pela primeira vez Robert, erguendo uma das sobrancelhas. Não era o policial mais atencioso, mas tinha alguns pontos a mais pela gama de inteligência. — Só porque o garoto foi encontrado aqui, não quer dizer que ele veio daqui. Somos uma cidade pequena, cercados de cidades pequenas. Ele pode ter vindo de qualquer lugar — explicou, erguendo os ombros.  

— Com certeza — interveio Gerard, tomando o resto da cerveja em seu copo e largando-o na mesinha à sua frente com entusiasmo. — Quanto às florestas... Elas são muito extensas, ainda mais no nosso país. Ninguém vai tão longe para explorar, nem aqui na cidade, sem falar que há um limite. Ninguém pode ir tão longe — explicou, o tom entusiasmado ao passo que os pensamentos se desenrolavam —, é propriedade do governo. As florestas só foram inspecionadas para a investigação até o limite da nossa cidade. Pensem comigo — falou, chamando a atenção dos outros ao gesticular com as mãos. — Se ele estava nas florestas este tempo todo, ele podia estar tanto além do nosso limite ao norte, porque não é de nosso domínio, quanto para leste e oeste — explicou, apontando os dedos para retratar o que dizia —, porque também não são de nosso domínio. Temos Amoran à leste e temos Geneviel à oeste, e ambas têm seus próprios limites de território. E, sinceramente, vocês acham mesmo que os guardas florestais inspecionam os lugares que devem periodicamente? Meus ovos! — Estalou a língua, servindo-se de mais bebida.  

— Realmente, nosso território não cobre nem um quinto das florestas. Mas como é que o garoto ia viver sozinho tão longe por tanto tempo? — Perguntou Bea, impassível.  

— Aliás, de quanto tempo estamos falando? — Tony pronunciou-se, inflamado pelas teorias. — Xerife, acha que ele ficou sozinho por semanas? Meses? Anos? 

— O suficiente para fazê-lo parar de andar como um ser humano normal — interveio Robert, tomando um gole da cerveja. — Mas não acho que ele estava sozinho. Ele sabe falar — indicou e, ao perceber os olhares em si, emendou: — Mais ou menos, mas sabe.  

— Tem razão, Robert. Não sei se ele estava sozinho durante os últimos tempos, mas com certeza isso não foi sempre assim. Ele sabe falar o mínimo necessário, ele usava trapos que, eu imagino, costumavam ser roupas um dia. — Gerard parou um pouco com o olhar no topo das árvores que podia ver de sua casa. — Alguém deve tê-lo abandonado ou injuriado. Talvez ele tenha fugido em direção às árvores por conta própria, para afastar-se.  

— Sim, mas ele não tem registro. Você supõe que a mãe, o pai, o tio, ou seja lá quem for que cuidava dele não tinha registro tampouco? Talvez imigrantes ilegais? — Bea perguntou, cética.  

— Imigrantes ilegais — murmurou o xerife, perdido, depois de haver virado o rosto para ela com brusquidão. Os olhos desfocaram rapidamente, como se lembrasse de algo distante. Ninguém pareceu perceber, no entanto.  

— É possível — Robert disse, pensativo. — Isso não explica o estado do garoto, no entanto. Está claro que ele não via nenhum outro ser humano durante bastante tempo. Pelo menos, foi o que me pareceu.  

— Bom, está claro o porquê da unidade de I.E.C estar encarregada do garoto, não é? — Riu Tony, encarando Bea devido ao comentário que ela havia feito alguns minutos antes. — Há especulações demais e fatos de menos. Ninguém pode adivinhar o que aconteceu com o garoto, então o que resta a fazer é arrancar as informações dele. — Falou, rindo da careta de Bea. — Mas convenhamos, faz sentido se ele esteve nas florestas. 

Bea bufou, revirando os olhos.  

— Como pode ele ter ficado na floresta? Vai me dizer que ele sabia plantar sua própria comida? — Ergueu a sobrancelha, alterada. — Sozinho ou não, ele precisaria de uma fonte de comida e de água! Mesmo sozinho, ele precisaria de algum lugar para se proteger do frio, da chuva e, se ele viveu no meio da floresta, dos animais também!  

— Uma casa, você diz? — Robert arqueou as sobrancelhas. — Não há construções no meio da floresta, Beatrice.  

— Exato! — A policial ergueu as mãos, rindo. — Podem esquecer da ideia de ele ter sobrevivido na floresta. Isto aqui não é um conto chinês. Perdão, chefe — adicionou ao encarar Gerard, que ainda mantinha o cenho pensativo —, mas acho que é ilusão demais pensar que um garoto que mal sabe se comunicar direito sobreviveu no meio da floresta por anos, sozinho e sem qualquer fonte de água e comida.  

Um silêncio pairou sobre o quintal, onde o único ruído era o da madeira sendo queimada e o canto dos grilos. Não mais de dois minutos haviam passado antes que uma quinta voz se fez ouvir:  

— Não há construções na floresta agora, isto não quer dizer que não havia antes.  

Os quatro policiais sobressaltaram-se ao ouvir a voz mais velha provinda detrás dos mesmos. Depararam-se rapidamente com uma versão mais velha de Gerard, com cabelos brancos e rugas no rosto. O rosto que tanto conheciam e reconheciam como o antigo xerife, o que havia posto a delegacia em ordem por mais de quarenta anos. Grant Henley. 

— Xerife — exclamou Tony, levantando-se e fazendo um cumprimento com a cabeça. — Que bom vê-lo, senhor.  

O velho xerife fez um cumprimento rápido com os presentes antes de colocar-se de frente para a fogueira.  

— Pensei que estivesse dormindo, pai — falou Gerard, pegando uma cadeira para que o mais velho pudesse sentar com eles.  

— Estava, mas acordei com as teorias de vocês acerca do garoto perdido — disse o mais velho, sentando-se rapidamente. Assim que parou os olhos no filho, sorriu com facilidade. — Eu sabia que ninguém ocuparia meu posto com mais prudência e devoção que você, meu filho — disse, observando Gerard piscar algumas vezes com surpresa pelas palavras inesperadas. — Seu raciocínio está correto. Ouvi tudo lá de cima — falou, apontando para o segundo andar da casa velha. — Me impressiona que nenhum de vocês se lembram do que aconteceu em Amoran, no entanto — completou, encarando os outros policiais.  

— O que quer dizer, senhor? — Perguntou Tony, depois de um tempo em silêncio.  

— Você se lembra, não é? — Olhou para o filho de forma rápida, percebendo que não houve surpresa no rosto do mesmo ao mencionar a cidade vizinha.  

— Pensei em Amoran assim que Bea mencionou imigração ilegal — contou Gerard, uma sombra escura no lado esquerdo do rosto, onde não pegava a luz do fogo.  

— O mesmo ocorreu comigo — falou o xerife aposentado, sorrindo. Voltou os olhos para Tony. — Ora, sei que sou velho mas o incidente nas florestas de Amoran não ocorreu há tanto tempo. Foi em 2007, apenas sete anos atrás. Você não devia ser mais que um garoto, Tony, por isso não se lembra. Mas você, Robert? — Perguntou, ignorando a careta de Tony.  

— Os imigrantes — murmurou Robert, um fio de compreensão passando por seu rosto ao passo que lembrava do acontecimento. — É mesmo! — Exclamou em seguida, já agitado ao dar-se conta do que haviam deixado passar. — O guarda florestal foi baleado, não? Haviam corpos no local, não haviam? Eram todos imigrantes ilegais. 

— Eu não lembro disso — falou Bea, com um tom indignado. Se estava indignada com o fato de não ter conhecimento do assunto ou com o fato dos outros terem, ninguém sabia. — Como é que eu não lembro disso?  

— Eles abafaram o assunto, não deixaram que fosse muito longe. Afinal, só haviam corpos e nenhuma explicação razoável além de "acampamento de imigrantes ilegais que deu errado". Soaria muito mal para a cidade, ainda mais com Eugene morto à tiros — contou Grant, pegando uma lata de cerveja para tomar e obtendo um resmungo do filho. Olhou para o mesmo. — Ora, estou velho. Mas não estou morto — resmungou de volta, levando a latinha à boca.  

— O que exatamente aconteceu? — Perguntou Tony, agora animado com a história, os olhos curiosos disparando entre os três outros homens no círculo de cadeiras.  

— Eugene Swan era um dos guardas florestais de Amoran, mas que passou para o outro lado da lei. Aparentemente, é claro. Ele estava morto quando fora descoberto, então não havia como lhe interrogar à respeito — falou Grant, com certo humor. — Eles se dividiam para inspecionar a floresta que, como vocês sabem, é grande demais para um só guarda. O que aconteceu foi que Eugene estava agindo estranho, esquecendo de entregar relatórios e era visto entrando nas florestas muito mais vezes do que devia. A princípio, quando passaram a desconfiar de algum crime, acharam que tinha a ver com desmatamento. Alguns anos antes foram descobertos campeiros cortando as árvores e a Guarda Florestal da cidade estava mais assídua depois do acontecimento.  

— Eu não sabia disso — falou Gerard, erguendo a sobrancelha. — Sei que Eugene foi encontrado com os outros corpos do local, mas pensei que ele houvesse sido morto ao descobrir o acampamento.  

Grant balançou a cabeça ao encarar o filho.  

— Os fatos indicam que, ele não só sabia a respeito, como fazia parte disso. Na melhor das hipóteses, ele podia estar sendo ameaçado ou algo assim, mas nunca saberemos — concluiu o xerife mais velho.  

Tony se remexeu na cadeira, chamando a atenção de Gerard devido aos olhos cheios de expectativa com o rumo da história, fazendo-o rir.  

— O que aconteceu em seguida, Antony, foi um tiroteio. Os tiros foram ouvidos pelos habitantes que moravam perto da floresta. A polícia foi acionada e adentrou a mesma, descobrindo algo parecido com uma mini vila. Haviam tendas onde viviam pessoas, plantações famliares, armas, drogas e tudo o que vocês puderem imaginar — falou, relanceando o pai para ver se ele confirmava. — Metade do lugar havia pegado fogo, talvez por causa das armas de fogo. Não havia ninguém além de corpos, todos baleados. Eugene incluso.  

— Nove corpos não identificados — atalhou Grant, mirando os espectadores de olhos atentos. Robert assentia, como se lembrasse cada vez mais ao passo que os dois xerifes falavam. — Mas a quantidade de comida e tendas, as pegadas no local, a quantidade de drogas e armas, indicavam que muito mais do que nove pessoas viviam ali. Meu palpite é que passava de uma centena. Depois de toda a investigação, era impossível negar o mais óbvio e o que mais deixava Amoran em maus lençóis: o pequeno acampamento ilegal, além de acomodar muita gente, estava ali há mais de anos. Foi descoberto em 2007, mas não foi em 2007 que passou a existir.  

— Como ninguém sabia a respeito? Como eles podem ter vivido ali por tanto tempo sem nem explorar à sua volta? Se a parte da floresta em que o acampamento estava era do domínio de Amoran, então não era tão longe da cidade — Robert indagou.  

— Espera, o senhor havia mencionado drogas e armas? — Perguntou Tony, a atenção em Grant. — Armas para se protegerem? E que tipo de armas? Que tipo de drogas? 

— Não se sabe — pronunciou-se Gerard, rodeando o copo nos dedos. — Como eu disse, eles jogaram tudo para baixo do tapete. Tudo está arquivado na delegacia de Amoran, se é que eles ainda não colocaram fogo em tudo por causa das suspeitas.  

— Mas eu não entendo... — murmurou Tony, pensativo. — Se eles planejavam viver ali, já que haviam se estabilizado e até plantavam o que comer, por que as armas e as drogas? A primeira coisa que me veio à mente é que eles estavam vendendo. Podia se tratar disso, contrabando?  

Bea balançou a cabeça, intrigada.  

— Geralmente, tudo o que imigrantes querem é um novo lar para viver, especialmente aqueles de países decaídos. Faria sentido eles viverem escondidos na floresta, já que não tinham permissão para estar no país. Então para que se envolverem com contrabando?  

— Muitas perguntas, poucas respostas — falou Grant com certo mistério na voz, mas um sorriso no rosto. — Foi arquivado como Caso Fechado. As florestas nunca foram tão invadidas como quando ocorreu o incidente de Amoran, mas nada nem ninguém foi encontrado.  

— Se os corpos não foram identificados, como sabem que eram imigrantes ilegais? — Perguntou Bea, interessada.  

Toda a atenção voltou ao xerife mais velho. 

— Os corpos foram estudados, todos com descendência estrangeira. Sem falar que haviam alguns papéis no local, os que sobraram do incêndio, indicando que o pequeno vilarejo registrava tudo que era plantado e ingerido. Era registrado também a quantidade de drogas e armas. O detalhe é que os registros rabiscados em letras disformes estavam em mais de uma língua. Sueco, Espanhol, Hindi, Japonês, Húngaro... E havia uma lista de nomes nas coisas de Eugene, nenhum de origem inglesa. Estavam incompletos, como se não fosse importante o sobrenome da pessoa, como se só fosse importante uma forma de identificação deles. Um primeiro nome. Um apelido. Nada mais. 

— Como Lucca — murmurou Robert, os grandes olhos azuis presos no fogo ao raciocinar. 


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Notas finais do capítulo

— Primeiramente: A princípio, o país em que a história se passa é uma versão - versão muito boa, a propósito - da Inglaterra. Os nomes das cidades - fico muito louca criando nomes de cidades! - foram feitos por mim. Se não ficou óbvio pelos nomes estranhos hahahah
Wingloush, Amoran, Cherub Field, Geneviel (piadinha interna) e Doubleville.
— Segundamente: Percebi que não coloquei datas e vou colocar agora, desde o prólogo. Pelo menos, o ano. Eu não tinha deixado claro antes, mas a história começa em 2014. Então antes que comecem a dizer que não sei fazer cálculos, o acampamento de Amoran se passou sete anos antes, sim AHAHAHHA.
— Terceiramente: Sei que é muito dedicar um capítulo inteiro pra uma conversa, maaas achei necessário! Achei que fosse interessante vocês se fazerem as mesmas perguntas deles e seguirem o raciocínio.
— Quartamente, eu não vou me desculpar mais pelas demoras (isso vale para MoF também), porque eu não tenho muita culpa. Eu tenho uma vida - bem chata, mas tenho -, tenho bloqueios criativos e uma série de eventos inoportunos em minha pacata vida. Mas eu sempre escrevo quando posso, tá bom? Ainda mais quando me empolgo com o tiroteio de ideias na cabeça ahahhaha

Bom, é isto. Qualquer pergunta, me façam, please! Seja por comentário, seja por mensagem privada, seja por um grito distante ahahhaha. Prometo que vou responder!

Amem, odeiem, mas me digam o que acharam. Beijo na bunda!



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